Candidatos a Deuses escrita por Eycharistisi


Capítulo 31
Capítulo 31




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A noite já caíra e já estava na hora de recolher, portanto, Darkness não esperava encontrar ninguém na biblioteca. Ficou um pouco surpreendido quando encontrou aquela aprendiza de bibliotecária com longos cabelos vermelhos, a arrumar alguns livros.

– Boa noite – cumprimentou Darkness, fazendo a rapariga saltar de susto.

– Oh… boa noite, Darkness – retribuiu a rapariga.

– O que fazes acordada a estar horas?

– Estava só a terminar de arrumar uns livros – disse ela, olhando para os livros que tinha nos braços – Mas se precisar de ajuda, pode pedir.

– Obrigado – agradeceu Darkness – Na verdade, eu estava à procura… da chave.

– Chave? – repetiu a rapariga.

– Sim. A chave dos Arquivos Classificados.

– Oh – fez a rapariga, compreendendo – Mas, o Darkness sabe, são Arquivos Classificados, não estão ao acesso de qualquer um.

– E um Deus Supremo não pode ter acesso a esses livros? – perguntou Darkness, aproximando-se provocadoramente da rapariga, qual felino ágil e sedutor, um sorrisinho atrevido dançando-lhe nos lábios.

– P-pois, eu n-não sei – gaguejou a rapariga, completamente presa na teia de Darkness.

– Só preciso de entrar alguns minutos – continuou Darkness – Poderás até entrar comigo, para teres a certeza de que não estrago nada. Aliás, se és aprendiza de bibliotecária com certeza que tens um poder ligado à Literatura, estou certo? – perguntou, ao que a rapariga acenou – Nesse caso, poderás até ajudar-me a encontrar aquilo que procuro.

– E-eu não sei se devo – negou ela, nervosa.

– Por favor? – implorou Darkness, ainda com um sorriso sedutor, dando mais um passo na direção da rapariga e cobrindo-a com a sua sombra, os seus corpos perigosamente perto um do outro – Eu porto-me bem, prometo… Ah! Que desleixo o meu, nem sequer perguntei o teu nome.

– Yngrid – murmurou ela.

– Yngrid – repetiu Darkness – Um nome bonito para uma rapariga muito bonita.

Yngrid mordeu nervosamente o lábio, enquanto corava a desviava o olhar para o lado.

– O que é que o Darkness vai procurar nos Arquivos Classificados? – perguntou Yngrid.

Darkness sorriu, sabendo que a tinha na mão e que ela estava a ceder.

– Mitos – disse ele – E história. Na verdade, vou à procura do ponto em que as duas coisas se conjugam.

– Como assim? – perguntou Yngrid, confusa e curiosa.

– Vem comigo à sala dos Arquivos Classificados e eu conto-te.

Yngrid mudou nervosamente o peso de um pé para o outro enquanto ponderava. Mas Darknessa sabia que ela ia ceder, tal como aconteceu.

– Okay – suspirou ela – Vou só terminar de arrumar estes livros e… eu levo-o lá.

– Podes tratar-me por tu – disse Darkness, com um pequeno sorriso, antes de se afastar na direção das prateleiras que tinham os seus livros favoritos.

Não demorou até Yngrid se juntar a si, tendo já arrumado tudo o que tinha para arrumar. Darkness seguiu-a enquanto ela se dirigia à sala privada das bibliotecárias e depois se chegava a uma cápsula semelhante às que levavam aos quartos, também com uma pedra branca no interior. Yngrid entrou e olhou discretamente por cima do ombro para verificar se Darkness não estava a espreitar a senha que ela colocaria na pedra. Ao vê-lo muito entretido a observar os quadros nas paredes, marcou rapidamente a senha, fazendo um pequeno compartimento abrir-se à altura do seu rosto, com uma pesada chave dourada no interior. Yngrid pegou-lhe e ela e Darkness dirigiram-se depois para uma abertura em arco que tinha uma placa em cima a avisar: “Arquivos Classificados, acesso reservado”. Desceram umas pequenas escadas em caracol até chegarem à frente de uma pesada porta de madeira escura.

