Caminhos Traçados escrita por RQLMS


Capítulo 6
Beijo


Notas iniciais do capítulo

Oiii, gente linda! Tá aqui mais um capítulo, espero que gostem.



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Duas semana haviam se passado na velocidade da luz, contabilizando um mês que eu já estava no colégio e um a menos para o vestibular. Isso me trazia calafrios.

Desde o ocorrido com Geovanna, eu evitava até mesmo fazer contato visual com Harry, o que havia acirrado a tensão quando estávamos na mesma sala de aula. No entanto, Sofia e Jason se mantinham constantemente ao meu lado e isso garantia risadas e um clima mais leve, além de que desde aquela confusão, Bruno se aproximou sutilmente de nós. 

Jason estranhou a presença dele no início, pois dizia que Bruno não era do tipo que fazia questão socializar com algum grupo, mas logo tornou-se comum tê-lo entre nós durante a semana. Até mesmo o convidamos para almoçar conosco e a risada foi generalizada na mesa quando comentei que a primeira impressão que tive dele foi a de um emo.

Bruno era tímido, muito observador e quase sempre sorria de forma contida. Após aquela discussão com Geovanna, o mais perto que chegamos um do outro outro foi ficar lado a lado na mesa do refeitório, o que havia se tornado tradição pois todos os almoços sentávamos juntos e de frente para Jason e Sofia. 

— Amanhã dedicarei o primeiro tempo de aula apenas para resolução e comentário das questões de eletrólise do vestibular passado - falou a professora guardando o pincel do quadro - Até amanhã, turma. Estamos despedidos. 

Os alunos começaram a sair da sala e eu me levantei da mesa, fechando meus livros.

— Fê, eu preciso de um favor - Sofia falou baixinho.

— Rasga.

— Rasga? - ela perguntou me olhando confusa e eu sorri.

— Fala, mulher.

— É que eu queria ficar sozinha com o Jase no dormitório dele.

Arqueei uma sobrancelha a olhando com cara de risada.

— É sério, Fê, o vestibular tá acabando comigo, preciso tirar um pouquinho do estresse. 

Sorri colocando os livros na bolsa.

— Por mim tudo bem, desde que esse estresse não vá embora e traga um bebê no lugar.

— Ave Maria! Vira essa boca pra lá.

— Tô falando sério, se cuida.

— Tá, tá! Mas não é isso que eu vim pedir...

A olhei novamente, esperando que ela desembuchasse logo.

— É que... Você sabe, né? O Bruno dorme lá e tal, seria tão bom se ele ficasse ocupado por umas duas horinhas... 

Quase engasguei e a morena começou a rir. Cerrei meus olhos para ela.

— E porque vocês não usam o nosso dormitório então?

— Qual é, Fê? Chama logo o emo pra tomar um sorvete, todo mundo sai ganhando.

Suspirei me dando por vencida e a garota saiu comemorando.

Rumamos para o quarto e eu tomei um banho rápido, vestindo uma roupa confortável e seguindo para a janta no refeitório. Nos encontramos todos na mesa quando deveriam ser umas 19:30 da noite. Após a janta, Sofia e Jason trocavam olhares cúmplices enquanto Bruno comentava sobre a aula do dia.

— Érr - Sofia pigarreou - Tá quente, né? - se abanou.

— Sorvete é uma ótima opção pra afastar esse calor - Jason completou, olhando para cima.

Fulminei os dois com o olhar.

— Mas depende de qual tipo de calor estamos falando, né. Para algumas pessoas o sorvete não vai servir - provoquei.

Bruno arqueou uma sobrancelha nos encarando. 

—  Para o seu calor vai servir - Sofia falou cerrando os olhos para mim, mas sorriu ao desviar para Bruno - Né, Bru?

— É? - ele indagou confuso.

— Claro que sim - Jason tomou a frente - Por isso você deveria comprar um sorvete lá pátio no estacionamento.

— Ah... - o emo pareceu compreender o pedido - Tranquilo, compro sim, vocês querem de quê?

Sofia revirou os olhos e eu dei uma risada com a lentidão do rapaz. 

— Acho que eles não querem sorvete, Bru - comentei me levantando da mesa - Mas eu quero, quer ir comigo? 

Ele pareceu levemente surpreso com minha atitude, mas concordou levantando-se também. Olhei para trás quando saímos e Sofia piscou em gratidão porém fez uma careta ao me ver fazendo um gesto de bebê no colo.

Bruno e eu caminhamos em um silêncio confortável até o pátio de trás. A fila do estande de sorvete estava grande então o rapaz sugeriu que eu achasse um banco para sentarmos enquanto ele fazia a compra. 

