Cartas para Hope escrita por Skye Miller


Capítulo 11
Eleven.


Notas iniciais do capítulo

Capitulo destinado a Angel pela linda recomendação!
Hello G!



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Eu chuto algumas pedrinhas do terraço enquanto olho para cima e tento não estremecer pelo frio. Hoje fui obrigada a sair de casa usando um gorro, moletom, calça felpuda e luvas, tudo isso para não congelar nesse frio horripilante. A única coisa que está me mantendo aquecida é o cigarro e eu me pergunto que trágico seria se eu não tivesse com um maço no momento.

– Eu estou preocupado – David declara sentando-se no chão e olhando para as pessoas que estão abaixo de nós. O professor de álgebra faltou, portanto estamos de horário vago. – Li ontem em um jornal que os pulmões dos fumantes e de quem está por perto ficam expostos a pelo menos 43 substâncias cancerígenas. Desculpe-me, mas eu sou muito jovem e bonito para ter câncer só porque minha amiga adora fumar na minha companhia.

Eu bufo e reviro os olhos. O céu está em uma tonalidade cinza que me agrada e faz-me relaxar. Depois de um tempo andando de um lado para o outro e chutando as pedras decido por fim sentar ao lado de David e pôr minha cabeça em seu ombro.

– Não seja idiota. Você não vai ter câncer, para com isso. – Reclamo passando meus dedos pelos seus braços expostos pela camisa regata. David é bem quentinho e fofo, o que me faz ter vontade de ficar abraçada com ele por uma eternidade. – Quem está preocupada sou eu, qual é o motivo de você estar entrando em brigas?

– Eu? – Ele pergunta indignado com os olhos arregalados. Eu assinto e ele suspira. – Você sabe que eu tenho um comportamento meio temperamental e certas pessoas provocam.

– Com certas pessoas você quer dizer Louis Haynes?

Ele estala a língua e depois revira os olhos. É engraçado a relação que todos os meus amigos tem com o David. Jassie e eu temos o David como melhor amigo, Callie é melhor amiga de David, Charlie e David são primos de segundo grau e Lília o trata como um irmão. Todos nós temos um grande carinho por ele.

– Eu não quero falar sobre isso.

– Por que vocês brigaram no treino daquela maneira?

– Eu realmente não tenho culpa se ele é perna de pau que em vez de chutar a bola em direção ao gol ele chuta na minha cara.

Eu começo a rir e me aninho mais em David, que passa o braço por cima dos meus ombros e me puxa para perto. Depois de muito esforço consigo puxar um cigarro do bolso e meio relutante David o acende para mim.

O problema de ir para o terraço apenas na companhia de David é que nenhum de nós dois ficamos atentos para o caso de outra pessoa invadir nosso espaço pessoal. Todas as vezes que decidimos vir para o terraço Charlie e Kaya vinham juntos e eles ficavam na porta para o caso de alguma pessoa subir também. E logo hoje, quando estamos apenas nós dois, a pessoa que eu menos queria ver no momento surge na nossa frente. E de quebra há um professor ao seu lado.

Eu tenho um mini infarto tentando em vão apagar o cigarro e jogá-lo para longe. Mas não adianta, Alex já percebeu e agora lança um olhar desapontado para mim, ao seu lado Ethan sorri presunçoso. Traidor.

– Eu esperava qualquer coisa de você, Adams, menos isso. – Seu tom faz com que eu estremeça e me afaste de David. Levanto-me e encaro o treinador Alex. Estou tão envergonhada. – Isso me decepcionou bastante. Você é tão jovem e está gastando tempo fumando dentro da escola como uma pessoa rebelde.

Eu gostaria muito que ele não tivesse me chamado de rebelde, porque de rebelde eu não tenho nada. Todos os meus esforços em ser uma boa filha, aluna e boa amiga foram para o espaço quando ele pronunciou essa palavrinha.

Desvio o olhar para minhas mãos trêmulas. Será que ele vai me entregar?

– Você sabia que isso é caso de expulsão? – Pergunta e eu nego timidamente. Sua voz agora está mais dura e ele me encara tão diretamente que fico rubra. O treinador Alex pode ser bem intimidante quando quer, ele é um homem com corpo definido, olhos azuis e cabelo sedoso. Confesso que se ele não fosse bem mais velho e meu professor eu me interessaria por ele. Pelo amor de Deus, o homem na minha frente é uma cópia exclusiva do Ian Somerhalder, quem não se interessaria? – Mas eu não vou denunciá-la para o diretor, Hope.

