Eu estou me sentindo humilhada.

—Annie? Annie, fala comigo! - Thalia está tentando me convencer de deixá-la entrar no meu quarto de qualquer jeito.

—Annabeth não está! Aqui não tem mais nada dela! Nem sequer dignidade! - Gritei para ela, graças a todos os deuses a vadia da namorada do meu pai não está em casa, ela deve estar torrando a grana dele em roupas com pouco pano.

—Quem está falando comigo então?

—A secretária eletrônica. Deixe seu recado após o sinal, piiiiiiiii!– Disse com uma voz falsamente robótica.

—AHAM! To ligada! Diz que eu vou ficar aqui na porta e quando ela resolver criar vergonha na cara e aceitar minha ajuda é só falar! - Thalia bateu na porta.

—Eu vou abrir... - Me levantei e destranquei a porta.

—ME CONTA O QUE AQUELE FUTRICADO FEZ! - Ela me envolveu em um abraço.

Encostei minha cabeça em seu ombro e comecei a chorar feito uma criancinha de 3 anos. Ela poderia ter feito um interrogatório e me forçado a falar, mas ela era minha melhor amiga e sabia do que eu precisava. Então só me abraçou forte.

Devemos ter ficado alguns muitos minutos desse jeito, mas quando eu finalmente consegui parar de chorar nós nos soltamos.

—Você quer falar?

—Sim... - Enxuguei o rosto na manga da minha blusa.

—Então desabafa.

—Aquele filho de uma mãe me beijou no meio do pátio, e em seguida os outros acéfalos do time de futebol americano apareceram batendo palmas e parabenizando o Jackson por ter conseguido pegar mais uma menina de uma lista idiota para uma aposta idiota! Ele me humilhou no meio de toda a escola! - Colocando isso para fora a tristeza começou a virar raiva.

—Retardado! O que você quer fazer?

—Como assim?

—Ué! Não adianta ficar ai chorando e deixar ele fazer mais idiotices dessas com outras meninas! - Thalia fez uma pausa para que eu pudesse pensar. — Ele fez por merecer.

Eu ainda não havia pensado no que eu faria a respeito disso, eu quero o troco. Isso é fato! Mas eu ainda não havia tido tempo para pensar nisso.

—Eu quero me vingar. Quero que ele prove do próprio veneno! Quero fazê-lo chorar tudo que eu chorei! - E a raiva virou desejo de vingança.

—Então é isso! Vamos partir o coração dele como ele fez com você! Chumbo trocado não dói.

—Eu quero que doa! Prefiro "Quem com ferro fere, com ferro será ferido.".

—Olha só isso! Nunca vi a nerd certinha tão decidida! Estou com medo de você!

—Eu ainda nem comecei! - Agora eu que fiquei com medo de mim.

—É assim que eu quero ver! - O rosto de Thalia se iluminou. - Então vamos dar início na sua vingança! - Thalia pegou seu celular.

—Como assim?

—Verá! - Thalia se levantou e foi até o corredor para falar com quem quer que seja que está no telefone com ela.

Me levantei e me olhei no espelho, eu estava horrível, meus olhos estavam inchados e vermelhos de tanto chorar, meu cabelo estava um ninho de rato, se eu quero mesmo conquistar esse cafajeste eu preciso me arrumar!

—Voltei! - Thalia entrou sorrindo.

—O que você foi fazer?

—Nada! Joga suas roupas em cima da cama, rápido!

—Pra que?

—Só faz o que eu estou mandando!

Eu que não sou louca de desobedecer Thalia Grace!

Abri meu guarda roupa e comecei a colocar todas as minhas roupas em cima da cama. O que não demorou muito, eu não tenho muitas roupas. Sempre preferi gastar dinheiro em livros!

—Isso! Agora os sapatos!

Sapatos eu tenho menos ainda! Coloquei os poucos pares no chão.

—Agora espero que você me explique o que isso vai ajudar! E é você que vai arrumar essa bagunça!

—Fica tranquila que assim que nossa ajuda chegar você não vai precisar mais disso aqui...

—HÃ? E eu vou me vestir com o que?

—Só espera! Vai escovar esse cabelo e jogar uma água no rosto enquanto isso!

Thalia me empurrou até o banheiro e fechou a porta atrás de mim, deixando claro que esse assunto não era discutível.

