Caminhos Traçados escrita por RQLMS


Capítulo 3
Sensações


Notas iniciais do capítulo

Gente, me desculpaaa! Não postei ontem pois não estava me sentindo bem, mas o capítulo está aqui hoje! ✌ Vou dividir em duas partes, Ok? Ok!



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 — Oi, Nanda.

Mais um arrepio. Que diabos era isso que estava acontecendo com meu corpo? Porque eu reagia daquela forma?

— Harry! - exclamei enquanto fechava a mão que segurava o fone em um ato de nervosismo - Que coincidência.

— Achei que não acreditasse nelas - ele falou. A voz soava aveludada, doce e rouca. 

— Tem razão - sorri desconcertada.

— Tudo bem? 

— Tudo, e você? 

— Melhor agora - falou com um sorriso divertido e novamente meu corpo se arrepiou. Apenas sorri em resposta.

O moreno se na cadeira que estava em minha frente e apoiou os cotovelos na mesa.

— Está muito embolado?

O encarei confusa porém logo disfarcei.

— Um pouco - falei passando as mãos entre as madeixas do meu cabelo - Quatro horas de vôo, né, não tem shampoo caro que aguente.

O rapaz arqueou uma sobrancelha.

— O fone 

— Ah... - desviei o olhar, visivelmente vermelha - Bom, está. 

— Deixa eu ajudar.

Harry esticou um de seus braços e puxou a mão que eu mantinha fechada. Eu já podia sentir minha respiração falhando. Ele tocou meus dedos delicadamente e os puxou para cima, pegando o fone e passando a desembolar os fios. Em poucos minutos já tinha deixado ambos fios separados. 

— Você estuda aqui, né? - perguntei com o semblante sério.

— Sim - respondeu calmamente.

— Por que não disse antes? - perguntei com um pouco de raiva. Talvez se ele tivesse comentado isso antes as coisas tivessem sido bem mais fáceis. Eu teria feito muitas perguntas sobre a escola e isso diminuiria drasticamente minha ansiedade sobre tudo.

— Você não perguntou.

Revirei os olhos. Harry era tão óbvio.

— E você, moça bonita? Por que não disse que estudava aqui? 

— Porque você não perguntou - fiz uma careta e imitando a voz dele.

Ele sorriu. - Eu não falo assim.

— Na verdade, fala sim. - provoquei e ele sorriu novamente.

— Você tá sozinha?

Hesitei em falar que não, mas já fazia um bom tempo que Sofia não aparecia e eu admito que estou louca para saber porque ele está perguntando, então arrisquei.

— Estou.

— Então agora não está mais.

Sorri em resposta.

— Que tal darmos uma volta? - perguntou ele.

— Não. - respondi segura.

— Não? 

— Não mesmo.

— Eu fiz algo de errado? - perguntou enrugando a testa.

— Sabe como é, né, não saio com estranhos - respondi sorrindo de canto.

— E o que faria você parar de me achar um estranho? 

— Sorvete! 

— Então se esse for o caso, eu conheço uma sorveteira maravilhosa aqui perto - ele falou sorrindo

— Fora da escola? - indaguei arqueando uma sobrancelha.

— Relaxa Nanda, vou estar com você.

Esse era o problema. Eu estaria com ele.

Avaliei durante alguns segundos a possibilidade de aceitar o convite. Seria ir totalmente contra as advertências da minha mãe? Seria. Mas afinal, o que de pior poderia acontecer? Além da possibilidade de eu morrer, ser agarrada contra minha força ou acabar dopada...

— Não vou tentar nada, juro. - ele continuou como se estivesse lendo meus pensamentos. - E eu conheço o homem que fica de vigilância no portão, ele vai abrir para mim - Harry se levantou estendendo a mão. O encarei um pouco mas logo aceitei. O rapaz me transmitia confiança... E eu não confiava em quase ninguém. Tinha algo em Harry que me remetia há uma boa lembrança, daquelas que nos traziam paz.

Ficamos conversando sobre assuntos banais durante o percurso até o carro dele e então mandei uma mensagem para a Sofia.

