A Grande Queda escrita por BobV


Capítulo 6
Tão Longe


Notas iniciais do capítulo

Capítulo curto, mas que serve de preparação para o que vem a seguir :D



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Ranma acordou em um salto, olhando de uma lado para o outro enquanto seu tórax se expandia e contraia em ritmo frenético. O ar que passava pelas suas narinas e boca não parecia suprir suas necessidades. A testa estava encharcada de suor, bem como sua fina camiseta branca que usava para dormir. Depois de longos minutos, fechou os olhos e respirou aliviado. Fora apenas um pesadelo. Ranma já estava acostumado com eles, não foram poucas as noites em que eles aconteceram. No entanto, dificilmente eram tão intensos.

— O que foi, Saotome? Sentindo a consciência pesar?

Na cama ao lado da sua, o moreno ouviu seu companheiro de quarto, Mousse, inquerir com voz devota de qualquer emoção.

— Me desculpe por te acordar, Mousse. Não foi minha intenção.

— Não se preocupe, você já fez coisas piores. — Mousse retorquiu com a voz afiada, deixando claro que ele não estava contente com a situação.

— Ok, Mousse. — Ranma virou-se e sentou-se na beirada da cama. Com uma expressão séria olhou para o outro rapaz. — Eu não sei o que aconteceu, mas desde a nossa luta com a Kiema você tem feitos comentários como este. O que foi que eu fiz?

— O que foi que você fez? — Perguntou indignado. — Não se faça de inocente. Eu vi você e a Shampoo na...

— Espere. — Ranma interrompeu. — Você estava lá? Me espionando?

— E isso importa? Eu vi você beijando a Shampoo! — O garoto chinês acusou com o dedo indicador.

— Céus, Mousse! — O garoto de rabo de cavalo jogou os braços no ar. — Cara, por favor. Se sua visão está tão boa como eu acho que está, você viu que foi ela quem me beijou! Eu não fiz nada.

— Não importa! Agora eu sei que você veio do Japão só para roubar a Shampoo de mim.

— De novo com essa história? Quantas vezes eu vou ter que repetir que eu não quero nada, nada com a Shampoo. Eu já te disse antes. Só existe uma mulher que eu amo e ela está a milhares de quilômetros daqui.

— E por que você não está com ela agora, em vez de estar lutando em uma guerra que não é sua?

— Você sabe muito bem que eu vim aqui apenas para procurar uma cura para a minha maldição.

— Até onde eu sei, são mais ou menos dois que você convive com isso. Por que querer se livrar dela agora? — Mousse perguntou ainda desconfiado.

— Isso... - Ranma olhou para o companheiro de quarto com uma expressão triste. — Não é da sua conta.

O moreno levantou-se da casa e avisou:

— Eu irei tomar um pouco de ar.

E saiu do quarto.

Do lado de fora, saltou no ar, aterrissando no teto da casa, onde deitou-se de barriga para cima. O céu sem nuvens e a pouco iluminação lhe permitiam observar as estrelas com uma clareza que não era possível na cidade. Desde de pequeno ele sempre gostou de fazer isso. O silêncio quase absoluto lhe dava uma sensação de calma e paz que não conseguia encontrar em nenhum outro luar. No entanto, não durou muito. Poucos minutos depois Mousse subiu no teto se juntando a Ranma.

— Eu quero ficar sozinho, Mousse.

— Me desculpe por não ter percebido isso antes. — O chinês caminhou e sentou-se ao lado do outro rapaz. — Acho que agora eu entendi porque você está aqui. Você e a Akane brigaram não foi?

Ranma ficou em silêncio, virando o rosto para o lado contrário.

— Eu estive lhe observando por todo tempo que você esteve aqui. As vezes eu via seu olhar de tristeza, mas não conseguia identificar a razão. Será que eu posso assumir que a briga tem a ver com a sua maldição.

Depois de continuar sem falar nada por mais alguns segundos, Ranma disse.

— Mais ou menos. Quero dizer, acho que eu entendo o lado dela. Como você acha que as outras pessoas fora do nosso circulo de amizade iriam reagir ao descobrir que eu me transformo em mulher? Ou como é que poderíamos demonstrar afeição um para o outro se ambas fôssemos mulheres? E o que iria acontecer se eu ficasse preso em minha forma amaldiçoada novamente? E se as situações fossem invertidas? Se ela se transforma-se em homem, será que eu poderia ama-la e beija-la do mesmo jeito?

— Você quer saber o que eu acho? — Ranma apenas olhou para o chinês, sem saber ao cero o que fazer. — Vocês dois são idiotas. Amor é muito mais que isso. Ele vai além das aparências, e isso quem está falando é alguém que sempre foi quase cego por praticamente toda a vida. Maldições que modificam a aparência não deveria significar nada se o amor de vocês for verdadeiro.

