Coração de Soldado escrita por Incrível


Capítulo 36
Capítulo 36 - Lembranças


Notas iniciais do capítulo

heeeeey povo!
Não sei vcs, mas eu não curto ler notas iniciais. Então vamos passar logo pro cap ;)



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Pov's Violetta

Acordei com meu celular tocando. Não acreditei que já eram 9 horas da manhã (horário em que o despertador de meu celular estava programado). Minhas suspeitas foram confirmadas quando abri os olhos e vi que o quarto estava escuro.

Peguei meu celular. Sem olhar no identificador de chamadas, atendi o celular.

– Alo - digo com voz sonolenta, tentando ficar acordada.

– Violetta - diz Larissa com voz aflita - ele está ai?

– O que? Quem? - digo confusa, me sentando rapidamente na cama, esfregando os olhos. O único motivo da Sra. Vargas me ligar à esta hora da noite, me perguntando se ELE esta aqui, seria Leon.

– Leon... - diz num fio de voz.

– O que aconteceu? - digo preocupada.

– Eu não devia ter ligado, te preocupando com essas coisas, te acordar no meio da noite... - dizia.

– Sra. Vargas - a interrompo - o que aconteceu? - repito olhando no relógio da cabeceira de minha cama. Eram 3 horas da manhã.

– O Leon saiu de casa e até agora não voltou. Não faço a mínima ideia de onde ele esteja - começa a chorar.

– A quanto tempo ele saiu? - pergunto me levantando e indo em direção ao banheiro.

– Umas 8 horas - diz.

Meu coração se aperta. Oito horas era muito tempo. Tento me controlar me concentrando em descobrir onde Leon poderia estar.

– Ele... - suspiro - ele falou alguma coisa antes de sair?

– Não, ele estava... - para, contendo as lágrimas - estava discutindo com o Pai, se irritou e foi embora.

– O que o fez parar de discutir e ir embora? - pergunto impaciente, querendo rodar BA inteira em busca de Leon.

– Leonardo disse algo sobre o irmão de Leon, então ele saiu - conclui.

Se tinha algo que Leon não comentava nunca comigo, era sobre seu irmão. Como eu o encontraria?

– Já sei onde ele pode estar - minto.

Lhe tranquilizei, prometendo trazer Leon à salvo antes do amanhecer. Pedi para que ela se acalmasse e ficasse em casa, caso ele retornasse.

Lavei o rosto, troquei de roupa, liguei pra um táxi e sai de casa de mansinho, sem acordar meu pai.

Enquanto o táxi não chegava, eu forcei minha mente a pensar sobre onde ele poderia estar. Tentei pensar racionalmente. Se eu quisesse ficar sozinha depois de alguém falar sobre minha mãe, para onde eu iria?

Eu tinha uma hipótese, que não era muito forte. Mas eu tinha que tentar, aquela seria minha primeira e única opção.

Assim que o táxi chegou eu entrei no carro e falei o nome do local ao taxista. Durante o caminho todo eu rezei para que estivesse certa, porque se eu não estivesse, não saberia o que fazer.

Contei ao taxista breviamente o que havia acontecido. Ele se comoveu pelo que estava acontecendo e disse que não cobraria pela viagem e se preciso fosse passaria o resto da noite procurando comigo.

Chegando ao Cemitério Municipal de Buenos Aires eu me apressei em sair do táxi.

– Tome cuidado, moça - pediu o taxista - vou estar aqui quando voltar.

– Obrigado - digo fechando a porta do carro e caminhando em direção ao portão aberto.

Andei à passos largos, procurando alguma placa de identificação. Ao encontrar o que procurava eu varri os olhos pelo mapa do cemitério. E lá estava: Ala em memória dos Soldados Falecidos. Por sorte meu chute estava certo. Agora tinha de saber se Leon estava lá.

Apesar do frio caminhei rapidamente em direção à ala.

Chegando lá eu o encontro. Meu coração se aliviou de tal forma que não consegui ficar com raiva.

Leon estava em pé, com as mãos nos bolsos da calça, e olhava fixamente para uma lápide que chegava à altura de seu abdômen. Me aproximei vagarosamente por trás, sem querer assusta-lo ou interromper seu momento.

