Parte de mim. Metade de mim. escrita por Larian Gonzales


Capítulo 4
Não toque em minha ferida!




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Elena não respondeu, ficou olhando vidrada para a lareira com a xícara nas mãos.

– Eu vou terminar de colocar as malas no carro. Converse com ela, Caroline! – Disse Alaric se retirando da sala de estar.

– Elena?! Hei... – Chamou Caroline alcançando o braço de Elena.

Ao tocá-la, foi como se Elena tivesse sentido um choque em sua pele. Ela deu pulinho para o lado oposto de Caroline.

– Saia daqui! - Ordenou Elena sem dirigir o olhar para Caroline.

– Elena, por favor... Preciso que me escute! Dê-me uma chance de...

– Não há o que conversar Caroline! – Interrompeu Elena. - Eu... Eu nem sei o que dizer! Me deixe em paz... Só isso que eu te peço.

– Elena, me deixa falar, por favor! – Disse Caroline com lágrimas nos olhos.

– Saia daqui Caroline!!! – Elena aumentou o tom da voz, ela estava se alterando novamente.

– Elena, me desculpa! Por favor, olha você é minha amiga... Elena, eu, eu confesso que eu errei! Eu confesso que eu não estou assimilando bem a perda da Bonnie, a segunda perda dela não está me fazendo bem! Por favor, me escute! – Caroline já chorava ao segurar a mão dela.

Elena puxou a mão trêmula das mãos de Caroline.

– Saia... Daqui! – Ordenou Elena pela terceira vez.

Caroline foi obrigada a se afastar, Stefan escutava a conversa escondido fora da sala de estar.

– Eu prometo a você... Elena eu vou recuperar as roupas do Damon, e vou entregá-las a você. Confia em mim, ta! Eu prometo que vou recuperá-las pra você! – Caroline colocou a mão no ombro de Elena, com medo que ela avançasse.

– Boa sorte, senhorita Forbes! – Desejou Elena sem esperança. Ela nem ao menos dirigia o olhar para a moça.

– Elena, eu sinto muito! Muito mesmo, você não sabe como eu estou me sentindo.

– E você, Caroline? Você sabe como eu estou? Olhar pra mim! – Dessa vez Elena olhou para Caroline, se levantou de onde estava deixando o edredom que estava sob sua cabeça ir ao chão.

Caroline olhava para ela com total sentimento de culpa por deixar a amiga naquele estado. Elena não estava completamente “saudável”. Ela deveria, pois era uma vampira, mas não estava.

– Caroline, eu prometi sob o túmulo dele que eu vou seguir em frente até o último segundo de vida do Jeremy! E é só por isso que eu estou viva até agora, porque é muito fácil eu tirar essa porcaria de anel quando o sol nascer!

– Elena, por favor, entenda! Eu não fiz por mal... Eu achava que você queria se livrar das roupas dele, elas estavam te fazendo mal... E como vocês vão deixar essa casa...

– Aham, entendo... E foi isso que levou você a achar que poderia se desfazer das minhas coisas?

– Suas coisas? – Perguntou Caroline desentendida.

– MINHAS COISAS, CAROLINE! MINHAS!... Eram minhas! Eu cuidava das roupas dele, eu as mantinha intactas, elas eram preciosas pra mim! As coisas dele pra mim eram mais preciosas do que qualquer jóia deste mundo! – Elena falava num tom desesperado. - Elas eram os cacos do que sobrou de uma vida, de uma história, Caroline... Elas carregavam lembranças dos meus momentos com ele. Era tão precioso, mas não vou te culpar! Ninguém merece isso! NINGUÉM! – Gritou Elena lançando a xícara com chá na parede, quebrando-a minúsculos cacos.

– Eu perdi uma eternidade que pensei que viveria, eu vi um futuro pra mim, mas também o vi escapar por entre meus dedos sem conseguir segurar! Era como se eu tivesse tentado segurar água com as mãos... Eu não suporto mais! Não suporto! Está doendo!

Caroline abraçou Elena com força, que via a mesma se entregar aos prantos enquanto a abraçava.

– Ah, Elena... Eu prometo! Eu vou concertar o que fiz... – Caroline acariciava os cabelos de Elena. – Venha comigo até o quarto! Quero que me fale sobre tudo o que tem lá! Pode ser?

Elena olhou para Caroline inconsolável e assentiu. Stefan via a cena com um buraco no coração.

Chegando ao quarto, Elena entrou normalmente e imediatamente observou várias coisas nos lugares errados. Ela organizou bem, camisa com camisa, calça com calça, porém nos lugares errados.

– Caroline, cadê as jaquetas de couro? – Perguntou Elena temendo a resposta.

Caroline balançou a cabeça negativamente.

– Foram as primeiras coisas que eu empacotei Elena... E as coisas de cima da cama também! – Respondeu Caroline abaixando a cabeça.

