Everything Has Changed escrita por Anne Atten


Capítulo 28
Capítulo 28


Notas iniciais do capítulo

Nossa, quase que passa o dia do ANIVERSÁRIO DE QUATRO MESES DA FIC mas eu consegui postar a tempo!!! Eu to com muitas provas, próximo capítulo não sei quando vai sair, mas enfim PARABÉNS PRA FIC! QUATRO MESES CARAMBA!!!



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Acordo com o som do meu celular tocando. Abro os olhos lentamente, o sono impregnando a minha mente. A música continua tocando e eu ainda estou sonolenta. É no terceiro toque que eu abro os olhos com raiva. Quem se atreve a me acordar?
Pego o celular, vejo que são seis horas. Caramba, dormi três horas? O infeliz que estava ligando, liga de novo e quando eu vejo o nome de quem está ligando agradeço por estar deitada porque se não eu provavelmente teria caído. É o Thomas.
Meu rosto esquenta por lembrar do beijo, meu coração acelera e eu começo a ficar desesperada. O telefone não para de tocar e eu começo a considerar a ideia de jogá-lo da janela.
Atendo ou não atendo? Vejo que ele deixou uma mensagem de voz e clico nela. Não precisarei falar com ele, menos mal.
Oi, Lydia... Bem, hum... Como você está?
Ele bufa em frustração.
Não é isso que eu vim falar. É, ahn, eu to te ligando, talvez você esteja dormindo, fazendo alguma coisa e não dá pra atender, ou simplesmente não quer atender, mas tudo bem. Quando ouvir... Bom...
De novo ele bufa.
Se der me liga.
Fica silêncio na mensagem, mas a mensagem não acabou. Ouço um respirar fundo e termina a mensagem. Fico encarando a tela do celular por uns dois minutos e me jogo de volta no travesseiro, respirando fundo. Eu devo ligar, ou não?
Simplesmente não sei o que fazer. Meu telefone começa a tocar de novo e eu já ia atender xingando, mas é o Peter.
–Hey, Peter.
–Oi, Lydia. Vou ser direto: o Thomas tá na minha casa, ele veio aqui todo desesperado e quando eu pergunto o que aconteceu, ele não responde só ficou falando que tem haver com você.
Engulo em seco.
–Ele tá do seu lado?
Não, ele foi no banheiro, mas eu ouvi a mensagem que ele mandou. Ele parecia nervoso.
–Eu percebi pela voz dele.
–E acho que ele te ligou umas mil vezes, no mínimo.
–Nem me fala, ele atrapalhou meu sono! – falo um pouco irritada.
Peter ri.
–Acho que você deve ligar pra ele, sério. Ele fica falando coisas sem sentido do tipo “cara, ela deve estar me odiando” e “o que eu fiz?”
Mordo a minha bochecha.
–Não sei se ligo ou não... – confesso.
Qual o estrago que uma ligação pode fazer?
É, não pode fazer muito mal.
–Ele tá voltando, quer que eu passe o telefone pra ele? Sério, Lydia. Acho que ele não vai ficar em paz até falar com você e daqui umas horas tem uma festa pra a gente ir, e não quero ficar ouvindo ele falando coisas sem sentido.
Respiro fundo.
–Pode passar pra ele.
Depois de alguns segundos o Peter fala que tá passando o telefone pro Thomas.
–Oi... – diz o enxerido.
Só de estar conversando com ele por telefone eu sinto meu rosto esquentar.
–Oi. O que de tão importante aconteceu pra você me acordar do meu sono profundo?
Ele fica em silêncio por alguns segundos.
–Irmos no shopping amanhã com o Peter e a Katherin ainda está de pé?
Uma pergunta bem idiota da parte dele.
Não vou poder ir. – minto. Não vou fazer nada a tarde inteira.
–O motivo é...?
Claro que ele ia perguntar.
–Porque, hum... Eu to com virose.
Dou um tapa na minha testa. Que mentira foi essa?
–Ah...
Obviamente ele não acredita e eu tenho certeza que ele sabe o motivo de eu não estar nada afim de ir. Eu não quero falar do que aconteceu hoje de manhã então menti. Ficamos em silêncio por um tempinho.
Eu vou desligar, melhoras. Desculpa te acordar.
Eu mesma desligo o telefone e me arrasto de volta pra cama. Fecho os olhos e isso só serve pra mais uma vez eu repassar a cena do beijo na minha cabeça de novo. Coloco o travesseiro em cima da cabeça e solto um grito sufocado. Eu preciso que esses pensamentos saiam da minha cabeça, eu simplesmente preciso tirar. Isso tá me deixando irritada demais.