E assim o fiz, me afastando. Sentei em um banco de praça bonito, quase no fim do pátio e respirei fundo, seria a primeira vez que ficaríamos realmente sozinhos. Meu estômago embrulhava ansioso por isso. Eu queria conhecer Bruno, mais do que olhares rápidos durante o dia e conversas soltas no almoço.

— O que a moça bonita faz sozinha aqui? - Um calafrio percorreu meu corpo e eu estremeci. Harry.

 — O que você quer? - perguntei ríspida. Eu realmente não queria falar com Harry, não depois de toda aquela confusão e da briga que eu tive com a namorada dele hoje.

— Você não acreditou no que a Geovanna disse, né? - perguntou me olhando sério - Você sabe... No carro.

— Você só pode estar de brincadeira - falei levantando do banco. Ele me olhou e sorriu como se eu fosse a criança mais ingênua do mundo - Vai dizer que ela não é sua namorada? Qual o seu problema?

— Então você está com ciúme? - ele perguntou dando um sorriso de canto.

Uma onda de raiva percorreu meu corpo. Como ele tinha culhões para perguntar isso? 

— Não Harry, isso não é ciúme, é raiva! - falei com um tom elevado.

— Eu já tinha dito que estava gostando de você, não é mesmo? Por que duvidar? - falou com tranquilidade, como se fosse a coisa mais normal do mundo.

— Deixa eu ver se entendi, no mundinho da sua cabeça você pode namorar uma meninas e gostar de outra? - perguntei irônica.

— Nanda, eu posso te provar o quanto gosto de você - falou se aproximando de mim.

— Jura? De mim e de mais quantas?

— Não seja difícil - ele falou segurando meu braço, não me permitindo afastar mais - Eu não consigo mais aguentar esse seu joguinho de me evitar.

— Me solta, Harry! 

— Por favor, Nanda! Não faz as coisas assim, me desculpa! - falou me puxando para perto dele e me envolvendo em um abraço - Eu achei que conseguiria ignorar isso, mas não consigo! Eu passei semanas inteiras só pensando em você, eu tô ficando louco, não sei o que tá acontecendo comigo.

Prendi a respiração olhando o rapaz tão perto de mim.

— Me diz que você não sente o mesmo e eu paro - ele sussurrou deslizando o polegar sobre meu rosto - Me diz que o seu coração não acelera, que você não fica sem ar, que a sua boca não seca...

Praguejei.

Por um instante eu podia sentir tudo o que ele falou acontecendo simultaneamente dentro de mim. Uma ponta de fé em tudo que ele falou se fez presente no meu coração enquanto a respiração dele se misturava com a minha.  Mas aí eu voltei para realidade... para a verdadeira realidade, aquela na qual ele tem uma namorada e na qual ele me enganou.

— Me solta! - falei o empurrando sem sucesso pois ele não me soltava. A todo instante me lembrava das palavras de Geovanna: "Você achou mesmo que o Harry iria se interessar por alguém como você?".

— Me diz que você não quer isso, Nanda, diz que não quer me beijar e eu paro.

— Harry, me solta, por favor, eu... Só não quero ser mais uma na sua lista - falei baixinho, próximo ao ouvido dele e ele afrouxou o abraço mas não me soltou - Não quero acabar sem roupa e sem dignidade na sua cama - falei e ele se afastou rapidamente, me soltando.

— Nanda! Eu nunca faria isso... Jamais faria isso com você... Eu...

— Você tá louco? - Bruno apareceu alterado derrubando os sorvetes e empurrando Harry - Você por acaso viu como estava segurando o braço dela? Perdeu a noção?

— O que você quer? - perguntou Harry empurrando Bruno de volta.

— Quero que você deixe ela em paz, seu bastardo.

Harry sorriu irônico. 

— Eu sou o bastardo?! Você jura? 

Bruno pareceu vacilar por um instante e meu coração acelerou.

— Mas o que... - nem tive tempo de completar a frase quando Harry acertou o primeiro soco no rosto de Bruno, me fazendo gritar. 

Eu estava atônita. O que estava acontecendo ali?

Em segundos os dois estavam no chão e Bruno golpeava Harry no rosto.

— PAREM! - gritei desesperada me abaixando e tentando inutilmente puxar o emo pela camisa, o que deu vantagem para Harry sair de baixo dele e se levantar novamente, golpeando-o - HARRY PARA! PELO AMOR DE DEUS, PARA! 

— Seu desgraçado - Bruno cuspiu as palavras avançando nele novamente.

— BRUNO! - gritei e antes que eles pudessem se mexer me meti no meio dos dois — PAREM! PAREM AGORA!

