Púrpura escrita por Sah


Capítulo 6
Capitulo 6 - Bastardo sem sentimentos.


Notas iniciais do capítulo

Demorei, mas está ai um novo capitulo.
Sobre os títulos do capitulo, em vez de nomear o POV pelos nomes, vou começar a colocar também características ou definições sobre os personagens centrais.



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Ao examiná-la notei sangramento nas duas narinas, e manchas em todo o corpo, aparentes sinais de Síndrome Aguda de Radiação. Não sei o que deu na cabeça dela para tirar a roupa protetora.

— Amelie? – Falo sacudindo seu braço.

Só ouço um grunido, isso é um sinal de que ela está viva. Olho ao redor e vejo em um canto seu equipamento, e o traje. Por que diabos ela iria se arriscar assim? Não é por causa do ouro, seria possível carregar o ouro mesmo com o traje. Vasculho cuidadosamente o local. Todas as gavetas do cofre estão jogadas e reviradas, apenas uma ainda se mantém no lugar. Imagino que Amelie estava atrás do seu conteúdo. Tento forçar sua abertura, mas com essa roupa é impossível. Mas o que seria tão importante assim, a ponto dela arriscar a própria vida. Creio que o conteúdo dessa gaveta é importante o bastante para estar aqui. Mas como o ouro, seria perigoso o seu transporte. Pego uma das câmeras para documentação, e tiro fotos de todo o local. Inclusive de Amelie.

Deixou meu equipamento no chão e tento de alguma forma carregar Amelie. Ela é pesada. Consigo coloca-la nas costas. Seu rosto bate na cúpula do traje. E noto o suor do seu rosto.

Com dificuldade consigo subir três degraus. O rangido fica mais aparente e noto a deterioração da madeira. Meu pé afunda na madeira apodrecida no passo seguinte, e me desequilibro. Amelie fala alguma coisa que não consigo entender. Tento retomar o ritmo e com extrema dificuldade conseguimos sair do alçapão. A deito em um amontoado de almofadas, que pelo cheiro está aqui há muito tempo. Desço novamente, tomando cuidado com o buraco na madeira, e consigo pegar o restante do equipamento. Subo com a mesma rapidez e vejo Amelie tendo o que aparentemente é uma convulsão.

Na faculdade eu fiz um curso de extensão, focado nos efeitos da radiação nos seres vivos. Era um curso muito superficial, quando eu quis aprofundar mais, eles disseram que eu teria que me formar em medicina. Mas eu não me dei por vencido e consegui, com a ajuda de um professor, aprofundar no tema o suficiente para saber identificar e saber o que fazer nesses casos.

Como eu não tinha muitos materiais á disposição, peguei um dos sacos de coleta e coloquei na boca dela com cuidado. Eu não queria que ela mordesse a língua. Esperei o tempo hábil, cerca de 1min30seg ela já havia parado de se contorcer. Assim fui verificar os sinais vitais.

Com o traje não era possível verificar seus pulsos ou o batimento cardíaco. Assim a única coisa possível foi ver sua respiração, que estava alternada.

— O documento-to-to.

Assustei-me quando vi que era ela que estava falando.

— Amelie? O que você estava pensando quando tirou o traje? – Falei impaciente

Ela apontava para o alçapão. Sua mão tremia.

— Lá de-de-dentro.

Ela estava com a orbita dos olhos saltada. Creio que a sua pressão craniana estava no limite.

— Não adianta mais Amelie, nós fomos treinados para isso. E você quebrou a maior regra de todas.

Ela parou de tremer e me encarou. Senti um calafrio. Mas tinha que me manter impassível. Era culpa dela o que estava acontecendo.

— Não deveríamos pegar nada desnecessário. Agora nem o seu corpo poderá sair daqui sem permissão.

Pode ser frieza da minha parte, mas temos regulamentos a seguir. Essa missão depende da integridade e lealdade dos exploradores. A única coisa que Amelie ganharia saindo daqui seria uma morte rápida por traição, ainda se conseguirmos permissão, apesar disso não ter mais importância agora. Não há como fazer os primeiros socorros que assegurariam sua vida por mais algumas horas. Ela é literalmente um peso morto.

Olho para o relógio, só faltam 10 min para o tempo regulamentado. Preciso me apressar. Tiro mais algumas fotos de Amelie.

— Sinto muito. – É só o que eu consigo dizer por fim.

Pego o meu equipamento e o dela, pelo menos o trabalho dela não será perdido. Por alguma razão resolvo levar o traje dela também.

Saio da casa com a consciência limpa. Sei que isso que aconteceu com ela não foi minha culpa. Se eu a ajudasse provavelmente acabaria como ela.

Lembro-me do gato que eu vi, sei que não da mais tempo para capturá-lo. Mas vou fazer um requerimento para uma segunda exploração. Talvez assim eu também possa dar um enterro digno a Amelie.

Levo mais tempo do que o esperado. Vejo o Furgão dando ré. Largo tudo no chão e corro em direção a ele.

— Ruffalo! – Grito até ele parar.

Ele sai do veículo um pouco pálido. O branco do traje o faz ficar com cara de doente.

— Onde está Amelie?

Sabia que essa seria sua primeira pergunta. Sinalizo negativamente.

— Eu sabia! Ela tirou o traje não foi?

— Sim, eu a encontrei caída no porão de uma casa a 3km daqui.

Ruffalo soca a lateral do furgão.

— Eu disse para ela que não era uma boa ideia. Aliás, eu disse que era uma péssima ideia.

— Você sabia de alguma coisa? – O indaguei sem paciência.

— Ela tinha comentado que precisava pegar algumas coisas da tia. Coisas importantes. – Ele fala contendo um choro.

— Mas o que é mais importante que a integridade da missão? Eu sabia que você dois eram um desperdício de recursos. – Falei expressando toda a minha raiva.

Ouço um barulho vindo do furgão.

— Rufallo, tem mais alguma coisa que você devia me contar?

— Você é um bastardo sem sentimentos não é?

Ignoro suas acusações. E ouço mais um barulho.

— Ruffallo, você não entende o significado dessa missão? Amelie descumpriu a principal regra, se ela saísse daqui, seria tratada como traidora. E você também será, caso seja provado sua omissão ou cumplicidade.

— Não precisa me ameaçar, eles nunca farão nada com a pessoa que fez a maior descoberta dessa missão.

Mas do que ele está falando? Ele só ficou aqui sentado. Foi um mero motorista.

De repente a porta traseira do furgão se abre e uma coisa que eu não esperava sai de lá. Toda a minha concepção sobre a missão se esvai, meu coração se acelera e para abruptamente. Minhas teorias foram extirpadas e pisadas.

Uma garota, com o cabelo mais negro que eu já vi, a pele branca e corada com olhos violeta. Não usando qualquer tipo de proteção, e aparentemente mais saudável que eu. Ela anda na direção de Ruffalo e se esconde atrás dele quando percebe meus olhares.


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