Cartas para Hope escrita por Skye Miller


Capítulo 18
Eighteen.


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Sei que devo algumas explicações para vocês sobre o meu sumiço, mas para quem está no grupo Mean Girls viu o meu aviso concreto sobre tudo o que estou passando, então, por favor, tenham calma e paciência comigo.
Pessoa, minha familia tá sofrendo uma crise, o que me leva a lembrar que quando eu menos esperar minha internet será cortada, pois não faço a minima ideia de quando minha mãe poderá pagar, e isso complica um pouco as coisas, mas Lan House existe pra isso e o meu amor por você é maior.
Na quarta-feira da proxima semana, 22, será meu aniversário e eu não vou ter festa e provavelmente ganhar uns dois presentes, então por favor, me deem reviews bem grandões de presente, favoritos ou recomendações, please! Faça-me feliz.
Bom, é isso espero que tenham gostado. Sei que agora a Hope deveria estar atrás do Sr. Confuso, mas eu precisava colocar esse capitulo antes, tenham calma, ainda tenho algumas coisas a organizar relacionado a essa descoberta da Hope e a inspiração está escassa.
Beijinhos de luz.



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Eu me estabeleço a uma rotina: Acordar, ir para a escola, ajudar Henry nas atividades de casa, treinar, fugir de Tyler e dormir. Todos os dias esse ciclo se repete, não há uma única exceção. De todas essas obrigações a mais difícil de seguir é a penúltima, Tyler está insuportável, no decorrer dessa semana ele veio a minha casa mais vezes que o necessário e tentou me obrigar a falar com ele. Ele virou um maníaco, na segunda feira tentou me beijar a força, na terça-feira ficou me esperando no treino e não saiu do meu lado até eu chegar em casa, na quarta-feira socou a cara de David no meio do pátio, só porque o meu melhor amigo estava me abraçando, na quinta-feira passou o dia me mandando mensagens e na sexta-feira ele me acompanhou em uma das minhas corridas matinais.

Ethan, David e Charlie estão furiosos com ele. Furiosos de uma maneira desastrosa, pois cada um tem um ponto de vista diferente. David e Charlie querem acabar com o rosto perfeito do meu ex-namorado enquanto Ethan está tentando ao máximo resolver tudo pacificamente. Henry não diz nada a respeito, ele apenas parou de falar com Tyler de uma hora para outra.

– Não sei se consigo correr mais cem metros. – Sophia diz ofegante ao meu lado. Estamos dando voltas pelos quarteirões, meu bairro é mais calmo e plano que os outros, o que facilita-me a treinar nas horas vagas. As seletivas irão começar amanhã, tenho que estar prepara fisicamente e psicologicamente. – Estou morrendo.

– Quanto exagero. – Diminuo o passo para que ela possa me acompanhar. Meu pescoço está ensopado de suor e eu tento me concentrar em manter meu tempo estável para aumentar meu recorde. – Você tem que voltar a fazer caminhada, sabe, você meio que engordou e...

Paro de falar quando Sophia olha irritada em minha direção, murmuro um "Desculpa" e continuo a correr. Na terceira volta uma figura musculosa loira se junta a nós, o sorriso de Ethan está vibrante e eu fico feliz em saber que ele não está mais triste, gostaria de saber o motivo dele ter ficado tão depressivo nas últimas semanas.

– Está ansiosa? – Eu nego a sua pergunta, porque realmente não estou. Sophia já voltou para casa, mas eu continuo correndo e acompanhando a sincronia de Ethan. – Bom, eu estou, pela primeira vez vou disputar com mais pessoas da escola além da Palmer.

– Falando nela, acho que ela tem grandes chances de ganhar. – Digo desanimada, porque apesar de negar eu quero ir para as regionais e em seguida para as olimpíadas. É minha única chance de fazer algo produtivo que irá marcar meu último ano escolar.

– De qualquer maneira, saiba que estou apostando em você. – Eu sorrio quando Ethan me dá um leve empurrãozinho. Ethan é mais novo que eu um ano, então ele provavelmente irá ter a oportunidade de participar novamente próximo ano. – Não estou me importando com a classificação que irei ficar, to competindo para alegrar o velho.

