À Primeira Vista escrita por Sr Castiel


Capítulo 11
Capítulo X - Nôah - Iniciados




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Capítulo X

Nôah

/Iniciados/

“Medo. É a mais primitiva das emoções. Ele pode permanecer como uma memória. Queimando em uma mente de quem perdeu um pai muito cedo ou se aprofundando na alma como uma autodúvida por causa da rejeição de um filho. Mas do que todos nós temos mais medo é do desconhecido.”

Revenge – S03E01

Dois dias depois

__________________________________

NÔAH REALMENTE NÃO ACREDITAVA NO QUE HAVIA FEITO.

Estava sentindo-se surpreendentemente feliz depois de sair da praia e chegar em casa. A mãe não estava esperando por ela, o que Nôah estranhou, mas sabia que ela poderia não estar dormindo ainda. Então não se preocupou. Mas Nôah estava em casa a tempo e sua noite fora melhor do que pensou ser possível.

Mas isso até foi ouvir os uivos.

Nôah não sabia o que a fez pensar que ela tinha que ajudar o garoto. E, no início, vendo todo aquele sangue, ela queria apenas correr para o mais longe daquele lugar. Mas sabia que não podia ir embora simplesmente. Então ela ficou... E encarou mais do que o fato que nunca havia curado alguém com ferimentos tão extensivos como aqueles... Ela encarou o fato de que havia beijado um cara duas vezes e realmente tinha admitido que algo estranho estava acontecendo com ela. Algo estranho e bom; não sabia como controlar aquilo e nem se realmente queria controlar.

Quando chegou em casa, tomou o máximo de cuidado para não fazer nenhum barulho e, por pura sorte ou o que seja, conseguiu chegar ao seu quarto sem que a mãe acordasse e viesse perguntá-la para onde havia saído àquela hora. Olhou no relógio que ficava na sua mesa de cabeceira e se impressionou quando viu que já eram quase cinco horas da manhã.

Nôah não se sentia cansada; aparentemente, a adrenalina ainda corria em suas veias.

O quarto dele tinha o mesmo perfume que Nôah sentira na primeira vez que o tinha visto. Naquela ocasião não prestou tanta atenção nisso pois tinha acabado de matar três vampiras loucas e seu cérebro parecia estar pulando dentro da parede de seu crânio. Só quando o encontrou na praia que percebeu o perfume; era fresco, mas com um leve toque amadeirado, algo que a fazia se lembrar de casas quentes no inverno com cheiro de café fresco no ar, era um cheiro que Nôah nunca sentira antes, mas essa imagem lhe veio à mente primeiro. Agora ela cheirava ao sabonete dele, limão e menta. Sua escova de cabelo não tinha nenhum fio garrado e, para um quarto onde vivia um garoto, Nôah o achou extremamente limpo e arrumado.

Com o cheiro dele em si, ela adormeceu. Mas em alguma parte da noite um sonho estranho a alcançou.

*

Era escuro e poeirento. Essas foram suas primeiras impressões do lugar onde estava.

Nôah estava deitada no chão de algum lugar muito seco. De início, ela não conseguiu ver nada, mas logo seus olhos se acostumaram à penumbra e então pôde enxergar melhor. A garota não acreditava que os olhos humanos pudessem se acostumar àquele negror, que parecia querer engolir tudo à sua volta. Seus sentidos estavam muito aguçados, mas ela ainda não ouvia nada; nem o leve farfalhar de uma brisa.

O desespero começou a tomá-la e, quando estava prestes a gritar, ela sentiu que alguém a observava de não muito longe. Depois, Nôah percebeu que à sua volta brilhavam vários olhos no escuro e o medo quase a fez cair no chão. Sentia suas pernas tremerem e seu coração se acelerar...

Ela se forçou, numa tentativa desesperada, a gritar para alguém vir ajudá-la, mas não se lembrava de nenhum nome que pudesse chamar. Sabia que conhecia pessoas que poderiam ajudá-la, mas não se lembrava de seus nomes, e, naquele segundo, percebeu que essas pessoas não tinham mais um rosto dentro de sua mente... Nôah não se lembrava... ela não se lembrava de nada.

