Ela o visitava todos os dias. Repetia para si mesma que era algo natural já que era sua médica, ignorava o fato que qualquer novidade em seu quadro, qualquer urgência e uma das enfermeiras a chamaria imediatamente, ela não sabia por que, mas o estranho inconsciente e que ainda não havia sido identificado havia chamado sua atenção, o fato de não haver ninguém para visita-lo, de não encontrar ninguém que estivesse lá esperando que acordasse a sensibilizava, de uma maneira que não queria parar para pensar.

– Já virou uma rotina. – Caitlin falou sentando-se ao seu lado, era a hora do almoço, ou lanche no caso delas, ser médico implicava em quase nunca completar uma refeição e viver sempre de frutas e barra de cereais, hoje era um dia surpreendente calmo e isso a deixava inquieta. – Todo os dias, durante duas semanas as 18:00 você visita ele.

– Não começa Cait. – Protestei.

– Você está se apegando. – Continuou ignorando meu pedido. – Você faz isso.

– Eu sou médica. É normal, é preciso se sensibilizar com o quadro de um paciente. –Retruquei.

– É mais humano. – Concordou. – E eu mesma o faço, mas você sempre se apega demais, lembra-se da senhora Dembogurski?

– Você e Barry sempre voltam para esse tema. – Suspirei.

– Você chorou por quase uma semana. – Lembrou-me.

– Ela era gentil, e tinha um sotaque adorável. – Respondi. – E eu não quero falar de sua morte.

– Eu só estou dizendo que talvez você deva se afastar um pouco. – Mexi em minha comida inquieta. – Ele pode não acordar Felicity.

– Neuro é minha área, eu sei as chances dele. – Dei de ombros. – Isso me intriga, todos os exames dele me dizem que ele não deveria estar em coma. Ele já deveria ter acordado. – Ela franziu o cenho compartilhando da minha confusão. - Ninguém apareceu atrás dele, eu me pergunto quem ele é.

– Quem é quem? – Barry perguntou sentando-se ao lado de Cait.

– O desconhecido de Felicity. – Caitlin respondeu.

– Meu paciente. – A corrigi.

– O que está em coma. – Barry afirmou. – Você não está se apegando a ele está? Por que você sabe como ficou com a morte da Senhora...

– Vocês dois não vão esquecer isso nunca? – Reclamei. – Meus pacientes. Meus sentimentos, parem de me julgar por isso. E ele não vai morrer. – Frisei.

– Pacientes em coma...

– Pare. – Interrompi Barry e fiquei surpresa com meu próprio tom brusco.

– Desculpe. – Pediu. – Apenas nos preocupamos com você.

– Eu sei. – Falei com tom mais ameno. – Desculpe Barry, não queria ser rude... Eu... – Levantei-me. – Eu... Eu preciso verificar um paciente na ala infantil.

– Felicity... – Caitlin me chamou.

– Vejo vocês mais tarde. – Murmurei em despedida. Entretanto não foram os corredores da ala infantil que acabei seguindo, antes que eu percebesse entrei em seu quarto. – Olá estranho. – Sorri. Eles tinham razão havia virado uma rotina e mais uma vez estava me apegando, mas mesmo estando ciente disso não pude evitar me aproximar dele segurar sua mão. – Você precisa acorda. – Murmurei. – Talvez você tenha uma família esperando por você. - Encarei sua mão desprovida de aliança. – Eu espero que você não seja aquele tipo de cara que esconde a aliança quando a esposa não está por perto, você tem um rosto bonito, você deve ter alguém esperando por você. – Soltei sua mão dando um tapinha de leve antes. - Veja o que você fez comigo, conversando sozinha, eu sou médica, não deveria estar fazendo isso, e por isso que vou parar agora. – Ri. - Vejo você amanhã estranho, a não ser que resolva... Não sei... Acordar antes? – Sugeri, eu estava soando como uma idiota, mas eu não me importava. – Como sua médica é uma ordem. – Sussurrei antes de finalmente me afastar. Algumas horas depois fui chamada com urgência, eu pensava o pior quando o observei acordado, agi em modo automático fazendo todos os procedimentos corretos e questões padrões. Seu nome era Oliver Queen, era engenheiro, tinha apenas uma irmã, pais morreram, sem mais irmãos. Estava em viajem a trabalho quando foi abordado por três homens, levaram sua carteira com documentos e mesmo sem resistir ele foi agredido. Enquanto eu continuava a questiona-lo seus olhos observavam meu rosto atentamente, mais tarde quando voltei para verifica-lo o encontrei tentando se levantar.

– Sr. Queen. – O chamei me aproximando devagar, seu rosto se voltou em minha direção. – Você passou muito tempo inconsciente, deitado. Seria melhor ir um pouco mais devagar com os exercícios.

– Eu quero ir pra casa. – Respondeu.

–Não seja teimoso. – Encostei minhas mãos em seu peito forçando-o levemente para trás. – Logo sua irmã estará aqui, até lá pretendo mantê-lo nessa cama. – Seu sorriso como resposta me fez notar o quanto havia saído imprudente, fechei meus olhos brevemente. – Deus! Não era para ter saído dessa forma. – Quando percebi que ainda sorria, acabei por eu mesma sorrir em resposta. – Fique na cama, sou sua médica, é uma ordem. – Seu cenho franzido me preocupou. – O que? Está sentindo alguma coisa?

