Everything Has Changed escrita por Anne Atten


Capítulo 29
Capítulo 29


Notas iniciais do capítulo

Capítulo 29 já, caramba! Tirei tempo dos estudos pra postar, porque eu vou viajar na quarta e só volto domingo e daí não ia dar pra postar antes.
Quero agradecer a Mirelly e a Miss Holmes por terem favoritado!
Esse capítulo é POV de um novo personagem, irmão do Oliver, só tem dele. Nesse capítulo vocês vão saber mais sobre o Oliver e do personagem novo.
Boa leitura :) Por favor leiam as notas finais.



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–Adam, eu vou sair! – ouço o meu pai gritar.
–Tá! – grito de volta.
A mulher dele, minha madrasta (me recuso a chamar ela de mãe), e sua filha foram pro Rio de Janeiro e vão ficar lá até domingo. Por mim elas podiam ficar lá pro resto da minha vida.
Meu pai entra no meu quarto mesmo já tendo me avisado que vai sair.
–Não quer mesmo ir na festa? Ainda tem tempo. – fala ele.
Faço que não com a cabeça. Oliver foi pra se distrair, mas eu já não gosto muito de festa e não vai ser hoje, em um dia triste como esse, que eu vou pra uma. Não julgo meu irmão por ter ido, ele só não quer ficar pensando nos acontecimentos.
–Que horas Oliver chega?
–Você sabe como ele é, não tem hora. – falo e ajeito o óculos, que já estava na ponta do meu nariz.
Meu pai dá um esboço de sorriso, mesmo que nenhum de nós dois estejamos bem o suficiente para sorrir com felicidade.
–Eu volto umas onze horas. – fala ele.
Meu pai se aproxima de mim e bagunça meus cabelos. Ele fica na minha frente e respira fundo.
–Eu sinto falta dela. – falo por fim.
Guardei essas palavras até agora. Meu pai assente.
–Eu também, Adam.
Acho melhor eu falar pra ele sair antes que nós dois comecemos a chorar. Eu quero chorar desde a hora que acordei, mas isso só faria meu pai e meu irmão ficarem piores ainda então vou esperar até de noite.
Meu pai coloca uma mão no meu ombro.
–Sua mãe estaria orgulhosa de você, meu filho. – diz ele.
–E do Oliver. – falo e dou um sorrisinho.
Meu pai também solta uma pequena risada.
–E do Oliver. – repete ele.
Oliver mesmo sendo meio saidinho, talvez muito saidinho, é uma ótima pessoa e meu irmão gêmeo. Nós somos idênticos, mas é só começar uma conversa que todo mundo sabe diferenciar quem é quem. Oliver fala mais, eu sou mais quieto.
Meu pai me abraça forte e abraço-o de volta. Ele se afasta de mim logo e vai até a porta.
–Não coloque fogo na casa. – diz ele.
–Pode deixar. – falo e aceno.
Ele fecha a porta e sai. Acho que ele vai pra algum bar beber ou sair com alguns amigos. Acho a primeira opção mais provável.
Volto-me para a mesa com meus livros da escola. Fiquei estudando praticamente o dia inteiro. Matemática requer raciocínio, raciocínio requer concentração e concentração distrai. Faço equações e mais equações até que começo a ficar cansado e deixo a lapiseira em cima da mesa.
Tiro o óculos e dou uma limpada nele com a barra da minha blusa. E foi só isso, esse pequeno desvio de não pensar em nada que voltou a tona o dia 16 de agosto de 2008, quando ocorreu um acidente de carro. Estava toda a família. Eu, Oliver e meus pais. Oliver contava alguma piada e minha mãe falava ao telefone. Meu pai dirigia rindo do que meu irmão falava. Eu apenas ria também. Então eu encostei a cabeça no assento e fechei os olhos e de repente, ouvi um barulho e um solavanco. Um acidente rápido, mas ao mesmo tempo letal. Eu e Oliver ficamos apenas com ferimentos. Meu pai se machucou mais, mas sobreviveu. Minha mãe não resistiu.
Eu e Oliver só tínhamos dez anos quando isso aconteceu.
Meus olhos começam a marejar ao lembrar-me dela e uma lágrima escorre pelo meu rosto quando ouço um “Cheguei!” do meu irmão.
