A Volta dos Primordiais escrita por Qualquer Coisa


Capítulo 3
Segundo Capítulo - Notícia Promissora


Notas iniciais do capítulo

- Se houver erros, desculpem-me. u_u

— Espero que agradem seus olhos :v



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– 20:14h PM -

Quando enfim chegamos à Casa Grande, pude sentir o clima de tensão dominar meu interior. As paredes de madeira pareciam se fechar no momento em que encarei Dionísio. O olhar animador que Clarisse tinha estampado em face, tornou-se altamente hostil. De repente, ela se levantou e gritou.

– O que ele está fazendo aqui?!

– Sente-se, Senhorita La Rue. Zac veio nos dar sorte, apenas isso. - Dionísio retirou-se de seu canto, estava sério e bem arrumado, o que não era de seu feitio. Trajava um terno roxo em um tom bem escuro, os sapatos de couro mal tocavam o chão e parecia dois centímetros mais alto. - Pode dar seus votos, Senhor Miller?

Permaneci quieto. Ele, de longe, parecia o nosso diretor do Acampamento. Bem arrumado, um tom formal e mais sério na voz. O que Sr. D tinha em mente? Ou o quê estava armando? Seja lá o que era, eu tinha de seguir a dança sem levantar suspeitas.

– Sim, claro. - Disse, por fim pondo as mãos nos bolsos.

– Ótimo, vamos continuar com o nosso assunto. - Sr. D recuou, qual sentou-se em sua poltrona à beira da lareira. - Como sabem, cinco semideuses irão ao Tártaro comigo, um deus, então não quero ter de salvar ninguém.

– É por isso que está indo, não é? - Disse Hector, agora se pondo ao meu lado. - Sua função é nos proteger.

– Não, Senhor Cooper. Minha função é guia-los. - Sr. D. encarou-me em com um olhar sério, algo como "Prestou bem atenção, semideus?"– Por isso, quero que o Senhor Miller nos dê seus votos de sorte.

Não, ele não queria meus votos. Ele queria me ameaçar, fazer-me sentir relutante e, então, me obrigar a ficar calado. É fácil deduzir as coisas quando se está a ponto de realmente cair na armadilha de alguém. Obviamente, eu estava inseguro sobre contar o que eu vi à alguém, mas minha vida corria um risco e isso é algo inquestionável.

– Qual é o plano, gente? Precisamos de um já que vamos ao Tártaro. - Collin retirou-se do seu canto da parede, eu mal tinha lhe percebido. Um filho de Ares esbelto e bem arrumado, contrário de muitos que já conheci. Heitor, apesar de ser filho de Ares e amigável, fica no chinelo em quesito de aparência e formalidade à Collin. Sem dúvidas, foi bem educado ou só quer parecer maduro.

– Não precisamos de plano. A gente chega, mata alguns monstros, fugimos de almas, alcançamos nosso objetivo e voltamos antes do meio-dia. Eu tenho um encontro com a Melissa do chalé seis. - Disse Aaron, parecendo confiante. Contrário de Heitor e Collin, ele, de fato, era um filho de Ares legítimo. Rude, forte e burro. - Somos invencíveis. Três filhos da guerra, um deus poderoso e um merdinha.

– Espero que o merdinha seja ele... - Hector murmurou, frustrado.

– Iremos amanhã de manhã, espero que estejam prontos e bem equipados. - Disse Dionísio, por fim se levantando da poltrona. - Todos podem ir, menos você, Zac.

E todos se retiraram indiferentes. Clarisse me encarou com um olhar sínico, já Hector tocou meu ombro e disse: "Cautela". Quando ouvi o bater da porta em minhas costas, Dionísio virou-se para a fogueira. No meu ângulo, apenas vi a silhueta de sua sombra tremeluzir sobre os móveis e o tapete persa no chão. Claramente, consegui enxergar a coloração fantasmagórica de suas íris roxas que a luz do fogo realçava. Ele se virou para mim, agora risonho e com as mãos nas costas.

– Bem, Senhor Miller. Eu poderia penaliza-lo por espionagem.

– Espionagem? Afinal, o que eu bisbilhotei?

– O que você não deveria ter ouvido, filho de Tique. - Ele me encarou, agora mais sério. Senti um arrepio percorrer minha coluna à nuca enquanto minha barriga foi domada por um frio incomum. - Eu tenho muitos planos, planos que podem até lhe envolver, mas não pretendo demonstra-los tão brevemente. Você, prole de Tique, não lembrará dessa nossa conversa, mas terá medo em dizer meu nome.

