Acordei com um raio de sol iluminando meus olhos e fazendo-me piscar e virar para o outro lado. O despertador que se encontrava na banqueta do abajur, entre a minha cama e a de Sofia, começou a tocar, o que me fez tatear a banqueta e acidentalmente derrubá-lo.

— Não mandei cair, agora vai ficar aí mesmo - praguejei.

— Fê?

Abri os olhos lentamente e os flashes da noite passada vieram como um raio. Droga, como isso foi me acontecer logo no primeiro dia na escola? De agora em diante eu posso ficar com QUALQUER menino dessa escola mas eu não vou suportar ouvir o nome do Harry de novo.

— Fê, acorda! Vamos sair e fazer algo que ocupe as nossas mentes. 

— Fernanda está fora da área de cobertura. Tente novamente mais tarde. - falei com a voz enrolada e recebi silêncio em retorno.

Arqueei as sobrancelhas estranhando o silêncio repentino e ao abrir os olhos fui acertada em cheio por uma almofada. 

— Desgraçada.

Sofia começou a rir.

— Tá dentro da área de cobertura sim.

Revirei os olhos e peguei a almofada, atirando-a com força contra Sofia.

— Lindo, Fernanda! Parabéns, a almofada varou pela janela.

Tapei a boca, segurando a risada e fitei a morena. 

— Desculpa, é que boa mira não é uma qualidade minha, quem dirá de manhã cedo.

— Manhã cedo? Já são 10:30 de um domingão, amiga.

Arregalei os olhos já me levantando da cama. Puta merda! Já era muito tarde e eu tinha que aparecer na sala da diretora para pegar meus horários e livros.

— Minha cabeça dói - choraminguei massageando minhas têmporas.

— Vai doer mais ainda se você se atrasar com a peituda.

— Vou tomar um banho,

— A propósito Fê, você está me devendo uma almofada - falou ela fechando a janela e eu soltei uma risada. Pela primeira vez no dia eu agradeci. Era bom ter a Sofia ali comigo. Era bom rir. Era bom não me sentir sozinha.

Tomei meu banho, vesti-me rapidamente e avisei Sofia que já estava indo para a sala da diretora. Porém, ao abrir a porta dei de cara com um menino.

Ele me olhou confuso logo de início e arqueou uma sobrancelha. Usava uma calça jeans preta, camisa polo de igual cor e possuía olhos negros e cabelos castanhos. Emo! Foi a primeira coisa que surgiu em minha cabeça ao avaliar as vestimentas pretas contrastando com a pele alva do rapaz.

— Pois não? - perguntei tirando o rapaz do transe. Ele parecia estar congelado, a feição era de plena confusão.

Ele piscou os olhos rapidamente e retirou de trás de si a almofada de Sofia.

— Ãn... Desculpa incomodar, isso é de vocês? 

Prendi o riso e encarei ele.

— Ah! Você achou nossa almofada, obrigado.

— Na verdade eu estava tomando café quando isso acertou minha nuca - ele falou passando a mão por de trás do pescoço - Achei que fosse morrer sufocado de café.

Arregalei os olhos e não consegui conter a gargalhada. Tapei a boca rapidamente soltando vários "desculpa" desconexos e pude notar um pequeno sorriso se formar no canto de sua boca.

— Não precisa se desculpar - ele disse - Só fechem a janela de vocês.

— Claro, claro! Vai ficar bem fechada - falei pegando a almofada que ele oferecia e sorrindo sem graça.

O Emo se virou e quando deu dois passos para longe eu o chamei: - Ei! Como é o seu nome? 

— Bruno - ele respondeu e hesitou por um segundo - E... o seu? 

— Fernanda.

O rapaz parecia congelado novamente. Arqueei minhas sobrancelhas confusa com a reação e logo ele desfez a feição. 

— Bom te conhecer - falou se virando e voltando a caminhar em passos preguiçosos.

Fechei a porta do quarto ainda confusa.

— Então tá, né... 

— Eu vi, hein - Sofia caçoou, tomando minha atenção  — Já começou bem esquecendo o Lancaster, temos que começar a jogar mais almofadas pela janela. - disse e eu apenas sorri amarelo.

Não podia negar que o rapaz era realmente lindo, mas minha cabeça já estava cheia demais e as aulas prestes a começar. Eu queria aproveitar meu último ano de colégio sim, queria beijar alguns garotos, ir em festas e me divertir com amigas, mas acima de tudo eu queria entrar em uma faculdade. E nada que estivesse no meu caminho iria atrapalhar. Nem mesmo qualquer possível sentimento por Harry.

Suspirei incomodada. Como Harry conseguiu balançar meus sentimentos assim? Isso nunca tinha acontecido antes. A minha última recordação de paixão foi quando eu era moleca, nem deveria entender o que estava sentindo. Sorri com a lembrança.

— Sofia para Fernanda, alô Fernanda - a morena estalou os dedos na minha frente - Tá no mundo da lua? 

— Meu deus! A peituda. 

— Corre, garota.

Sai do quarto apresada e fui até a diretoria. Esperava encontrar uma mulher autoritária surtando pelo meu atraso mas ao chegar lá me deparei com diretora-decote ressaqueada. Repeti três vezes meu nome para a mulher recordar e ainda ouvi resmungos como: "não tem nenhuma pedagoga  aí pra dar o material que essa menina quer não, gente?". Alguns goles de água depois ela me deu uns horários de aula e livros bem conservados do último ano.

— Vai, minha filha, vai estudar - ela resmungou se enrolando em uma jaqueta e apontando para a saída da sala. - E não se embebede. 

 A olhei confusa.

— Mas se for se embebedar me chame.

— Senhora?

— Não se embebede! É estritamente proibido o porte de bebidas no alcoólicas no interior do colégio. Artigo sétimo do regimento interno - ela massageou as têmporas e olhou pra mim. 

— Anda, fofa, preciso dormir - apontou novamente para a saída da sala. 

Sorri com o estado cômico da mulher e deslizei pra fora da sala. Seria uma longa semana...