Passo a mão rapidamente na lágrima e coloco meu óculos de volta. Olho a apostila e pego a lapiseira como se estivesse fazendo isso antes dele entrar. Logo Oliver abre a porta do quarto.
–Cadê o pai?
–Saiu. – falo dando de ombros e viro-me para ele.
Oliver se joga em sua cama, colocando os dois braços em baixo da cabeça.
–Adam, eu preciso conversar. – diz ele depois de um tempo.
–Lá vem...
Ele faz uma careta.
–Conheci uma garota.
Começo a rir.
–Que novidade! “Oliver conheceu uma garota”, nossa seria uma ótima matéria no Jornal Nacional.
Ele ignora meus comentários.
–Ela mexeu comigo.
–Toda garota mexe com você. – falo.
Literalmente verdade. Oliver, assim como eu, tem olhos azuis, cabelos negros, sorriso branco e dentes perfeitos. Não quero me gabar, mas nós dois somos bonitos e tem muita garota por aí que praticamente se joga na nossa frente. Elas não fazem ideia do quanto elas parecem idiotas fazendo isso. Oliver fica com algumas, mas pra ele não é sério. Eu só fico com alguém que eu no mínimo tenha uma quedinha.
Ele me olha com irritação.
–Escuta, eu voltei pra casa porque eu preciso da droga da sua ajuda. Agora faça o favor de me ouvir!
–Tá, tá.
Ele respira fundo.
–Essa menina é muito bonita.
Começou mais um relato do Oliver.
–Ok. E qual o problema dela? Ela beija mal? O cabelo dela é ruim? Ela tinha batom grudado no dente?
Casos do Oliver, são tantos que eu já até memorizei alguns dos problemas que ele encontro. Ele faz que não com a cabeça.
–Eu nem sei se ela beija mal, porque ela não quis me beijar.
Agora que eu vou zoar da cara dele mesmo. Começo a rir feito um condenado.
–Ô seu idiota, não tem graça! – grita ele com raiva.
–Tem muita graça, cara. Você não faz ideia. – recebo um travesseiro na cara. –“Garota rejeita Oliver” daria uma matéria melhor.
–Eu só não vou até ai pra bater em você, porque eu to com preguiça! – grita ele de novo.
Aos poucos começo a terminar minha risada.
–Adam, ela é diferente.
–Claro que é, ela é umas das poucas que não quis te beijar.
–E não é só isso, ela me chamou de babaca.
Seguro uma risada.
–Essa é sincera.
Oliver revira os olhos.
–E o estranho é que eu estou me sentindo um.
Recuo um pouco com a cadeira, fingindo estar espantado. Na verdade estou um pouco, porque ela não é a primeira a chamar ele de idiota, mas ele nunca leva a sério a não ser que se importe com a opinião.
–O que você fez dessa vez?
–Primeiro que eu tava na festa e tava lotado. Daí eu esbarrei nela, que tava tomando um refrigerante e virou no vestido dela. – ele ri um pouco ao lembrar da cena. -Eu comecei a rir da cara dela e quando ela levantou o rosto eu quase perdi o ar.
Reviro os olhos.
–Olhos azuis, cabelo preto, pele macia... – ele fala parecendo se lembrar dela.
–Como você sabe da pele dela? Ela te bateu? – falo já imaginando a cena do meu irmão levando o tapa de uma menina.
–Claro que não, ela tava chocada demais com o vestido pra me bater. – fala ele. –Deixa eu terminar daí você entende!
Faço que sim com a cabeça e ele continua.
–Daí encontrei o James e nós ficamos falando com o pessoal.
James é um amigo nosso.
–Então eu comecei a lembrar da nossa mãe. – diz ele com a voz meio hesitante. –E resolvi que era melhor eu sair um pouco da festa e ir tomar um ar. Fiquei andando pela casa da Lexi, achei uma porta, entrei num jardim e fui andando até que eu escutei um som de choro.
Ele prossegue.
–Quando cheguei perto eu vi que era a menina de olhos azuis.
–Isso tá parecendo novela mexicana. – comento.
–Daí eu fui falar com ela, e ela me chamou de idiota.
Solto uma risadinha.
–E daí a gente tava falando e bom, ela estava ainda mais bonita chorando. – diz ele e sorri. –Então eu tirei uma lágrima do rosto dela, foi aí que descobri que a pela dela era macia.
Concordo com a cabeça.
–Então eu não sei como aconteceu, mas eu só fui inclinando meu rosto e ela fez o mesmo e quando nossos narizes se tocaram, eu jurava que ela ia me beijar. Mas na última hora, ela me empurrou. Fim da história.
