Caminhos Traçados escrita por RQLMS


Capítulo 5
Confusão


Notas iniciais do capítulo

Oiii, gente! Muito obrigada pelos comentários do capítulo passado :D
Eu realmente fiquei muito feliz. Boa leitura!



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Puxei o ar para dentro dos pulmões na frente da sala de aula. Era só fingir que ele não estava me olhando, era só fingir, só fingir...

Soltei o ar e abri a porta, adentrando. Automaticamente encontrei o par de olhos azuis no fundo da sala. Praguejei. Que inferno, porque eu nunca conseguia entrar sem acabar cruzando o olhar com o dele?

Já haviam se passado duas semanas de aula. Eu evitava Harry a qualquer custo, sempre seguia os caminhos opostos e não andava sozinha para não acabar sendo abordada por ele. Mas eu não podia controlar o olhar dele queimando sobre mim todo dia.

Sentei do lado de Sofia porém ela estava ocupada demais mexendo no celular para notar a situação constrangedora que foi essa troca de olhares.

— Bom dia, Fê - Jason saudou sentando-se na minha frente e Sofia quase derrubou o celular assustada com a presença do garoto. Sorri.

— Bom dia, Jase - falei trocando um olhar cúmplice com ele após a reação da morena.

Era inegável a química que os dois tinham.

A professora de álgebra adentrou e começou a aula. Eu tentava me manter concentrada ao máximo pois sentia que um piscar de olhos me faria perder toda a compreensão, no entanto meu pescoço começou a pesar e quando movimentei-o para relaxar, cruzei meu olhar com o de Geovanna no meio da sala. A loira me fuzilava. 

Arqueei uma sobrancelha e a olhei de cima a baixo, debochando. 

Bruno, sentado na fileira ao lado da minha, notou o olhar e sorriu de canto. Acabei sorrindo para ele também. É cada uma dessa doida... Olhando pra mim do nada? Deus me livre, vou é tomar um banho de sal grosso.

Voltei minha atenção para a aula e assim se foram mais 4 horas de aulas.

Quando o sinal do almoço tocou, saí da sala com uma pilha de livros na mão, refletindo sobre o clima pesado que ficava quando eu e Harry trocávamos olhares. Será que ficaríamos assim até o final do ano? Bem que ele podia simplesmente parar de fazer aquela cara de vítima, como se eu estivesse sendo dura demais com ele. Eu não estava. Mas por que então ele conseguia mexer tão bem com meus sentimentos?

Sem que eu ao menos pudesse raciocinar, alguém esbarrou no meu ombro com tamanha brutalidade que desequilibrou meus livros, fazendo com que eu fosse direto ao chão. Só não bati meu rosto porque apoiei minhas mãos com reflexo. O primeiro olhar que encontrei foi o de Geovanna Rittsen.

— Isso é para você parar de secar o Harry durante a aula, entendeu, novata?

— Eu tenho nome - cuspi as palavras, me levantando - Será que você lembra?

— Eu não guardo informação desnecessária.

— Claro... Esqueci que você tem absolutamente nada na cabeça.

— Olha aqui, garota, quem você pensa que é?

Coloquei a mão no peito, fingindo pesar.

— Como deve ser difícil a vida de quem tem um papaizinho para pagar a conta da faculdade... Nem deve se preocupar em aprender algo no colégio, né? - a encarei - Isso não te entristece? Saber que tudo em você se resume ao corpo?

— Vagabunda! - ela rosnou e rapidamente acertou sua mão em minha bochecha.

Os segundos após isso me deixaram desorientada. Meu rosto ardia como se pegasse fogo, só não sabia se era de dor ou de raiva. Eu parecia estar em combustão, como se a qualquer segundo eu pudesse explodir.

— O que foi, durona? - ela começou a rir - Já acabou a sua marra? Só um tapinha e você se desmonta? 

A fuzilei com o olhar. Se encostasse nessa garota, eu só sairia de cima quando fosse expulsa da escola.

Pisquei voltando a realidade.

Expulsa...? Não! Isso não valia a pena. Bater nela não valia a pena.

— Foi o que eu pensei - ela sussurrou - Uma pena, novata, que seu melhor argumento seja a condição financeira do meu pai - falou deslizando para trás de mim - Porque isso te incomoda tanto? Por eu ter um pai ou por ele ter dinheiro?