– O blazer que estava nesta poltrona, ele... – Elena olhou para Caroline colocando levemente as mãos na cabeceira da poltrona onde o blazer deveria estar. – Ele também foi levado, não foi?

– Elena eu sinto muito!

– Os sapatos sociais que ele costumava usar... Os pretos, Caroline onde estão? – Perguntou Elena colocando os sapatos que restaram em seu devido lugar.

Ela não respondeu, apenas observava. Elena sabia exatamente a posição e o lugar certo de cada sapato e de cada pertence.

– Bom, eu... Eu estou cansada Care... Estou cansada de sofrer, de chorar e de sentir dor! Eu quero seguir em frente, quero viver por esse tempo que resta e cuidar do Jer! Nem que seja só pelo tempo que ele estiver vivo... Foi uma promessa que eu fiz, e mesmo que eu não tenha mais os pertences dele eu vou me lembrar! Ele está dentro de mim, Caroline e ele sempre vai estar vivo em mim!

– Elena, Caroline? Está na hora, vamos! – Gritou Alaric lá de baixo.

Elena fechou o closet, as gavetas, limpou a lareira, trancou as janelas e por último trancou o quarto de Damon levando a chave consigo.

Ao passar pela sala de estar se dirigindo a saída da mansão, Elena observou à lareira se apagar por completo. Uma brisa fria entrou na sala apagando as velas deixando a casa completamente escura.

– Onde está o Enzo? – Perguntou Caroline ao entrar no carro.

– Eu que sei do Enzo, Care? – Respondeu Stefan. – Se despediu da sua mãe?

– Ela está arrasada! E o pior é que não há previsão de volta! Ela irá me visitar!

Elena não deu um pio em toda a viagem, Não era bem uma viagem. Alaric levou-os para uma casa grande em Whitmore, pois ficaria próximo à faculdade e facilitaria o estudo das meninas. Ric tinha o objetivo de voltar a ser professor, mas ser professor e esconder sua identidade de Super Original não seria uma tarefa fácil.

A casa era uma pensão muito bonita, tinha um jardim e uma sacada pra cada quarto. Cada um se estabilizou em seu devido quarto, desfazendo suas malas e arrumando seu cantinho. O de Elena era o mais triste e sombrio. Ela tentava, colocar-se em pé, mas ela precisava de um apoio, que nem sempre era o suficiente para fazê-la seguir.

Em plena segunda-feira o despertador tocou às 07h00min da manhã e Elena se levantou sentindo uma terrível vontade de vomitar. Ao chegar à conzinha para tomar o café da manhã, surpreendeu Stefan pondo a mesa. Caroline já estava terminando uma bolsa de sangue e Alaric terminando de organizar seu currículo para levar à faculdade em busca de vagas para profissionais.

– Elena, beba! Você está emagrecendo e seu rosto está sem cor! – Disse Stefan oferecendo uma bolsa de sangue.

– Há quanto tempo você não se alimenta? – Perguntou Alaric colocando sua mochila nos ombros.

– Eu não estou com fome! – Respondeu Elena fazendo um rabo de cavalo.

– Precisa se alimentar Elena, você está franca! Aqui em Whitmore podemos nos alimentar normalmente, é só tomarmos cuidado! – Disse Caroline.

– Não! Obrigada. – Elena era curta e grossa.

Quando as meninas chegaram, Caroline se sentiu mal por pela segunda vez não ter Bonnie junto a elas. Elena chegou cheia de má vontade, jogou suas malas sobre a cama e ficou ali.

– Elena, vai ter uma festa hoje à noite em prol do retorno dos estudantes. Por que não vamos, bebemos e nos divertimos pra esquecer um pouco tudo isso? – Caroline disse isso num tom de quase implorar para a amiga.

– Caroline, não estou com nenhum pouco de ânimo de ir a festa alguma! – Disse Elena deitada na cama olhando para o teto.

– Ah, por favor... Eu não quero ficar trancada nesse quarto da amargura me lembrando dos nossos momentos com a Bonnie. Elena, por favor! Isso vai fazer bem não só pra mim, mas também a você! – Suplicou Caroline.

– Ta bem, ta bem, ta bem! – Assentiu Elena, sem querer ouvir mais a voz da amiga.

Na sala de aula, Elena chegou empurrando as carteiras abrindo espaço para sua passagem e jogando os livros sobre a mesa em gesto de tédio.

“Droga, preciso manter o controle. Não adianta, preciso ter paciência...”. Pensava ela sentando na carteira ao lado de Caroline.

Do outro lado da sala ela viu Matt, que dirigiu o olhar para as meninas, porém não se aproximou. Ele apenas acenou com a mão. Caroline ficou surpresa em ver uma garota nova, morena entra na sala, dar um selinho em Matt e vê-lo retribuir seguido de um sorriso. Elena nem deu bola.

– Elena você viu aquilo? – Interrogou Caroline sentando-se na cadeira, já enchendo a boca para fofocar.