Ao perceber minha aproximação, ele se virou discretamente e percebendo que era eu, voltou sua atenção à lápide. Fiquei ao seu lado acompanhando seu olhar.

Na lápide haviam as inscrições: "Em memória de Aidan Silva Vargas. Falecido em 10 de janeiro de (xxx) em combate no Iraque". No chão repousavam lindas rosas brancas que Leon havia trazido.

– Eu demorei pra encontrar flores pela cidade - comenta após um tempo em silêncio - todas as floriculturas estavam fechadas - segue encarando a lápide.

– Hum... - é tudo que consigo dizer.

Suspiro, querendo dizer alguma coisa mais. Pelo que me pareceu um longo tempo, ficamos em silêncio, e a cada segundo eu esperava Leon começar a falar.

– O que aconteceu? - pergunto o olhando.

Ele passou um tempo em silêncio, colocando as idéias em ordem em sua cabeça.

– Eu passei na Academia Militar - comenta. Eu me surpreendo mas não digo nada, sabendo que ele queria continuar a falar - mas fui designado para uma cidade muito longe daqui, e eu não poderia ver você, nem minha família. - suspira - Então disse pra meus pais que não iria. Meu pai se irritou e começamos a discutir. E... - parou fechando os olhos.

Ele respirou com força, apertando os olhos e se segurando pra não chorar.

– De todas as coisas que ele poderia dizer - diz com voz embargada - ele falou justamente de Aidan - uma lagrima escapa de seu olho, mas ele logo a seca.

Não entendia o porque de sua tristeza ao dizer o nome de seu irmão.

– Você nunca superou isso, não é? - pergunto calmamente, o incentivando a continuar.

– Nunca. Depois da morte dele, eu sofri tanto - balança a cabeça - eu era apenas uma criança, por isso não mencionava nada sobre ele. O apaguei da minha mente, por completo. Meus pais também fizeram isso pois não suportavam a dor. Mas eu criei em minha cabeça uma falsa esperança de que ele pudesse estar vivo, já que nunca enterramos seu corpo.

Pela primeira vez ele se virou pra mim e me olhou.

– Então eu servi no exército pra ver se encontrava alguma informação sobre ele, ou ele próprio. Mas como você já sabe, só encontrei um túmulo, e... E a foto de uma mulher, que estava em seu bolso - se virou para lápide novamente.

– Sinto muito - digo pondo a mão em seus ombro. Ele enrigesseu sob meu toque mas não retirou minha mão.

– Meu pai - diz - cada vez que eu não faço o que meu irmão faria, eu vejo a frustração em seu rosto. Como se ele dissesse: "você nunca será igual a Aidan". Eu não sou seu favorito, mas gostaria de ser. Gostaria que ele se orgulhasse de mim com qualquer coisa simples que eu tenha feito. Mas não, ele sempre quer mais, tentando me transformar no que ele estava transformando meu irmão. - balança a cabeça negativamente.

– Você é você, e seu irmão era seu irmão. Seu pai não pode obrigá-lo a ser diferente - passo a mão por suas costas.

– O pior é que não posso culpá-lo por isso. Em vez de chorar pela morte de meu irmão ele decidiu ocupar seu tempo, pra conter a dor. Por isso tenho tanto medo que aconteça qualquer coisa com Laura. Se acontecesse alguma coisa, meus pais aguentariam mais uma perda.

"Nem você..." - Penso

– Eu sei que já devia ter aceitado isso, mas eu nunca me permiti faze-lo. Eu fico pensando: como seria a vida dele se ele tivesse sobrevivido? Estaria com a moça bonita da foto, casado, com filhos, talvez. Mas o mais importante, ele estaria vivo. - seu queixo tremeu enquanto ele olhava para o céu tentando se controlar, procurando algo em que se agarrar. Não percebi mas uma lagrima silenciosa escorreu por meu rosto.

Leon falava sem parar, jogando um balde de informações, memórias e sentimentos de uma infância e juventude sofrida sobre mim.