– Sua voz. – Meneou a cabeça. – É como se seu já houvesse a escutado antes.

– Eu estive aqui muitas vezes. – Respondi. – Não sozinha, com minha equipe, não que sozinha fosse errado. – Meneei a cabeça cortando-me. – Você deve ter escutado nossas conversas sobre seu quadro... Clínico.

– Quando poderei ir embora? – Perguntou voltando a soar entediado.

– Logo. – Respondi dando um leve tapinha em seu ombro. – Você está respondendo bem, sequer parece ter ficando duas semanas em coma. – Comentei. – Tão logo sua irmã chegue poderá ir.

– E quando minha irmã chega? – Perguntou.

– Já entramos em contato com ela. – Afirmei. – Bem, eu acredito que esta será a última vez que nos vemos Sr. Queen. – Coloquei minhas mãos no bolso do jaleco e o encarei analisando seus traços, amanhã eu viajaria para NY, uma conferência importante. – Fico feliz que esteja melhor. – Acenei me despedindo.

– Obrigado. – Escutei sua voz atrás de mim e virei-me para encontrar sua expressão intensa. – Drª Smoak. – Por um momento pensei que falava de algo mais, mas tirei essa ideia da cabeça tão rápido quanto veio, assenti mais uma vez guardando seu sorriso na memória e por fim sai.

Dias se passaram, o estranho... Oliver só era lembrado por mim, e por meus dois amigos que insistiam em falar sobre ele de vez em quando. Hoje era um dos raros dias em que eu iria sair cedo, e eu precisava estar em minha casa urgentemente.

– Ei onde você vai? – Caitlin me parou no caminho.

– Para casa. – Falei continuando caminhando, ela me seguiu. – Preciso estar lá para receber minha nova inquilina.

– Eu não entendo porque você não alugou o quarto de cima para mim. – Resmungou.

– Por que você está namorando Barry. – Dei de ombros.

– Desde quando é um problema? Você que nos juntou. – Lembrou-me.

– Por que conheço Barry, logo você estará com um anel no dedo e eu terei que procurar outra inquilina. – Murmurei.

– Barry vai me pedir em casamento? – Parou em brusco.

– Eu não te disse isso. – Gritei, virei a tempo de pegar seu sorriso. Com sorte cheguei a casa com tempo para um banho, estava amarrando meus cabelos quando escutei o interfone tocar, me apressei para recepciona-la. Thea Merlyn havia respondido meu anuncio com uma velocidade incrível e alarmante, mas ela se encaixava em todos os critérios que eu havia exigido, inclusive de ser uma profissional da área da saúde, no seu caso ela ainda estava na faculdade de medicina, mas eu precisava de alguém que entendesse meus horários e problemas costumeiros, e ela se encaixou ao perfil, havíamos conversado apenas duas vezes, uma por telefone e outra pessoalmente, essa era oficialmente a segunda vez que eu a via, não esperava entretanto, encontrar olhos incrivelmente azuis me encarando com um sorriso nos lábios e uma caixa pesada nas mãos.

– Hey... – Murmurei confusa.

– Olá, Drª Smoak. – Seu sorriso se ampliou.

– Sr. Queen...

– Oliver. – Corrigiu-me. – Você pode me chamar de Oliver, considerando que não sou mais seu paciente.

– Oliver. – Repeti seu nome, estranhado o fato de ter saído tão natural. – Eu não quero ser rude, mas... O que você está fazendo aqui? – Ele abriu a boca para responder, mas sua atenção se voltou para o som de passos na escada lateral.

– Felicity. – Thea me cumprimentou alegre. – Desculpe por não avisar, este é Oliver, meu irmão, meio-irmão na verdade, ele está me ajudando com a mudança, espero que não se importe.

– De forma alguma. – Respondi automaticamente, ainda estava surpresa por encontra-lo em minha casa.

–Na verdade Thea nós já no conhecemos. – Oliver falou. Thea abriu os olhos surpresa e parencendo um pouco contente até. – Drª Sm...

– Você pode me chamar de Felicity. – O interrompi.

– Felicity. – Sorriu, e dessa vez fiquei surpresa por gostar como o meu nome soava em seus lábios. – Ela me salvou.

– Toda uma equipe Oliver. – O corrigi.

– Você é a médica que ele tanto falava? – Thea sorriu surpresa. Corei envergonhada.

– Presumo que sim. – Assenti, então apontei para caixa. – Isso não está pesado? – Ele exibiu um sorriso mínimo concordando. – Entrem. – Abri ainda mais a porta, Oliver colocou a caixa nos pés da porta. – Eu vou fazer um suco para nós. - Ofereci, eles agradeceram e avisaram que ainda iriam descer para pegar mais coisas, antes, porém encarei Oliver. – É bom te ver novamente Oliver.

– Fico feliz. – Respondeu. – Com minha irmã aqui creio que essa não será a única vez.

–Acho que não. – Concordei. Estava me afastando quando ainda pude escutar Thea falar em tom baixo, mas que não escapou aos meus ouvidos e que me fez sorrir levemente.

– Agora entendo por que me entregou o anuncio da vaga.