O que quer que fossem os donos daqueles olhos brilhantes que a observavam, pareciam estar se aproximando.

Com uma última tentativas de se livrar das criaturas que a emboscavam, o grito saiu de sua garganta, quase dilacerando-a com sua potência.

A última coisa que se lembrou foi de uma estranha luz esverdeada começar a brilhar à sua volta, fazendo com que todos recuassem, com medo.

*

– Nôah!? – Nôah abriu os olhos e focalizou a mãe, sacudindo-a e olhando-a com os olhos arregalados. Nôah interrompeu o grito sem nem saber quando começara a gritar. Sentia sua garganta doer e, em seus olhos, lágrimas de desespero desciam, seu corpo estava coberto por uma camada de suor frio. A luz pálida do sol era filtrada pela cortina branca em frente à porta da sacada em seu quarto; não parecia estar fazendo um dia de sol como no anterior lá fora. A lembrança do sonho que teve veio rapidamente à sua mente. O... O pesadelo... Pensou ela, ligeiramente assustada.

– Eu... – Nôah tentou falar, mas sua voz mal saiu. Sua garganta arranhava um pouco, mas sabia que logo se sentiria melhor. Seus ombros doíam e ela se sentia muito cansada como se não tivesse dormido por mais do que poucos minutos. Ela olhou para o lado tentando focalizar o relógio e não se assustou pelo cansaço quando viu que ele marcava ainda nove horas da manhã; tinha dormido por pouco mais de quatro horas e todo o esforço com seus poderes na noite passada... seu corpo devia estar querendo uma boa recompensa. – Só tive um pesadelo... eu acho. – Conseguiu dizer.

– Um pesadelo? – A mãe falou; sua respiração estava ofegante, ela estreitava os olhos e franzia a testa, assim como sempre fazia quando estava preocupada. – Achei que tinha um monstro no seu quarto. Você está gritando há uns dez minutos, Nôah!

Nôah franziu o cenho do mesmo jeito que a mãe, tentando se lembrar de quando exatamente o pesadelo tinha começado, mas não conseguiu, é claro.

– Não se preocupe, mãe – Nôah disse –, provavelmente não é nada.

Narscisa suspirou, encarando a filha.

– Quer falar sobre o pesadelo? – Perguntou, realmente preocupada.

– Eu... – Nôah reconsiderou. Não queria contar à mãe que vinha sonhando com lugares sombrios e criaturas que encaravam-na. – Eu não me lembro, me desculpe.

– Não precisa se desculpar, Nôah – disse Narscisa, suavemente. – Se você conseguir se lembrar de alguma coisa e precisar conversar comigo, pode falar.

– Obrigada, mãe.

Narscisa sorriu, mostrando seus dentes extremamente brancos.

– Vamos levantar? – Chamou a mãe. – O café está pronto e o outono começa amanhã. Mas olhando o tempo lá fora, até parece que o inverno quem está à espreita.

– Acho que vou ficar mais um pouco na cama. – Disse Nôah. – Estou me sentindo um pouco cansada ainda.

– Tudo bem – ela disse –, mas qualquer coisa estarei lá embaixo.

Nôah assentiu e Narscisa saiu do quarto. A garota sabia que todo aquele cansaço devia-se ao esforço com seus poderes que havia usado na noite anterior. Ela não se arrependia de tê-lo feito, é claro, mesmo que fosse um homem-lobo quem estivesse precisando. Nôah estava disposta a ajudar todos que precisassem com seu dom.

*

Às oito horas do dia seguinte, Nôah chegava ao estacionamento que estava acostumada a ver quase todos os dias. Ela parou em sua vaga de sempre, o que achou estranho ainda não a terem ocupado, pois não era tão longe do portão de entrada nem do de saída; ela sempre estacionava naquele mesmo lugar.