– Fiquei tão pouco tempo com ele. Nas vezes em que ficávamos sozinhos em casa, ele brincava do que eu quisesse, por mais infantil que fosse para ele, comíamos besteiras e ficávamos assistindo desenhos animados. Ele era meu herói, era tudo o que eu queria ser: forte, amigo, determinado, respeitável, que fazia tudo pelo bem da minha família. E de um dia pro outro ele me contou que ia embora e me prometeu que voltaria. Sei que isso é o que os adultos dizem pra nos acalmar, mas eu acreditei naquelas palavras - seu rosto expressava muita angustia, então lágrimas começaram a escorrer livremente por seu rosto, deixando de lado sua postura séria e irritada.

Percebi que ele nunca havia se permitido chorar por seu irmão na frente das pessoas, muito menos contar sobre o ocorrido e desabafar seus sentimentos. Devia ter passado muitas noites chorando em seu quarto até pegar no sono, guardando tudo pra si.

– E então aconteceu - conclui olhando pra mim com olhar doloroso - e eu não pude fazer nada... não pude fazer nada... - repetia balançando a cabeça fracamente.

Não havia o que falar, mas entendi que ele precisava de um conforto. Sem pensar, o abracei pelos ombros. Ele descansou a cabeça em meu ombro e chorou, chorou por um longo tempo como criança, descarregando sua dor acumulada durante tantos anos. Eu não dizia nada, simplesmente afagava seus cabelos.

Devia ter se passado quase meia hora quando ele afastou seu rosto de meu ombro mas não saiu de meu abraço nem soltou seus braços de minha cintura. Agora estava mais calmo e havia parado de chorar. Segurei seu rosto entre minhas mãos, enxuguei suas lágrimas com os polegares e lhe dei um sorriso fraco que ele retribui.

– Seu irmão ficaria orgulhoso. Você se tornou um grande homem, Leon. Não precisa ser igual a ele - digo olhando-o fixamente - você não tem que sofrer mais, ta bem? - ele concorda fracamente com a cabeça.

– Ta bem - suspira.

– Vamos pra casa? - pergunto.

– Sim - concorda.

Me soltando de seus braços eu estremeci com o frio. Leon rapidamente tirou sua jaqueta e a pôs sobre meus ombros.

Ele se virou uma última vez para a lápide e passou sua mão no topo, escorregando até as laterais, como se estivesse se despedindo. Se afastou alguns passos e olhou mais uma vez antes de se virar e pegar minha mão. Então fomos embora, caminhando tranquilamente.

– Então você não vai mais ser um militar? - pergunto após um longo tempo caminhando em silêncio.

– Não posso desistir sem tentar - diz levemente - mas não quero me afastar de você e de minha família. Quero fazer o que meu irmão não pôde: estar presente.

– Então o que vai fazer? - pergunto.

– Tenho uma ideia - sorri de lado.

– Não vai me contar? - pergunto curiosa.

– Não, você vai ter que esperar - sorri mais ainda.

– A não... Me conta Leon vai - digo igual criança e ele ri.

Eu sorri, feliz por ouvir sua risada leve e sentir seu beijo em minha testa tranquilamente enquanto caminhávamos. Pelo menos a mágoa de perder Aidan, tinha sido apagada, e Leon estava mais leve.

Chegando à saída eu fui em direção ao táxi para agradecer ao taxista, mas ele estava dormindo. Então lhe deixei o dinheiro e um bilhete (escrito "obrigada") sobre seu colo.

Eu e Leon voltamos de moto até minha casa. Ainda estava escuro, mas dava pra ver que o sol já ia nascer.

– Vai pra casa, ta? - beijo a bochecha de Leon.

– Ta - concorda com um sorriso fraco.

– Você faria um favor pra mim? - pergunto retoricamente - peça desculpas a seu pai, sim?

– Mas foi ele quem começou - diz como se fosse criança.

– Mesmo assim, peça desculpas. Vai se sentir muito melhor - digo - por favor...por mim - peço sorrindo.

– Ta bom - diz relutante - só porque não consigo dizer não pra esse sorriso - sorri - agora tenho que ir.

Ele pôs o capacete e deu partida na moto.

– Tchau - digo.

– Tchau, linda - diz e então acelera a moto.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado :)
Muitas emoções estão vindo por ai, então se preparem...
E eu não poderia deixar de pedir: acompanhem, comentem e favoritem, please!
Até semana q vem!



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