– Sshhh... – Elena colocou um dedo sobre os lábios pedindo o silêncio da amiga ao ver Alaric entrando na sala e assumindo seu posto de novo professor de história. – O professor está em sala!

– Ele conseguiu o cargo? – Perguntou Caroline com os olhos arregalados.

– Claro, ele tem um ótimo currículo, e é um ótimo profissional. Ele mereceu! – Disse Elena olhando para frente sem dirigir-se para Caroline.

– Por que diabos temos que ter aulas de história? Estamos na faculdade e não no ensino médio! – Reclamou Caroline cochichando para Elena. – Ainda está chateada comigo, não está?

– Ssshhhh... – Repetiu Elena sem olhar para Caroline.

As aulas daquela manhã foram estupidamente chatas, mas a presença de Ric fazia bem a Elena e Caroline, já que para Matt havia outra presença que o animava.

No final da aula, Elena guardou rapidamente o seu material como querendo sair correndo da sala para poder respirar.

Duas meninas se aproximaram de Caroline, e com grande simpatia se apresentaram.

– OI, muito prazer, meu nome é Gabriele! Gostei do seu cabelo! – Disse a moça envolvendo o indicador num cachinho loiro de Caroline.

Caroline afastou a mão da garota antipaticamente.

– Hei Caroline, deixe a menina! E você quem é? – Perguntou Elena apontando para a segunda garota.

– Meu nome é Morgan! E eu reparei como você é quieta, muito centrada! Vão vir á festa hoje à noite? Vão ter muitos gatinhos. Eu tenho certeza! – Morgan deu uma piscadela.

– Sim, claro! – Disse Caroline com o peito estufado, já querendo mostrar ser melhor que as outras meninas. A mesma garota popular de sempre.

Elena soltou um grande sopro de ar, bem audível aos ouvidos de Caroline.

– Ah, entendi! Você tem namorado! – Disse Gabriele tentando adivinhar os pensamentos de Elena.

– Tenho! Tenho sim!

– Ela tinha! Ele está morto! – Disse Caroline com total insensibilidade.

As meninas ficaram boquiabertas com o comentário da moça. Elena deu uma cotovelada forte em Caroline.

– Mas do que ele morreu? – Perguntou Gabriele.

– De amor! – Respondeu Elena com indiferença.

As meninas riram.

– É sério... Ham... – Morgan travou sem saber o nome de Elena.

– Sou Elena... E o motivo da morte dele é complicado!

– Deve ser muito difícil perder alguém que é tão importante pra gente! Mas você não pode se prender a isso. Vai ver ele nem era o cara certo pra você. Ninguém fica junto pra sempre mesmo! – Disse Morgan olhando com um sorriso imenso para Gabriele.

– Quem é você pra dizer alguma coisa? Por favor, eu só te peço que não se metam na minha vida e nem no que eu sinto. Ok? Não conheço vocês. E pra sua informação, ele está vivo em mim! – Disse Elena num tom ameaçador se aproximando das meninas.

Caroline arregalou os olhos. Por sorte Alaric chegou por trás disfarçadamente.

– Elena... Hei, está tudo bem! Foi só um comentário mal pensado, não foi meninas?

Ric via as meninas saírem apressadamente da sala. Elena botava terror já cedo.

– Elena, eu estou aqui não só para dar aulas de história, mas também pra cuidar de você. Jeremy chega hoje á noite! – Revelou Alaric colocando as mãos sobre os ombros de Elena acalmando-a.

Durante o almoço, Caroline tentou conversar com a amiga sobre o comportamento descontrolado que ela estava apresentando ultimamente. Elena não deu a mínima para as observações feitas pela amiga. A única coisa que fez foi ouvir sem dar à mínima.

Ao sair em frente ao Campus, Elena ouvia Caroline falando sobre as roupas que iria usar durante a noite na fresta do colegial. As palavras entravam por um ouvido e saiam pelo outro. Há dias que ela não escutava uma só palavra do que tais indivíduos falavam á ela. Ela escutava, mas não ouvia.

Enquanto andavam, Elena olhava para frente com um olhar longe e pensativo. Ao observar a multidão de estudantes distraídos conversando com seus colegas, se divertindo e rindo, ela ouviu ecos. As risadas das garotas estudantes, a música tocando nos fones dos rapazes focados na tela do seu celular, e o salto das professoras intelectuais que estalavam no piso da cantina. A cabeça de Elena estava dando voltas. Ela perdeu totalmente a noção de onde estava e do que estava acontecendo. Com tontura, ela cambaleou para trás.

Ao se segurar em Caroline, que a apoiava, ela o viu. Ali, em meio à multidão. Olhando profundamente para ela. Ele estava todo vestido de preto, e seu olhar parecia que ia abrir um buraco em Elena. – Damon!


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Notas finais do capítulo

Para um coração quebrado em estilhaços, era a restituição...
Saiu ela, ao encontro dele... Ela queria se jogar nos braços dele, queria afangar-se nele, aquecer-se nele, curar-se nele... Era o que ela queria!