Com o "velho" ele quer dizer o treinador Alex, é até difícil de acreditar que são pai e filho, eles se comportam como se fossem irmãos. Não sei se gostaria de me comportar assim com a minha mãe, visto que ela é uma mulher exagerada e tem mais intimidade com Henry do quê comigo, por isso sou mais apegada ao meu pai e em hipótese alguma o trataria como irmão, sua brutalidade e ignorância não permitiria tal ato.

Estou chateada com ele, por ter diminuído minha mesada e parado de pagar minhas aulas de balé, talvez seja um castigo por eu ter enfrentando-o. Na sexta passada Henry e eu estávamos no me quarto estudando química –Ele é horrível nesta matéria– por isso todas as sextas revisamos todo o capítulo juntos, então enquanto conversávamos sobre estados químicos meu pai adentrou o quarto de maneira bruta e ficou nos encarando sem expressão alguma, depois, na maior frieza do mundo, disse:

– Henry, saia do quarto.

O mais estranho de tudo foi Henry simplesmente levantar, sem hesitar nem nada. Nos seus olhos havia uma expressão de compreensão, como se ele já esperasse por isso, como uma ovelha que sabe a hora do abate.

– Estamos estudando. – Intervi e meu pai fingiu não ouvir, puxou Henry pelo braço e o arrastou escada a baixo. Automaticamente levantei e os segui.

– Sabe o constrangimento que eu passei por você não ter ido para aquela droga de reunião? – Meu pai murmurou e eu engoli em seco, atenta aos seus movimentos. – Eu fui obrigado a mentir sobre uma doença qualquer, já pensou se eles soubessem que você estava em casa jogando vídeo game? Você nunca leva as coisas a sério, Henry, você será um péssimo advogado, acabará com meu nome ao assumir a empresa.

– Eu não quero assumir nada. – Henry tentou puxar o braço e em um timing perfeito meu pai ergueu a mão e lhe acertou um tapa no seu rosto, depois outro com mais força em sua nuca.

Tudo bem, eu sei que aquilo não tinha nada a ver comigo, mas não pude evitar ficar entre Henry e Papai com um olhar desafiador. Eu estava com muita raiva da sua atitude, estava claro que ele iria continuar a bater em Henry se eu não tivesse interrompido.

– Nunca mais toque nele. –Olhei no fundo dos seus olhos. Ele parecia surpreso por eu estar desafiando-o. – Nunca mais, ouviu? Você sabia que isso é crime? Oh, sim, com certeza a vossa alteza sabe disso, já que se diz um renomado advogado e que conhece todas as leis. Se eu ver ou ficar sabendo de algo que você fez contra Henry, vou contar para mamãe, ela certamente vai me apoiar em relação a ir na delegacia fazer uma denúncia.

Eu estava cansada de ver Henry com hematomas pelo corpo, estava cansada de ser obrigada a ver meu pai descontar sua ira no meu pobre irmão, que não tinha nada haver com seus problemas.

John me encarou tão diretamente que eu achei que ele iria me bater, mas a adrenalina estava tão forte que eu não senti medo. Mas, agora, tento evitá-lo ao máximo possível temendo algo que ele possa fazer contra mim.

Ao abrir a porta de casa encontro Sophia brincando com Muffin no sofá e sorrio. Estou tão cansada que apenas subo para meu quarto, banho e me arrasto até a cama.

Modifiquei algumas coisas para conseguir me adaptar melhor, no teto colei alguns dos incríveis desenhos do Sr. Confuso, uma prateleira foi adicionada a parede para guardar o toca discos e os outros presentes. Minhas cartas se encontram agora dentro de uma caixa em um ponto estratégico no final da terceira prateleira, todas em perfeito estado e rodeadas por uma fita vermelha em um perfeito laço. São vinte e duas ao total, existem cartas tão intensas que não tive coragem de responder. Cartas em que o Sr. Confuso usa um tipo de linguagem diferente, meio poético, declarando de um jeito exagerado seu amor por mim, lembrando-me do Romantismo em Portugal.

Eu sinto, ao ler meras palavras, que ele me ama. Que é verdadeiro. Talvez eu não devesse acreditar nessas palavras, talvez eu devesse observar as ações para não me decepcionar, porém eu o amo. Sim, amo um rapaz cujo não faço a mínima ideia de quem seja. Sei que ele faz parte do meu cotidiano, sei que ele está mais próximo do que imagino, mas ao mesmo tempo ele está tão longe, tão inalcançável, e isso é tão ironicamente confuso. Mas, depois de tanto tempo negando, afirmo dizer que o amo, de um jeito bobo e clichê, de um jeito meigo, daquele jeito que dá um frio na barriga, como se tivesse acabado de sair de uma montanha russa ou atravessado uma lombada em alta velocidade.