– Não? – Olho para ele surpresa. David se levanta e fica ao meu lado, também está envergonhado e se distrai brincando com os próprios dedos. Ethan está apenas parado, na sombra do pai. Esse é o real problema do Ethan, qualquer merda que ele faz o treinador Alex o encoberta. – Mas eu achei que...

– Não vou entregá-la com uma condição.

– Qual? – Pergunto desesperada.

– Que você participe das seletivas.

– Ah. – Eu murmuro. O sangue sumiu do meu rosto e eu estou analisando a proposta que tenho em mãos. Se eu não aceitar, irei ser expulsa do colégio e David será prejudicado só pelo simples fato de estar ao meu lado na hora do ocorrido. E se eu aceitar, além de ter de participar das seletivas e treinar quase todos os dias terei que parar de fumar durante todo o processo de treinamento e fases da seletiva. Não se pode ter conteúdos ilícitos no corpo/sangue quando se participa do campeonato. – Isso é chantagem.

– Não exatamente. – Ethan se intromete e eu sinto vontade de descer a mão pelo seu rosto. Como um dia que pude ser amiga desse verme? Traidor. – Isso ajudará você também, Bonequinha de Luxo, você pode muito bem ganhar uma bolsa na faculdade pelo esporte.

Eu fecho os olhos com força e suspiro. David se aproxima do meu ouvido e sussurra que eu deva aceitar. Claro que ele quer que eu aceite, porque se eu não aceitar ele será prejudicado também e talvez até expulso do time de Handebol. Isso é uma ofensa para mim, esses filhos da mãe fumam maconha nas festas e eu não posso ser feliz com a minha nicotina?

“Mas eles fazem isso fora da escola.” Meu consciente rebate e eu me sinto envergonhada mais uma vez. Que falta de sorte.

– Tudo bem. – Sibilo entre dentes sentindo-me uma covarde por nem ao menos rebater.

– Os treinos começam amanhã. – Treinador Alex ergue uma sobrancelha e me estende a palma da mão. Com todo o resto de coragem que tenho entrego todos os meus cigarros, estou surpresa por não estar chorando. – Um dia você vai me agradecer. E apesar de termos um acordo, vocês dois receberão uma punição. É proibido ficar no terraço, vocês sabem disso.

Quando Aria Gomez pulou do terraço em direção a sua morte o diretor colocou barras de metal por todo o terraço, para evitar mais acidentes. Todos se surpreenderam com o fato de Aria ter cometido suicídio, ninguém nunca compreendeu a real causa. O diretor fez uma palestra sobre pessoas depressivas e o que leva uma pessoa a cometer suicídio. Ele disse que em um suicídio todos nós somos assassinos. Depois da reforma para deixar o terraço mais seguro foi proibido a presença de alunos nesse local.

Mais um motivo para Alex me chamar de rebelde. Mais um motivo para eu me sentir envergonhada.

– Quero na minha sala uma biografia e um relatório completo sobre a vida de Primo Nebiolo até o final do horário. – Eu fecho os olhos e me seguro para não gritar. Puta merda. – Até amanhã, Hope.

Quando ele e Ethan saem do terraço eu me permito bater o pé no chão com força e gritar com todo o folego que meus pulmões me fornecem que eu odeio Ethan Smith. Eu começo a chorar quando sinto vontade de fumar para me acalmar e me lembro de que meus cigarros estão com o treinador Alex. David tenta me confortar abraçando-me com força, mas eu estou tão furiosa que apenas choro e não consigo retribuir seu abraço.

– Temos que começar isso logo. – Ele murmura ao se afastar e limpar as minhas lagrimas. Bato mais uma vez o pé no chão com força e ele beija minha testa. – Pare de chorar, Hope. Você fica horrível quando chora. A coisa mais estranha que já vi. Meu pesadelo noturno é a imagem de você toda descabelada chorando, como está fazendo agora.

Ele sorri me puxando para descer do terraço e eu sorrio entre lagrimas. Poderia ter sido pior, eu poderia estar agora encarando a fera do meu pai brigando comigo por eu ter sido expulsa. É, poderia ter sido uma catástrofe maior.

Nota mental: Matar Ethan na primeira oportunidade que eu tiver.

...

A biblioteca está parcialmente vazia. As pessoas que se encontram presentes estão ocupadas lendo algum livro em seu próprio canto. A bibliotecária olha torto em minha direção e eu apenas do de ombro, caminhando a passos largos em direção as prateleiras de biografias. David está ocupado tentando encontrar um lugar adequado para nos sentarmos sem chamar muita atenção.