Tento dormir, mas não consigo. Decido ligar a televisão, mas não tá passando nada legal. Pego meu computador e clico pra ver Reign. Passa meia hora do episódio e minha mãe me liga.
Lydia, tudo bom aí?
–Aham. – falo. –Eu dormi um pouco agora to no computador. Nada demais.
Okay, nove e meia to aí.
–Até. – falo e ela desliga.
Fico vendo série até vinte pras oito e então a fome aperta. Vou até a cozinha e checo os armários. Nada muito bom.
O supermercado não é tão longe, mas já está escuro e não mesmo que eu vou a essa hora comprar alguma coisa lá. Reviro os olhos. Sério que vou ter que comer fruta a essa hora da noite?
Vasculho mais um pouco no armário e vejo que tem milho. Abro um sorriso. Vou estourar e fazer pipoca.
O único problema é que eu nunca estourei milho na panela, eu sempre compro aquelas de estourar no micro-ondas. Mas não pode ser muito difícil? Ou pode?
Dou de ombros, vou conseguir fazer.
Pego uma panela grande, coloco uma colher de sopa de óleo e vou virando o milho de pipoca sem prestar muita atenção, porque está tocando música no meu celular e eu estou cantando junto. Que mal pode fazer não olhar o quanto de milho se está colocando? Ligo o fogo no alto e tampo a panela.
Fico feliz comigo mesma, com certeza vai ficar super bom. Vou pro quarto, coloco o celular pra carregar e a pipoca lá, só estourando. É então que ouço um estouro.
Corro pra cozinha e vejo que a tampa meio que voou. Há milho por todos os cantos e eu tenho certeza que se eu estivesse aqui na hora que estourou, eu teria me queimado.
Por conta do susto que eu levei, meu coração bate muito rápido. Desligo o fogo do fogão. Ouço uma batida na porta e de novo eu quase morro de susto.
Vou até a porta e abro. É o porteiro.
–Tá tudo bem aí? – ele pergunta com os olhos arregalados.
–Sim.
–Eu tava ajudando sua vizinha com as compras quando BUM!
Ele literalmente gritou o “BUM!” e eu fiquei meio assustada.
–Eu tava estourando pipoca, pelo visto não deu muito certo. – falo dando de ombros.
O porteiro faz que sim com a cabeça.
–A sua vizinha quebrou um copo quando ouviu o estouro, ela estava bebendo água e então BUM! – fala ele. Me seguro pra não rir da onomatopeia que ele usou mais uma vez. –E digamos que ela não é uma das senhoras mais simpáticas que eu conheço. – fala ele em voz baixa.
Reviro os olhos. Sério que a minha vizinha tinha que ser uma velha encrenqueira?
–De todo modo, ela só mandou eu vir verificar o que é.
–Entendi. – falo.
–Já que a senhorita está bem, vou lá para baixo. Tenha uma boa noite.
–O senhor também.
Fecho a porta e olho pra cozinha. Faço uma careta. Não estava nos meus planos arrumar uma cozinha às oito horas da noite. Mas é a vida. A vida te faz acreditar que você consegue estourar milho de pipoca e quase estoura a sua cara com a tampa da panela.
Vou até a área de serviço e pego uma vassoura. Fico varrendo, juntando e jogando no lixo até oito horas. Respiro em alívio quando termino e lavo as mãos. Olho pra panela, que tem umas pipocas dentro. Vai que alguma está comestível?
Dou uma analisada de longe e decido partir logo pro ataque. Pego um pote e viro a pipoca. Tirando as partes queimadas (que estão presentes em quase todas as pipocas) até que tá bom. Coloco sal e vou pra sala.
Ligo a televisão e fico passando canal. Decido deixar no “Procurando Nemo” e fico comendo a minha pipoca. Termino de comer e continuo deitada no sofá. Ouço um barulho na porta e logo minha mãe entra.
–Lydia, cheguei! – grita ela da cozinha.
–To aqui! – grito de volta.
Depois de alguns segundos, ela chega na sala, com uma pasta na mão e com a outra mão ela tira os sapatos. Ela joga a pasta em cima da mesinha e se joga no sofá. Minha mãe consegue tirar os sapatos e começa a soltar o rabo de cavalo.
–Como foi o dia, mãe? – pergunto.
–Eu to morta. – diz ela com um sorriso cansado. –Jogaram mais uns mil casos na minha mão, mas ok.