Quando meu irmão tentou cometer suicídio, as cartas serviram de uma espécie de apoio. Li aquelas em que o Sr. Confuso falava sobre Henry, falava que devêssemos ter paciência com ele, pois ele estava apenas passando por uma fase difícil e que deveríamos estar ao lado dele de forma implícita, porque se estivéssemos de forma explicita nós o sufocaríamos. Certa vez, no telefone, o Sr. Confuso revelou que as vezes se sentia perdido dentro de uma bolha que ele mesmo havia criado, e eu fiquei pensando no fato de que o mesmo pudera ocorrer com Henry. De alguma maneira, suas cartas começaram a refletir no meu cotidiano, cartas antigas me deram um empurrãozinho para frente quando eu achei que não haveria mais esperanças.

Lembro-me perfeitamente bem que, três dias atrás, Hannah Wade apareceu na porta da minha sala segurando suas partituras de maneira furiosa. Hannah é uma morena (artificial, SÉRIO, AQUILO NÃO PODE SER VISTO COMO NATURAL EM MINNEAPOLIS) bem bonita, apesar de ser relativamente baixa, bem mais baixa do que eu. Normalmente, Hannah tenta se esconder das pessoas atrás de seus óculos e suas partituras, andando rapidamente e com os olhos cravados no chão, mas, naquele dia ela estava com a cabeça erguida e uma expressão irritada. Na verdade, era eu quem deveria estar irritada com ela por ter beijado meu ex-namorado quando eu ainda estava namorando com ele, mas tudo o que senti foi um desconforto pela maneira como ela me encarava.

Suas acusações foram ridículas, suas especulações sobre eu ter de alguma maneira manipulado Tyler a se tornar o garoto obsessivo ao qual ele havia se tornado. Ela deixou bem claro que a culpa para Tyler estar dessa maneira havia sido eu. Depois desse teatro com todos me olhando, Tyler ficou ainda mais irritante, seguindo-me nos corredores e tentando encontrar briga com David – Ao qual tem rosto, olhos e sorriso meigos, mas é temperamental pra caralho. – e eu tentava ao máximo ignorar sua presença. A maneira como consegui fugir das acusações de Hannah e as perseguições de Tyler foi lendo as cartas do Sr. Confuso, aquelas ao qual ele deixava bem claro o fato do meu nome, Hope, dar um significado extremo de esperança para ele, aquelas que ele dissera o quanto eu sou especial e linda. Suas cartas foram meu ponto de refúgio.

Meu mural continua no mesmo lugar, mas adicionei algumas fotos ao lado dos desenhos que não coloquei no teto. Está mais acolhedor e da última vez que David esteve aqui pareceu aprovar, ele tem um “quê” de designer e arquiteto.

Meus olhos vagueiam pelo quarto e pousam na grande e velha máquina de escrever no guarda roupa, faz mais ou menos duas horas que ela chegou do concerto e parece novinha em folha pela nova tinta preta que a encobre. Não sei ao certo o que irei fazer com ela, já que Henry nunca mais tocou no assunto. Às vezes, quando falamos do vovô, ele parece decepcionado por ter jogado fora o único bem que herdou, mas logo em seguida resmunga sobre ser idiotice perder tempo escrevendo textos. De alguma maneira a ignorância do meu pai têm afetado seu metabolismo, logo ele, que tinha opiniões e personalidade própria, está se tornando uma cópia de John. Deve ser por isso que ele está tão infeliz em ter que participar de tantas reuniões com velhos entediantes.

Fecho os olhos e começo a pensar em como será as seletivas amanhã. Eu quero ganhar, pois ao contrário de Ethan não tenho o próximo ano para a segunda chance, quero ir para as regionais e logo em seguida as olímpiadas. Mas, talvez eu esteja sonhando alto demais, mas sei que irei fazer meu melhor.

