Everything Has Changed escrita por Anne Atten


Capítulo 36
Capítulo 36


Notas iniciais do capítulo

Hoje é POV do Oliver, faz tempo que não falo dos gêmeos, então aqui estão eles de volta :D
Quero agradecer a Acciojace, Lise Valantine, Nat e Biamaciel por terem favoritado. Bom, e agora eu quero agradecer minhas amigas, que me ajudam quando estou indecisa se uma coisa que escrevi está boa ou não, que me dão sugestões do que fazer. Muito obrigada mesmo ♥



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Acordo com uma pessoa me chamando e me chacoalhando. Quem é o ser infeliz que tenta me acordar em plena manhã?
–Oliver! – ah, é o Adam. –A gente tem aula daqui a pouco, levanta logo!
Pego o travesseiro e coloco em cima da cabeça, mas ele tira-o da minha mão. Deito de barriga pra baixo e coloco as mãos nos ouvidos.
–O pai mandou eu te acordar, então é bom ir logo! – fala ele.
–Nossa aula é só de tarde... – murmuro.
–A gente se transferiu pra turma da manhã, lembra? Por causa da Althea e da Milena.
Meu cérebro ainda tá sonolento e só de ouvir esses dois nomes já tenho vontade de bater em alguém. Odeio essas duas. Mãe e filha. Althea e Milena. As criaturas mais repugnantes da face de terra.
–Hum. – é a única coisa que eu falo.
–Oliver, anda logo! – grita ele.
Bufo, vendo que não vou me livrar dele tão fácil e sento na cama. Vejo que Adam está tomando alguma coisa na caneca enquanto coloca um caderno na bolsa. O líquido parece estar quente, já que solta uma fumaça.
–Que é isso? – pergunto esfregando os olhos com as mãos.
–Chocolate quente. – diz ele dando de ombros e coloca em cima da mesa pra terminar de colocar o material dentro da mochila.
Nesse pequeno desvio, pego a caneca pra mim, porque eu amo chocolate quente e porque eu simplesmente estou com preguiça de ir até a cozinha pra pegar pra mim também. Viro o líquido de uma vez e minha língua começa a arder.
Adam se vira pra mim meio irritado e logo começa a rir ao ver que me queimei.
–Bem feito.
–Trouxa. – falo e deixo a caneca em cima da mesa, indo direto pro banheiro.
Ligo o chuveiro e abro a boca olhando pra cima. Droga de língua que não para de arder! Deixo algumas gotas caírem e começo a tomar meu banho. Sou obrigado a sair do chuveiro quando meu pai começa a bater na porta mandando eu sair porque:
–Não tem só você nessa casa! – diz ele e também por que:
– Seu irmão vai se atrasar pra ir na aula, sai daí logo!
Reviro os olhos e desligo o chuveiro. Povo exaltado a essa hora da manhã credo.
Me seco e me olho no espelho. Bagunço meus cabelos com as mãos e dou uma piscadinha. Lindo como sempre.
Saio do banheiro e vou pro quarto. Adam nem tá aqui mais, deve estar escovando os dentes. Me visto e coloco o material na bolsa.
Eu e o Adam estudamos nessa mesma escola desde o começo do ano, só que estudávamos no período da tarde por motivos de eu ter preguiça de acordar cedo. Mas daí o Adam reclamou que quase não tinha tempo pra estudar de manhã e eu não suportava ter que ver a cara da minha madrasta e daquela coisa que ela chama de filha. Mesmo que eu odeie acordar cedo, é melhor ir pra escola de manhã do que ficar aguentando ver a cara aguada e nojenta delas.
Termino de arrumar as coisas e vou pra sala. Adam, eu e meu pai vamos até a garagem pra pegar o carro. Entramos e logo ele começa a dirigir.
Ouvi dizer que na turma da manhã tem um monte de gata, espero que seja verdade, porque as da turma da tarde não são tudo isso não. A Lexi, uma garota que me chamou pra festa dela, estuda na parte da manhã. Não sei nem como ela descobriu da minha existência, sou meio que popular, mas entre as turmas da tarde, daí um dia ela brotou e me chamou pra ir na festa dela. Vai entender.
