À Primeira Vista escrita por Sr Castiel


Capítulo 12
Capítulo XI - Dylan - Pressionado




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Capítulo XI

Dylan

/Pressionado/

“Seja lá o que for, vai continuar amanhã de manhã. E se não, é por que não vale a pena.”

Maggie Stiefvater - Calafrio p.167

Escorrendo o tempo...

_________________________________________

DYLAN NÃO SABIA SE A mãe de Nôah estava louca ou se esse era o jeito que estava acostumada a receber seus convidados. A segunda opção estava, com certeza, fora de cogitação.

Por um segundo o mundo pareceu desacelerar e Dylan conseguiu ver a velocidade com que o relâmpago desceu do céu e parou na mão de Narscisa, fazendo com que todo o lugar cheirasse a metal e ficasse com uma luminosidade que feriram seus olhos. A vampira era experiente e ainda tinha o controle da atmosfera sob seu poder. Nada que Dylan não pudesse lidar.

Ela jogou o relâmpago neles como se fosse uma bola muito quente que talvez não quisesse mais segurar. Com certeza, ela sabia que Nôah seria rápida o bastante para sair do caminho, pois não pareceu se importar se a filha se machucaria no processo de tentar matar Alex e ele.

Nôah não saiu do caminho e, antes que o raio a acertasse, Dylan investiu contra ela transformando-se em lobo e tirando-a do foco da explosão. Ele não estava acostumado a lutar contra vampiros tão fortes, mas não tinha outra escolha. Antes que Nôah caísse no chão, ele voltou à forma humana e pegou-a no colo no último segundo. Ele não tinha visto a reação de Alex, mas, quando olhou para trás, o amigo estava longe de onde o relâmpago tinha aberto uma cratera no chão.

– Mãe! – Nôah gritou antes que Narscisa pudesse atacar de novo.

A mãe, por um momento, pareceu recobrar a consciência e a ventania parou.

– Nôah, o que você está fazendo com eles? – Ela perguntou, ultrajada.

– Eles precisam da nossa ajuda, mãe – Nôah disse, a voz calma, tentando explicar. – Sam foi sequestrado.

– O quê?

– Isso mesmo, senhora Black – Dylan interveio. – Meu pai disse que vocês podem me ajudar a... o que quer que isso signifique.

Dylan se lembrou de algo que não tinha prestado atenção antes. Seu pai não tinha dito na carta para ele salvá-lo. Ele só tinha pedido para Dylan encontrar Narscisa e Nôah e pedir ajuda, mas para o que exatamente ele não sabia.

“Você é o garoto da profecia”. Nôah tinha dito. Sam sabia da profecia e tentara, assim como Narscisa, evitá-la. Mas quando soube que ia ser pego, percebeu que não conseguiria mais fugir do destino, por isso mandou Dylan procurar por aquela ajuda tão estranha. Aquele pensamento invadiu sua cabeça como se fosse uma coisa muito óbvia que ele deveria ter pensado antes.

Narscisa avançou alguns passos, mas não parecia querer atacar de novo. Dylan sentia Nôah ao seu lado muito alerta. Ele ainda estava com seus braços entorno dos ombros da garota e só pareceu perceber isso quando Narscisa falou:

– Fique longe da minha filha. – Sua voz realmente saiu calma aos ouvidos de Dylan, mas foi isso que o preocupou. Antes de ela atacar, usou aquela mesma voz.

– Dylan – alertou Alex.

Ele saiu de perto de Nôah e foi para onde o amigo estava.

– Você está bem? – Sussurrou Dylan para Alex.

Ele apenas assentiu. Alex não tirava seus olhos de Narscisa nem para piscar. Ele a estudava, todos os seus movimentos, poderes. Talvez eles não pudessem ganhar dela se fosse mesmo necessário uma luta, mas Alex cairia lutando, dando o máximo de trabalho ao inimigo. Essa era a sua forma de lutar.

– Então Sam conseguiu, não é mesmo, Dylan? – Narscisa estava falando, mas não parecia a mesma vampira calma e segura de si como antes. Sua voz beirava ao desespero, quase como se quisesse se transformar em um tornado gigante e acabar com Dylan, como se ele fosse o seu maior problema, como se matando-o, tudo se resolvesse. – Ele conseguiu fazer com que meus planos de evitar o futuro fossem jogados no lixo.

– Senhora... – começou Alex, mas Narscisa não o deixou terminar. A vampira mostrou-lhe as presas brancas, pontiagudas e mortais.