Ranma novamente continuou em silêncio.

— Pense sobre isso, Saotome. E veja se tudo isso que você está passando vale a pena.

Mousse desceu do teto, deixando o jovem artista marcial sozinho com seus pensamentos.

"Se o amor de vocês for verdadeiro..."

Em uma noite fria de novembro, uma japonesa de cabelos curtos observava o reflexo triste de seu rosto nas águas do pequeno lago koi.

Semanas haviam se passado, mas o sentimento de culpa ainda pesava em seu coração. Não importava quantas vezes diziam que não havia sido sua culpa, que ela não teve escolha, só de se lembrar da expressão que viu no rosto dele, era como um murro de um boxeador peso-pesado.

— Akane, — Kasumi, sua irmã mais velha a chamou com sua voz doce. — Venha para dentro. O tempo está esfriando. Você vai acabar pegando um resfriado.

— Eu não me importo em ficar doente. — Respondeu com a voz triste.

— Não diga isso. O que será que ele vai pensar quando chegar aqui e ver você doente em cima de uma cama?

— Ele não vai voltar. Eu sei disso. Ele não tem motivos para tal depois de tudo que eu disse. — Uma gota de lágrima escorreu pelo seu rosto e caiu dentro do pequeno lago.

— Não diga isso, Akane. O Ryoga irá encontrá-lo e lhe contará toda a verdade. Eu tenho que certeza que ele vai entender. Cologne é a culpada disso tudo.

— Nós não sabemos o que a Cologne irá fazer se souber que o Ryoga está lá para avisar o Ranma? Eu não sei se conseguirei proteger você e a Nabiki mesmo com a ajuda da tia Nodoka. — Seu tom de voz era quase de desespero. — Eu preciso ir atrás dele.

— Akane, você mesma disse que a Cologne avisou sobre espiões vigiando portos e aeroportos. Você sabe que não teria muita chance. Tudo o que podemos fazer nesse momento é confiar no Ryoga e rezar para que ele consiga achar o Ranma.

— Mas se a Cologne achar o Ryoga primeiro? Quem vai ajudá-lo?

Kasumi soltou um longo suspiro entendo perfeitamente a situação da irmã. Mal ela e Ranma haviam começado a progredir na relação quando Cologne decidiu interferir, fazendo os dois se separarem. E o pior foi que ela deixou Akane de mãos atadas. Caso ela contasse algo para Ranma ou tentasse segui-lo, a família é quem iria sofrer as consequências.

— Vamos falar com a tia Nodoka e ver se ela tem alguma ideia.

Naquela mesma noite, Ranma decidiu caminhar sozinho por um bosque nas redondezas do vilarejo. A lua provia iluminação suficiente para que ele andasse sem problemas.

As palavras de Mousse ainda ressoavam em sua cabeça. De certa forma, o que ele havia dito fazia sentido. Se os dois realmente gostavam um do outro, certas coisas não deveriam interferir como aconteceu.

Será que ela realmente me amou ou foi tudo uma ilusão?

É difícil dizer. Depois de todas as aventuras que passamos juntos acho que a resposta deveria ser sim. Especialmente durante o período em que nós treinamos juntos. Tivemos um desentendimento por causa do segredo do Ryoga, mas conseguimos contornar esse pequenos problema e no final tudo deu certo. Apesar da confusão, foi isso que permitiu sermos honestos um com outro pela primeira vez.

Mas qual foi o real objetivo daquilo tudo se as coisas terminaram desse jeito?

Um súbito baralho de folhas secas sendo amassadas fez Ranma virar a cabeça, alertando-o. Imediatamente, assumiu uma pose de luta levantando sua guarda. Seus olhos se estreitaram enquanto sua tensão subia a medida que os sons ficavam mais altos. O coração já batia em ritmo acelerado. Não era qualquer um que caminhava sozinho à noite pelo meio da floresta, ainda mais em tempos de guerra.

Parecia que alguém se aproxima cada vez mais do lugar de se encontrava. Ele não sabia quem poderia ser, mas com certeza era alguém confiante o suficiente para não fazer questão de esconder sua presença.

Um arbusto se mexeu a sua frente e ele ajeitou o corpo para saltar em ataque com o objetivo de imobilizar quem quer que estivesse se esgueirando aquela hora da noite.

No último segundo parou, reconhecendo imediatamente a pessoa a sua frente.

— Boa noite, genro. - Cologne cumprimentou. — Está com problemas para pega no sono?

Por alguma razão, Ranma sentiu um arrepio passando pela espinha ao ouvir o tom de voz da anciã.


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Notas finais do capítulo

Críticas construtivas serão sempre bem-vindas.
Percebeu algum erro de português, concordância, formatação ou qualquer outro tipo? me avise para corrigi-lo.