Candidatos a Deuses escrita por Eycharistisi


Capítulo 30
Capítulo 30




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Não foi difícil a L encontrar Gina. Estava no jardim, como era seu hábito. Mas desta vez não cantava, estava simplesmente a acariciar as escamas da sua pulseira, ou melhor, da sua cobra, enquanto olhava, absorta, para a água do charco.

– Olá, Gina – cumprimentou L, sentando-se ao lado da rapariga que, como sempre, não lhe respondeu – Os poderes do Lilás e do Niko acabaram agora mesmo de despertar. Sabes alguma coisa sobre isso?

Gina espreitou L pelo canto do olho, apenas esse pequeno gesto indicando que a conversa de L conseguira realmente interessar-lhe.

– Porque haveria de saber? – perguntou ela, fazendo L saltar de susto por ter falado.

– Eu sei que… isso não é uma pulseira – disse L – É uma cobra.

Gina fez um pequeno sorriso perigoso e parou de acariciar a cobra imóvel, que de imediato ergueu a cabeça do pulso de Gina e fixou L, como se estivesse a ouvir e entendesse a conversa das duas raparigas.

– E… – tentou L continuar, mexendo-se desconfortavelmente sob o olhar do réptil – o Lilás fez brotar uma flor de dentro de um livro. E o Niko uma borboleta. Isso, a meu ver, quer dizer que há uma ligação entre vocês.

– Não há ligação nenhuma – negou Gina, levantando-se – E está na hora da próxima aula.

Gina colocou a sua mala ao ombro e L reparou que um pequeno e adorável caracol estava a subir, com muito esforço, pelo tecido da mesma.

– Tens um caracol na mala – avisou L, sem pensar. Arrependeu-se logo de o ter feito, ao ver o olhar que Gina lançou à pequena e inocente criatura. Gina lançou a mão para o bichinho, deixando L com a certeza de que o iria esmagar com o punho. Porém, para surpresa da rapariga, limitou-se a acariciar-lhe a carapaça com os dedos incrivelmente cuidadosos, as antenas do caracol estendendo-se para tocar a pele da mão de Gina, parecendo mesmo um cachorrinho a oferecer-se para receber mais carícias.

– Vai para a tua aula – disse Gina, ajeitando a alça da mochila, deixando o caracolzinho no sítio em que estava – Parecerá mal se começares a faltar às aulas, logo depois de me teres convencido a mim a frequentá-las.

E afastou-se.

* * *

L não se conseguia concentrar na sua aula de Runas, tentando perceber quem é que Gina era afinal. Havia muitas coisas que não faziam sentido naquela história, muitas peças soltas, mas enquanto Circe não conseguisse fazer a Bolha de Isolamento, não se podiam sentar todos, a tentar juntar as peças, sem correr o risco de serem apanhados pelas gémeas.

Olhou várias vezes por cima do ombro, na direção de Lilás e Niko, que pareciam estar a conversar, discretamente, por papelinhos. Eles sabiam algo sobre Gina, caso contrário, não andariam sempre a perguntar por ela. Mas o que raio saberiam? Tanto quanto L sabia, eles nunca tinham falado com ela.

“O reconhecimento de poderes”.

Os conceitos que Darkness lhe ensinara no dia anterior estalaram-lhe todos na mente, fazendo-a tecer uma data de ideias que, apesar de mirabolantes, eram a única explicação.

Se Lilás e Niko eram Deuses Adeptos cujos poderes tinham acabado de despertar, então Gina… era a sua Deusa Suprema. Não havia mais dúvidas, Gina também era uma deusa perdida no mundo humano. Mas qual era o seu poder? Tinha de ser algo ligado à Vida. Fora por isso que Darkness ficara cilindrado ao vê-la. Se o que Snow lhe explicara era verdade, era óbvio que o Deus Supremo da Morte se sentiria atraído por uma deusa que tinha uma qualquer bizarra ligação com a Vida.

Quando a aula terminou, encontrou todos os seus amigos à sua espera na parte de fora da sala.

– Falaste com a Gina? – perguntou Saya.

– Falei – confirmou ela – E acho que já sei algumas coisas.