"Onde você está?? Quando eu te achar pode se preparar para receber umas porradas, minha filha. Fiquei sozinha no refeitório, aff! Enfim, só para avisar que eu vou sair para tomar um sorvete fora do colégio, depois explico. Beijos, Fernanda."

Harry deu a partida no carro e eu me perguntava se tinha feito a escolha certa em sair de carro com ele sabendo que poderia ser levada para qualquer lugar desconhecido, já que eu não sabia nada da cidade mesmo. Eu nem mesmo sabia o sobrenome dele...

Avaliei se não deveria perguntar isso, mas acabei ficando quieta.

Logo meu celular vibrou e eu pude ver que era uma mensagem da Sofia.

"Como tu saiu do colégio?? Sabe que eles só deixam sair no domingo, né? Se for pega vai ficar de detenção, e vai por mim, a sala de detenção é assustadora. Mas aí, tá com quem? Algum gatinho? A senhora é rápida no gatilho."

Dei um sorriso de canto ao ler a mensagem e respondi:

"Tô com um amigo chamado Harry."

Em poucos segundos Sofia respondeu, velocidade que me assustou levemente.

"Harry?? Acho que não conheço. Como ele é?"

"Alto, cabelo preto, olhos azuis."

"Ah, meu Deus! Esse Harry! O que ele falou para você? Acha que ainda dá tempo de você voltar? Seja lá onde estiver com ele, volta!!"

Me assustei com a mensagem de Sofia e olhei nervosa para Harry que dirigia.

— Para o carro! Volta para a escola! - falei vendo o rapaz me encarar confuso.

— O que houve? - ele perguntou.

— Acho que minha amiga se machucou - menti, mas era a única opção, até porque eu não sabia o motivo de ter que voltar.

— Você não é boa em mentir - disse e parou o carro em um estacionamento que estava próximo - Tá com medo de algo? - ele perguntou erguendo uma das sobrancelhas.

Senti um calafrio percorrer minha espinha. Merda, merda, merda. 

Até parece que não assisto filmes de terror. É assim que a mocinha morre.

— Não - menti novamente e ele sorriu.

— Você definitivamente não é boa em mentir - sussurrou se aproximando de mim e colocando sua mão em meu rosto. Meu corpo estava arrepiado e eu agradecia silenciosamente por estarmos em um ambiente escuro e isso tornar meu rosto menos visível. - E eu gosto disso... - nossas respirações mesclavam e eu podia sentir o hálito quente nos meus lábios.

Fechei os olhos devagar e logo senti o contato de sua boca. O beijo começou com um leve toque entre nossos lábios e findou com uma Fernanda quase atravessada para o banco de motorista e sem mais nenhum fôlego. 

Nos afastamos para respirar e pude ouvir o moreno rindo. 

— Tudo bem, se a moça bonita quer ir embora, nós vamos - disse dando novamente a partida no carro. Sorri para ele e o clima ficou incrivelmente leve. Durante o caminho Harry puxou vários assuntos, e parecia me conhecer como ninguém. Acertava até mesmo minhas músicas favoritas.

— Sou muito infantil por ainda emocionar com Hey Jude? - indaguei.

— Mas Hey Jude é um clássico! Se isso torna alguém infantil então podem nos trazer as fraldas.

Sorri concordando.

— E qual foi o mico mais memorável sua vida? - perguntei curiosa.

— Hm... Primeiro você.

— Foi em uma aula aleatória do colégio, me distrai e quando fui fazer uma pergunta no meio da aula acabei chamando o professor de pai - falei e ele soltou uma gargalhada.

— Pai??

— Foi automático! Nem sei de onde tirei.

— O meu foi em um dia que minha mãe me entregou 20 dólares para comprar pão. Obviamente eram apenas 2 dólares de pão mas eu voltei com os 20. 

— Não creio!

— Juro, você tinha que ver a cara do padeiro enchendo três sacolas de pão.

— Você é um menino legal, Harry - declarei.

— E você me deixou completamente interessado desde que te vi no aeroporto. - ele falou e eu corei bruscamente.

— Obrigada? 

Ele sorriu.

— Que bom que a gente se reencontrou, né? - falou mais para si do que para mim.