A única coisa ruim em participar disso tudo é o simples fato de que eu não posso fumar. Isso me deixa anestesiada, agoniada e com pensamentos absortos. Às vezes sinto saudades da fumaça presa em minha garganta, da sensação de liberdade quando vejo as pequenas bolinhas se formando ao soprar o ar para fora. Sinto saudades das sensações, do gosto e principalmente do momento pós-fumo, aquele momento em que eu me sentia uma adolescente rebelde clichê por não ter dezoito anos e estar caminhando em direção a um câncer pulmonar em plena flor da idade.

Uma vez, Callie afirmou que, se meu pai é capaz de deixar Henry de olho roxo por chegar atrasado três vezes consecutivas na escola ele com certeza é capaz de me deixar sem um dente sequer na boca ao descobrir sobre meus cigarros. Mas não gosto de pensar nisso, não gosto de imaginar meu pai levantando a mão em minha direção. Eu nunca bati em alguém além de Anna Palmar. – Os soquinhos e chutes toscos que já dei em Henry não contam, já que ele me batia da mesma maneira. E pior, ele nem sequer pedia desculpas – e não será tão cedo o momento que irei partir para a violência, seja qual for o motivo.

Sinto um peso extra na cama e ao abrir os olhos me deparo com Muffin encarando-me curiosamente, ela cresceu bastante, desde que cheguei da Califórnia aparenta ter um ano e não alguns meses. Seu focinho bem moldado se aproxima do meu cabelo e eu rio, porque ela adora brincar com as minhas madeixas castanhas. Eu gostaria que Muffin brincasse mais comigo, já que sou sua dona, mas ela é mais apegada ao meu irmão, vive constantemente do seu lado no sofá e dentro do seu quarto, é engraçada a maneira como ela prefere ele a mim.

– Amanhã será um grande, grande dia. – Murmuro em um suspiro e acaricio a orelha de Muffin.

...

Os gritos animados na arquibancada podem ser ouvidos a quilômetros de distancia. Eu sorrio para qualquer pessoa que vem me cumprimentar. Está fazendo frio, mas consigo ver vestígios do sol atrás das nuvens. Normalmente eu odeio dias assim – Na verdade odeio qualquer dia que não haja calor. – mas hoje é uma exceção devido a minha animação em relação às seletivas. Estou bem disposta e nervosa, já que estou competindo com pessoas que já estão acostumadas a passar por isso.

Minha mãe veio vestida de um jeito engraçado: Calça leggin e tênis, parece que saiu de uma academia, mas na verdade está assim para que eu me sinta a vontade ( E para chamar a atenção também, ela adora exibir seu corpo de quarenta e cinco anos bem formoso) e meu pai não veio. Isso me irrita, ele disse que tinha uma reunião importante e de quebra arrastou Henry com ele.

Tento não pensar nisso enquanto amarro meu tênis e ajeito meu cabelo. As luzes ao redor da pista estão ligadas e fazem meus cabelos parecerem loiros quando passo por elas, isso me faz sorrir porque é o único momento que fico parecida com os Adams. Eu gostaria de estar sempre parecida com eles, mas isso provavelmente é algo impossível devido ao meu jeito de falar e meu tom de pele meio bronzeado. Ando um pouco pela pista e aceno para Anna Palmer, ela está meio ocupada tentando prender o cabelo com um coque, já que esqueceu sua liga e ninguém tem para emprestar, caso seu cabelo solte no meio da corrida ela irá se atrapalhar um pouco devido o comprimento do seu cabelo.

– Vim desejar sorte pra minha baixinha. – Charlie diz me abraçando com força. Às vezes ele me intimida devido sua altura e a quantidade de músculos, ele parece com um jogador de basquete profissional, me lembra o Beckendorf da saga Percy Jackson. – Você vai arrasar.

– Eu sei que você é capaz. – David aparece do outro lado e pisca um olho de forma descontraída, mas nada fica descontraído em David, ele é bonito demais para ser levado a sério. – Faça o que o Smith não fez: Traga ouro para nossa escola! Chega de prata, você vai para as regionais e não importa se lá sua classificação vai ser ruim, o importante é você ganhar aqui, hoje, nas seletivas. Você é capaz, Hope, você sabe disso.

