Scape escrita por Burn


Capítulo 3
Go to Hell, for Heaven's sake


Notas iniciais do capítulo

Oi oi oi oi, oi oi oi oi, seja morena ou loira vem balançar (8)
Ok, parei.
Tá eu sei que demorei uns 20 dias ou mais, maaas para compensar hj vou postar dois caps de uma vez. Sim sim, sou uma pessoa muito boa, eu sei u.u
Ah, estou procurando desesperadamente por uma beta.
Boa leitura :3



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– Olha sua mãe no jornal – exclamou Chelsea apontando veemente para a tela do computador.

Virei o rosto em sua direção sem a mínima vontade de olhar. Sempre que a família aparecia no jornal era só por motivo de desgraça.

Ignorando minha falta de interesse, ela continuou a ler aquela reportagem consideravelmente antiga.

Faziam mais de duas horas que estávamos procurando por algo suficientemente interessante para apresentar no trabalho de história do professor Greyson. O objetivo era encontrar fatos que houvessem marcado algum ponto da história de nossa cidade, mas, como toda cidade pequena e pacata que se prese, uma coisa interessante só acontecia a cada século.

Olhei de rabo de olho a expressão da minha melhor amiga se iluminar com a possibilidade da notícia da invasão da casa soar suficientemente interessante.

Talvez realmente fosse.

A não ser que eu conseguisse convencê-la que o assassinato da gata preta dos Dorsey fosse mais interessante do que uma gang de sobretudo aparecendo no quintal dos fundos da minha casa.

Encolhi meus ombros desistindo de me defender antes mesmo de tentar. Não demorou mais do que dois segundo para ela sugerir.

– Nós poderíamos usar essa notícia.

***

Mais uma hora se passou. Chelsea e eu havíamos direcionado a nossa pesquisa para todas as informações que haviam na internet sobre acontecimentos ocorridos em casa. Mais ela do que eu. Não havia nada sobre aquilo que eu não julgasse saber de cor.

Ainda que fosse mais fácil ela descer as escadas e perguntar para minha mãe - que estava agora mesmo provavelmente cozinhando – sobre o assunto, Chels resolveu averiguar primeiro todas as informações disponíveis a nível popular antes de chegar a fonte.

Fechei rapidamente a página do Paciência Spider no meu notebook e abri a do jornal assim que ela abaixou a tampa de seu. Ela estava sentada no tapete com as costas encostadas na madeira da cama, enquanto eu estava de pernas esticadas sentada na cama com as costas encostadas na parede.

– Você nunca se perguntou por onde seu irmão passou durante o tempo que ele sumiu?- interrogou, virando-se de forma que eu visse seu rosto meio de lado entre meus pés.

Pensei um segundo naquela pergunta. Um segundo que pareceu longo o suficiente fazer eu me sentir indignada comigo mesma.

–Os caras o prenderam em cativeiro, acho – falei incerta.

Chels virou-se por completo, sentando-se de joelhos no mesmo lugar e ficando com o rosto acima de meus pés.

Sua fina sobrancelha se arqueou numa parábola exagerada.

– Nunca se perguntou porque as roupas dele estavam queimadas?- inquiriu.

Vasculhei minha memória numa rápida busca por respostas.

–Nossos pais deixaram ele cuidando de mim – comecei, colocando o notebook de lado -, uns homens estranhos invadiram o quintal dos fundos... - a imagem dos três homens se retorcendo de dor no chão invadiu minha mente e tratei de bloqueá-la, assim como sempre fazia . - Eu tinha dez anos. Não dava para me apegar aos detalhes – tentei justificar.

Forcei a expressão mais convincente possível e ela deu de ombros. Apesar disso, a pergunta realmente era bem questionável. Tão questionável que me surpreendi por nunca ter me perguntando isso antes, principalmente por conhecer o fato de que quando ele chegou a esta casa também tinha as roupas queimadas.

Ele.

Evitava pronunciar seu nome até mesmo em minha mente. Não por ódio, rancor ou qualquer outra coisa. Mesmo que uma pitada de ódio e rancor existissem no fundo. Eu evitava pelo simples fato de tentar esquecê-lo. Não que fosse muito possível pertencendo à uma mesma família, mas os seis anos sem vê-lo ajudavam um bocado.