Ela saiu do carro, sentindo um frio anormal na pele. Desde o dia anterior, o céu estava nublado e tudo parecia mais triste e seco do que Nôah estava acostumada a ver. O outono chegara oficialmente naquele dia, fazendo jus ao nome que recebeu com o inverno em seu encalço como um fantasma esperando para congelar tudo em blocos brancos de neve. Nôah vestia uma blusa fina de manga longa e calça assim como os outros alunos que ela via indo em direção ao prédio do colégio.

Nôah acompanhou o fluxo de alunos que, ao chegar ao primeiro prédio, começavam uma fila que já estava bem grande. Mas não demorou para que ela avançasse. Minutos depois, faltavam apenas três pessoas para que Nôah entrasse na sala que estavam se dirigindo todos os alunos.

Encimando a porta havia um cartaz escrito com tinta preta e letra grande:

HORÁRIO E GRADE DE MATÉRIAS PARA OS ALUNOS DE TODOS OS ANOS AQUI.

– Próximo, por favor – uma voz feminina chamou dentro da sala.

Nôah entrou na pequena sala que estava acostumada a ver sempre que começava um novo semestre.

A sala não era muito grande. Tinha apenas uma mesa com alguns papéis em cima e um computador em frente à uma mulher sentada numa cadeira atrás da mesa. Os dedos, com unhas grandes e bem feitas, batiam com agilidade nas tecas do computador. Ela vestia um terno cinza, usava óculos de lentes e armação finas. Era bem bonita. Tinha o cabelo preso em um coque apertado no alto da cabeça, mas uma mecha escapava da amarração, emoldurando lhe o rosto.

– Nome, por favor? – pediu, numa voz totalmente profissional.

– Nôah Black – respondeu.

Ela bateu em algumas teclas no computador, uma folha saiu em uma impressora que Nôah não tinha notado em uma mesinha menor ao lado da moça.

– Seu horário – anunciou ela. – Você já estudava aqui antes, mas se precisar de qualquer ajuda para se orientar, pode perguntar a qualquer um dos funcionários que estarão espalhados pelos prédios.

– Obrigada – agradeceu Nôah.

– Próximo, por favor. – A mulher disse.

Nôah saiu da sala, dando lugar na fila para uma garota que estava atrás dela

Ela enfrentou uma correnteza de alunos que iam e vinham em todas as direções. O Williams III era um colégio construído com arquitetura moderna com três prédios altos e bem acabados. No prédio I ficava a ala de ciências exatas, no prédio II, ciências biológicas e no três, ciências sociais. A primeira aula de Nôah era cálculo I com a senhorita Emily. O prédio I tinha quatro andares, sendo que o último era o refeitório. As salas de aula eram no segundo e terceiro juntamente com as salas de música e a enfermaria. No primeiro andar tinha a biblioteca, sala do diretor e a sala dos professores.

Nôah pegou o papel que a moça havia lhe entregado e, segundo seu horário, sua primeira aula seria na sala 9-A. Então ela acompanhou os estudantes que subiam as escadas em direção ao segundo andar.

Nôah andou até o fim de um longo corredor, onde passou por portas de várias salas já cheias de alunos e entrou na que teria sua primeira aula. As cadeiras e mesas eram dispostas em duplas e tinham quatro fileiras com quatro duplas de mesas em fila na sala. Do lado oposto à porta de entrada estava a mesa do professor. Nôah escolheu a penúltima cadeira na primeira fila perto da porta de entrada; quase todas as outras já estavam ocupadas pelos alunos. Tinha alguns rostos novos e outros que ela se lembrava que já estavam ali. Com certeza eles haviam feito mudanças desde a semana anterior ao fim do verão. Ela esperava que Claire não tivesse sido transferida para outra sala...

De repente, Nôah se lembrou que os acontecimentos da noite passada a deixaram tão atordoada que não pensara uma vez na amiga. Claire não tinha ligado como havia prometido e nem chegado antes de as aulas começarem como pretendia. Nôah temeu que estivesse acontecendo alguma coisa e se comprometeu a ligar para ela na hora do almoço.