Minhas bochechas ficam automaticamente vermelhas quando ambos dizem isso. Eu assinto, um tanto quanto confiante devido todo o apoio que estou recebendo. Minhas amigas estão na arquibancada, Callie e Jassie vestem roupas iguais para chamar a atenção e seguram um cartaz e eu me surpreendo ao constar que Lília está entre elas, com uma câmera na mão e acenando para mim. Eu aceno sem acreditar no que estou vendo e um sorriso bobo surge em meus lábios, eu acho que estamos bem, claro que não totalmente bem, mágoas fazem um estrago enorme na vida de uma pessoa, mas estamos bem, afinal.

Eu me organizo ao lado dos outros competidores. São quinze ao total, olho para o lado e vejo que Ethan está na outra ponta e ele também olha para mim. Ele sorri, um sorriso radiante e faz um “legal” com o polegar. Minha respiração ainda está estável, mas meus batimentos cardíacos estão tão acelerados que se fosse em outra ocasião eu acharia que estava tendo o inicio de um infarto. Meus ouvidos estão aguçados, esperando o sino soar.

E então, eu escuto. O barulho alarmante de uma pistola sendo atirada para cima declarando o inicio da corrida e antes que eu possa ao menos piscar os olhos, começo a correr.

Uma coisa bem básica e obvia sobre o atletismo é que todos nós partimos no mesmo momento, mas apenas um é esforçado o suficiente para vencer. E enquanto avanço a linha de partida e passo por três pessoas que estão a minha frente não consigo para de pensar se estou me esforçando o suficiente para ganhar. Passei dias treinando, passei noites em claro me perguntando se valeria a pena mesmo participar das seletivas ou se seria mais fácil deixar o treinador Alex me denunciar para o diretor, passei tardes me contorcendo para não acender um cigarro e fumar até não saber mais quantos maços eu havia detonado. É, talvez eu tenha sim me esforçado, mas me pergunto se os outros competidores não passaram por coisas parecidas, se eles também não tiveram que deixar seus hobbies de lado para estarem aqui.

Eu decido então parar de pensar sobre todas essas coisas, pois isso está me deixando com uma sensação de fracassada. Não posso pensar no passado, não posso ficar pensando nas coisas que deixei para trás, não posso. Tudo o que importa é o agora, tudo o que a gente possui é o que está acontecendo. E nesse momento estou a alguns metros da linha de chegada. Pela minha visão lateral vejo que Ethan não está nem a frente e muito menos ao meu lado, ele deve estar atrás. Anna Palmer está na liderança, mas seu cabelo tampa constantemente seus olhos e ela vai diminuindo o passo. Estou em terceiro lugar e não consigo parar de correr, meu peito dói, eu estou cansada, estou soada e minha respiração está entrecortada, mas continuo correndo, com o rosto vermelho e a sensação de que irei me atrapalhar e cair de cara no chão. Mas eu continuo e solto um assovio quando passo para o segundo lugar.

A linha está próxima, eu consigo até distinguir os números que estão sobre cada quadradinho da fita. Eu quero sentir meu corpo sobre aquela fita, quero sentir meus pés passarem pela linha em primeiro lugar. Há um garoto na minha frente e ele corre de um jeito engraçado, lembrando-me de Sophia automaticamente. Lembro-me de suas palavras quando a deixei no aeroporto ontem: Ninguém corre mais do que você, ninguém, você tem um dom. E isso é o que me motiva a aumentar meus passos ainda mais e passar pelo garoto, ele arregala os olhos e tenta correr ao meu lado, estou poucos centímetros atrás. Eu fecho meus olhos e dou um passo longo.

Eu rompo a fita da linha de chegada. Há um friozinho na minha barriga por onde o cetim tocou – Na verdade, não sei qual é o real material, mas é tão macio que me recuso a acreditar que seja de plástico – e meus ouvidos ainda não se acostumaram com os ruídos intensos de toda a pista e arquibancada. As pessoas me cumprimentam, mas nunca sou capaz de falar algo, só sorrir e sorrir.

Mas meu sorriso se desfaz no momento em que sinto uma mão grande e suada tocar em meu ombro. Algum tempo atrás meu corpo teria entrado em combustão por sentir aquele toque, mas agora estou desesperada olhando para Charlie pedindo ajuda. Meu amigo olha ameaçadoramente para Tyler e David dá um passo à frente.