A minha mãe é advogada de pequenos casos. Ela até ganha bem, o problema é que gastamos muito do dinheiro para comprar o apartamento. Arnaldo roubou todo o dinheiro que estava em casa e por isso, eu o odeio. Minha mãe não tem cartões, nem cheque, era tudo que tinha sobrado do nosso dinheiro.
–Isso é bom, não é? – falo por fim.
–Por um lado sim, vou ganhar mais. – diz minha mãe.
Ela parece amar o que faz, mas deve ser cansativo trabalhar o dia todo.
–É impressão minha ou aqui tá com cheiro de queimado? – pergunta ela.
–Probleminhas técnicos quando fui fazer pipoca. – falo dando de ombros.
–Eu to morrendo de fome. – diz ela. –O que acha de uma pizza?
–Ótimo! – praticamente grito de entusiasmo.
–Vou tomar banho, enquanto isso você pode ligar pra pizzaria?
Faço que sim com a cabeça, ela me dá o número e ligo. A moça que atende diz que vai demorar meia hora pra chegar. Pelo menos não vou ter que comer pipoca queimada.
“Procurando Nemo” acaba bem na hora que ouço a campainha tocar.
–Lydia, abre a porta! – ouço minha mãe gritar.
Bufo e me levanto.
–Cadê o dinheiro? – grito.
–Para de gritar! – grita a minha mãe. –Tá em cima da mesa.
Pego o dinheiro e abro a porta. Um moço está com a pizza em mãos. Pago e ele me dá a pizza. Fecho a porta. Arrumo a mesa e eu e minha mãe nos sentamos. Ela abre a pizza e franze a testa.
–Lydia, por que você pediu pizza de calabresa? A gente tinha combinado de ser mussarela.
Eu levanto uma sobrancelha.
–Eu não pedi calabresa.
Minha mãe aponta pra pizza. Me levanto da mesa.
–Ele deve ter errado o pedido. – falo.
Vou até a cozinha e pego a tampa da pizza, deve ter o andar do prédio. Tem o nome do meu edifício e então “5º Andar”. Fecho os olhos e conto até dez mentalmente pra não explodir. Chega de explosões por hoje. Volto pra mesa.
–O moço entregou errado, essa é pro quinto andar.
–Tudo bem, vamos comer dessa mesmo. – fala minha mãe já se servindo.
Quase suspiro em alívio por ela não ter falado pra eu ir lá no quinto andar trocar a pizza, porque eu não quero ver o Thomas nem pintado de ouro. Talvez nem seja do apartamento dele, mas mesmo assim, só de estar no mesmo andar eu morreria de vergonha.
Nós duas comemos a pizza.
–Você tá gostando da escola, Lydia? – pergunta a minha mãe.
–Sim, é legal. – falo dando de ombros. –Ainda sinto falta da Jane e da Kriss.
–Eu sei, mas veja pelo lado bom, daqui poucos dias você vai ver as duas. – fala ela com um sorriso.
Fico animada de lembrar disso. Terminamos de comer e eu volto para o meu quarto. Começo a ler um livro e de repente, estou dormindo.

Sábado de manhã. A Katherin está me ligando. Ela está furiosa e falando que eu menti pra ela, que eu ia resolver umas paradas e depois eu disse pro Thomas que eu tava com virose.
–Katherin, terminou? – falo no telefone.
São apenas dez horas da manhã, eu ainda estou sonolenta pra caramba e a menina vem falando na minha cabeça como uma matraca.
–Terminei! – fala ela.
–Em primeiro lugar, desculpa. Em segundo lugar, para de gritar, eu acabei de acordar menina!
–Tá, tá. – fala ela. –Agora vai me explicar por que mentiu ou não? Achei que a gente podia confiar uma na outra, Lydia.
Só pela voz dela percebo que ela está chateada comigo. Dou um tapa na minha testa.
–Katherin, eu realmente preciso resolver umas paradas. – falo tentando formular uma resposta que não seja totalmente mentira. –Na verdade a minha parada no momento é ficar longe do Thomas.
Pronto, não precisei mentir.
Ficar longe do Thomas? – repente ela.
–É, ficar longe dele.
E por que?
Respiro fundo pra não desligar o telefone.
–Katherin, tem coisa que eu não to afim de falar.
–Eu entendo, mas você não precisa mentir. Também existem coisas que eu não te conto, mas nem por isso eu fico mentindo. – diz ela quase gritando de novo. –Eu sei que a gente se conhece a muito pouco tempo, mas eu achei que fossemos amigas.
–Mas nós somos amigas! – falo. Não vou mesmo perder amizade dela por causa disso. –Katherin, me desculpa se te magoei, mas eu não... Bom, eu estava morrendo de vergonha do que aconteceu. Espero que entenda.