– Sua mãe ainda esta na cozinha? - perguntou retoricamente se levantando em direção à porta. Apenas a segui pelo corredor, escadas e depois cozinha.

– Conseguiram meninas? - perguntou minha mãe sentando-se na banqueta assim que nos viu chegar.

Fiz o mesmo que ela e Chels ficou em pé ao meu lado.

– Sim... - murmurei, meio incerta de revirar o passado de minha mãe.

–Sim- Chelsea empinou o nariz de forma confiante. Vi suas sardas reluzirem sob a luz econômica fluorescente da cozinha. Seu cabelo era curto e ruivo, num corte um tanto masculino mas amenizado pela longa franja que pendia para o lado. - Encontramos uma foto sua em um jornal e acabei achando interessante falar sobre a invasão desta casa.

Os olhos de Am se arregalaram e eu quase pude ouvir o 'Oh' de sua mente.

Vários sentimentos transpassaram em seus olhos. Me surpreendi ao perceber sua guerra momentânea.

Minha mãe era meio exagerada em relação a ele. Pasmei por só perceber isso agora, depois de grande. Tudo bem que na época tivesse sido um sofrimento não saber o paradeiro do filho, mas o garoto já tinha aparecido, crescido e passava uma semana em cada a cada seis meses em casa. Justificava ser meio incomodo falar disso, mas não justificava a expressão que minha mãe fazia.

Algo meio nervoso. Histérico.

– Tudo bem se usarmos essa matéria Sra. Hill? - indagou autoritária do jeito que só Chels conseguia ser quando queria.

– Claro – minha mãe sorriu um sorriso forçado.

Felizmente o som da porta de entrada abrindo interrompeu o assunto antes de minha melhor amiga começar suas perguntas incisivas.

– Olha o que eu tenho aqui – falou meu pai sorridente segurando uma caixa na mão assim que colocou os pés para dentro.

Ah.

Era meu aniversário..

– Sério mesmo pai? - fingi surpresa. - Eu falei que não precisava.

–Lógico que precisava – respondeu veemente, como em todo ano. Ele chegou mais próximo e colocou o presente no balcão onde pude analisá-lo de perto. Era uma caixa larga mas não muito alta, típica de roupa.

–Fui eu que escolhi – minha mãe sorriu se juntando a meu pai.

Chelsea sentou ao meu lado mais ansiosa do que eu para saber o que tinha ali dentro.

Tirei a única fita adesiva que o mantinha fechado.

–Feliz aniversário!- meus pais falaram assim que abri a caixa.

Era um vestido preto.

Um vestido de balada.

Inspirei profundamente só esperando o que viria em seguida.

– Oh Meu Deus! - exclamou Chels, erguendo-o pelos ombros- Sr e Sra Hill, vocês são o máximo!

– Eu sei- falou minha mãe dando pulinhos de alegria.

As duas engrenaram de um segundo para o outro em uma conversa sobre a inauguração da balada mais quente do momento – talvez por ser a primeira e única balada da cidade até o momento. - Minha mãe nem parecia minha mãe de tão animada.

– Eu não quero ir – as interrompi, recebendo olhares fulminantes em troca.

– Qual é Liv – Chels pendeu a cabeça, frustrada. - É sexta-feira. Seu aniversário. 18 anos. Será que você pode parar de ser tão...

– Careta – completou minha mãe.

– É – apoiou.

Busquei ajuda ao olhar para meu pai.

– Liv, está na hora de você aprontar alguma coisa – falou, aquele traidor, apoiando elas.

Ninguém ali aceitava o fato de eu ser caseira e diurna. Foi a muito contra gosto que subi as escadas empurrada por minha mãe, que me emprestou suas maquiagens já que eu dificilmente usava mais do que rímel, e me arrumou de forma impecável, relembrando de quando era jovem e morava na cidade grande. Não que ela fosse velha. Talvez algumas linhas de expressão aqui e ali, mas nada que revelasse sua real idade.

–Para de tremer o olho – reclamou com a ponta do delineador líquido apontada para minha pupila.

Tentei parar de tremer o olho, mesmo que não estivesse tremendo. Afinal, como uma pessoa treme um olho? Pelo menos eu não sabia que era digna dessa proeza.

– Agora só um pouquinho de sombra preta – falou dando tapinhas com o mindinho em seu trio de sombras escuras e esfumaçando sobre minha pálpebra. - Está pronta!

