Meu nome não é Kyle escrita por Garoto de All Star


Capítulo 12
Capítulo 11: Every picture tells big tales


Notas iniciais do capítulo

Vem mistério se formando aí galera, e romance também, Por que aqui também é romance.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/527373/chapter/12

– Filho, filho... - Acordo com Nicole me chamando, ela está abaixada ao lado da minha cama, passando a mão nos meus cabelos do modo que minha mãe fazia. Por um momento achei que tinha acordado de um sonho, e eu estava em casa, com ela.

– Oi... - Me ajeito na cama e me sento, esfregando os olhos - eu acho que dormi demais.

– Não tem problema, é meio dia, só queria saber se estava com fome - Disse ela, se sentando perto aos meus pés.

– Eu sempre estou com fome... - Falo isso rindo, quero quebrar um pouco da tensão de ontem.

– Tem uma pessoa quer ver você, alguém que sentiu muito a sua falta - Diz ela, apontando pra mulher latina que esta em frente a porta do quarto.

– E ela é?

– Inesita, ela trabalha nessa casa desde antes de você nascer, mas eu prefiro dizer que ela é da família - A mulher entra no quarto pondo as duas mãos sobre o peito, ela tem lágrimas nos olhos, e me olha fixamente, visivelmente emocionada.

Mi hijo, como estas precioso, muy rico, muy hermoso - Diz a mulher em espanhol, ela parece em choque, sinto uma simpatia imediata por ela, ela me lembra da avó de Joan, Mercedes, que foi minha babá, às vezes ela xingava a neta em espanhol e eu achava aquilo um máximo.

Gracias, por supuesto que sí - Digo, arranhando meu péssimo espanhol.

Usted hablas español?

Un poquito– Disse eu, fazendo o sinal de menor com os dedos - A avó da minha melhor amiga é mexicana, eu aprendi um pouco com ela.

Me levanto, Inesita me abraça e chora muito, mas é um choro completamente diferente do choro que os meus pais choraram, é um choro de felicidade. Eu desço as escadas com Nicole, Inesita fica lá em cima trocando os lençóis. Pelo horário imagino que Charlotte esteja na aula, me sinto melhor só de pensar nisso. Definitivamente, depois de ontem, ela não foi com a minha cara.

Vou até a cozinha e me sento-me à mesa, tem café, geleia, pão, tudo separado em potinhos de louça, como naqueles programas de culinária. Enquanto eu como, Nicole vai até a sala. Me sinto estranho por ter acordado nessa casa, não sei se algum dia irei me adaptar da maneira que gostaria. Nicole volta pra cozinha, ela está com duas bolsas.

– Eu trouxe alguns presentes pra você - Diz ela, pondo as bolsas em cima da mesa.

– Nicole, você não precisa me dar presentes - Digo, olhando as sacolas e depois a olhando. Vejo um brilho em seus olhos se apagar e a culpa se apossa de mim mais uma vez. Levanto-me e olho as sacolas.

– A calça eu não tenho certeza se serve, mas eu olhei a numeração da sua camiseta e tênis, acho que não precisará de ajustes - Ela solta uma risada amarela e eu sorrio em silêncio.

Na primeira sacola há uma calça Jeans de lavagem escura, é muito bonita e diferente das que eu uso, olho a numeração e já sei que vai servir. O sapato social escuro também me serve, eu não gosto de usar sapatos sociais, sempre me fazem calos nos calcanhares. Na segunda sacola há uma camisa social branca, e um blazer preto. É uma roupa social, as peças são muito bonitas, mas não fazem o meu estilo.

– Essas roupas são muito bonitas Nicole, são lindas mesmo. Não se ofenda, mas você não precisava ter comprado.

– Na verdade isso não é exatamente um mimo, nós temos uma reunião amanhã aqui em casa, é um evento formal, nós estaremos oferecendo um jantar pros amigos mais próximos, pra apresentar você, eles acompanharam a nossa trajetória e querem te conhecer - Ela vai ao armário e pega uma caixinha com um lacinho na tampa - Seu presente na verdade é esse aqui.