Um trovão ribombou no céu e nuvens de tempestades voltaram a aparecer, impermeáveis e traiçoeiras. Dylan sabia que Narscisa estava saindo de controle e isso não seria nada bom para eles. Ele não queria que a mãe lutasse contra a filha, mas não sabia se conseguiria impedir aquela briga.

– Já chega! – Gritou Nôah.

– Nôah – Narscisa parecia implorar agora –, é uma questão fácil de ser resolvida. Se o matarmos agora, sua profecia pode ser completamente evitada. – À variação da palavra morte proferida por Narscisa, Alex rapidamente puxou o amigo para trás de si, mantendo seu braço esquerdo alto para impedir que Dylan reagisse de forma ofensiva. – Você não precisa sofrer. Será ele o causador do seu sofrimento segundo a profecia, Nôah. Nós podemos resolver isso!

Dylan já tinha visto um pouco dos poderes de Nôah. Ele ficou maravilhado com seu poder de cura e ainda com o poder sobre a terra que havia mostrado enquanto matava aquelas vampiras. Mas nada se comparou àquele momento.

Uma rajada de vento sacudiu o lugar, mas não parecia estar vindo de Narscisa. Era algo mais poderoso, mais vivo. O cabelo de Nôah voava e suas roupas eram açoitadas pelo vento, como se este quisesse rasgá-las completamente. A água da chuva que tinha se acumulado no chão, respondeu ao vento, impossivelmente saindo do chão e flutuando por várias extensões ao redor de Nôah. Um tremor de terra começou e raízes das plantas do jardim saíram do chão, furiosas. Nôah fechou os olhos e pareceu se concentrar e fez algo que até Dylan, mesmo sabendo que ela não o machucaria, teve medo. Labaredas de fogo lamberam seus braços, mas isso não parecia incomodá-la nem um pouco, pelo contrário, davam-na ainda mais poder do que parecia ter. Até Narscisa ficou paralisada com tamanho poder da filha como se não soubesse de suas capacidades.

– Eu disse já chega! – Nôah falou, baixo. – Você não vai encostar um dedo nele, mãe. Nós vivemos pacificamente, esqueceu? Não matamos para sobreviver... e isso inclui a questão da profecia. Não quero machucar ninguém, mas vou separar qualquer tipo de conflito que acontecer. Nós vamos para dentro e discutiremos isso como as pessoas civilizadas que somos. Ninguém morre hoje. – Ela disse aquilo como a sentença final de um juiz em seu tribunal.

*

Todos foram para dentro como assim Nôah quis – ou exigiu. Dylan estava agradecido por ela ter feito algo quanto à sua morte acontecer naquela manhã.

Estavam todos sentados no sofá impecavelmente branco da grande sala de estar. Nôah estava mais calma e tinha apagado o fogo de seus braços, o que era uma coisa boa para a mobília.

Dylan teve uma lembrança súbita dos ingleses tomando seus chás às cinco horas da tarde todos os dias, – ele mesmo já tinha se acostumado àquele estranho hábito, só não o repetira desde que tinha saído de Londres.

Mas ninguém falou. O silêncio rompia por todas as extremidades da casa, gritando tão alto que Dylan conseguia ouvir, separadamente, as batidas dos corações de todos.

– Sam se comunicou comigo – Nôah falou, rompendo a concentração de Dylan.

– O quê? – A pergunta saiu antes que Dylan pudesse evitar. Naquele momento, ele se lembrou que aquilo estava acontecendo repetidas vezes recentemente por conta das inúmeras surpresas que andara tendo.

Nôah pareceu sentir-se levemente culpada por dizer aquilo. É claro que Dylan sabia que seu pai tinha o poder de se comunicar telepaticamente com os outros lobos quando estivesse transformado, mas o garoto tentou incontáveis vezes chamar seu pai e nada aconteceu. Era como se Sam não tivesse se transformado desde que havia sido pego e isso preocupava Dylan ainda mais do que não poder falar com ele. Mas não acreditava que a única vez em que seu pai conseguira uma conexão segura com alguém de fora, escolheu logo Nôah para conversar. Ele entrelaçou os dedos e apertou a mão, tentando não demonstrar o que estava sentindo exatamente, mas não pareceu surtir efeito nem para si mesmo. Naquele momento, Dylan se sentiu traído. Era como se o ar de seus pulmões tivesse se transformando em fumaça.