Senti meu coração palpitar mais forte e ela sorriu contra minhas costas.

— Então a inveja é por ter um papai? O que foi, novata, o seu te deixou? - ela disse pegando uma madeixa do meu cabelo e alisando - Imagino o quão difícil é conviver com alguém que tem uma família rica, uma vaga garantida na faculdade, um corpinho gostoso e... o cara que você quer.

Meus olhos arderam e logo senti as lágrimas escorrendo.

— Uhh, não me diga que você achava mesmo que o Harry iria gostar de uma idiota como você? - ela falou voltando para minha frente - Você não deve servir nem para pagar um bo... 

— Acho engraçado como você precisa disso - falou uma voz por trás de mim -  Precisa humilhar os outros para se sentir feliz.

Olhei para trás e me deparei com Bruno caminhando preguiçosamente em nossa direção.

— Olha quem veio salvar a mocinha, já são amiguinhos? - ela sorriu cínica.

— Você é desprezível - ele disse revirando os olhos - E eu pensava que não pudesse ir mais baixo do que já foi...

A loira o fuzilou com o olhar.

— Até quando vai sustentar esse discurso? Não sei se já percebeu mas estamos no último ano de colégio, depois daqui vem a vida real e esse seu conto de fadas de abelha rainha vai acabar - Bruno disse calmamente e baixou-se ajuntando meus livros do chão — Vai correr para os braços do Lancaster mimado e sai da nossa frente antes que eu te denuncie na diretoria por agressão - terminou com firmeza na voz.

— As coisas não vão ficar assim! - ela disse e bufou, andando para fora do corredor.

— Obrigada - sussurrei para ele quando perdi a garota de vista.

— De nada, Fernanda. - ele falou gerando um arrepio na minha nuca - Não perca seu tempo absorvendo qualquer palavra do que ela falou - ele disse e eu assenti e limpei com a costa da mão as lágrimas que desciam do meu rosto - Não se iguale ao nível dela.

Ele me encarou por alguns instantes e sorriu.

— Posso te ajudar a levar esses livros? 

Suspirei com as palavras de Geovanna ainda ricocheteando em minha mente. Ela havia tocado na ferida que mais doía, meu pai. Eu havia aprendido a ignorar a ausência dele com os anos, mas era como um gatilho lembrar disso. Talvez ela tivesse razão. 

Por deuses, o que eu estou fazendo nessa escola? Eu claramente não me encaixo aqui, se não fosse pela bolsa de estudos eu não poderia nem mesmo sonhar em estar nesse corredor. E mesmo que um dia tivesse uma conta bancária melhor, ainda não teria a figura paterna. 

Memórias da minha mãe sentada na cama dela me invadiram e logo sentia os olhos cheios de lágrima novamente. Toda noite era assim... Ela deslizava a mão pelo lençol da cama e sabia que dormiria só. Nós sabíamos que dormiríamos sós. Toda noite... estamos sós. 

Senti minhas pernas fraquejarem. Eu não conseguiria  conter as lágrimas.

— Fernanda?! - Bruno deixou os livros caírem e rapidamente segurou-me da queda. 

Eu praguejava mas não conseguia parar de chorar.

— Tudo bem - ele disse envolvendo meu corpo em um abraço. Deitei minha cabeça em seu ombro e desatei a chorar - Tudo bem... - sussurrou passando a mão em meu cabelo.

Não sei ao certo quanto tempo levei até me sentir calma novamente, porém quando aconteceu eu mal conseguia olhar nos olhos do rapaz. 

— Não precisamos falar disso se você não quiser - ele falou calmamente quando nos afastamos. 

Sorri o encarando. 

— Desculpe... 

— Não tem o que desculpar - ele sorriu sem graça e coçou sua nuca, desviando o olhar ao notar que os livros ainda estavam no chão. - Bom, ainda posso te ajudar com esse livros se quiser, pelo visto são muitos pra carregar sozinha.

Sorri novamente.

— Seria muito legal.

Caminhamos em um silêncio confortável pelo campo do colégio em direção ao dormitório feminino. O vento frio e o cheirinho de grama molhada me ajudavam a respirar de forma regular novamente e eu torcia para que não estivesse com o rosto tão avermelhado. Quando chegamos no quarto, o permiti passar na minha frente e ele deixou os livros na mesa e pegou o restante que eu segurava para depositar lá também.