Alguns segundos de silêncio
–Ok. – diz ela por fim. –Desculpa, me exaltei.
–Realmente. – falo rindo.
Não devia ficar te enchendo, desculpa.
–Não precisa pedir desculpas, eu não devia ter inventado desculpas. A verdade é que eu não quero ir hoje, mas isso não tem nada haver com você.
Tudo bem. – diz ela e então ri. –Devo falar que você tá com virose? Ainda não falei pra eles a minha versão.
Dou risada.
–Por mim tudo bem.
–Lydia você vai comigo no supermercado? – pergunta a minha mãe entrando no meu quarto.
–Katherin, vou desligar. Beijos.
Beijos. – diz ela e desliga.
Minha mãe me olha e cruza os braços. Ela balança a cabeça de modo reprovador.
–Que é? – pergunto na defensiva.
–De pijama há essa hora, Lydia? Sério? – ela começa a bater palma. –Vai se arrumar já! Você vai no supermercado comigo.
Bufo e me levanto da cama feito uma lesma morta. Fecho a porta do banheiro e tomo um banho. Ontem já lavei o cabelo então não preciso disso hoje. Vejo pela janela que hoje está meio ensolarado, mas com certeza não tá muito calor. Coloco um short e uma blusa de manga comprida, assim não sinto muito frio, mas nem tanto calor.
–Não vai comer nada? – pergunta a minha mãe já pegando as chaves.
–Vou comer alguma coisa que comprar no supermercado. – falo já pensando nos cookies que eu gosto de comer.
Depois do supermercado, voltamos pra casa. Fico a tarde vendo minhas séries e então minha mãe entra no meu quarto.
–Já lavou a louça? – ela nem deixa eu responder. –Não. Então vai lá lavar fazendo o favor.
–Mas mãe...
–Não reclama, você não tá fazendo nada importante.
Quase respondo um “e você tá?”, mas como eu não quero ficar sem meu celular não falo nada. Levanto-me muito contra a minha vontade e me arrasto até a cozinha. Já posso ouvir a voz da minha madrinha Clarisse dizendo “Credo Lydia, parece uma velha!”. Pra falar a verdade ela só reclamava quando minha mãe tava perto, só pra rir mesmo, porque ela também não fazia nada quando tinha a minha idade. Clarisse debochando da minha mãe é muito engraçado, elas são primas, mas são quase como irmãs por causa de terem crescido sempre juntas.
Lavo as louças na velocidade de uma tartaruga. Mentira. A tartaruga é mais rápida. Finalmente termino e volto pro quarto. Dessa vez não me deito, sento e começo a fazer tarefa. Vida triste essa dos alunos.

Segunda feira. O despertador humano entra no meu quarto já falando pra eu acordar que ela não pode chegar atrasada de jeito nenhum. Olho no relógio e já são cinco pras sete. Me levanto com um pulo e corro pro banheiro. Tomo um banho rápido e me visto na maior velocidade. Corro pra cozinha, tomo o toddynho, escovo os dentes, soco todo o material na bolsa e apareço arfando na sala. Minha mãe está no mesmo estado caótico que eu. Entramos no elevador e logo estamos no carro.
Felizmente não tem trânsito. Na hora que eu saio do carro e piso dentro da escola eu tenho vontade de correr e sumir. Eu tinha esquecido do Thomas, tinha esquecido completamente e agora eu lembrei dele de novo só de ver o corredor, porque foi aqui que ele me beijou. Coro e forço-me a ficar calma.
Subo as escadas e quando estou quase na minha sala vejo ele saindo da outra sala, provavelmente estava falando com o Peter. Ele está rindo de algum coisa e quando chega mais perto nota a minha presença e para.
Thomas fica na minha frente, apenas um cinco passos de distância nos separando. E eu não consigo entrar na sala. Sinto minhas bochechas queimarem e ele fica parado no mesmo lugar também.
–Você tá melhor? – pergunta ele meio hesitante.
Melhor? O que eu tenho? Ah, é! Virose.
–Sim. – respondo no automático.
Ficamos nos encarando e eu não consigo me mover. Ele muda o peso de um pé para o outro e eu olho pro chão, sem saber o que falar.
–Lydia!
Tenho uma vontade enorme de abraçar a Katherin, sério mesmo. Ela me salvou. Saio do meu transe e o Thomas também parece acordar pra realidade. Seu rosto está meio vermelho. Thomas entra na sala e eu permito-me soltar um suspiro de alívio.
–Katherin! – grito.
Ela me olha como se estivesse se perguntando qual o meu problema.