Depois de vagar pelas sessões eu finalmente encontro o livro que contem biografias de pessoas famosas no mundo do esporte. Não estou nem um pouco disposta a deixar meus dedos cheios de calos por ficarem horas escrevendo sobre a vida de um homem que já morreu. Claro que ele fez falta. Claro que ele era importante. Claro que ele foi o pai do atletismo. Mas ele já morreu, já era, para quê eu vou querer saber sobre a sua vida?

Callie costuma dizer que eu não entendo de cultura. Ela fala isso porque adora ler biografias, não entendo seu interesse todo na vida de uma pessoa. Se eu quisesse saber detalhes sobre alguém, apenas criaria um fã clube, é bem mais pratico e mais moderno que encarar esses livros grossos e mofados. E pior, escrever tudo o que contem ali.

– Se você quiser eu posso te acompanhar nos treinos. – David comenta quando começamos a escrever. Estamos lado a lado dividindo o mesmo livro, enquanto a minha letra sai garranchada a sua sai perfeitamente bem, sua caligrafia é de dar inveja, tão redonda, tão sofisticada, tão David. – Sabe como é, para um goleiro algumas horas correndo em uma pista não é nada demais.

Eu reviro os olhos quando ele termina sua sentença e sorrio logo em seguida. David às vezes se gaba pelos seus sucessos nos campeonatos de tênis e pelas vezes em que salvou o time com suas defesas espetaculares. Ele não é nada humilde, sério, ele tem um ego que às vezes me deixa tremendamente incomodada.

– Você deve saber que a Callie deslocou o joelho no último treino. – Resmungo e xingo mentalmente quando erro duas palavras seguidas e tenho que passar o corretivo, tenho absoluta certeza que o treinador Alex vai me criticar por isso. – E faz parte da fisioterapia dela correr, então eu vou chamá-la. Não precisa me acompanhar.

– Não acho que ela vai aceitar.

– Por que não? – Estou confusa com isso. Por que diabos ela não aceitaria?

– Ela não se sente muito... bem na presença do seu treinador.

Solto um “Ah” e volto a escrever. Ninguém se sente muito bem na presença de Alex, ele tem uma pose meio que de indiferente. Nem mesmo os outros professores se dão muito bem com ele, mas o respeitam, afinal, ele teve um azar enorme ao engravidar sua primeira namorada com quinze anos e depois teve uma sorte grande ao superar isso, se formar e educar bem o filho. Ele é um dos casos raros de superação, mas se levar em conta, ele não teve mais nenhum filho. Acho que a experiência de ter tido Ethan prematuro demais o horrorizou.

Eu tiro as minhas luvas quando minhas mãos começam a soar. Dentro da biblioteca está mais quentinho, então aproveito para tirar o casaco e fico apenas com a minha touca cinza, lembro de tê-la comprado na época das primeiras cartas do Sr. Confuso, ele havia dito que iria fazer mais frio que o habitual e que eu deveria me manter mais agasalhada. Sinto-me bem ao me lembrar disso, sei que ele se importa comigo.

Um barulho é ouvido na porta da biblioteca e em seguida por ela passam quatro pessoas: Lília, Tyler, Henry e Hannah. Todos lado a lado, como se fossem o quarteto fantástico. David ergue uma sobrancelha e eu pigarreio baixinho. Eles se separam em duplas e sentam nas mesas mais afastadas, Tyler com Hannah e Henry com Lília. Eu não consigo desviar meus olhos de Tyler, que está bem concentrado no que a garota das partituras diz para ele. Por que estou sentindo meu sangue se acumular em meu rosto e meus punhos estão cerrados?

– Não tenha um ataque de ciúmes pelo Paskin. – David alerta de forma presunçosa e eu bato em seu ombro com força. Ele finge fazer uma careta de dor, zombando de mim, David sempre deixou claro que meus tapas são semelhantes ao de uma princesinha indefesa. Idiota. – Sério, não aqui e nem agora. Quando você tem ataque de ciúmes fica ainda mais feia do quê quando está chorando. – Dessa vez eu dou um tapa em sua nuca e ele reprimi um sorriso. – Hope!

Paro de escrever e puxo meu celular do bolso, digitando uma mensagem rápida para Lília.

“O que foi isso? – Hope.”

Ahn? – Lília.”

Não se faça de desentendida. – Hope.”