Eu queria agradecê-lo por tudo que havia feito mas assim que ele voltou o olhar para mim, eu senti o ar fugir dos pulmões. Pela primeira vez fitei diretamente os olhos do rapaz. Negros como a escuridão, o par de ônix parecia indecifrável naquele momento. Abri a boca mas não consegui formular nada. Nem se quer me importei em como eu poderia estar parecendo naquele momento, eu só conseguia me concentrar nele. Eu sentia que conhecia aquele olhar...

— Fernanda, tu nem sabe amiga! Eu simples... - Sofia parou e olhou a cena - Ah... Desculpe... Eu não sabia que estavam ocupados - ela falou sem graça, com o rosto tomando uma coloração avermelhada.

— Tudo bem - Bruno disse e minha nuca arrepiou. Mas que droga! - Eu já estava de saída - caminhou até a porta do quarto.

Os cabelos amarronzados faziam contraste com a pele branca e o peitoral definido se enquadrava perfeitamente na camisa mangas longas.

— Bruno! - gritei como se houvesse levado um choque.

— Oi? - falou virando-se para mim.

— Obrigada - sorri.

Ele assentiu com a cabeça e saiu do quarto.

— Até amanhã, Bru! - falou Sofia, me lançando um sorriso bobo quando ouviu os passos se afastarem pelo corredor.

— Você conhece ele?

— Estudo com ele há três anos - ela disse se jogando na cama - Ele é legal, mas não somos muito próximos, é só que ele não se mistura com os panacas populares então a gente se entende - ela disse - Mas o que ele estava fazendo aqui? 

Expliquei a confusão para ela.

— Fê, se eu estivesse lá na hora eu tinha descido a minha mão naquela cara cheia de reboco de maquiagem que ela só acordava amanhã - Sofia disse e soltei uma risada - Quem sabe se assim não dava jeito naquele nariz empinado.

— Bater nela só iria provocar mais briga.

— Não, Fê. Você não está entendendo, se Geovanna Rittsen começa uma briga, quem termina ou é você ou é ela - disse me olhando séria - E se você não quiser ser eternamente atormentada por essa vaca, tem que ser você a terminar.

— Tsc. Eu só quero esquecer, tá bem? 

— Tudo bem, vamos mudar de assunto - Sofia disse suspirando pesadamente. - E então, como vai a missão esquecendo Harry? - ela perguntou.

Revirei os olhos e a morena sorriu.

— Podemos não falar disso também?

— Se Bruno estava nesse quarto, então progredimos.

Revirei os olhos novamente mas logo me lembrei da estranha sensação ao olhar para ele. Tinha algo naquele garoto que eu não sabia distinguir o que era ainda.

— Ah! - sentei na cama quando lembrei - Porque tu chegou quase pulando aqui no quarto? 

Ela corou levemente e sorriu para mim.

— Bom... Eu beijei o Jase - ela falou e eu quase surtei.

— Obrigada, senhor! Pelo menos alguém nesse quarto beija a boca certa. Não aguentava mais essa tensão sexual todo almoço, tava quase pra trancar vocês nesse dormitório. - falei sacudindo ela.

— Foi só um beijinho... - ela disse fitando o chão e depois riu. - Falando em dormitório...

— Meu deus, sua safada! - arregalei os olhos e morena gargalhou.

— Não é isso!

— É o que então?

— O Jase divide dormitório com o Bruno - ela disse e eu quase engasguei— É o destino - falou cantarolando. 

Sofia continuou falando sobre Jason mas logo me chamou para almoçar pois faltavam apenas 30 minutos para as aulas da tarde. Almocei mentalizando que eu precisava entrar na sala de aula concentrada e que daquela porta pra dentro só importava eu e o docente. 

Estava concentrada nos meu pensamentos quando meu celular vibrou com minha mãe no visor. Levantei-me avisando Sofia que iria atender e fui caminhando até o primeiro pátio, onde sentei em um banco. Conversei com ela durante bons minutos e logo senti minhas forças renovadas. Eu estar ali tinha um propósito, minha mãe. Respirei pesadamente e olhei para o céu após desligar.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? :D



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