Os alunos iam chegando na sala e encontrando seus lugares. A maioria parecia saber, ou esperar, que Claire se sentaria ao lado de Nôah e deixaram o lugar ao lado da garota livre. Nôah não disse nada, apenas deixou que o último sinal soasse para começar seu último semestre.

A professora, senhorita Emily como dizia seu horário, chegou na sala passando pela porta e indo em direção à sua mesa sem olhar para ninguém. Ela colocou sua bolsa em cima da mesa e virou o corpo, esquadrinhando a sala com os olhos. Nôah ficou admirada com tal beleza. Não era comum... tinha algo a mais, como se, mesmo ela não tentando parecer bonita, não conseguisse evitar.

A senhorita Emily vestia uma saia justa que ia quase até o joelho, feita de seda preta e uma blusa branca que lhe caia perfeitamente bem com um decote discreto; seu corpo era perfeito, tinha a pele um pouco bronzeada; olhos castanhos escuros, que tinham uma luminosidade e, quando eles encontraram os de Nôah, pareceram faiscar; cabelos claros presos em um rabo de cavalo iam quase até seu quadril, lisos e sedosos. Ela tinha uma expressão estranha no rosto, como se estivesse ali para mais do que apenas uma aula de cálculo I.

– Como vocês sabem, – começou a professora numa voz baixa e calma – eu sou a senhorita Emily e estarei com vocês até o fim do seu último semestre.

– O que aconteceu com a senhorita Anne? – Perguntou Mason, um garoto que Nôah conhecia há mais de um ano, mas com quem nunca teve uma conversa direta. Ele sentava numa mesa do lado oposto de Nôah e todos viraram o rosto quando ele falou, tornando a olhar para a senhorita Emily esperando uma resposta. A senhorita Anne fora a professora de cálculo I no início do último ano, mas ninguém parecia saber o porquê de ela não continuar dando aula para eles.

– Bem, senhor... – começou Emily com um sorriso de escárnio no rosto que mostrava os dentes da frente. Era como se ela estivesse com nojo de alguma coisa.

– Mason, senhorita – ele completou.

– Muito bem, senhor Mason, espero que a sua interrupção ou a de qualquer outro aluno não se torne um hábito – sua voz tornou-se fria quase imediatamente. – Mas respondendo à sua pergunta, – falou, mudando o tom de voz como se nada tivesse acontecido – a senhorita Anne, bem, ela pediu uma licença da escola para... cuidar da saúde. Mais alguma pergunta antes de começarmos?

– Com licença, senhorita Emily, posso?

Todos viraram a cabeça na direção da voz, inclusive Nôah, que soltou um risinho abafado quando viu quem era. A senhorita Emily parecia não ser conhecida por sua condescendência e ele escolheu uma má hora para testá-la. O homem-lobo estava à porta com seu horário de aula nas mãos e uma mochila no ombro. Ele não parecia nem um pouco constrangido com aquela situação, mas talvez fosse porque ele ainda não conhecia a senhoria Emily tão bem.

A professora virou o rosto e fuzilou o garoto com os olhos. Quando falou, seus olhos se voltaram para a sala e pousaram de novo no garoto à porta.

– Eu não gosto de interrupções porque elas distraem suas mentes e fazem com que vocês não se foquem no assunto em questão. E eu sei que ainda não começamos a aula, mas serve de prévio aviso que não vou tolerar mais isso. Quer falar? Levante a mão. Se eu achar que você deve falar, você fala. Entenderam? – Todos os alunos balançaram a cabeça, assentindo. Depois, voltando-se de novo para o garoto à porta, perguntou: – Sabe qual a opinião de Shakespeare sobre atrasos?

– Mais produtivo estar três horas adiantado do que um minuto atrasado – respondeu ele quase imediatamente. Os alunos deram risinhos baixos em decorrência do atrevimento do garoto. – Mas o próprio Romeu selou seu romance como uma tragédia quando não chegou a tempo de impedir o que nós dois sabemos que aconteceu.

A senhorita Emily continuou olhando-o até que finalmente assentiu uma vez, dando-lhe permissão para entrar na sala.

– Último atraso, eu espero – ela disse.