Encarei o rosto do rapaz. Tão sereno... Os olhos azuis atentos no trânsito, a boca rosada, bochechas alvas. Ele era tão bonito.

— Desculpa por fazer você voltar para o colégio.

— Relaxa, Nanda - ele piscou - Ainda temos o ano letivo inteiro pra fazer isso acontecer. E no que depender de mim, serão inúmeras vezes.

Mordi meus lábios. O arrepio tinha sido na minha nuca dessa vez. Por que diabos eu estava reagindo tão facilmente assim? 

Assim que chegamos no colégio Harry pediu para sairmos silenciosamente do carro e nos dispersamos apenas no refeitório, porém assim demos um passo fora do carro uma garota loira se jogou nos braços do garoto, o abraçando sem pudor. Ele pareceu surpreso e a abraçou de forma desajeitada. 

— Geovanna, eu... - ele começou, mas foi interrompido com um beijo que da garota.

Meu estômago revirou e eu jurava que iria vomitar todo resquício de comida que se encontrava na minha barriga. Quando ela se afastou Harry olhou para mim instintivamente, como se houvesse levado um choque. A menina seguiu o olhar dele e olhou para mim como se não estivesse percebido minha presença antes.

— Quem é ela, amor? - a menina perguntou - Sua prima?

Antes de Harry responder me impus a falar.

— Fernanda Collins.

— Prazer - ela sorriu cinicamente - Geovanna, sou a namorada dele.

Quando ela falou isso eu pude sentir minhas pernas bambearam.

— Ah, é? - sorri olhando para ele.

Uma onda de raiva e angústia me subiu o corpo. Eu podia sentir a sensação de minutos atrás quando ele passava a mão pelo corpo e nossas línguas estavam em contato. Como homem era uma raça nojenta... Não conseguia nem mesmo acreditar! Ele me beija, fala que tem interesse em mim, me chama para sair e tem namorada? 

Senti meus olhos ficando molhados, eu queria chorar e era por raiva.

— Boa noite ao casal. - respondi olhando uma última vez para o garoto que ainda acompanhava a cena atônito e me pus correr. Corri até meu dormitório e abri a porta rapidamente, escorando minhas costas nela e deslizando até o chão. Abracei meus joelhos e deixei lágrimas descerem. Sofia logo saiu pela porta do banheiro e correu até mim, me abraçando.

— Fê?... oque houve? - ela perguntou.

— Você tinha razão, eu devia ter saído de lá correndo - eu disse me deitando nos ombros dela.

— Droga, Fê! Eu devia ter te contando que você poderia se envolver com qualquer menino menos Harry Lancaster... - ela suspirou - Ele já deve ter pegado todas as meninas dessa escola, mas no fim sempre descarta como lixo e volta pra Geovanna Rittsen, não sei como ela não pegou nenhuma DST ainda - ponderou - Na verdade, ela já deve ter tido sim, olha aquela cara de sequelada. 

Soltei um riso leve.

— Presumo que você conheceu ela, né? A bicha é nojenta.

Confirmei e mais algumas lágrimas escorreram pelo meu rosto. Então ele estava mentindo esse tempo todo? Todo aquele papo de gostar das mesmas músicas que eu e me achar interessante era mentira? Ele só queria mais uma na cama?

— Fê, vai tomar um banho... Eu trouxe um lanche para você e a gente pode ver um filme ou coisa assim. Só não fica triste, eu já fui um dos corações que o Lancaster quebrou e acredite, doeu! Mas passou - ela disse me reconfortado, eu a abracei e agradeci.

Tomei um banho e me forcei a não pensar em Harry. Eu e Sofia assistimos um filme e acabei pegando no sono devagar, mas meu último pensamento foi nele. 

Lembrei de Isabel falando que eu acabaria gostando de alguém nessa cidade, e minha resposta tinha sido óbvia: não era fácil assim. E realmente, nunca foi... Desde criança eu só entreguei sentimento a um garoto. Como eu fui tão entregue a Harry em apenas um dia? Apenas um beijo, um toque, uma voz. 

Dane-se. Eu o apagaria da minha mente e fingiria que nada aconteceu. Eu tentaria, pelo menos.

 


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Notas finais do capítulo

Gostaram? :)



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