Alguns segundos de silêncio se passam.
–Oliver qual o seu problema?
Ele me olha confuso.
–Como assim?
–Ela tava chorando e você ia beijar ela? Sério? A menina estava mal e você ia beijar ela? Isso foi se aproveitar da fraqueza dela.
Ele se senta.
–Então, isso que eu pensei, mas só depois. Na hora que não estava pensando em nada, só olhava praqueles olhos azuis, aquele rosto. Eu só queria beijá-la, porque ela estava tão linda. – ele suspira.
Ok, agora eu to preocupado com ele.
–Oliver, você bebeu?
–Não, por que?
–Primeiro você se importou por uma desconhecida te chamar de idiota, agora você suspirou só de lembrar dela. – falo realmente surpreso. –Você tá se sentindo bem?
Ele só revira os olhos.
–Adam, eu preciso conhecer essa menina. Tipo, eu preciso mesmo.
–Igual você precisa de uma Ferrari?
–Fala sério, nada se compara com a Ferrari! – diz ele com uma expressão de “Você é louco, cara?” –Mas enfim, eu já disse, ela é diferente e mexeu comigo. O que vamos fazer?
Solto uma risada.
–Você eu não sei, mas eu vou jogar videogame. – falo já saindo do quarto e indo pra sala pegar um jogo.
Não sei por que, mas a moça que trabalha aqui sempre coloca os jogos na sala, mesmo sabendo que jogamos no quarto. E eu já disse pra ela fazendo o favor deixar no quarto, mas ela deve ter escutado por um ouvido e soltado pelo outro.
–Nossa, isso é que é irmão! – resmunga o Oliver.
Volto pro quarto e ligo a televisão.
–Vai querer jogar ou não? – pergunto ligando o aparelho do videogame.
Logo Oliver está sentado no chão do meu lado. Nós jogamos e acaba empatando. Eu ganho vinte vezes, ele também ganha vinte. Nós cansamos e desligamos os aparelhos. Fico sentado no chão olhando pro nada.
–Se a nossa mãe estivesse aqui, o que você acha que ela estaria fazendo? – pergunta Oliver olhando pra mim.
–Ela estaria aqui no quarto mandando a gente ir dormir. – falo sorrindo ao me lembrar das noites que ficávamos acordados até tarde e ela vinha nos xingar. Nós fingíamos que estávamos dormindo e quando ela saia, ligávamos a televisão de novo, tirávamos o som e continuávamos jogando mesmo estando escuro.
Oliver sorri.
–Ela me faz falta. – diz ele. –Lembra quando a gente era criança e ela nos levou no zoológico?
–E você caiu no chão e começou a berrar de dor?
–E então ela veio até mim e disse que ia parar de doer, mas só se ela fizesse um curativo.
Lembro desse dia.
–E você disse que não queria, porque você tinha medo de doer. – falo sorrindo. –Mas ela disse que não doía de verdade, que o remédio só queria enganar o machucado. Daí você aceitou fazer o curativo.
Nós dois sorrimos enquanto lembramos dela.
–Acho que nunca irei superar. – falo.
–Nem eu. – diz ele.
Levanto e estendo a mão pra ajudá-lo a se levantar. Ele se levanta e vou pra minha cama. Deito-me, me cubro e coloco o óculos na cabeceira. Oliver liga a televisão e desliga a luz. Ele vai passando os canais até que para em um filme que nós assistíamos com ela. Na verdade, minha mãe amava esse filme, então éramos meio que obrigados a assisti-lo.
–Ela falava que ele era bonitão. – fala o Oliver rindo.
Minha mãe achava o Heath Ledger bonito. Ele morreu em janeiro de 2008 e ela em agosto do mesmo ano.
–E o nosso pai ficava enciumado. – falo rindo.
Oliver também ri.
–Lembra quando ele morreu? Ela ficou chorando tanto, que achei que ia desidratar.
Ficamos rindo e assistindo o filme pela milésima vez até que ouvimos uma batida na porta e meu pai entra. Ele olha espantado.
–Ué, Oliver. Já de volta?
–Eu que pergunto. Você já tá de volta? – pergunta meu irmão surpreso.
–Eu volto cedo, você que volta uma hora, meia noite. Pelo menos eu acho que é nesse horário que você volta. – fala ele erguendo uma sobrancelha, desconfiado.