E eu também não sei como, mas ela simplesmente descobriu que eu vou estudar na parte de manhã e veio falar comigo. Acho que ela tá afim de mim, mas afinal, que garota em sã consciência não estaria?
No mesmo instante me lembro da garota que estava na festa dela. Aquela de olhos azuis e cabelos pretos. Balanço a cabeça, provável que eu nunca mais a encontre ela e isso me deixa um pouco chateado. Quero dizer, eu queria ter a chance de me desculpar com ela. Não que eu fique pensando muito nela...
–... e então vamos almoçar lá no Fred. – finaliza o meu pai. Não faço ideia do que ele estava falando, então só assinto com a cabeça.
–Althea e Milena vão? – pergunta o Adam na expectativa de que eles não estejam lá. Desejo o mesmo.
De verdade, não sei como meu pai atura as duas. Ele acha as duas uns amores. Como pode?
–Vão. – fala o meu pai e eu e Adam bufamos. Ele nos reprova com o olhar. –Quantas vezes já disse pra não falar mal delas?
–Milhares, mas vamos continuar falando porque... – começo.
–... elas são ridículas. – completa o Adam e eu faço que sim com a cabeça.
Meu pai balança a cabeça na negativa.
–Só não vou xingar vocês agora, porque tenho que tentar por um pouco de juízo na sua cabeça. – diz ele olhando pra mim. –Oliver, tenta não ser suspenso!
Solto uma risada e me finjo de ofendido.
–Qual é, sou responsável.
Os dois me olham com deboche. Reviro os olhos.
–Não é só porque frequento bastante a diretoria que sou irresponsável.
–Adam, fica de olho no seu irmão.
–Nem que você contratasse o melhor guarda costas ele não se meteria em problemas. – diz o meu irmão.
Solto uma risada.
–Isso é verdade.
Meu pai para na frente da prisão, ops, escola e nós dois descemos.
Mal passamos pelo portão e vejo a Lexi vindo na nossa direção. Mal tenho tempo de dar um “oi” e ela já me deu um selinho. Olho pro Adam que tenta não rir. Qual o problema da menina? Já falei com ela quantas vezes? Cinco? Se bem que ela não é de se jogar fora...
Não entendo a recepção dela. Ela olha pro Adam.
–Meus gêmeos preferidos. – diz ela com um sorrisinho.
Olho pro meu irmão, que olha pra mim. Adam agora parece lutar pra não bufar. Ela nem conhece a gente direito, como somos os gêmeos preferidos dela?
–Infelizmente vocês não estão na minha sala.
–Puxa, que pena. – diz ele com certo sarcasmo, mas a Lexi não parece perceber.
Também faço uma cara de “que pena”, mas na verdade to até meio que aliviado. Se eu mal cheguei e ela já veio me beijando, na sala ela ia ficar me enchendo o dia inteiro. Não que eu dispense garotas assim, mas é que sei lá. Ela é meio sei lá. Aleatória? Pode ser essa a palavra.
–Nos vemos depois. – diz ela e sai.
Adam olha pra mim e rimos. Começamos a entrar pra dentro da prisão. Ele vem pro meu lado.
–Só acho que ela tá afim de você. – diz ele.
–Não diga. – falo rindo. –Ah, Adam, ela não é bem o meu tipo, mas tá na minha. Que custa eu beijá-la?
–Quero ver o dia em que você gostar de alguém de verdade. – fala ele meio que jogando uma maldição.
Solto uma risada.
–Não sou homem de uma mulher só, sacou?
–Eu mais do que ninguém sei disso. – diz ele rindo. –Mas espero ainda estar vivo pra ver você sofrer por amor.
–Não vai mesmo acontecer, Adam. – falo e dou um peteleco leve na sua cabeça. –Pra mim, não vai ter isso de sofrer. Vou ser feliz, pegar quem tiver que pegar, aproveitar a vida.