Narscisa e Alex continuavam calados. Alex estava sentado perto de Dylan e parecia calmo, mas não tirava os olhos de Narscisa nem por um segundo. Narscisa ou não estava percebendo, o que Dylan duvidava, ou não estava dando a mínima quanto ao fato de ter um homem-lobo potencialmente hostil observando-a.

– Eu não tinha certeza – Nôah falou sem olhar para Dylan. – Mas foi uma comunicação muito fraca... em um sonho. Teve uma interferência. – Ela balançou a cabeça um vez, talvez tentando se lembrar o que Sam havia dito a ela. – Ele disse que eu tinha encontrado alguém ou alguma coisa, mas eu não estava procurando ninguém. Ele sabia que minha mãe poderia tentar matá-lo quando o visse, afinal, com Dylan vindo nos procurar é a única prova que precisávamos que a profecia está realmente se cumprindo. Quem quer que tenha sequestrado Sam, sabe da profecia e está envolvido de alguma forma. Talvez a pessoa queira manipulá-la... eu não sei. Mas, mãe, Sam já deve saber de parte dos planos de seu sequestrador. Ele me avisou para proteger Dylan porque se Dylan morrer, a profecia não poderá acontecer e, sendo assim, a pessoa que o pegou não precisará mais dele, ou seja, Sam morre também.

As palavras finais de Nôah abriram ainda mais a ferida que começara a se formar no coração de Dylan. Narscisa queria matá-lo e ele tinha certeza que ela não se importava tanto com Sam para querer salvá-lo também.

Só então Nôah pareceu perceber que não deveria ter dito aquilo. Nada do que disse surtiria o efeito que ela esperava em sua mãe.

– Mãe... – recomeçou ela, mas Narscisa levantou a mão, interrompendo-a.

– Eu já entendi – Narscisa falou. Seus olhos permaneciam no chão desde que ela tinha se sentado. Dylan não sabia o que estaria passando por sua cabeça agora. E, de certa forma, ele entendia o quanto ela estava assustada naquele momento. Seu instinto materno era de proteger sua filha a qualquer custo; dois homens-lobo estavam na sala-de-estar da sua casa, pedindo ajuda; duas possíveis bombas que, quando estourassem, seria em forma da profecia que agora que Dylan sabia da existência, inevitavelmente mais um peso estava sendo adicionado ao fardo que já carregava desde que saíra de Londres, e acabaria com tudo que ela mais amava em toda a sua vida. Por pura aceitação ou senso de respeito à garota presente, Dylan deveria sair daquela casa e nunca mais querer ver aquelas mulheres. Mesmo sem querer, em poucos minutos, Dylan havia estragado a vida de duas pessoas que viveram em paz por anos, fugindo de um destino que só traria sofrimento e desespero. A culpa o invadiu com o efeito de milhares de facas sendo açoitadas contra seu corpo. Por um momento, Dylan perdeu completamente o ar e começou a sentir-se tonto. – Sam só quis evitar tudo, – ela continuou – mas, no fim, nós sabíamos que aconteceria. De uma forma ou...

– Dylan?! – Ele ouviu a voz de Nôah chamando-o de longe. Seus ouvidos pareciam entorpecidos e sua visão estava embaçada; cada vez menos ar entrava e saía de seus pulmões.

O garoto não sentiu quando caiu, mas percebeu que alguém o havia deitado no sofá. Seu peito subia e descia rapidamente e ele buscava o ar que não parecia mais estar no lugar de sempre. Dylan conseguia escutar a voz de Alex se sobrepondo às outras, tentando fazer alguma coisa para ajudar, mas não foi o suficiente. Nôah empurrou Alex de lado e Dylan pôde ver que até Narscisa estava ali, falando alguma coisa para eles.

– Ele está em choque! – Informou Narscisa. – Precisa de alguma coisa para desobstruir as vias aéreas.

– Dylan! – Chamou Nôah. – Dylan! Me escute! Você precisa tentar respirar mais profundamente. Por favor, tente se acalmar.

Dylan não conseguia – não queria – fazer o que ela pedia. Não estava mais conseguindo respirar.

Ele sentiu Nôah colocando a mão em seu peito e, logo em seguida, seus pulmões se encheram de ar. Dylan tossiu algumas vezes e conseguiu normalizar sua respiração.

– Obrigado – conseguiu dizer, com esforço.

– Só... não faz isso de novo – pediu ela. – Por favor?

Dylan sorriu e Nôah lhe devolveu o sorriso.

Alex pigarreou e Dylan viu que ele trocava um olhar significativo com Narscisa.