Seguro uma risada.
–Mas então, onde você foi? – pergunto.
–Na casa do Fred.
Fred é o James do meu pai. São melhores amigos desde crianças, parecem mais irmãos do que amigos. Minha avó costuma dizer que meu pai e ele as vezes eram confundidos como irmãos por estarem sempre grudados.
–Bebeu quantas? – pergunta Oliver.
–Olha o respeito, menino! – fala o meu pai não estando zangado de verdade. –Não bebi muito, porque o Fred não deixou. Fora que a mulher dele chamou umas amigas e não ia ficar muito boa a minha imagem.
–Que dia as najas voltam? – pergunto.
Meu pai me olha bravo.
–Não fale assim delas, Adam!
–Ele foi até que educado. – comenta meu irmão. –Eu perguntaria que dia as vacas voltam.
Começo a rir, mas meu pai me lança um olhar cortante e eu calo a boca.
–Respeito, vocês dois. Eu exijo que respeitem a minha mulher!
Melhor eu ficar quieto, porque ele tá bravo mesmo.
–Ela é uma ótima mulher, cuidou de vocês como se fossem legítimos filhos e vocês falam assim dela? – esbraveja ele.
Olho pro teto. Desde quando ela é uma “ótima mulher”? Ela só tem olhos praquela filhinha dela, aquela mimada. Eu e o Oliver arrumamos maior barraco no dia do casamento, ficamos de castigo por meses, mas valeu a pena. A gente fez o lustre do local da cerimônia cair no chão, demos um jeito de explodir o lindo bolo e daí, tiveram que marcar pro outro dia e obviamente nós ficamos trancados em casa, se não teríamos feito pior ainda.
–E também tenho muito respeito pela filha dela e vocês deveriam ter também!
Se nem ela mesma se respeita, quem dirá nós? Santinha do pau oco aquela menina!
–Não quero ouvir nem um pio de vocês sobre isso!
–Pio. – sussurra o Oliver e eu juntos.
Seguro minha risada pra cara que meu pai fez. Ele nos olha com raiva e respira fundo.
–Escutem aqui... Seus moleques! Vocês... – mas ele não consegue completar a frase tamanha a raiva. –Eu vou dormir e vocês, deem-se como castigados por terem me desrespeitado.
Ele vai fechar a porta, mas Oliver o chama.
–Não vou retirar nada do que eu disse, mas quer vir um filme?
–É 10 Coisas que Odeio em Você.
–Aquele do cara que sua mãe achava bonitão? – pergunta ele com a testa franzida.
–É. – falo rindo.
–Por que eu iria querer ver esse cara?
–Porque nesse filme tem aquela atriz que você achava gata.
Mesmo estando escuro, posso ver meu pai ter ficado vermelho. Se ele falasse pra minha mãe que outra mulher era bonita, ela virava uma fera com ele e ficava sem falar com ele por dias.
–Aquela principal?
–É, aquela que você disse que se fosse adolescente você pegava. – fala o Oliver dando de ombros.
Meu pai parece que vai engasgar.
–Eu disse isso? Lembro disso não...
–Disse! – falamos ao mesmo tempo.
Meu pai fica mais envergonhado ainda.
–Seus pirralhos, como que vocês lembram dessas coisas? – pergunta ele.
Eu e meu irmão damos de ombros.
–Se sua mãe soubesse que eu achava a atriz bonita, ela me degolava.
–Sabemos.
–Degolava não, esquartejava! – diz Oliver.
Meu pai parece apavorado só com a ideia.
–Eu vou é dormir. Vocês fiquem aí.
–Não vai querer mesmo ver o filme? – pergunto.
Ele faz que não com a cabeça e sai do quarto. Eu e Oliver começamos a gargalhar.
–Você viu a cara dele?
–Vi, parecia que ia morrer de vergonha.
Nós dois continuamos vendo o filme até que eu acabo dormindo e sonhando com a minha mãe no dia em que eu e meu irmão fizemos dez anos. Foi a última celebração que tivemos com ela.


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Notas finais do capítulo

Gostaram do Adam? E do Oliver? Eu estava sem ideias pros nomes da madrasta e da filha dela e estou aceitando sugestões, quem tiver alguma ideia de nome pode colocar no comentário e por favor indique de qual personagem está se referindo :)



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