–Você tá bem?
–Graças a você, sim. – falo.
–Obrigada, eu acho. – diz ela rindo.
Entramos na sala e sento no meu mesmo lugar de sempre pras coisas não ficarem ainda mais estranhas entre eu e o Thomas.
Assistimos aulas e então o professor sério e chato entra na sala de aula com um monte de papel na mão.
–Bom dia queridos alunos, estou muito feliz em vê-los. – diz ele com um sorriso sarcástico. –Devo dizer que você me impressionaram nessa prova.
A prova dele foi muito difícil, se ele disse isso quer dizer que a turma foi bem, certo? Errado.
–Você foram pior do que eu tinha imaginado.
Meu coração acelera e me viro para a Katherin. Ela também me olha desesperada. Aperto o braço dela como se isso fosse adiantar alguma coisa.
–Quem pode entregar a prova? – pergunta ele.
Óbvio que ninguém quer entregar. Tá todo mundo nervoso por causa da nota.
–Que tal você? – pergunta ele para o Thomas.
–Eu? – pergunta ele.
Quase grito “Não, não, imagina” mas fico quieta. Ele se levanta e pega um monte de papel. Aperto o braço da Katherin mais forte até que ela me dá um tapa e fala pra eu parar que tá doendo. Thomas se aproxima de nós duas e eu prendo a respiração, mas é a prova da Katherin e não a minha.
Ela pega o papel e vê a nota.
–Quanto? – pergunto.
–Seis. – diz ela muito desapontada.
Eu também ficaria do mesmo jeito. Seis? Seis é insuficiente, quer dizer que você passou de raspão e que não é bom o bastante.
–Veja pelo lado bom, você passou. – falo.
Thomas volta e dessa vez eu sei que a prova é minha. Ele olha pro papel e então me olha com a testa franzida.
–Que? – falo já ficando nervosa. –Thomas, dá a minha prova!
–Lydia, não se desespera. – pede ele.
–Entrega logo! – peço desesperada.
Como ele não faz nada, tomo o papel da mão dele e eu sinto como se alguém tivesse batido em mim. Três.
Eu olho para a prova de olhos arregalados. Três de dez. Três de dez!
–Lydia, calma... – repete o Thomas.
Olho pra prova. Tá tudo certo. Tudo marcado como certo, então como eu tirei três!? Me levanto furiosa e empurro o Thomas já que ele não saiu da minha frente. Vou até o professor.
–Você pode me explicar o que é isso? – pergunto sem me importar se ele vai me mandar pro diretor. Eu estou com raiva dele.
–Olha como fala. – diz ele.
–O que é isso? – repito. –Está tudo certo, então como você me deu três?
–Simples, minha cara aluna. Você fez os cálculos de lápis.
Quase solto uma risada de tão ridículo que foi isso que ele falou.
–Mas cálculo se faz a lápis! Eu passei a resposta final a caneta!
Ele dá de ombros, indiferente.
–Sinto muito, só te dei três por pena.
Tenho vontade de voar no pescoço desse cara e degolá-lo.
–Como...? Você não... – eu não consigo formular uma frase.
Ele apenas sorri e eu saio da sala, sem nem pedir permissão. Bato a porta ao passar e ando para a floresta com passos pesados. Tenho vontade de quebrar vasos que nem as pessoas fazem em filmes, mas eu não tenho nenhum disponível no momento e eu teria que pagar depois.
Chego na “floresta” e taco a prova no chão. Piso nela, cuspo nela, pisoteio ela. Depois pego e rasgo em pedacinhos, mas não é o suficiente.
Solto um grito de raiva e me sento encostada na árvore, totalmente infeliz. Começo a arrancar grama no chão e minhas mãos começam a doer. Eu iria continuar com o meu surto se o Thomas não tivesse puxado o meu pulso, me obrigando a parar.
–Me deixa! – falo estressada tentando me desviar dele.
–Lydia, não é assim que as coisas se resolvem. – fala ele.
–E como eu deveria agir? Sentar, rir da minha nota e encarar isso como uma piada?
Com a mão que está livre pego um pedaço da prova. Na verdade dois. Está rasgada e os dois pedacinhos juntos mostram a minha nota.
–Olha isso! – grito com raiva. –Três! Como que eu vou falar isso pra minha mãe? E isso não tem nem haver só com a minha mãe, essa nota é uma vergonha!
Ele solta o meu pulso e senta ao meu lado.
–Escuta, esse cara é um babaca. Já aconteceu com todo mundo que não tinha aviso.