Hey, não vim procurar briga, só vim parabenizar a Adams. – Os olhos verdes de Tyler estão tão escuros e opacos que parecem ser na verdade pretos, eu já vi eles ficarem dessa cor apenas uma vez, quando ele errou um pênalti e o treinador lhe humilhou na frente de todos. Isso significa que Tyler está com raiva e esse é um dos motivos para eu estar tão nervosa. – Você fez um show em tanto, baby.

– Obrigada. – Sorrio amarelo. Hannah Wade está do outro lado da pista olhando para mim atentamente, como se eu fosse uma ameaça, como se a qualquer momento eu fizesse algo contra Tyler, o que é mais provável ser ao contrário.

– Precisamos conversar em particular. – Sua mão em meu braço se contrai e ele aperta, eu fecho os olhos para não soltar um gemido de dor por suas unhas estarem tão cravadas que machucam.

– Não precisa não. – David toma a frente puxando-me para atrás dele, ele não é muito alto em comparação a Tyler, por isso consigo olhar para o Paskin através do seu ombro. Pela expressão do meu ex as coisas ficarão sérias daqui em diante. Me surpreende saber que David, um rapaz tão maduro esteja sempre metido em encrenca, com um olho roxo e uma expressão voraz. Parece quase um escudo de autodefesa. – Você tem duas alternativas: Ir embora sem causar nenhum alvoroço ou ficar aqui irritando a Hope até o momento que eu socar a sua cara.

– Qual é o seu problema? Você morre de amores por ela, também? – A voz de Tyler está carregada de sarcasmo e eu me encolho quando percebo que tem uma plateia nos observando, ainda nem sequer recebi minha medalha e já estou sendo o centro das atenções. – Não me diga que você foi idiota o suficiente para se apaixonar por uma de suas melhores amigas. Sinto muito dizer, mas se ela não quis a mim, não vai querer você. Ela brinca com as pessoas, ela manipula e joga fora. Não está tão obvio? Ela faz isso a todo momento. Ela é uma vadia traidora, que feriu e pisou no meu coração.

Suas palavras são como um tapa em minha cara. Nunca imaginei que ele sofresse de tal maneira com nosso termino a ponto de ele falar dessa maneira, já que Callie havia me dito que tinha visto Tyler e Hannah se beijando em uma festa na casa do Louis quando nós namorávamos, mas Hannah me abordou na porta da escola e fez todo um discurso por eles estarem bêbados. Hannah parecia estar falando aquilo contra a vontade, como se estivesse sendo obrigada e eu tentei ao máximo possível compreender, já que por sonhar todas as noites com um cara desconhecido que sussurrava “Querida Hope” era quase traição, então estávamos quites, mesmo assim eu não deixava de ser vista como a corna da Walter.

O pior de tudo, é que ao digerir suas palavras, uma parte de mim concorda com ela, uma parte de mim acredita que eu sou mesmo do tipo que trato as pessoas como objeto, talvez seja por isso que tantas coisas ruins acontecem em minha vida, é um castigo por eu ser tão... tão... nossa, não há palavras para explicar.

– Tyler, acho que você precisa ir. – Digo calmamente e saio detrás das costas de David. Minhas amigas e minha mãe estão correndo em nossa direção, Ethan e Anna estão a alguns metros com expressões preocupadas.

– Eu amava você, baby. Eu ainda amo, por que você simplesmente quis por um fim nisso?

– Tyler...

– EU AMAVA VOCÊ, CARALHO.

Seu grito faz um eco por todo o espaço. Agora, definitivamente, estão todos olhando para mim. A plateia parece ter duplicado. Eu engulo em seco, vendo o rosto de Tyler se contorcer em uma careta, Hannah se aproximou e está com as mãos em seu braço tentando puxá-lo para longe, mas ele continua estático.

– Você não a amava. Você só não queria ficar sozinho. – A voz de Henry quebra o silêncio que se fez presente depois do grito de Tyler. Eu arregalo os olhos ao perceber que ele está ao meu lado, papai com certeza irá mata-lo. – Você só precisava dela para aumentar seu ego. Ou talvez ela fosse um pouquinho de brilho nessa sua vida cinza e miserável. Mas, você não a amava, porque não se machuca quem a gente ama, não se traí quem a gente ama, não se persegue quem a gente ama. Você só criou uma ilusão de que a amava, mas não passou disso: Ilusão. Eu acho que está na hora de você acordar, seguir com a própria vida e deixar a minha irmã em paz.

