Púrpura escrita por Sah


Capítulo 5
Capitulo 5- Hope




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Ignoro meus instintos e saio da sala. Snow sai correndo e a perco de vista. Olho através das grandes janelas e não vejo nada de anormal. Apesar disso ainda percebo a vibração do ar e um cheiro que eu nunca senti. Talvez alguma coisa queimada. Será que vem da usina? Saio da biblioteca desconfiada.

Ao andar pela avenida principal noto um som ficando cada vez mais alto, algo semelhante aos ronrons dos gatos. Ando apressada, quando percebo que o som vem da entrada da cidade.

Uma rajada de vento movimenta as folhas secas do chão, e faz o cheiro desconhecido ficar mais aparente. Me escondo quando eu vejo um forma branca perto do grande arco de entrada. Olho para a coisa mais uma vez. Percebo que uma fumaça escura está saindo de um dos lados. Começo a retirar meus sapatos. Quero ficar mais silenciosa e chegar mais perto da coisa. Ando nas pontas dos pés passando por dentro das casas.

Vejo que a coisa tem rodas. Parece um carro, mas é bem maior. Saio na surdina e tomo um pouco de coragem. Fico visível e ando com passos firmes em direção á coisa. Seja o que for isso, eu não vou ficar em paz até descobrir.

— Quem está ai? – Ouço uma voz grave saindo da coisa.

De repente uma forma quase humana sai de dentro do que aparentemente é um carro.

Essa forma me lembra aos astronautas que eu vi em vários livros. Uma cúpula de vidro na parte superior e uma espécie de macacão branco envolve todo o resto.

— Amelie? Elliot? – Grita o astronauta.

Nomes, ele está gritando nomes! Deve haver mais astronautas aqui. Fico feliz por um momento. O velho me disse que chegaria um dia em que as pessoas lá de fora iriam voltar. Acho que esse dia chegou.

Sinto a necessidade de encarar o astronauta. Perguntar tudo o que eu sempre quis. Aproximo-me dele até ficar de frente do que eu imagino ser seu campo de visão.

— Quem é você? Por que você está aqui sem o equipamento de proteção? – Percebo uma inquietação na sua voz.

Tento falar da forma mais cordial possível.

— Me desculpe. Mas você veio lá de fora?

— Lá de fo-ra-ra? O que você está dizen-do-do? – Ele fala gaguejando.

— Sim. Além dos limites. Sei que por causa da atmosfera radioativa dessa cidade, ninguém deveria ser capaz de entrar. Então como eu nunca te vi antes a única conclusão em que eu cheguei é que você veio de fora da cidade. – Acho que me fiz ser clara o bastante.

— Espera só um minuto. Quer dizer que você pode se mover livremente sem equipamento de segurança? -- Ele dá um leve passo para trás.

Acho que ele não percebeu minha pergunta. Será que as pessoas de fora são tão distraídas assim?

— Posso supor que você veio lá fora então! Respondendo a sua pergunta eu não entendo por que eu precisaria de roupa de proteção, senhor astronauta.

Me aproximo mais e vejo o rosto que a cúpula esconde. Um rosto oval com o cabelo curto e castanho, uma penugem rala cobre parte de seu rosto. Queixo protuberante e olhos da cor do céu.

— Fique longe – Ele fala com certa hostilidade.

Apesar da situação eu me sinto bem em falar com alguém que me entende. Me sinto bem em saber que não estou sozinha no mundo.

Percebo a confusão em seu rosto.

— Não se mova — Ele fala por fim.

Vejo que ele vai em direção ao veiculo e pega alguma coisa. Essa coisa parece com um telefone. Telefones não funcionam aqui, nem rádios ou qualquer objeto que faz o uso de ondas eletromagnéticas ou sinais elétricos. Mas por algum motivo o dele funciona.

— Ruffalo, para base. Câmbio.

Uma voz distorcida responde.

— Base na escuta. Câmbio.

— Têm uma pessoa sem roupa de proteção. Câmbio.

— Quem dos idiotas tirou a roupa? Câmbio.

— Ninguém. Tem uma pessoa que não faz parte da missão. Câmbio.

— Um espião? Câmbio

— Aparentemente não. Apenas uma garota com roupas ultrapassadas. Câmbio.

Essa conversa dele com a voz distorcida esta me irritando. O que significa Câmbio?

— Isso não está no relatório. Se isso o que você está dizendo é verdade. Verifique os níveis de radiação. Câmbio.

— Isso é verdade. Amelie e Elliot ainda estão recolhendo amostras, eles levaram os equipamentos de medição. Já são quase 16h00. Câmbio.

— Certo faça um relatório disso. E se isso for verdade, traga a garota. Câmbio.

—Certo. Câmbio. Desligo.

Em seguida o astronauta se virou para mim, com uma expressão receptiva.

— Meu nome é George Ruffalo, sou Primeiro-Tenente de base do setor Arizona, especializado em situações nucleares. A senhorita será escoltada até a nossa base, onde será interrogada.

Que apresentação, apesar de não ter certeza do significado de tudo o que ele disse.

—E meu nome é Hope. – Falei imitando sua postura.

O astronauta que se denomina George Ruffalo vem em minha direção. Percebo sua hesitação em se aproximar de mim.

— Existe mais alguém aqui?

— Eu sou o único ser humano daqui, pelo menos que eu saiba.

— Você sabe que está em uma área de acesso proibido? E que a penalidade por invasão de propriedade governamental sem permissão pode chegar a pena de morte?

Ele passa por trás de mim e imobiliza meus braços. Sinto que consigo me desvincular dele. Mas não faço. Tenho a sensação de que essa pessoa possa me dar à liberdade que eu anseio secretamente.

— Se seguíssemos o protocolo eu teria que dar um jeito de te isolar. Mas não trouxemos nada grande o bastante para isso. Então eu terei que te colocar nos fundos do furgão e torcer para que você não esteja tão contaminada. Já são 15h55. Em 10min estaremos partindo


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