Encosto a cabeça na árvore e fecho os olhos. Eu poderia chorar de raiva, mas estou me contendo ao máximo.
–Thomas, essa nota é muito ruim. – falo depois de um tempo.
–Acontece, Lydia. – diz ele. –Fica calma, você vai recuperar.
Faço que sim com a cabeça e não consigo mais me conter, meu rosto está pesado. Uma lágrima escorre pelo meu rosto e mais outra. Dobro os joelhos escondendo o meu rosto. Não gosto que as pessoas me vejam chorando. Isso é idiotice, o Thomas sabe que eu to chorando.
Ele passa um braço sobre o meu ombro e me puxa para ele. Abraço-o de volta. Não to nem aí pra vergonha do beijo agora. Provavelmente isso vai mudar quando nos soltarmos, mas agora não importa. Ele acaricia meus cabelos e eu fecho os olhos.
Meu coração bate acelerado mais do que o normal por estar perto dele e sentir seus braços ao redor de mim.
–Por que veio atrás de mim? – pergunto sem me soltar do abraço apertado.
–Eu queria ter certeza se você estava bem. – fala ele.
Por algum motivo, fico feliz de ouvir isso e me separo dele. Fico encarando-o e então dou um beijo em sua bochecha sem pensar. Sinto meu rosto esquentar e ele me olha surpreso.
–Obrigada. – falo totalmente sem graça. Por que eu fiz isso?
Me levanto totalmente confusa e saio andando, deixando ele e os pedaços de papel da minha prova para trás.

POV Jane

Eu e a Kriss fomos no shopping comprar os vestidos e agora estamos indo pra casa dela. Descemos do táxi e entramos. Vamos direto pro quarto dela.
–Pode usar o banheiro do quarto do meu irmão. – fala ela.
O irmão dela tá na faculdade e vem só de vez em quando. Pego o meu vestido e vou pro banheiro do quarto do irmão dela. Tomo banho e coloco o vestido.
Meu vestido é branco e tem um cinto preto. Eu normalmente uso vestidos pretos, mas os que tinham na loja não eram lá muito bonitos e eu gostei desse. Vou por quarto da Kriss e vejo que ela está pronta.
Seu vestido é azul claro e é meio esvoaçante. Tem umas pedrinhas de brilho espalhados por ele.
–Kriss, ficou ótimo!
–Obrigada, você também tá linda! – diz ela.
Ela pega o estojo de maquiagem e começamos a nos arrumar. Passo um lápis preto. Antes eu passava só por passar mesmo, mas daí a Lydia disse que realça meus olhos e vi que ela tem razão. Fica muito melhor. Seco meus cabelos enquanto a Kriss termina de se maquiar. Deixo meus cabelos soltos e ela faz uma trança de lado.
–To pronta. – diz ela.
–Também.
Descemos as escadas da casa dela e a mãe dela nos leva pra festa.
–Não bebam. – fala a mãe dela. –Fica de olho nela Jane.
Eu nunca bebi, porque tive uma experiência na minha família que não foi nada legal. A mãe dela sabe que eu nunca beberei na minha vida.
–Pode deixar, tia.
Pelo que eu saiba na família da Kriss não aconteceu nada por causa de bebida, mas mesmo assim ela também não bebe. O mesmo acontece com a Lydia.
Nos despedimos da mãe dela e descemos do carro. A porta da casa dela está aberta e tem um segurança. Ele nos deixa passar e ouço o barulho de música. Faz nem meia hora que a festa começou e aqui já está lotado. A minha mãe vai me buscar meia noite, porque amanhã a gente vai sair e como a Kriss vai de carona comigo, vai ter que ir embora meia noite também. São oito e meia da noite.
Eu e ela mal andamos e uma coisa ruiva de olhos azuis se aproxima. Jake. Como eu odeio esse cara.
–Oi. – diz ele.
Reviro os olhos.
–Oi! – fala a Kriss.
Dizem que o amor é cego. Deve ser mesmo porque essa menina simplesmente não enxerga o quanto ele é cafajeste.
–E aí, Jane?
Reviro os olhos.
–Eu to ótima e você?
–Melhor impossível. – fala ele.
A Kriss parece perceber que se continuarmos nos falando uma briga não vai demorar pra acontecer.
–Jane, vamos comer alguma coisa? To morta de fome.
–Vamos. – falo.
Já é um progresso. Ela não quer ficar super grudada no Jake. Ele parece meio surpreso ao notar isso.
–Engole essa. – sussurro rindo quando passo do lado dele.
Jake me olha com raiva e a Kriss me puxa pelo pulso. Quando estamos afastadas a gente para.