Na mesma hora eu sabia o que era apenas pelo formato da caixa. Eu desato o nó do lacinho devagar, quando eu era pequeno e ganhava um presente embalado assim, eu costumava imaginar que tinha uma bomba lá dentro e eu deveria ter cuidado pra não morrer ao abrir, claro que não tem uma bomba nessa caixinha, mas é difícil perder nossas manias mais antigas. Eu estava certo quanto ao que era, é um Iphone 5s, na cor preta em uma case verde.

– Caramba é um Iphone! - Digo num impulso, quem liga se ela quer me dar presentes? Quem se importa? É um Iphone, algo que eu nunca poderia comprar.

– Que bom que você gostou, reparei que seu telefone é antigo, Charlotte tem um celular atual, porque você não poderia ter um?

Vejo seus olhos se acenderem. Vou aceitar o presente: 1- por motivos de ela ter ficado feliz, e 2- por motivos de "Cara! É um Iphone".

– Vou fazer sua matrícula na escola hoje, quer ir junto?

– Seria bom eu ir pra conhecer, só preciso calçar o meu tênis.

– Tudo bem - Nicole sorri, ainda não a tinha visto sorrir daquela forma, acho que gosto de vê-la sorrir.

Nós voltamos da escola quase no fim da tarde, foi uma burocracia danada pra fazer a minha matrícula, porque eu não tinha carteira de vacinação atual, nem nenhum outro documento atual, e isso era obrigatório. Nicole ficou um pouco indignada com isso, ela não queria que eu perdesse as aulas. Na mesma hora ela ligou pra um amigo dela chamado Stephen, que era advogado e quase duas horas depois ele apareceu com uma liminar que me permitia ser matriculado na escola em caráter de urgência. A escola de Columbus era muito diferente da West Side, era uma escola cheia de riquinhos, em Nova Iorque ninguém parecia ter tanto dinheiro. Mesmo sendo a cidade que não para.

Desci do carro para Nicole por o automóvel na garagem, percebi que ela não é muito boa motorista, acho que ela só dirige quando Daniel não está. Ouço um barulho de lata cair no chão, e quando olho pro lado, eu vejo que um cachorro enorme, igualzinho a um lobo acaba de derrubar as latas de lixo ao meu lado, ele avança em direção a mim. Eu penso em correr, mas ele é muito mais rápido que eu. Antes que eu me mova ele já está em cima de mim, entro em pânico por meio segundo, mas isso logo desaparece quando percebo que ele não quer me machucar, só quer brincar. Ele tem o pelo meio avermelhado e um tufo de pelos amarelos na testa, como se fosse um moicano. Ele é lindo, muito fofo e quer brincar comigo. Tem uma coleira presa em seu pescoço.

– Como você é lindo. - Falo com o cachorro - Qual seu nome?

– Arcanine!!! Seu cachorro encrenqueiro - Grita uma mulher, ela vem correndo nervosa em minha direção, vindo de onde o cachorro veio, ela tem os cabelos pretos amarrados pra trás, uma faixa branca na cabeça, veste um uniforme de tênis e óculos escuros estilo aviador - Me desculpe, ele escapou quando eu abri o portão.

– Não tem problema, nós ficamos amigos, adorei o nome dele.

– Foi meu filho quem deu, ele tem muita criatividade - Diz ela, mas eu discordo, Arcanine é o nome de um pokémon. Mas olhando bem, até que ele parece.

– Boa tarde Cleare - Diz Nicole, vindo ao nosso encontro, a garagem parece intacta. Ela deve ter posto o carro sem maiores problemas.

– Boa tarde Nicole, como tem passado?

– Muito bem, vejo que já conheceu o Kyle, porém o nome dele agora é Jude - Disse Nicole, se corrigindo imediatamente.

– Muito prazer! Jude - Estendo a minha mão para cumprimentá-la.