Ele revira os olhos e ri mais um pouco. Entramos na nossa sala e dou de cara com um ruivo que eu já tive o desprazer de conhecer um tempo atrás.
Já estudamos com ele uns tempos atrás e ele meio que odiava nós dois. Nunca soube por que, deve ser inveja, porque olha pra nós e olha pra ele. Quando a nossa mãe morreu ele fez questão de ir no enterro só pra rir da nossa cara. Bom, eu só tinha dez anos, mas dei um belo de um soco nele no meio do enterro mesmo. O olho dele ficou roxo e meu pai estava tão abalado que nem me xingou mais tarde.
–Você por aqui. – diz ele ficando na minha frente com um pouco de ironia. Ele sabia que eu estudava de tarde.
Outro motivo pra gente não querer estudar de manhã é ele, ele é insuportável. Não o suporto. Muito menos o Adam, só que o meu irmão é mais controlado.
–Terei o desprazer de ter aula com você. – falo.
Adam fica alerta do lado. Tenho vontade de dar outra surra no Jake. Já vi ele outras vezes depois do episódio do enterro, mas foram três anos depois, porque nós mudamos de cidade e depois voltamos pra essa. Às vezes eu esbarrava nele na rua e a gente sempre discute.
–Como vai a mãe de vocês? – pergunta ele. –Ah é, ela morreu! Meus pêsames.
Dou um passo pra frente e o fuzilo com o olhar. Meu sangue esquenta.
–Lembra que te deixei com o olho roxo?
–É, vamos ver quem deixa quem com o olho roxo agora. – desafia ele.
O Adam entra no meio de nós dois pra evitar uma briga.
–Oliver, se controla, não liga pra ele. – fala o meu irmão. –Não vale a pena.
–Isso, escuta o seu irmãozinho nerd chatinho.
Adam vira-se pra ele e apenas o encara com raiva e então me puxa pra nos sentarmos. Sentamos longe do Jake. Adam na minha frente. Ele se vira pra mim.
– Deixa ele pra lá, Oliver. Não arruma problema por causa desse daí.
Dou um soco na mesa com raiva.
–Olha o que ele fala, fala como se a morte da nossa mãe fosse uma grande piada!
–Eu sei, mas não adianta nada ficar batendo boca com ele. Eu sei que ele nos infernizava pra caramba, mas não vale a pena e não fica pensando nisso. – ele respira fundo. –Quer mesmo levar suspensão por causa dele?
O Adam tem razão. Logo o sinal bate e começa a aula. Durmo de olhos abertos.

Intervalo. Infelizmente o James,nosso amigo, não está aqui, continuou na turma da tarde. Outro folgado que não curte acordar cedo.
–Amanhã a gente tem prova de matemática. – comenta o Adam se levantando.
–Que droga. Acho que não venho amanhã então.
Ele dá um tapa no meu braço.
–Acorda pra vida Oliver, já estamos no segundo ano. Toma vergonha nessa cara e vai estudar!
Reviro os olhos.
–Calma, Adam. Depois eu sou o exaltado. – falo rindo.
Ele balança a cabeça em reprovação. O Adam é o ser mais estudioso que eu conheço. Pode até parecer que ele é chato pra quem não o conhece direito, mas ele é legal e com certeza tem mil vezes mais juízo do que eu.
Só somos iguais nas aparências mesmo.
Compro uma coca cola e uma coxinha. Ele compra um pacote de pipoca doce, Adam é uma formiga humana, na boa.
Estamos andando quando vejo a Lexi do outro lado. Eu aceno com a mão da coca cola e nesse instante o ser ruivo esbarra em mim de propósito e a minha coxinha cai no chão.
Olho pra ele com raiva, muita raiva mesmo. Como ele ousa tacar essa coxinha no chão? Custou três e cinquenta, não sou rico não! E também eu to com fome.
Quando vejo já voei em cima do Jake e ele caiu no chão. Minha coca cola cai em cima dele e simplesmente começamos a nos estapear. Fico em cima dele.