–Que. Legal. - murmurei pausadamente, desanimada.

–Só falta o salto alto – disse para si mesma como indicador e o polegar alisando o queixo enquanto olhava para meus pés nus.

Revirei os olhos e encenei minha melhor cara de ' Isso é sério mesmo? ', mas ela estava muito ocupada raciocinando qual de seus saltos ela me emprestaria.

Resolvi verbalizar meu problema.

–Mãe, não sei andar de salto.

Durante essas seis palavras ela já havia se levantado, corrido para a sapateira, tirado um salto médio – mas que para mim parecia ser gigantesco- e estava quase colocando-os em meus pés.

– A girafa já nasce andando querida - ela afivelou as tiras pretas.- Tenho certeza de que você consegue.

Claro que uma analogia com girafas traria todo o sentido de andar de salto.

Me levantei da cama meio insegura. Não custava tentar. Com um pé depois do outro cheguei até a porta de virei me voltando para minha mãe.

–Viu, é fácil – falou daquele jeito materno que precisa sempre estar certo.

–Andei bem? - acabei me animando por perceber que não era tão difícil assim.

Ela se sentou na cama e me olhou com dó.

–Bem... que nem uma pata.

Se por um segundo eu me animei para ir a essa balada, esse segundo passou tão rápido quanto chegou. Primeiro por andar como uma pata. Fiquei mais uns vinte minutos treinando com minha mãe, até ouvir a buzina de Chels soar da rua. Segundo porque eu não queria ir desde o princípio e terceiro porque aquele vestido era tão colado que me sentia como uma meretriz. Não que ele chegasse a ser tão vulgar quanto o das outras garotas que estavam no carro com Chels, eu só não estava acostumada a usar coisas assim.

O nome da balada era Hell. Com direito a logo flamejante em tons quentes que se faziam enxergar de longe contrastando com a escuridão da noite.

Os cascalhos de pedra do estacionamento não me ajudavam em nada com o salto. Felizmente isso acontecia com todas as mulheres do meu campo de visão.

O lugar visto de fora parecia uma caixa preta gigantesca com o logo em cima e um portal de madeira dando para um corredor escuro. Apenas o portal era iluminado para que os seguranças conseguissem ver os rostos das pessoas que passavam por lá.

Abaixei minha saia que insistia em subir a cada passo desajeitado que eu dava e Chels grudou em meu braço admirando toda a balada por fora. Andamos uma apoiando na outra até a entrada. O segurança mais forte nos barrou assim que colocamos os pés no cimento uniforme.

– Identidade? – requiriu com os olhos pousados em mim. Minhas bochechas enrubesceram ao lembrar onde minha mãe havia feito eu guardar a identidade e o dinheiro.

Chels tirou sua identidade da pequena bolsa prateada que carregava. O homem forte nem se preocupou em checá-la, seus olhos não desgrudavam de mim.

–Menores de idade não entram – tratou de esclarecer erguendo uma sobrancelha.

Me virei para a parede e puxei a identidade do bojo do vestido.

Eu sabia que aquele ato não disfarçaria nada, mas seria melhor do que fazê-lo em frente ao segurança.

Entreguei-lhe o pequeno cartão plástico que continha minhas informações e ele logo sorriu sacando o rádio da cintura.

–Temos uma aniversariante aqui – falou pressionando o botãozinho preto.

Seguida de um barulhinho uma voz falou:

–Dê a pulseira a ela.

–Sim senhor – respondeu o segurança.

Olhei para Chels meio sem saber o que fazer. Ela e as amigas já estavam do lado de dentro do corredor apenas me esperando.

–É seu dia de sorte Olivia – falou o segurança me devolvendo a identidade depois de checar meu nome.

–É, acho que sim – respondi esperando que ele me deixasse passar logo.

O homem tirou uma pulseira verde de papel do bolso da calça e a colou em meu pulso.

–Tudo por conta da casa – sorriu me conduzindo ao corredor. Retribuí o sorriso entendendo finalmente do que se tratava a pulseira.

Chels não se conteve ao ver o que eu tinha em meu pulso.

–Liv, Liv – falou sorridente – é hoje que vamos para o inferno.

Rá-ra. Trocadilhos.


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Notas finais do capítulo

Alguém quer ser minha beta?



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