Não consigo parar de sorrir. Ele não me chamou de Hope, nem de Stonem, nem de pirralha ou qualquer outra coisa. Ele me chamou de irmã.

Quantos anos venho sonhando com isso? Talvez cinco? Ou quem sabe dez? De qualquer maneira estou chocada demais para falar algo e suas palavras ainda estão no ar, e eu quero agarrá-las, porque Henry nunca me defendeu dessa maneira antes e ele tem um jeito tão particular de falar sobre o amor. Acho que ele será poeta ou qualquer coisa do gênero, ele parece preferir palavras a pessoas.

Tyler suspira e saí a passos largos com Hannah na sua cola. Minha mãe está com a boca aberta e Lília olha para Henry como se estivesse orgulhosa da sua atitude.

– Eu vi você desde o inicio, você estava fantástica, estou orgulhoso.

– Você deveria estar na reunião.

– Eu sei, mas vale a pena correr o risco de levar uma surra do John para ver você correr. – Ele pisca um olho, passa a mão pelo meu ombro e se inclina para me dar um beijo na testa. Eu fico olhando para minha mãe, ela parece estar maravilhada com o avanço que demos em duas semanas. Para falar a verdade, acho que Henry sempre foi legal igual ele está sendo agora, por isso Sophia o venera tanto, eu só precisava abrir meus olhos e deixar de lado a coisa de irmão chato que me odeia, na verdade tenho quase cem por cento de certeza de que ele me ama. Henry me dá outro beijo, dessa vez na bochecha e pergunta animado: – E aí? Cadê seu troféu? Quero ver você brilhar nas regionais agora.

Eu preciso apertar os olhos para conseguir ver meu nome estampado no quadro de resultados. Estou em primeiro lugar, Anna Palmer em segundo e Ethan em quinto. Meu queixo caí ao ver a posição do Smith, ele nunca ficou em uma classificação tão baixa antes, mas parece despreocupado – Claro que ele está, ainda tem o próximo ano para competir – e me parabeniza a todo momento, ressaltando o fato de que eu sou sua bonequinha de luxo favorita. Anna está a mil sorrisos, por ter ficado em segundo poderá participar das regionais. Não sei o que esperar disso tudo, eu precisava apenas participar das seletivas, nada de regionais ou olimpíadas, estou com saudades de ter o tempo livre a tarde, estou com saudades de estar mais disposta, estou com saudades de fumar, então não sei se vou me submeter a ficar sem isso por mais tempo para participar das regionais.

Minha medalha reluz quando os flashes das câmeras surgem de todos os lados. Me sinto famosa e faço pose engraçadas para algumas fotos, acho que vou entrar para a história da Walter, nunca uma menina baixinha, magrela e invisível do terceiro ano ganhou algum titulo antes, me sinto feliz em ser a primeira.

Acredito que estou começando a encontrar meu lugar no mundo.


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Notas finais do capítulo

Sei que estou devendo um DreamCast para vocês, então aqui vai o MEU:
Hope: Taissa Farmiga.
Lília: Kylie Jenner.
Charlie: Taylor Lautner.
Taylor: Colton Haynes. (dono do meu core)
Jassie: Lily Collins.
Henry: Evan Peters (suspiro)
David: Harry Styles. (Mais gay impossivel)
Callie: Maisie Williams.
Ethan: Lucas Till.
Anna: Karen Gillan.
Louis: Daniel Sharman.
Hannah: Selena Gomez.
Alex: Ian Somerhalder

TÁ TÁ TÁ, EU SEI SEI MUITO BEM QUE A TAISSA FARMIGA É UMA PÁLIDA CAUCASIANA E É TÃO BRANCA QUE PARECE ALBINA, porém, ao criar a fic eu imaginei a Taissa um pouco parda, o que se encaixa nos padrões de aparência da Hope. Vamos lá, não custa nada imaginar a Taissa meio parda, um pouquinho mais bronzeada.
E para os desinformados de plantão (aqueles que vieeram no meu wpp em privado reclamar do cabelo da Taissa) a Taissa não é loira e muito menos ruiva, seu cabelo é castanho claro, beijo pros fãs.

Galera, mandem seu DreamCast para mim e digam o que vocês acharam do meu DreamCast.
PS: O Charlie é moreno.



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