–Isso é pela minha mãe! – falo e dou um soco em seu nariz. –E isso é pela coxinha!
Um círculo se forma ao redor de nós. O Jake começa a me bater também. O Adam tenta me puxar, mas eu dou um jeito de me esquivar dele.
Jake me dá um soco no meu nariz e começa a doer. Dou um chute nele e ele voa pro outro lado. Levo a mão no nariz e vejo que saiu sangue. Ah, mas não vai ficar mesmo assim. Vou até ele e de novo, começamos a bater um no outro. Eu to com tanta raiva, que nem me importo se depois vou ser mandado pra diretoria.
Aqui tá um completo caos.
–Briga, briga, briga! – gritam alguns, outros só ficam olhando mesmo como se estivessem esperando quem vai ganhar.
Óbvio que vai ser eu.
Finalmente o Adam consegue me puxar pra um lado e outro garoto arrasta o Jake pra longe. Duas garotas entram no meio da multidão. Na frente vem uma loira e atrás dela... Não, não posso estar enxergando direito. Essa briga afetou o meu cérebro ou essa é mesmo a garota da festa?
Ela olha pro Jake meio que rindo e depois me olha ainda com o sorriso de deboche no rosto, mas ele logo se fecha quando ela parece notar que sou eu.
Não acredito que ela estuda aqui.
Os olhos azuis dela encontram os meus de mesma cor e eu fico sem palavras. Ela espreme os olhos como se não estivesse enxergando direito, mas depois vê que sou eu mesmo. Nosso breve momento é cortado quando a diretora chega no meio da rodinha.
–O que tá acontecendo aqui? – pergunta ela.
–Precisa mesmo explicar? – acabo perguntando. Pois é, Oliver burro, idiota, lerdo, já disse burro? Já to ferrado por ter começado a briga e ainda falo assim!
Ela me olha irritada. Meu nariz está sangrando, meus cabelos devem estar um ninho de rato. Mas o Jake tá pior. Se eu não o odiasse tanto talvez tivesse dó.
–Os dois, pra diretoria, agora! – grita ela.
Adam me solta.
–Precisa mesmo, Oliver? – pergunta ele.
–Precisava! – falo e vou pra diretoria com o meu inimigo.
Encaro um ponto fixo na frente, porque eu sei que se eu olhar pro Jake vou rachar de rir. Na hora que eu sair da diretoria eu vou direto procurar a menina de olhos azuis. Bufo. Até quando vou chamar ela assim? Quero saber o nome dela.
A diretora entra na sala e vamos atrás. Essa mulher me dá medo, de verdade. Ela senta-se na sua cadeira, que é de frente pra nós dois e começa a aponta um lápis. Ela nos olha com um olhar tão mortal que faria os melhores assassinos ficarem com o rabo entre as pernas.
–O que vocês dois estavam na cabeça pra brigarem daquele jeito? – pergunta ela nos olhando como se fossemos criaturas de outro mundo e ela estivesse nos analisando.
–Ele que começou. – murmura o Jake e solta um ganido de dor. Pois é, eu também fiz o favor de machucar a bochecha dele, a boca dele. O rosto dele. Sem querer me gabar, mas eu fiz um ótimo trabalho.
A diretora olha pra mim e depois pro céu, parecendo se perguntar o que fez pra me merecer.
–Oliver, você por aqui, que novidade. – diz ela com ironia. –Escuta, você não pode sair batendo nos outros.
Solto uma risada.
–Deixa eu falar uma coisa, eu só bati nesse daqui – falo e aponto com desgosto pro Jake. -, porque ele riu da morte da minha mãe.
Ela vira-se para o Jake como se não acreditasse nisso.
–Você fez mesmo isso?
Eita que a coisa tá séria pro lado dele.
–Ahn, eu... – mas ela o interrompe.
–A mãe dele foi minha aluna. – diz ela se controlando pra não gritar com ele.
Fico surpreso, disso eu não sabia. O Jake olha pro chão.