– Sim, senhora, me desculpe. – O garoto respondeu, esquadrinhando a sala com os olhos e pousando, pela primeira vez, seu olhar em Nôah. Ela baixou os olhos e tirou uma mexa de cabelo do rosto, prendendo-a atrás da orelha. Ele seguiu para onde ela se sentava, para a cadeira ao seu lado que estava vazia.

– Oi – ele sussurrou para Nôah.

– Oi – ela sussurrou de volta.

A professora mexeu em sua bolsa e tirou uma pasta, abriu-a e puxou alguns papéis.

– Vou entregar a vocês um folha com alguns projetos que faremos nesse último semestre – ela disse. – Está assinalado em cada folha um projeto pequeno para vocês apresentarem em duplas. Preciso fazer uma avaliação do que a senhorita Anne fez até aqui.

Ela percorreu a sala entregando uma folha para cada dupla. Quando passou pela mesa onde Nôah estava sentada, a professora parou e olhou para eles.

– Não se preocupem, isso vai ser divertido – deu um sorriso sarcástico, depois continuou andando.

Nôah olhou para o garoto ao seu lado e levantou uma sobrancelha, ele só balançou os ombros em resposta.

– Como está seu amigo? – Perguntou Nôah, quase em um sussurro.

– Está bem – o garoto sussurrou de volta. – A regeneração natural dele funciona melhor quando está na forma de lobo, então ele saiu e ficou o dia todo fora ontem.

– Você avisou a ele sobre as vampiras? – Nôah perguntou, ligeiramente preocupada. – Pode haver mais...

– Sim, ele sabe – o garoto respondeu. – E está curioso quanto à pessoa misteriosa que o curou. – Um dos cantos de sua boca se levantou, mostrando parte dos dentes.

– E o que você disse a ele? – Nôah perguntou.

– Que talvez ele conhecesse essa pessoa ainda hoje – o garoto disse, abrindo ainda mais o sorriso. – Quer almoçar comigo? Quero dizer, com a gente?

– Tem certeza que você quer que eu conheça outro homem-lobo? – Nôah perguntou, um pouco sem graça.

– Ele é legal – ele respondeu. – E afinal, você o curou.

– Claire não está aqui hoje e eu preciso ligar para ela no almoço, mas não vai demorar. Posso me encontrar com vocês logo em seguida. – Quando percebeu a expressão confusa do garoto, Nôah disse: – Ela é uma amiga que teve que fazer uma viagem, só estou um pouco...

– Coloquem o nome de vocês no topo da folha e retirem todas as informações necessárias para vocês concluírem o projeto. – A senhorita Emily disse, chamando a atenção deles. – Me entreguem essa folha no fim da aula. Podem começar.

– Você primeiro – Nôah disse, entregando uma caneta ao garoto.

– Quer saber meu nome agora? – Ele perguntou, sarcástico.

– Não, vou ser obrigada – ela respondeu, rindo.

Ele riu também e começou a escrever o nome no topo do papel. De início, Nôah não conseguiu saber qual era, pois ele estava colocando a mão na frente. Quando terminou, ele sorriu, entregando à Nôah a caneta para que ela também escrevesse seu nome. Nôah pegou a folha. Escrito em uma caligrafia fina e bem mais elegante do que esperava de um garoto estava: Dylan Crowle.

Nôah arregalou os olhos, mas, por um segundo, ela pensou que fosse aquele nome que a observava, não o contrário.

De repente, Nôah ouviu mais uma vez sua mãe falando “... não existem homens-lobo em San Diego.”, “... essa espécie só existe em Londres.”, “... profecia...”, “... ele estava ligado à profecia.”, “... se referia ao filho dele também.”, “... que o nome de seu filho era Dylan...”. E, por último, uma sentença que arrepiou os pelos de seus braços, fez com que ela sentisse seu sangue parar de fluir por seu corpo como se estivesse congelado de medo “... ninguém pode fugir do destino. (...) O destino nos persegue mesmo se formos para o mais longe possível. Não tem como fugir.”