Os dois me olharam e começaram a discutir. Eu os afastava inutilmente até que a "namorada" de Harry chegou. Geovanna olhou a cena confusa e por um momento eu achei que ela não fosse fazer nada para separará-los mas ela se manifestou.

— O que está acontecendo aqui?! - perguntou puxando Harry para trás.

— Esse covarde acha que pode bancar de super herói aí! - Harry falou.

— Seu imbecil - Bruno avançou em Harry mas eu o segurei - Você é sempre vítima, né?

— Você é a última pessoa que pode bancar o super herói - Harry rosnou e eu senti Bruno avançando porém empurrei seu peito para trás.

— Bruno, olha pra mim! Vamos! - falei puxando Bruno comigo enquanto Geovanna segurava Harry.

— Nanda... - Harry me chamou mas aos poucos eu já estava longe dele e não pude escutar o resto.

— Por que fez isso? - perguntei para Bruno quando adentramos o dormitório dele, o lugar estava vazio, Jason e Sofia não estavam lá.

Ele chutou a perna da cama, frustado e depois sentou-se nela. Eu rumei para o banheiro e peguei um pequeno quite de primeiros socorros que cada quarto possuía. Ainda com o coração acelerado após a confusão, me coloquei entrei as pernas dele e passei a limpar seu rosto. Meu estômago embrulhava ao vê-lo daquele jeito e eu tentava identificar onde estava o corte de onde provinha aquele sangue.

— Por que eu quebrei a cara dele? A resposta é meio óbvia, não? Ele estava quase beijando você a força.

Senti meu rosto esquentar e desviei o olhar, passando o algodão delicadamente no canto da boca dele. Ele se contorceu levemente e vincou a testa. 

Sorri sem pensar.

— Desculpe, acho que achei o corte...

Ele assentiu, mas não parecia confortável, e eu não sabia dizer se era pela dor do corte na boca ou se era por eu estar ali. 

Limpei o último resquício de sangue da boca dele e fiquei o observando. Ele tinha o olhar voltado para a parede desde que me aproximei e parecia estar mais perdido do que eu. 

— Obrigada - sussurrei - Já é a segunda vez que você me tira de uma furada.

Ele olhou pra mim rapidamente, mas logo desviou os olhos de novo. Realmente parecia incomodado. Meu estômago embrulhou. Era estranho pensar em como meus sentimentos pareciam pareciam uma montanha russa quando estava com qualquer um dos dois.

Mas Bruno era diferente. Eu sentia meu coração apertar só de pensar que ele poderia estar incomodado com minha presença. E isso acontecia porque eu queria estar perto dele, então teríamos um problema se isso o incomodasse. 

Puxei delicadamente o queixo dele na minha direção e deslizei o polegar acariciando. Ele me olhou profundamente, os olhos dele pareciam ter a mesma essência dos de Harry, um par era azul como o céu da manhã e outro era negro como o céu da noite. Mas tinha algo na escuridão confusa e incomodada de Bruno que eu não conseguia decifrar... 

A sorte é que nunca tive medo de escuro.

Coloquei as duas mãos na lateral do rosto dele e acariciei. Ele fechou os olhos sentindo o toque e eu prontamente fechei os meus, aproximando-me. As respirações mesclavam e eu encostei nossos lábios. Meu coração batia descompassado e a sensação daquele contato me invadiu por completo.

O moreno envolveu minha cintura com as duas mãos e me puxou para ele, fazendo com que ficasse colada ao seu peito. Arfei quando ele aprofundou o beijo e dei espaço para sua língua. O beijo foi sereno, transmitia carinho, ternura e... urgência. 

Quando nos afastamos para puxar ar eu descansei meu queixo no topo de sua cabeça e ele manteve o rosto encaixado no meu pescoço. Cada vez que ele puxava ar eu sentia meu corpo arrepiar. Subi minhas mãos para seu cabelo e mergulhei meus dedos, fazendo um leve cafuné.

— Isso é muto bom - ele falou baixinho.

— O cafuné?

— Tudo... - disse retirando o rosto do meu pescoço e fitando meus olhos - Você.

Senti meu rosto esquentar e logo meu celular vibrou. Puxei-o do bolso da calça e mostrei para Bruno após olhar. Era Sofia me ligando.

— Acho que preciso ir.

Ele sorriu mas logo fez uma careta, colocando a mão sobre o corte no canto da boca.

— Quase esqueci disso - falou e eu sorri.

— Então somos dois.

— Boa noite - ele sussurrou. 

— Boa noite, emo.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?? Desenrolamos Bruno e Fernanda, hein??



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