–E eu gostava muito dela, por sinal. – diz ela estressada pelo Jake ter zombado da morte dela. Bem feito. –Por mais que atividades violentas não sejam corretas, quem está errado aqui, é você Jake.
–Mas ele me bateu! – protesta ele.
–Porque você falou da minha mãe! – e derrubou minha coxinha, penso.
–Cinco dias de suspensão pra você. – diz ela e começa a escrever alguma coisa num papel. Será que ela sabe da existência do computador?
Olho pro Jake e dou um sorrisinho de vitória. Ele está vermelho de raiva. A diretora vira-se para mim e fecho o sorriso antes que ela perceba.
–Cinco dias? – diz ele espantado. Até parece que ele gosta da escola. Mas suspensão é uma coisa séria, até mesmo pra um imbecil como ele. De qualquer forma, eu to nem aí. –A senhora não...
–Eu que mando nessa droga! – diz ela olhando friamente pra ele.
Vejo ele engolir em seco.
–Só quero ver a sua cara aqui daqui cinco dias. Você pode fazer a comanda de segunda chamada na secretaria.
Cada segunda chamada do segundo ano é dez reais. Pelo menos aqui nessa escola exploradora de alunos é. Vai perder vinte reais só com papel. Me seguro pra não rir.
–Já sabe o caminho da porta. – diz ela e entrega o papel da suspensão pra ele.
Jake olha furioso pra mim e sai da sala com passos pesados. Começo a rir descaradamente e então vejo a cara fechada da diretora e trato logo de calar a boca.
–Não pense que sairá impune dessa, Oliver.
Lá vem.
–Quais são as consequências? – acho que vou me arrepender de ter perguntado.
Ela respira fundo.
–Não sei mais o que fazer com você. Você vem pra minha sala quase toda semana, seu irmão só pisa aqui quando precisa ir embora porque tá passando mal, ou porque uma nota foi digitada errada. Ou ainda porque eu preciso de uma avaliação dos professores e sei que ele é uma pessoa sensata.
–É, ele é mesmo uma pessoa sensata. – concordo com sinceridade.
–Ao contrário de você. – diz ela e engulo em seco. Ela pode ser velha, mas sabe bem como tirar as pessoas. Velha ninja. –Tenho certeza que o Jake também insultou o seu irmão, mas ele não fez nada. – concordo com a cabeça. Ela respira fundo. –Estou decidindo te dar uma última chance. Você só está aqui desde o começo do ano, mas tá triste a sua situação meu filho.
Minhas palmas das mãos começam a soar. Eu sei que sou um baderneiro de primeira linha, mas não é como eu achasse legal ficar com suspensão e ter que ver a cara dessa velha cheia de rugas na minha frente.
–Manda. – murmuro.
–Dessa vez, você sai ileso, mas se houver uma próxima vez...
–Não haverá uma próxima vez. – asseguro a ela.
–É, você tem razão. Não haverá, porque se houver você será expulso.
EXPULSO?
–Expulso? – pergunto quase chorando. Se eu for expulso, eu morro, literalmente. Acho que meu pai acabaria comigo. E outra, isso ficaria no meu histórico escolar. Pode parecer que não me importo, mas eu quero ir pra uma boa faculdade.
–Sim, expulso. Talvez seja uma medida drástica, mas depois de hoje, acho que é o único jeito de fazer você parar com atos irresponsáveis. – diz ela. –Por hoje, você está livre. Assunto encerrado.
Faço que sim com a cabeça e saio cabisbaixo da sala dela. Meu primeiro dia na turma da manhã e eu quase sou expulso. Ótimo.
Não tenho culpa se o Jake me irritou, não tenho culpa de querer conversar na sala de aula, não tenho culpa de levar um monte de advertência e de sair da sala porque estou conversando. E também não é culpa se a minha preguiça é maior do que eu e às vezes eu colo nas provas. Respiro fundo e volto pra sala.
No outro intervalo explico tudo pro Adam.
–Eu tenho risco de ser expulso se eu respirar alto demais!
