Candidatos a Deuses escrita por Eycharistisi


Capítulo 68
Capítulo 68




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Gina ficou alguns segundos a olhar para a carta de Sol, segurando-a com tanta força que amarrotou o papel, os nós dos dedos brancos e as mãos a tremer.

– G-Gina? – chamou Niko, poisando hesitantemente a mão no ombro da rapariga.

Ela não reagiu, continuando a olhar o papel, cada vez mais ameaçadora. L até se encolheu contra Shark, verdadeiramente assustada com a expressão assassina no rosto de Gina. Parecia que ela ia explodir a qualquer momento, destruindo tudo o que se encontrava em seu redor.

– Gina – chamou Darkness, avançando por fim e poisando também ele uma mão no ombro da rapariga.

– Não lhe toques! – gritou Niko, lançando-se contra Darkness e encostando-o contra a parede, as mãos agarrando a camisa sobre o peito do Deus Supremo da Morte.

E, enquanto isso, Gina simplesmente virou costas e saiu do quarto, batendo a porta com toda a força.

– O que é que lhe deu?! – admirou-se Shark.

– Eu vou atrás dela – murmurou Niko, saindo a correr do quarto.

Depois de a porta se fechar atrás dele, o quarto ficou mergulhado num silêncio confuso e espantado, os amigos olhando de uns para os outros, até que Yngrid decidiu pigarrear leve e nervosamente.

– Ainda falta uma carta – lembrou ela.

L sentiu o coração cair-lhe aos pés ao perceber que agora era a sua vez. Retirou lentamente o último envelope da caixa e leu, como temia, o seu nome: Helena.

Inspirando fundo, abriu o envelope. Antes mesmo de começar a ler a carta, já sentia as lágrimas chegadas aos olhos, antecipando tudo o que veria.

Nossa pequena Helena,

Gostaríamos de não ter de escrever esta carta, mas tal é impossível. Pensámos que bastaria uma Bolha de Isolamento em redor da casa que a tua mãe partilha com a irmã para as Parcas jamais saberem da relação clandestina que eu mantinha com uma humana, mas é óbvio que nem a Bolha consegue disfarçar as minhas longas ausências da perceção delas e das gémeas. Elas estão à nossa procura e a última coisa que queremos é que elas venham até cá e te encontrem. Portanto, nós vamos partir. Fugir daqui para o mais longe possível. Sabemos que não há nenhum outro sítio onde nos possamos esconder, mas, pelo menos, deixar-te-emos a salvo e cumpriremos o castigo das Parcas longe de ti. Não queremos que nos vejas morrer, não é justo que um bebezinho lindo como tu lide já com esses assuntos.

Vai custar muito deixar-te, mas pelo menos sabemos que fomos mais afortunados do que os restantes pais dos deuses da profecia. Falei com Luz, a Deusa Suprema da Vida, pouco antes de ela morrer. Queria que ela fosse a parteira da tua mãe, para ela poder ter-te em casa e evitarmos o risco de um hospital. E assim teria sido, se ela não tivesse morrido depois da Criação nascer. De qualquer modo, desconfiada já de que tu serias a Protetora, ela contou-me tudo sobre o que acontecera com os outros deuses da profecia e com os seus pais, inclusive das cartas de despedida que os outros escreveram para os filhos e de Sol, o Deus Supremo da Luz, que estava a recolher essas cartas. Contou-me que os outros não tiveram tempo algum com os filhos, que tiveram de os largar no mundo humano mal nasceram. Nós ainda desfrutamos de uma semana de brincadeiras contigo, de dar-te de mamar, de trocar-te a fralda, dar-te banho… e foi maravilhoso, Helena, absolutamente maravilhoso. Adoraríamos passar o resto da nossa vida contigo e amaldiçoamos as Parcas por não nos permitirem isso. Não é justo. Não é justo elas obrigarem os pais a largar os filhos para os salvar da morte certa, não é justo elas matarem quem as contraria, não é justo matarem bebés inocentes apenas para continuarem a governar um mundo que já não lhes pertence. O mundo é teu, querida, teu e dos restantes deuses da profecia. Portanto, governa-o com sabedoria.

Porém… não queremos arriscar. Não queremos arriscar que o teu poder se revele antes de estares pronta para o receber. Tenho a certeza de que os outros deuses da profecia irão ter uma vida muito difícil, com os poderes deles a virar-lhes as vidas de pernas para o ar. Quem sabe se ainda não se dará uma manifestação dos seus poderes de tal modo gritante que chame a atenção das Parcas? Serão descobertos e mortos de imediato. Portanto, para te salvaguardar desse destino, coloquei um selo em ti, um que irá bloquear os teus poderes e todos aqueles conhecimentos que ele automaticamente te daria. Quando for o momento, o selo será aberto. Bloqueei apenas a saída do teu poder, mas não impedi a “magia” de entrar em ti e tocar nele. Assim, quando fores para Atlantis (eu sei que irás para Atlantis), o poder será estimulado por essa mesma magia e irá lutar para sair. Dar-te-á dores de cabeça descomunais enquanto não for aberto, especialmente se surgir uma situação em que realmente precises de o usar, mas é o necessário para revelar que esse selo existe e que está aí para ser aberto. Esperamos que não tenhas de sofrer durante muito tempo com o selo.

E enfim, não há muito mais para ser dito. Amamos-te do fundo do nosso coração e iremos sempre olhar por ti, estejamos onde estivermos, para garantir que terás uma vida longa e feliz.

Beijos e abraços,

Do pai e da mãe.

Quando L terminou de ler a carta, deixou a cabeça descair e permitiu-se a chorar livremente, com soluços que obrigaram Shark a abraçá-la.

– Raios – praguejou ele – Estás a chorar outra vez…

– Deixa-a chorar – murmurou Saya, com uma expressão triste – Ela precisa disso. Irá aliviá-la.

Shark ficou a olhar para Saya alguns momentos, surpreendido.

– Tem um grande significado, vindo de ti – murmurou Shark, que, devido ao reconhecimento de poderes que partilhava com Saya, sabia perfeitamente de onde tinha a pequena cicatriz por baixo do seu olho.

Saya baixou ainda mais a cabeça, os olhos enchendo-se de lágrimas que ela não podia dar-se ao luxo de libertar.

– Humm… L? – chamou Bella, que reparara em algo dentro do envelope de L e agora lho estendia.

Tentando controlar o choro, L retirou o que estava ainda dentro do envelope.

Era uma fotografia. Uma mulher de longos cabelos castanhos com reflexos dourados e olhos azuis estava sentada num sofá, com um lindíssimo homem de cabelos vermelhos e olhos roxos a sentado a seu lado. Os dois sorriam largamente na direção de um pequeno embrulho de mantas de um rosa muito suave, de onde saia a mão pequenina e rechonchuda de um bebé, segurando com toda a força o dedo indicador da mão do homem.

– São os teus pais – constatou Shark, chocado e surpreendido.

– E tu! – exclamou Yngrid, apontando para o embrulho de mantas.

– Ah, bolas, que tu és a cara chapadinha do teu pai – constatou Bella, espreitando a fotografia por cima do ombro de L.

L ficou a olhar a fotografia mais alguns instantes, até ela ficar desfocada pelas novas lágrimas.

– Oh, querida – gemeu Shark, apertando-a com mais força contra si.

L recomeçou a chorar, recebendo palmadinhas nas costas de várias mãos consoladoras.


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