Peguei uma escova em uma gaveta e comecei a pentear meu longo cabelo loiro, que eu admito que fiquei surpresa com o comprimento, ele batia um pouco abaixo da cintura. Já que passava tanto tempo preso em coques e rabos de cavalo eu nunca reparei muito nisso.

Joguei uma água no rosto para diminuir a minha cara de choro!

A campainha da minha casa tocou. Ou a sem cérebro da namorada do meu pai perdeu as chaves de casa outra vez, (da última vez eu a deixei trancada do lado de fora da casa, eu me dei mal no final, até hoje não sei o motivo! Só por quê estava chovendo?), ou a pessoa que Thalia chamou já chegou. Espero sinceramente que seja a segunda opção, a última coisa que eu preciso hoje é de uma piriguete com unhas postiças pegando no meu pé!

—ANNIE, DESCE AQUI! - Thalia berrou do andar de baixo, se as crias da namorada do meu pai resolverem sair do quarto e atrapalhar a culpa não é minha!

—Grita mais alto! Acho que lá na Finlândia não te escutaram!

—PODE DEIXAR... ANNIE! DESCE AQUI! - Se antes estava muito alto, agora eu estou surda.

—Credo, nesse volume não tem tímpano que resista! - Resolvi descer antes que ela grite um pouco mais alto!

—Não desceu antes porquê não quis! - Thalia estava parada ao lado da porta.

—Onde essa pessoa tão misteriosa está? - Eu estou até com medo!

—Espera! E não é essa pessoa, são essas pessoas! Elas estão esperando lá fora! Eu disse que era uma surpresa!

—Então abre logo, caramba!

—Peça por favor!

—POR FAVOR!

—Agora sim! - Thalia abriu a porta devagar para fazer ainda mais suspense!

Ali estavam as visitas misteriosas paradas na porta inteiras de rosa, ambas com um sorriso de orelha a orelha como se tivessem ganhado na loteria por me ajudar. Eu até entendo, não sei quem da escola entende mais de moda que essas duas! Piper e Silena eram meia-irmãs, por parte da mãe, Afrodite. Uma grande modelo.

—Ois! - Silena acenou.

—Oii! - Piper repetiu o mesmo gesto da irmã.

—As duas já estão sabendo de tudo, e concordaram em te ajudar a mudar esse visual!

—Mudar meu visual por quê exatamente?

—Você não pretende conquistar o coração do garoto mais popular e cobiçado da escola com essa aparência, né? - Thalia me perguntou, enquanto as duas apenas fizeram que sim com a cabeça.

—O que tem de errado comigo?!

—Essas blusas de frios que mais parecem armaduras, esses óculos gigantes que você usa, e que eu sei muito bem que você não precisa, já que eles não são de grau! Enfim, esse visual "Eu sou uma nerd sem graça que não ligo para aparência".

—Mas você também não se veste como uma patricinha! Você usa essas roupas de punk revoltada!

—Mas eu não quero conquistar um popular gato que só sente atração por modelos de biquíni!

—Nisso você tem razão...

—Ela está certa, Annie! Para conquistar o Perseu você vai precisar se vestir e se arrumar como as garotas do tipo dele!

—Quer dizer o tipo piriguete que sonha em ser a capa da Playboy?

—É bem por ai...

—Eu não sei se quero me passar por alguém que eu não sou!

—Você quer dar o troco nele?

—Demais.

—Então você vai ter que querer se passar por alguém que você não é... Ele é o tipo de garoto superficial que só se liga em garotas assim!

—É necessário mesmo?

—Sim! - As três concordaram com a cabeça.

—Então eu topo. Mas que fique claro que é só para dar o troco nele!

—Até porquê não queremos que você deixe de ser nerd! Mas você não pode deixar ele perceber isso!

—Que eu sou uma nerd?

—Isso, aos olhos dele você tem que parecer o tipo de garota popular que ele curte.

—Como interpretar uma personagem. - Piper facilitou as coisas.

—Eu não sou atriz, mas por essa causa vou tentar!

—Então vamos começar a repaginar seu visual! - Silena bateu palmas e deu um pulinho, que era muito a cara dela mesmo.

Eu as encarei com um pouco de medo, eu nunca fui o tipo de garota que se preocupa com aparência. Mudar meu visual e fingir ser alguém que eu não sou me assusta. Mas eu estou decidida, eu vou me vingar desse cafajeste! E se para isso eu vou precisar mudar meu visual, então eu vou mudar meu visual!

As três me encaravam muito ansiosas para minha resposta.

—Que os jogos comecem!