Ele revira os olhos.
–Você devia agradecê-la.
Encaro-o.
–Agradecê-la? – repito sem ver o sentido nisso.
–Sim, agradecê-la. Ela podia muito bem ter te expulsado, mas ela te deu uma última chance.
–Grande chance que ela me deu! – reclamo. –O que aconteceu depois que fomos arrastados pra diretoria?

–Nada demais. – fala o Adam dando de ombros. –A rodinha logo se foi, a garota que estava com a Kriss foi embora.
Franzo a testa.
–Kriss? Quem é Kriss?
–Aquela menina loira que entrou no meio da rodinha. – diz ele e em questão de segundos, o olhar dele se perde. Estalo os dedos na frente de seus olhos e ele pisca, parecendo estar distraído. –Foi mal, me distraí aqui.
Abro um sorriso.
–Vem cá, de onde você conhece essa Kriss?
–Já a vi na livraria. – diz ele com um sorrisinho nos lábios. –Eu estava lá tentando decidir qual livro comprar. Ela estava perto e viu que eu não sabia o que escolher, então ela me sugeriu “O Senhor do Anéis”.
O Adam é muito fã de “O Senhor dos Anéis”.
–Ela é perfeita pra você. – falo.
Ele fica um pouco vermelho. Pois é, o Adam é tímido.
–Daí eu disse que já tinha lido, então continuamos conversando sobre isso. Ficamos a tarde toda conversando sobre “O Senhor dos Anéis”.
–Deve ter sido um papo de nerd.
Ele me dá um tapa.
–Pra você ter uma ideia, foi legal. Ela não é essas garotas que só são definidas pelos seus cabelos e roupas. A Kriss tem conteúdo.
–E por que você nunca mais falou com ela?
–E você acha que eu teria coragem de pedir o número dela? – pergunta ele como se fosse óbvio. –E também, ela teve que ir embora. Pelo menos ela lembra meu nome.
–Isso é bom.
Ele assente sorrindo.
–Meu coração disparou na hora que eu vi ela, e por sua culpa minha imagem não estava das melhores. Eu tava meio que te agarrando pra você parar de bater no Jake. – começo a rir. –E minha blusa ficou manchada com o sangue do seu nariz.
Dou um tapinha nas suas costas.
–Foi mal.
–É, foi péssimo mesmo. Mas pelo menos ela lembra o meu nome.
De repente, me lembro de uma coisa.
–Pera, ela é aquela garota que você ficou falando o dia inteiro sobre ela? Na verdade, por uns bons meses você ficou enchendo sobre ela?
Ele faz que sim com a cabeça.
–Parece que você gosta dela.
–E isso importa? Ela tá afim do Jake.
–Tá brincando, né? Se ela é legal do jeito que você diz, por que ela gosta dele? – pergunto sem entender.
Ele respira fundo.
–Vai entender. Às vezes as pessoas se apaixonam pelas pessoas erradas. – diz ele. Parece estar chateado. –Poxa, eu estou gostando dela, e daí vem um idiota daquelas que com certeza vai usá-la e depois fazer ela sofrer.
–Você é bem melhor que ele, deveria falar com ela. – sugiro. –Por que não fica amigo dela?
–Pra ouvir ela falando do tal do Jake? Não, obrigado!
–Você sabe que ele vai fazê-la sofrer, não sabe? Ela vai precisar de alguém pra conversar.
–Pra isso ela tem as amigas dela. – fala o Adam.
–Sim, mas as amigas dela já devem ter alertado-a. Aquela garota que estava com ela riu quando viu o estado dele. – então eu paro de falar. Preciso saber o nome dela. –Adam, sabe a garota de olhos azuis? – ele assente meio assustado com a minha mudança de tom. –Ela é a garota da festa.
Dessa vez ele ri.
–Só pode estar de brincadeira. Não é possível, essa cidade é minúscula mesmo.
Concordo com a cabeça.
–Sabe o nome dela?