–Achei que queria ficar perto do Jake.
–Querer eu quero, Jane, mas você é minha amiga e não vou te deixar sozinha.
Abro um sorriso. Isso é que é amiga.
–Obrigada.
–Fora que só faltava vocês se matarem só com o olhar ali. – diz ela com os braços cruzados.
Solto uma risada.
–O que quer fazer?
–Vamos dançar, depois eu falo com ele.
Nós duas vamos pra pista de dança. Estou na frente da Kriss e vejo o Jake falando com outra garota. Mas ele está próximo demais, só falta eles se beijarem.
–Kriss. – falo e viro-a.
Só que ele já se largou da menina. Kriss me olha confusa.
–Que foi?
Se eu falar ela vai achar que é implicância.
–Nada.
Isso já aconteceu diversas vezes e ela já viu, falar de novo não vai adiantar e eu não to afim de brigar com ela.
Começa a tocar funk e eu e a Kriss fazemos caretas. Ficamos paradas no mesmo lugar só conversando e então começa a tocar Summer. Música boa, assim que eu gosto. Kriss ri e dança comigo já que o tal do Jake sumiu de vez.
–Vou no banheiro. – grita ela, sua voz quase inaudível por causa da música alta.
Faço que sim com a cabeça e vejo ela desaparecer na multidão. Decido sair um pouco daqui do meio da pista e ir tomar alguma coisa. Água, suco ou refrigerante, bebidas nem pensar. Nem sei se vai ter alguma coisa pra beber sem ser alcoólica, se não tiver fico com sede até a hora de ir embora, mas eu me recuso a ingerir uma gota de cerveja ou qualquer tipo de bebida alcoólica.
Meu pai e minha mãe se separaram por causa disso. Porque ele bebia demais e eles brigavam muito por causa disso. Eles se separaram e bom, ele sofreu um acidente. Foi por muito pouco que ele não morreu e depois disso, ele passou a beber bem menos. Se meus pais voltaram? Não e eu prefiro assim. Mesmo sem a bebida no meio os dois já brigavam e isso não fazia nada bem pra mim.
–Tem refrigerante? – grito pro moço que está atrás do balcão.
Ele dá uma risada.
–Refrigerante? A bebida tá liberada, não vão pegar você. – fala ele e joga bebida em um copo. Ele estende-o, mas eu não pego o copo. O moço franze a testa.
–Eu pedi um refrigerante. – repito.
Ele faz que sim com a cabeça e me dá uma lata de Coca-Cola. Saio com ele nas costas. Será que o idiota não entendeu que eu pedi refrigerante e não cerveja?
No instante em que abro a latinha, alguém tromba em mim. O refrigerante cai no meu vestido branco. Não. Não é possível. Olho com raiva pra pessoa e então pisco duas vezes pra ver se a imagem é real. Mesmo eu estando com raiva desse infeliz, ele é bonito. Sues olhos são azuis e seus dentes estão à mostra, esse sorriso... Volto à realidade quando vejo que ele está sorrindo, rindo de mim.
–Babaca! – grito.
O menino de olhos azuis sai andando, me deixando com o vestido encharcado e o rosto vermelho de raiva e vergonha por causa do estrago.
–Quer ajuda? – pergunta uma pessoa.
Meu coração para de bater por um milissegundo. É o Will. Conto até cinco mentalmente e me viro para ele.
–Jane, o que aconteceu com você? – pergunta ele com uma sobrancelha levantada. –Você está linda, mas o seu vestido tá meio...
–Manchado? – completo. Tenho vontade de sair saltitando por ele ter falado que estou bonita, mas então a namorada dele aparece ao seu lado.
Will passa o braço ao redor da cintura dela e sinto meu coração apertar.
–Oi! – fala ela e quando bate os olhos no meu vestido seu sorriso se apaga. –Quer que eu te ajude a limpar?
Por que ela tem que ser legal?
–Não, obrigada. – falo tentando não fazer minha voz falhar.
–Se precisar, chama. – diz ela com um sorriso.
–Pode deixar. – falo.
Will aperta a minha bochecha e ele e Malu, sua adorável namorada, vão para a pista de dança. A festa acabou pra mim. O meu vestido está arruinado, o garoto que eu gosto está com a namorada, não tem mais como ficar pior.
A Kriss aparece e na hora que me vê, arregala os olhos.
–Menina o que aconteceu?
–Um idiota derrubou refrigerante em mim. – resmungo.
Ela parece perceber que estou chateada.
–Jane, que cara é essa?
–É o vestido, olha como tá feio! – minto.