– Você está bem, Dylan? – Perguntou Alex.

– Melhor, obrigado – ele disse, levantando-se. O garoto não conseguiu saber o que aquele olhar entre Alex e Narscisa significou, mas não se preocupou. Perguntaria o amigo quando estivesse a sós com ele. – Acho que podemos voltar à parte em que meu próprio pai escolheu não se comunicar comigo para dizer que estava ao menos vivo.

– Está agindo como uma criança, Dylan, você sabe disso – Alex disse, repreendendo-o.

O amigo apenas estreitou os olhos, sem acreditar que Alex não concordava com ele com relação à escolha de seu pai.

– Dylan, acho que seu pai escolheu se comunicar comigo porque ele sabia que você não suportaria outra despedida. – Nôah tentou explicar voltando a se sentar ao seu lado no sofá. – Tenho certeza que ele o teria feito se pudesse, mas como eu disse antes, a conexão foi interrompida... uma voz estranha disse coisas sem sentido. Quem quer que tenha pego Sam, disse que tudo está acontecendo exatamente do jeito que ele quer e que, no fim, conheceremos o verdadeiro CAOS, literalmente.

Narscisa se retesou na mesma hora. Dylan não teria notado se não tivesse prestado atenção porque ela rapidamente disfarçou o desconforto. Mesmo assim, seu movimento não passou despercebido pelos outros.

– O que está acontecendo, mãe? – Nôah perguntou, olhando diretamente para o rosto de Narscisa, que era uma máscara impassível e sem emoção.

– Não é nada – Narscisa respondeu, a voz calma. – Só acho que não importa o que fizermos, estaremos sempre caindo em uma armadilha que o inimigo está armando. Não importa o que façamos, estamos seguindo às cegas para onde ele quer que sigamos.

– Acho melhor o Dylan contar a nossa história – sugeriu Alex.

Todos olharam para Dylan, com expectativa. Ele não queria passar por tudo aquilo de novo, mas não tinha como recuar. Ele só não acreditava em duas coisas: Narscisa decidira que deveria ajudá-los rápido demais e sem explicação. E ele sabia que ela estava escondendo alguma coisa deles, só ainda não sabia o quê.

– Eu estava em uma patrulha para o bando naquela noite...

Dylan contou cada detalhe de tudo o que havia acontecido desde que ouvira o uivo de seu pai chamando por ajuda. E só agora ele começava a entender que seu pai não estava exatamente pedindo por sua ajuda, mas atraindo-o para casa, para que encontrasse sua carta. Ele realmente não o chamaria para ajudá-lo se nem ele tinha chances de vencer quem o havia pego. E então continuou com o relato. Ele não olhava para ninguém enquanto contava, tentava apenas se concentrar para não esquecer nada do que havia acontecido. Ele terminou falando sobre a carta de seu pai, que já a tinha decorado de tanto lê-la repetidas vezes tentando saber se deixara algo passar despercebido.

– O que nós temos que saber é: quem está por trás de tudo isso? – Nôah falou. – É a informação mais crucial no momento.

– A Fênix – confessou Dylan.

– Dylan – alertou Alex.

– Não. – Narscisa se levantou, olhando para Dylan com uma estranha curiosidade nos olhos. – Você não pode mais esconder qualquer informação de nós. Do que você está falando quando diz “a Fênix”?

Dylan olhou para Alex antes de responder. Ele não entendia porque Alex não queria contar a elas sobre o seu encontro com o cara com as asas na praia, mas precisava. Nôah estava mais envolvida em tudo aquilo do que ele pensava ser possível. Não tinha motivos para esconder qualquer informação dela agora. Ela era tão vítima naquilo tudo quanto ele. Alex assentiu uma vez para Dylan. Se ele queria esconder alguma coisa delas, não tinha mais jeito de fazê-lo com aquela história sobre a Fênix, então ele continuou.

– Eu estava na praia, minutos antes de encontrar Nôah pela primeira vez – explicou ele. – Só queria colocar as ideias no lugar, tentar pensar um pouco; o mar sempre me ajuda quando preciso. Enfim, chegou um homem na praia dizendo ser uma fênix. Ele tinha asas enormes nas costas e só a presença dele transmitia medo e superioridade como nenhuma outra criatura sobrenatural com quem eu já tivesse tido contato pudesse fazer. Ele confessou ter sequestrado meu pai e pediu para eu desistir da história insana de procurar por Nôah. O que eu achei mais estranho foi que minutos depois de ele ter falado isso eu, acidentalmente, esbarro com ela na floresta. Quero dizer, quais são as chances de ele saber o que eu iria fazer e ainda ter o conhecimento de onde Nôah estava naquela hora?