Ela levanta a cabeça e me encara, depois volta a digitar novamente. Desvio a atenção para Tyler e ele está me encarando. Eu aceno e ele acena de volta, parece querer levantar e falar comigo, mas Hannah puxa seu rosto em direção ao seu caderno, desviando nosso contato visual.

A mensagem de Lília é maior e mais explicativa do que eu esperava.

Estou de horário vago, acho que os professores deram pra faltar hoje, mas enfim, eu estava no pátio conversando com a Jassie quando vi o Henry saindo da diretoria com cara de cachorro sem dono, ao seu lado o professor de química o empurrava e falava algumas coisas. As expressões do Henry eram as piores possíveis. Ele entrou na sala e em seguida saiu com o seu material, antes de ir embora eu perguntei o que tinha acontecido e ele confessou que não tem conseguido estudar para a matéria, ele ta com uma grande dificuldade em química, hoje teve prova surpresa e o professor o pegou colando. Ele pegou uma advertência de três dias. Então eu sugeri ajudar ele e tudo mais. No caminho para a biblioteca a gente encontrou o Tyler e a Wade na sala de música estudando teoria musical e acabaram acompanhando a gente. Pronto.Lília.”

Eu demoro alguns minutos para conseguir processar tudo. Meu pai vai matar o Henry quando receber um e-mail em seu escritório. Eu não quero nem estar em casa na hora dessa confusão. E desde quando Lília e Henry conversam? Eu acho que perdi alguma coisa no meio desse processo. Talvez eles estejam se pegando ou sei lá, mas Lília gosta do Cam e o Henry não gosta de ninguém, Callie até acha que Henry seja homossexual.

Meu irmão está encrencado.Hope.”

“Com certeza.Lília.”

Quando David e eu finalmente terminamos o relatório vamos praticamente correndo em direção a sala do treinador Alex e por conta dessa correria David não nota a garota baixinha que caminha calmamente pelo corredor, fazendo assim seu corpo tombar contra o dela e ela cair com tudo no chão.

Eu arregalo os olhos e ajudo David a levantá-la. É a Hannah. Ela olha meio envergonhada para nós dois e começa a pegar suas coisas do chão. Diversas partituras estão espelhadas pelo corredor e algumas pessoas param para nos ajudar, eu pego tudo muito rápido e vou enfileirado em meu antebraço de forma desajeitada. Quando vou colocá-las dentro da pasta novamente eu percebo uma foto colada no centro da pasta, um garoto de olhos verdes, alto e cabelos negros, eu o reconheço na hora, e ao seu lado está Hannah fazendo sinal com os dedos em direção a câmera. Eles parecem felizes.

Entrego meio hesitante a pasta para ela, que quase não olha em minha direção. Eu não consigo conter o tic nervoso que tem no meu corpo e toco em seu ombro, chamando sua atenção para mim. Apesar de não querer, eu digo com a voz em um sussurro:

– Acho que você deveria confessar para ele.

– Do que você está falando? – Ela pergunta nervosa olhando de mim para David.

– Eu vi a foto, Hannah. – Eu sinto vontade de chorar, mas não faço isso, porque além do David começar a sua ladainha de eu ficar uma bruxa chorando eu não quero chorar por um garoto que tem quase metade da escola caindo aos seus pés.

– Não é o que você está pensando.

– Talvez ele goste de você também. – Rebato, ela deveria parar de fugir. Mas quem sou eu para julgar algo? Venho tentando há quase quatro anos dizer meus sentimentos para ele e eu nunca consigo.

– Eu não seria iludida a esse ponto, Adams. – Ela diz meu sobrenome com amargura e olha bem no fundo dos meus olhos antes de declarar e dar as costas: – Tyler é apaixonado por você.

Eu fico parada por um tempo vendo-a passar pelas pessoas no corredor á passos largos. É preciso David me arrastar para a sala do treinador para que eu volte à realidade. Eu entrego o relatório e nós combinamos os horários dos treinos. Apesar dos apesares eu estou feliz com isso, talvez eu possa finalmente trazer o primeiro lugar para a Walter. E talvez parar de fumar poderá vir a ser uma benção. Não deixo de pensar no fato de tudo pode estar ligado a algo.


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Notas finais do capítulo

Lembrando que: Envie o seu numero caso queira entrar no grupo do wpp que eu criei sobre fics! A gente fala muito de cph lá e da vida alheia (mentira) então envieeeeeee e vamos ser feliz
E Manu e Lost G, saibam que eu ainda vou terminar e comentar nos capítulos de "A exceção" e "O diário de uma garota perdida." EU PROMETO DE DEDO JURADINHO.



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