Nôah não pensou mais. Apenas pegou sua bolsa, se levantou e saiu da sala. Depois correu, sem prestar atenção aonde ia e sem ligar para os gritos da professora atrás dela na porta.

Segundos depois, Nôah chegou ao estacionamento e entrou no seu carro.

Sua respiração estava acelerada, mas duvidava que fosse por causa da corrida. Ela fechou os olhos e tentou acalmá-la, mas assim que o fez, uma batida no vidro a assustou. Era Dylan.

Nôah percebeu que era a primeira vez que pensava naquele garoto com um nome real a atribuir. Antes não parecia fazer tanta falta um nome e ela não se importava, achava que fosse só uma brincadeira deles, algo que os fariam rir depois. Mas agora viu que era mais sério do que pensava; que mesmo inconscientemente, eles só estavam prolongando o inevitável.

Ela baixou o vidro um pouco e disse:

– Eu só preciso ficar um pouco sozinha, me desculpe.

– Eu sei quem você é – ele disse, antes que ela pudesse levantar o vidro. Sua voz não tinha muita firmeza e nem ele parecia acreditar muito no que estava dizendo.

Nôah deu um suspiro.

– Você não sabe... não sabe de nada – ela disse.

– Sabe, eu nunca me tomei por uma pessoa que tivesse sorte... – insistiu ele. – Mas pensando melhor, acho que acredito mais em destino do que em sorte.

Diante daquela fala, Nôah abriu a porta do carona, mas não olhou para ele enquanto ele entrava e fechava a porta do carro.

Um silêncio incômodo perdurou por algum tempo. Nôah não sabia o que dizer. Sua mãe tinha lhe avisado... mas não tinha sido sua culpa, não é? Não podia ter sido. Ela não sabia quem ele era, nem desconfiava – apesar das gritantes evidências: ele ter vindo de Londres e ainda mais o fato de que ele era um homem-lobo...

– O que você quis dizer com “eu sei quem você é”? – Nôah perguntou, tentando entender tudo, desde o começo.

Eles não se entreolhavam e Nôah achava isso muito estranho. Ela sempre sentia aquela coisa de nunca querer parar de olhar para aqueles olhos azuis, mas agora aquele sentimento estranho fora encoberto pelo medo. Tinha medo de que, por mais que quisesse evitar ou não pensar sobre a profecia que sua mãe escutara tantos anos atrás, esta estivesse começando a se cumprir.

– Meu pai foi sequestrado – ele disse apenas, como se aquilo explicasse tudo. Com um súbito aperto na garganta, Nôah entendeu de onde vinha toda aquela tristeza que ela reconhecera em seus olhos no outro dia na praia. – Mas me deixou isso antes de ser pego...

Dylan colocou a mão dentro do bolso, tirou um papel um pouco amassado e entregou a ela. Nôah o abriu e leu o conteúdo escrito numa caligrafia fina e inclinada, mas um pouco tremida. A cada palavra, ela sentia como se toda a luz do mundo estivesse se apagando. Quando percebeu que seu nome também estava na carta, foi como se sentisse um frio subindo em sua coluna e se instalando em seu pescoço, algo que sussurrava coisas ruins perto do seu ouvido... Ela só percebeu que estava tremendo quando deixou a carta cair em seu colo. Dylan a pegou e guardou de volta no bolso, depois pegou as mãos de Nôah com firmeza e perguntou:

– Você está bem?

– Você é o garoto da profecia – ela soltou. Foi mais como se as palavras tivessem escapado de sua boca, sem que ela tivesse qualquer controle sobre elas.

Profecia? – Ele perguntou, confuso.

– Há uma profecia sobre o meu destino, mas ele é entrelaçado com o de outras pessoas, inclusive o de um homem-lobo, como minha mãe e seu pai suspeitaram.

– Como você conhece meu pai?

– Eu não conheço, mas minha mãe, sim – Nôah explicou. – Ela morava em Londres quando estava grávida de mim e seu pai e minha mãe se encontraram uma vez para discutir um modo de escaparem dessa profecia. Mas não está mais dando certo.