–Jane. Ela quando me viu só faltou bater em mim, mas daí ela pareceu perceber que eu não sou você, afinal eu uso óculos e você não. Fora que você que tava batendo no Jake e pelo pouco que ela te conhece, deve ter adivinhado de primeira que era você. – ele solta uma risada.
–Eu preciso falar com ela.
–Fala, ué. Seja amigo dela e blá blá blá.- zomba ele.
Dou um tapa na cabeça dele.
–Engraçadinho você. – olho pra trás pra ver se encontro-a, mas não vejo nada. Olho pra frente e nada também. –Vou procurar a Jane.
Ele dá um aceno e eu saio à procura dela. Jane. Sorrio e na hora que vejo-a, meu coração dispara. Franzo a testa. Como assim? Meu coração disparar por causa de uma garota que eu vi numa festa, tentei beijar e ela recusou?
Ando em sua direção. Ela está sozinha e encostada numa parede, olhando pra algum canto. Deve estar esperando a Kriss, que está na fila da cantina. Ela não parece notar a minha presença e quanto mais perto fico, meu coração acelera mais e minhas palmas das mãos começam a soar.
De novo, franzo a testa. Oliver não é assim. Oliver chega nas garotas paquerando e em pouco tempo, beija-as.
Me encosto ao lado dela e finalmente, ela me nota. Jane me olha com irritação e bufa. Logo ela vira o rosto.
–Oi. – falo com um sorriso.
Ah, esse sim é o Oliver que conheço.
Ela nem me responde.
–Escuta, a gente se viu na festa da Lexi.
–Ah, não, jura? – pergunta ela irônica. –Até porque nem foi você que manchou o meu vestido que eu tive que ficar esfregando ele por umas boas horas até a mancha sair, se não minha mãe me matava, porque o vestido é mais caro que o meu rim e se ficasse manchado, eu iria ficar de castigo, porque acredita, serve nela e ela ia usar num casamento que ela ia dois dias depois. – ela finaliza com um sorrisinho de deboche. –E também nem foi você que tentou me beijar só porque eu estava chorando. É, definitivamente, eu não me lembro de você.
Caramba. Isso é que raiva no coração.
–Acho que devo tomar isso como um aviso que você me odeia.
Ela me encara. Nossas, esses olhos dela são perfeitos. Na boa. E esse rosto dela? Ela é linda, caramba. Tá ainda mais bonita do que na festa. Jane cruza os braços.
–É, que bom que você já percebeu. – diz ela e sai andando, mas eu puxo seu pulso. Ela me olha irritada. –Me solta.
Solto-a.
–Você tem todas as razões do mundo pra me achar um idiota, mas eu realmente quero te pedir desculpas pelo o que eu fiz. Eu fiquei pensando nisso depois, e você tem razão. Eu fui idiota. Estou engolindo o meu orgulho e te pedindo desculpas.
Ela solta uma risada de irritação.
–Se eu disser que te desculpo você me deixa em paz?
Faço que sim com a cabeça.
–Então eu te desculpo. Agora não aparece mais na minha frente que não fui com a sua cara. – diz ela.
Acho que eu devo estar muito afim de apanhar, mas decido tentar a sorte. Entro na frente dela e ela bufa e revira os olhos.
–Sai da frente. – que delicada.
–Não parecia que você não foi com a minha cara quando você quase me beijou lá na festa.
Ela fica toda vermelha e se possível, me olha mais irritada do que nunca.
–Eu não quase te beijei na festa. – fala ela com tom de voz mais baixo como se alguém pudesse escutar.
Solto uma risada.
–Por que ficou vermelha agora então?
Ela revira os olhos.
–Você é absurdamente irritante!
–E você é absurdamente linda. – retruco.
Jane agora parece que vai me estrangular, mas ela apenas me empurra e anda reto. Fico observando ela se distanciar e me pergunto porquê vim atrás dela. Não precisava insistir tanto. Mas por algum motivo não vou cumprir o que disse pra ela. Não vou evitá-la, não mesmo.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Será que o Oliver tá se interessando pela Jane? Continuo com 8 reviews!