Uma ordem? Pode até ser. Votos amaldiçoados de um deus furioso? No ponto certo, meu caro. Meus joelhos se flexionaram contra a minha vontade quando Dionísio terminou sua frase. Eu, agora, estava de joelhos perante um deus.

– Eu não posso machucar semideuses, mas posso deixa-los bem loucos. Aliás, eu sou o deus dos bêbados e há alguma coisa mais louca que um mortal eternamente embriagado? - Ele tocou minha testa com aquele indicador inescrupuloso e gordo. - Durma bem, filho de Tique.

Brevemente senti meus olhos pesados e acabei por fecha-los. Tudo o que eu pude ver, e de relance, foi Dionísio recuar e se virar novamente para a lareira.

– 08:45h AM -

Acordei aos sustos quando senti algo tocar minha testa. Obviamente eu reagi, sem motivos aparente, de forma brusca. Diana franziu o cenho ao me ver cair para o lado contrário da cama.

– Você teve algum pesado, certo? Não acorda assim faz muito tempo.

– O que você esta fazendo no meu chalé? - Disse me ajeitando e permaneci sentado no chão, distante dela. - Aproposito, que horas são?

Ela balançou a cabeça de forma negativa e ainda inexpressiva. Eu permaneci calado por alguns segundos, levemente afetado.

– Hector já se foi e me mandou deixar isso com você. - Ela depositou uma mochila de couro sobre minha cama. O colchão chegou a balançar para cima e para baixo com o peso que aquela coisa possuía. - É importante, ele disse.

– Ele pediu? O que é isso?

– Abre, não sou uma bruxa para saber.

– Mas é filha de uma. - Me levantei e sorri para ela. Diana somente me encarou em um tom sério, como se não tivesse gostado da brincadeira. Sem dizer mais nada, ela se retirou do meu chalé. - Desculpa!

Com a saída dela - depois que ela me mostrou o dedo do meio inúmeras vezes - me sentei na cama e enfim abri a mochila. Dentro, encontrei alguns livros em conjunto inútil de utensílios de Hector. Para mim, os mais importantes viriam a ser: seu colar de contas, uma espécie de anel dourado (o seu suposto presente de aniversário de Apolo) e uma sacola cheia de dracmas de ouro. Aonde ele arrumou aquilo, eu não sei, mas estava superfeliz e grato pelos presentes. Aquele imbecil. Não me contive em sorrir, mas um sentimento de preocupação surgiu. Será que ele me deu isso, achando que não voltará? Eu queria ele voltasse, ele é meu melhor amigo, mas tínhamos que aceitar isso: Hector pode, como também não pode, retornar do Tártaro com ou sem vida. Depois de alguns minutos calculando minhas ideias, fechei a mochila após por o anel em meu dedo e guardar os presentes, acabai por deixei-la debaixo da minha cama. Meu chalé, como sempre, estava silencioso naquela manhã de quarta-feira. Um desconforto desanimador estava afetando minha cabeça, o que poderia me fazer ficar dentro do chalé por horas, mas não fiquei. Me retirei dele assim que me arrumei e procurei o que fazer.

– Sai da frente! - Sem pensar duas vezes, recuei para a direita e vi dois filhos de Hermes serem perseguidos por um bando de caçadoras furiosas. - A gente não viu nada, juramos!

– Peguem-nos! - Brandiu uma garota às caçadoras, supostamente todas armadas.

Sorri ao ver aquela situação, apesar que os dois filhos de Hermes estavam prestes à perder suas vidas e seus possíveis órgãos reprodutores, eu consegui sorrir. O grupo de perseguição dobrou à esquerda da Trilha dos Chalés e eu segui em reta. Senti um desânimo quando encarei a Casa Grande; Quíron estava sentado em sua cadeira de rodas na varanda da frente da residência. O que deu nele? Sabe, é desconfortante quando um guerreiro de mil anos está cabisbaixo, mesmo que ele seja um ser meio-homem e meio-cavalo, é estranho. Quíron sempre teve tanta empolgação e energia. Hoje em dia, ele nunca participa ou busca fazer eventos com os semideuses. Exceto a caça-a-bandeira, pois é tradição aqui no Acampamento. Perdido em meus pensamentos, fui surpreendido quando Heitor tocou meu ombro e um arrepio percorreu meu corpo.

– E aí? Está tudo bem? - Ele me encarou e parecia preocupado.

– É, estou.. - Sorri, mas acho que não fui tão convincente. - O que está fazendo?

– Ah, eu e meus meio-irmãos estamos indo à praia dos fogos treinar na água. Quer vir?

– Perderei um membro?

– Vai depender de como vai lutar.