Nôah ponderou sobre o assunto. Desde que tinha visto Dylan na clareira, ela se sentira atraída por ele de uma forma que não conseguia explicar. Agora ela entendia como isso estava acontecendo. O destino não estava de brincadeira quanto a deixar aquela profecia de lado como assim Narscisa quisera desde que a havia escutado. Tudo foi um grande ardil para que ela se cumprisse no tempo certo. Sam, pai de Dylan, fora sequestrado e, sendo assim, forçado a fazer o filho procurar pela ajuda certa. Com certeza Sam sabia de algo mais e tinha o conhecimento de que as únicas pessoas que poderiam ajudá-lo estavam do outro lado da Terra. Tudo estava saindo conforme o destino queria.

– Vamos falar com a minha mãe – ela declarou.

– Não sei se... – Dylan começou a falar, mas Nôah o interrompeu.

– É a melhor coisa a se fazer agora – ela disse. – Talvez ela possa nos dizer o porquê de seu pai querer que você buscasse nossa ajuda. E afinal, ele pediu que você nos encontrasse.

Dylan balançou ligeiramente a cabeça como se tentasse espantar uma mosca que não estava ali e disse:

– Tudo bem... Eu só preciso que Alex nos encontre aqui.

Ele pegou o celular e rapidamente mandou uma mensagem para o amigo, que não demorou a aparecer no estacionamento. Ele vinha procurando o carro certo quando Dylan acenou e ele foi até eles. Alex era igual e, ao mesmo tempo, completamente diferente de Dylan. Era tão alto e forte quanto o amigo, trazia uma mochila presa no ombro – segurava uma alça com força, mais que o necessário, observou Nôah – e ainda andava com a mesma confiança, como se sempre estivesse certo do que faria a seguir. Mas as semelhanças paravam por aí. Alex tinha os cabelos cor de areia e os olhos castanhos bem claros; Nôah percebeu que Alex não piscava muito os olhos e, dentro deles, não se lia absolutamente nada, menos ainda em sua expressão. Era como se nada estivesse acontecendo. Por um momento, Nôah se perguntou o quão perigoso seria Alex em um campo de batalha.

Dylan baixou o vidro e Alex apareceu, mas não tirou os olhos de Nôah por um segundo sequer.

– Você deve ser a garota que me salvou de virar uma poça de sangue, estou certo? – Ele disse, passando a mão por dentro do carro e a oferecendo para Nôah pegar. Ela o fez e sentiu o aperto e o quanto ele era quente, assim como Dylan.

– Sou eu sim. Nôah Black. – Ela disse, percebendo, pela primeira vez que falava seu nome perto de Dylan. Nôah viu algo se ascendendo em seus olhos por um segundo logo que disse seu nome, mas sumiu tão rápido quanto apareceu. Aparentemente, Alex também estava se esforçando para ajudar Dylan a encontrar Nôah e sua mãe.

– Alex – ele disse.

Alex olhou para baixo e Nôah, ficando completamente vermelha, assim como Dylan, percebeu que ele ainda segurava sua mão. Dylan puxou a sua com um pigarrear constrangido e Nôah fez o mesmo, olhando para frente. Alex não demonstrou nada, mas Nôah já esperava isso dele.

– Alex... – começou a falar Dylan, mas sua voz parecia estar presa – hmm... você podia ir no meu carro. Acho que você já deduziu tudo... Estamos indo para a casa de Nôah encontrar com sua mãe e saber se ela sabe de alguma coisa que não sabemos.

– Já deduzi bastante coisa aqui – Alex falou, interrompendo Dylan. – Estarei bem atrás de vocês.

Dylan pegou a chave do carro e entregou-a ao amigo. Antes que ele pudesse sair e pegar o carro de Dylan, o garoto encarou Nôah no fundo de seus olhos e disse:

– Obrigado por ter me salvado no outro dia. Provavelmente é um ato que nunca foi feito em toda a história dos homens-lobo. Tanto o fato de um de nós ser curado de sangue de vampiro no organismo quanto um de nós ser curado por um vampiro. Mas de qualquer forma, obrigado. – Nôah viu que ele estava sendo sincero; Alex estava realmente agradecido por Nôah tê-lo salvo, mas tinha algo mais em suas palavras, alguma coisa que Nôah não conseguiu perceber naquele momento.