Yngrid olhou para Darkness, ainda indecisa sobre estar a fazer a coisa certa. Mas quando ele lhe dirigiu um pequeno sorriso de lábios apertados e piscou os olhos inocentemente, ela não teve outra hipótese. Com um pequeno suspiro, inseriu a chave na fechadura e abriu a porta.

A sala dos Arquivos Secretos era pequena, mas estava atafulhada de coisas. Tinha uma forma perfeitamente circular, um teto baixo e o chão coberto por uma fofa e velha alcatifa vermelha, castanha e dourada. As paredes encontravam-se completamente forradas com prateleiras, com livros e mais livros, pesados, grossos e poeirentos empilhados descuidadamente uns por cima dos outros. E havia ainda mais livros sobre as pequenas mesas espalhadas pela divisão, que quase não davam espaço nenhum para andar. Por cima de algumas dessas pilhas de livro estavam objetos cobertos de pó, um busto, um castiçal antigo, uma jarra de porcelana branca e azul… Havia até uma armadura completa e enferrujada atrás da porta.

– Vai ser complicado encontrar alguma coisa no meio desta confusão toda – comentou Darkness, olhando em volta – Vocês, bibliotecárias, não tomam conta disto?

– Tentamos entrar nesta sala o mínimo de vezes – revelou Yngrid – Há segredos obscuros e perigosos aqui, alguns dos quais estão melhor onde estão. No desconhecimento.

– Palavras sábias para uma tão jovem candidata a deusa – disse Darkness, dirigindo um sorriso a Yngrid por cima do ombro.

A jovem retribuiu nervosamente o sorriso.

– Eu… eu poderei ajudar – revelou ela – Se me disseres aquilo que procuras.

Darkness começou a andar ao redor da sala, olhando para as prateleiras enquanto o fazia.

– Lembrei-me hoje de um mito que já ouvi algures – começou ele a contar – Um mito sobre a existência de uma profecia que falava sobre a reorganização do mundo tal como o conhecemos, desde os seus alicerces até à superfície.

– E era uma profecia boa ou má? – perguntou Yngrid, nervosamente.

– As profecias nunca são boas ou más, existem simplesmente – disse Darkness, encolhendo os ombros – É a ação daqueles a quem a profecia diz respeito que é boa ou má. Dado que a profecia fala da reorganização do mundo, penso que é do interesse de todos que ela corra pelo melhor. Infelizmente… não tenho a certeza de que isso esteja a acontecer.

– Esteja a acontecer? – repetiu Yngrid – Achas… que a profecia já se está a realizar?

– Desconfio – confirmou Darkness, acenando, ainda a olhar para as prateleiras – Lembro-me vagamente de alguns versos da profecia, mas são só alguns. A maior parte já se perdeu na minha memória.

– E como são? – perguntou Yngrid, com a respiração suspensa.

Darkness pigarreou levemente, para aclarar a voz, antes de começar a recitar:

Tudo é feito aos círculos e o Universo não é exceção

Para que o velho dê lugar ao novo, vem primeiro a destruição

Construir, destruir e reconstruir, essa será sempre a norma

Construir, destruir e reconstruir, até atingir a verdadeira forma

Três fases são precisas, três novos deuses elas encarnarão

Terão quatro caras e o mundo e a vida dominarão

Yngrid engoliu em seco.

– Que quer isso dizer? – perguntou.

– Não tenho a certeza, mas acho que é algo como “renovar” – disse Darkness – Poderia chegar muito mais depressa à conclusão se conseguisse encontrar o texto da profecia na sua íntegra – ele lançou um novo sorriso a Yngrid – Se me pudesses ajudar a encontra-lo, ficaria muito grato.

– Sem problema – cedeu Yngrid, sorrindo e aproximando-se da pilha de livros mais próxima, estendendo a mão.


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