– Não nos contes – avisou Circe – Estou quase a aprender a fazer a Bolha. Falaremos nessa altura.

L acenou, vendo que Lilás e Niko se afastavam sorrateiramente do grupo. Sabia que eles iam à procura de Gina. E queria segui-los, para ouvir a conversa que teriam. Mas Shark desviou-a desse caminho, envolvendo-lhe a cintura com um braço e depositando-lhe um beijo na testa enquanto a puxava na direção do refeitório.

Cruzaram-se com Tech e Dest a meio do caminho, que baixaram rapidamente o olhar e apressaram o passo para longe deles. No entanto, não foram longe. Circe correu atrás deles e agarrou uma orelha a cada um, puxando-os para junto do grupo.

– Vocês nem pensem que se vão embora – disse ela – Vocês ainda têm muitas contas a ajustar connosco.

– Podem crer – rosnou Burn – Desde quando é que vêm deuses do mundo…

Softhe lançou rapidamente as mãos à cabeça de Burn, colocando uma delas sobre a sua boca para o calar.

– Não fales nisso em voz alta – sibilou-lhe Hisui.

– As gémeas estão a ouvir – completou Circe.

Burn revirou os olhos levemente e depois afastou a mão de Softhe dos seus lábios, dirigindo para ela um olhar zangado.

– E não me toques – disse-lhe ele – Já me bastou a outra tarde, em que andei o tempo todo contigo agarrada a mim.

– Oh, ‘tadinho do Burn, não gosta que lhe toquem – disse Softhe, estendendo a mão para fazer carícias nos cabelos da nuca de Burn.

– Ah, para quieta! – exclamou Burn, dando uma sapatada no braço de Softhe.

Ela soltou uma gargalhada malandra antes de se abraçar ao braço de Burn, esmagando-o contra o peito e poisando o rosto contra o seu ombro. Burn bateu com uma mão na testa, soltando um suspiro aborrecido.

– Mas eu não estou lixado com esta miúda? – queixou-se ele.

Os outros riram-se.

– Hey, Burn – chamou Shark, com um sorriso provocador – Já contaste à Softhe qual era o teu segundo nome?

Burn lançou um olhar de aviso a Shark.

– Não te atrevas – rosnou-lhe.

– O quê? – perguntou Softhe, espetando a cabeça, subitamente interessada – Qual era o segundo nome do Burn?

Shark trocou um olhar malandro com os outros rapazes, deixando Burn para o fim, que tinha os maxilares cerrados de raiva.

– Ai de ti que pronuncies esse nome – disse Burn – Posso não ter os meus poderes, mas ainda te consigo partir os dentes.

– Diz-me já o segundo nome do Burn – exigiu Softhe.

– Não te atrevas, Shark…

– Pronto, eu não digo o teu segundo nome – cedeu Shark, mas ainda a sorrir – Está descansado, Alexandre.

– Seu…! – exclamou Burn, querendo avançar para Shark mas sendo impedido por Softhe, ainda agarrada ao seu braço.

– Alexandre é um nome bonito – disse Softhe, confusa com a reação de Burn.

– Mas eu odeio – disse o rapaz – Ai de ti que me comeces a chamar por esse nome – acrescentou, apontando um dedo ameaçador à rapariga.

– Trata bem a tua namorada, Alexandre – disse Shark, rindo.

– Está calado, Bryan – rosnou Burn, com um sorriso vitorioso nos lábios.

– Eu não tenho nenhum trauma com o meu segundo nome – disse Shark – Podes chamar-me Bryan à vontade.

– Argh, tu metes-me tanto nojo! – gritou Burn.

– É um pouco estranho, agora que vos conheço, saber os vossos nomes anteriores – disse L, com ar pensativo.

– Hey! – exclamou Ónix – Terei sido eu o único a reparar que o Burn não desmentiu o Shark, quando disse que a Softhe era namorada dele?

– Ah! – fizeram os rapazes todos, com ar entendido, lançando olhares malandros a Burn, que ficou vermelho de raiva.

– Nós não somos namorados – negou Softhe – Somos noivos!

– Tu – disse Burn, apontando um dedo ameaçador a Softhe – és o meu pior pesadelo.


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