–Ok, mas tem mais alguma coisa. O que foi?
Não é porque eu estou triste que quero estragar a festa pra Kriss. Então o Jake aparece e eu fico feliz em vê-lo. Faço uma careta. Essa é a primeira (e última!) vez que penso nisso.
–Kriss, eu vou no banheiro. – falo e não deixo ela argumentar.
Não vou pro banheiro, apenas me afasto e vejo ela ir pra pista de dança. Volto pra onde eu estava e desejaria não ter voltado. Se eu podia ficar pior, eu juro que fiquei. Will e Malu estão se beijando.
O meu rosto estava tenso para conter as lágrimas, mas agora não dá. Eu preciso sair daqui. Agora. Me afasto e trombo em várias pessoas. Não vou aguentar muito tempo. Eu preciso pelo menos estar do lado de fora. A casa da Lexi parece ser gigante.
Encontro uma porta e ela está aberta. Passo sem nem pensar duas vezes. É um jardim enorme. Minhas lágrimas começam a cair e me afasto um pouco. Ando mais um pedaço do jardim e me sento em um banquinho meio afastado.
Deixo as lágrimas caírem. Por que ele tem que ficar com ela? Por que eu tenho que ver isso? Eu não devia ter vindo. Vejo alguém se aproximar e se sentar do meu lado. Levanto o rosto e vejo que é o garoto dos olhos azuis. Fico com raiva.
–Sai daqui, eu idiota!
–Você nem me conhece pra me chamar de idiota. – diz ele. –Por que tá chorando? É só um vestido.
Não mesmo que eu vou ficar dando satisfação pra ele. Me levanto do banco e sinto sua mão no meu pulso. Meu coração meio que acelera e me sento de volta no banco.
–O que você quer? – pergunto com raiva. –Quer rir da minha cara? Vamos, pode rir!
Ele faz que não com a cabeça.
–Não gosto de ver garotas chorando, ainda mais garotas bonitas. – fala ele.
–E então o que você quer? – pergunto mais calma.
–Sai pra tomar um fresco, hoje não é um dia muito bom. – fala ele sem dar mais explicações.
Ficamos sem falar nada por alguns minutos e paro de chorar.
–Você é muito babaca, sabia? – falo por fim.
Ele ri.
–Já disse que não me conhece pra falar isso de mim.
Eu dou risada.
–Você manchou o meu vestido e riu na minha cara.
–Pois é. – fala ele rindo.
Nós dois ficamos rindo e sem falar nada.
–Então, por que tava chorando?
–Acho que você não quer mesmo saber. – falo. -Você nem me conhece.
–Eu sei, mas eu saí daquela festa pra ficar sozinho e você atrapalhou isso.
Reviro os olhos.
–E então isso passou a ser problema meu. – termina ele.
Olho para ele sorrindo um pouco.
–Não é problema seu, você não me conhece, não tem nada com isso.
O garoto de olhos azuis segura o meu rosto e tira minhas lágrimas. Sua mão é macia e ele tem um olhar meio preocupado. Ele solta o meu rosto e fica me encarando.
–Talvez você não seja tão idiota. – falo por fim.
Ele ri. Sua risada é boa de se ouvir e seu sorriso é encantador. Seu sorriso se fecha e ele inclina seu rosto na direção do meu.
Meu cérebro começa a trabalhar. Eu não conheço ele nem a meia hora. Eu nunca beijei, não deveria ser com alguém que eu goste? Uma parte do meu cérebro pergunta isso, mas a outra faz eu inclinar meu rosto na direção do seu.
Seu nariz encosta no meu. Pisco fracamente e quando sinto que ele vai me beijar, saio do meu transe e o empurro. Ele me olha surpreso.
–Eu não posso fazer isso. Eu nem te conheço. – falo e me levanto do banco.
–Oliver! – grita alguém.
Então esse é o nome dele. O menino fica sentado no mesmo lugar parecendo meio chocado que eu não tenha beijado ele. Chego a uma conclusão: ele é babaca sim, porque ele se aproveitou de um momento de fraqueza pra tentar me beijar. Tudo bem, eu não vou mentir que queria, mas mesmo assim. Eu não estava pensando direito, eu estava chorando e ele se aproveitou disso.
Entro na festa e vejo que o Will está com a Malu. Tenho vontade de ir nele e perguntar se ele é cego e se ele gosta de me magoar de propósito. Óbvio que não faço isso.
Sento-me no lugar que peguei meu refrigerante e fico observando as pessoas se divertindo enquanto eu estou com um vestido branco machado de Coca-Cola e olhos vermelhos por ter chorado.


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