Encarei ele de forma desconfortante, mas ele sorriu e reparei que estava brincando. Assenti com a cabeça.

– Certo, vamos então. Estou atrasado. - Nisso, ele correu em direção a praia. Em últimos segundos, eu encarei a varanda da Casa Grande e Quíron estava retornando para o seu interior.

18:50h PM -

Depois que voltamos ao Acampamento, eu, acompanhado por um certo número de meio-sangues, avistamos uma concentração incomum de campistas na frente da Casa Grande. Ao nos aproximar da confusão, quase vomitei; O corpo de um semideus, aparentemente desconhecido, estava sem pernas e com os braços soltos sobre o corpo; A cabeça virada para as costas portava uma mensagem escrita em uma espécie de placa presa na nuca. "Meu presente aos deuses". Seja lá quem tenha feito isso, era cruel e se tinha prioridade em causar desespero, agiu muito bem. Algum dos campistas mais velhos estavam dispersados e encaravam o corpo com certo receio, outros estavam em choque. Crianças, que em sua idade não deveriam ver aquilo, estavam horrorizadas. Quíron surgiu ao longe e trotou para perto de nos com certa pressa. Estava com o arco em torno do tronco, o corpo metade animal estava à amostra. Seus olhos estreitaram-se pelo corpo do morto, agora pensativo.

– Quem fez isso? - Ele gritou ao se voltar para nos. - Quem fez isso?!

Muitos semideuses ficaram encarando-o, sem respostas para dar.

– Quem viu isto? - Com o término de sua frase, vi alguém avançar do meio daquele grupo de semideuses e resolvi avançar.

Vi as feições familiares que aquela garota me trazia. Diana, a filha de Hécate. Seus olhos estavam vazios, o rosto não esboçava emoção alguma. Ela apenas avançou contra Quíron, agora sacando uma lâmina dourada da bainha em sua cintura. Os conselheiros do chalé oito e treze foram mais rápidos ao segura-la pelos braços e tronco, o que lhe obrigou à largar a arma. Quíron recuou alguns trotes pesados para atrás, surpreso com a ação dela, e ele não era o único assustado com isso tudo.

– O que significa isso, Senhorita Williams?

Diana permaneceu parada e encarando-o, não emitiu som algum. Quando resolvi agir, observei seus lábios serem domados por um sorriso largo e acabei por me arrepiar.

– O que pensa que é, homem-cavalo? - Sua voz soou duas vezes mais forte que da ultima vez àquela hora de nosso juramento. - Essa jovem possui tantas mágoas, tanta raiva e tanto arrependimento, estou aqui só para ajuda-la.

Todos, assim como eu, permanecemos calados. Quíron preparou-se para agir, mas a garota continuou.

– Seus semideuses estão todos mortos à esta hora, mas não se preocupem. Minha senhora é tão bondosa que lhes dará um final rápido. Aaron, será o primeiro; Collin, o segundo; Hector, o quarto e, finalmente, Clarisse La Rue. - Aquelas palavras foram pesadas o suficiente para me fazer recuar. - Como acha, Quíron, que nos estamos depois de tanto tempo vagando pela escuridão? Nos fomos início e agora seremos o fim. O marco final na história dos deuses e o marco inicial para a Era dos Primordiais.

Diana abriu os braços e acabou por rir. O chão tremeu em ritmo de sua abafada e estérica risada. Foi o suficiente para que todos, inclusive Quíron, sentissem receio. Diana emanava uma energia imensurável e eu já podia senti-la naquela distância. Quando achamos que o pior viria, a garota caiu de joelhos no chão e seus olhos fecharam. Aquela sensação de insegurança foi livrada de mim e dos demais, mas todos sabiam que nada estava bem. No fim das contas, apenas Diana estava desnorteada. Assim que um os primeiros segundos de surpresa se foram, uma garota gritou e foi o estopim da confusão. Os campistas começaram a empurrar uns aos outros, mas Quíron gritou e impôs a ordem.

– Fiquem todos calmos, por favor. - Ele retirou Diana do chão e a colocou em suas costas. Sua expressão dizia que ele estava calmo, mas seus olhos entregavam sua preocupação. - Irei contatar o Oráculo, até lá, fiquem em seus chalés e não saiam até minha ordem. Dispensados.


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Notas finais do capítulo

- Longo, eu sei, eu sei.. Ninguém gosta de ler tanta coisa de uma só vez, mas paciência é uma virtude u.u (que nem eu tenho)

— Lembrando que quem tem um(a) personagem e quer ele aqui, seja ele(a) deus ou deusa ou um personagem criado, só manda mensagem :v



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