– Por nada, Alex – ela disse apenas, desviando o olhar. O garoto bateu no ombro do amigo com a mão e se foi, desaparecendo entre as fileiras de carros.

Nôah soltou o ar que estava segurando sem saber que o estava fazendo.

– Não se preocupe com Alex – falou Dylan. – Vou conversar com ele depois.

Nôah não respondeu, apenas girou a chave no painel do carro e deu a partida.

*

Menos de dez minutos depois Nôah estacionava seu carro em frente à sua casa. Uma lembrança de quando estava na praia e aquela tempestade repentina apareceu avisando-a que deveria ir embora chegou à sua mente, mas ela só soube o porquê quando saiu do carro.

Uma tempestade já começava a se formar quando Nôah entrou pelo portão. O dia não tinha começado tão ensolarado, mas ainda não estava chovendo e não demoraria muito mais se sua mãe não se controlasse.

Alex estacionou o carro de Dylan logo atrás do de Nôah e saiu, olhando para cima, talvez achando estranho uma tempestade tão repentina.

– Minha sabe que vocês estão aqui – Nôah disse, revirando os olhos.

– Temos que nos preocupar? – Alex perguntou, a voz um pouco alta para se sobrepor ao vento forte.

– Não acho que devam, mas é bom estarem alerta – ela avisou. – Não vou deixar que ela machuque vocês, mas talvez eu não seja tão rápida.

– Vamos lá – Dylan disse. Ele parecia mais calmo que o normal ou mais do que apenas deveria estar.

Nôah abriu o portão e entrou na casa. Assim que Alex entrou e fechou a porta atrás de si, a chuva começou; no início fraca, mas logo transformando-se em pingos grossos e rápidos.

Dylan olhou para trás observando a chuva que caía.

– Você não estava brincando quando disse que você é filha de uma tempestade – ele comentou, mas não tinha sarcasmo em sua voz, era mais algo parecido com admiração.

– Mãe! – Nôah chamou, mas não houve uma resposta. Ela se concentrou à sua volta, inibindo seus sentidos humanos e deixando os de vampira aparecerem. De repente, sabia onde sua mãe estava. – Por aqui.

Nôah seguiu para a cozinha e abriu as portas de vidro que davam para o jardim dos fundos.

O jardim seria lindo se não estivesse sendo açoitado pelo vento forte. Curiosamente, a chuva não caía ali, mas Nôah sentiu o frio na pele e o vento estava muito mais violento do que fora da casa. O caminho era coberto por pedras brancas, ladeado por dois canteiros enormes de flores e plantas, mas estas estavam quase sendo arrancadas pelas raízes. Duas árvores se erguiam no meio de cada canteiro, as folhas voando e os galhos balançando violentamente. Mais à frente, o caminho de pedras levava à piscina, rodeada por cadeiras, algumas de madeira outras de plástico, reclináveis.

Narscisa estava perto das árvores, mas tinha uma expressão quase assassina no rosto. Nôah entendeu porque sua mãe estava no jardim e não dentro da casa. Ela tinha sentido a presença dos homens-lobo e talvez pensara ser algo ruim, o jardim era o lugar onde ela disporia de suas habilidades com maior intensidade.

Eles saíram da cozinha e, de repente, o vento parou, mas a tempestade não se abrandou; parecia um monstro que agiria calado, esperando o movimento do inimigo, prevendo o que o inimigo faria em seguida, e só então atacaria com toda a sua força, sem prévio aviso, destruindo seu alvo.

– Faça com que eles saiam daqui agora! – Narscisa disse. Sua voz estava baixa e controlada, mas Nôah notou o quanto isso era ruim. A raiva entremeava cada palavra, deformando sua voz e trazendo firmeza às sentenças que proferiu.

E atacou.


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