– Oh meu Deus olha só pra você - Ela me abraça ao invés de apertar minha mão, os seios dela são duros como pedra e esmagam minha caixa torácica - Eu já o conheço, como você está grande, e bonito, você vivia em minha casa, brincando com meu filho.

– Por falar nisso como está o Adam? - Pergunta Nicole, ela põe o braço ao redor do meu pescoço.

– Está bem, como você já deve saber ele largou a escola de artes em Nova Iorque e voltou, mas já está trabalhando, parece estar gostando, vamos ver se ele muda de ideia quando ver que não é mais uma criança - Diz Cleare, percebo que o assunto a incomoda.

– Stephen nos contou a respeito disso, mas fique tranquila, ele é um bom garoto, com a pressão certa ele volta aos trilhos - Disse Nicole em um tom condescendente - Precisamos entrar, agradeça novamente ao Stephen pelo que ele fez hoje por nós, ele foi de grande ajuda, e não esqueça o jantar de amanhã.

– Como eu poderia perder um Jantar de Nicole Marshall? Serei presença garantida - Ela pega Arcanine pela coleira - Até mais, foi bom vê-lo Kyle, você se tornou um rapaz muito bonito.

– Obrigado - Digo sorrindo, pelo visto vou ter que me acostumar com todo mundo me chamando de Kyle.

Nós caminhamos pela calçada de tijolos até a porta de casa. Quando entramos, vejo que Charlotte esta deitada no sofá ouvindo música, com uma cara de quem está em outra frequência. Daniel também já está em casa. Ele e Inesita estão vendo algo na televisão.

– Que bom que vocês chegaram - Diz Daniel, ele parece preocupado.

– O que aconteceu? - Pergunto, mas obtenho a resposta ao ver minha foto do perfil no facebook ao lado da mesma foto que eu vi na delegacia de quando eu era pequeno. As duas estão bem grandes na tela da TV, ao lado da notícia: Garoto desaparecido há quatorze anos é encontrado em Nova Iorque.

– Como eles descobriram? - Pergunta Nicole, largando as chaves em cima da mesa de centro.

– Só pode ter vazado de alguém na delegacia, agora é questão de tempo pra esses abutres aparecerem aqui na frente - Disse Daniel, ele parece bem irritado.

– Isso vai atrapalhar o jantar de amanhã, como eu vou oferecer um jantar formal, com a imprensa fazendo alarde na frente da minha casa.

– ...O garoto desapareceu em um parque de diversões aos três anos de idade, ele foi encontrado em Nova Iorque a cerca de um dia - Disse o apresentador grisalho na Televisão - O desaparecimento comoveu todo o estado de Ohio, na época foi divulgado um retrato falado de um possível suspeito, feito a partir de testemunhas...

A imagem da televisão muda, enquanto o jornalista fala, agora aparece um desenho de um homem que era suspeito. Na mesma hora eu paraliso, pois eu conheço aquele rosto. É o rosto do sonho que eu tive na delegacia, o mesmo rosto conhecido que eu não conseguia me lembrar.

– Eu... volto em um instante - Digo a todos, correndo escada a cima logo em seguida.

Entro no meu quarto e corro em direção a minha mochila. Pego meu notebook e conecto a internet wifi da casa. Pesquiso a notícia de quatorze anos atrás, o retrato falado é a primeira imagem a aparecer. Eu abro a imagem em tela cheia, em seguida volto à mochila, e pego a foto surrada e amassada que eu sempre carrego comigo. Coloco as imagens lado a lado, do mesmo modo que eu vi minhas fotos no noticiário. Eu percorro cada detalhe de cada foto, até não restar nenhuma dúvida. Foi o meu pai. Ele foi reconhecido como suspeito pelas testemunhas. É dele o retrato falado. Foi ele o meu sequestrador. As pessoas tem toda a razão quando falam que nada é tão ruim que não possa piorar. As coisas acabam de ficar piores, e sempre podem piorar mais.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!