– Bem, – interrompeu-o Nôah – esbarrar não traduz exatamente a situação, mas...

– A questão é que temos mais um problema nas mãos – interrompeu Narscisa. – Alguém aqui sabe alguma coisa sobre a fênix?

– Bem, ele paralisou a minha transformação – começou Dylan – e também tem algum poder sobre o tempo... Ele paralisou todas as pessoas que estavam na praia aquele dia. Tudo parou. Ele não ficou nem um pouco com medo de falar que tinha sequestrado meu pai e de quando exigiu que eu voltasse para Londres... era como se não se importasse... Mas não demonstrou mais nada.

– E nem precisava, não é mesmo? – Narscisa disse. – Só com o poder de parar o tempo ele poderia nos colocar dentro de um vulcão e morreríamos sem ver o tempo passar.

– Mas esperem aí – falou Alex. – Nós temos essa vantagem...

– De morrer consumidos por lava incandescente sem ver o tempo passar? – Perguntou Nôah, soando sarcástica. Dylan deu um risinho baixo, mas Alex não pareceu achar graça.

– Não entendo como vocês não conseguem ver o quadro todo – ele disse. – Vocês não perceberam? Esse homem com as asas sabia exatamente onde encontrar o Dylan. Provavelmente sabe que estamos aqui agora mesmo. Ele poderia ter matado Dylan na praia naquele dia sem deixar qualquer vestígio. Nós nunca saberíamos o que aconteceu. O mesmo poderia ter acontecido com Nôah. Ele sabe onde e como nos emboscar, juntos ou separados. Ele conseguiu pegar o nosso líder; o lobo mais forte do bando. O que eu quero dizer é que ele precisa de Dylan e Nôah vivos. Se os quisesse mortos, acreditem em mim, já estariam mortos.

– Falando assim até parece que você trabalha para ele – comentou Narscisa.

Em parte Dylan concordava com a mulher. Mas já estava acostumado com o estilo de pensar usado por Alex. Como tinha dito, ele prestava atenção em todos os mínimos detalhes para depois juntá-los em um quadro e apresentar as melhores propostas e opções.

– Espere aí – Narscisa voltou a falar –, vocês estão mesmo falando sério? Existe uma Fênix por trás de tudo isso?

– Infelizmente sim, senhora – respondeu Alex.

– No que você está pensando, mãe? – Perguntou Nôah, olhando para a mãe, desconfiada.

– Não é o que estou pensando, minha filha – ela respondeu. – É o que vou ter que fazer. – E revirou os olhos, num gesto de impaciência.

– E o que é? – Nôah perguntou, se levantando do sofá e indo até a mãe.

Narscisa, que mantinha a expressão pensativa no rosto, esperou alguns segundos antes de responder, parecendo ponderar alguma decisão difícil.

– Está na hora de chamarmos a sua tia Alice para ajudar – ela respondeu, olhando diretamente nos olhos da filha. – Onde quer que ela esteja.

*

Depois de Narscisa declarar que iria procurar a irmã eles decidiram que não tinha muito mais a discutir, apenas esperar. Nôah havia explicado a Dylan e Alex que Alice, sua tia, conhecia muito do mundo sobrenatural. Se tinha alguém que pudesse lhes contar alguma coisa sobre a Fênix, essa pessoa era Alice. Como ele estava pensando, Alex não tinha gostado nem um pouco de ter mais uma vampira por perto. Foi só então que ele notou o quanto o amigo se esforçara para ir até a casa de Nôah e ainda escutar as reclamações de Narscisa sobre como Dylan deveria morrer para evitar um mundo de problemas.

Os dois foram para casa. Mas é claro, não antes de Nôah se certificar que Dylan estava bem mesmo. Ela dissera, baixinho, que, se ele precisasse, ele poderia chamá-la. Dylan duvidava que Narscisa não tinha escutado isso, então apenas piscou para ela quando saiu da casa e se despediu das duas vampiras.

Naquela noite, enquanto eles jantavam, Alex levantou o assunto mais uma vez.

– Mais uma vampira. – As palavras saíram devagar da boca de Alex. Tinha uma espécie de nojo incrustado em cada uma delas.

– Elas vão nos ajudar, Alex – insistiu Dylan.

– Ajudar?! – Ele estourou. – Dylan, não sei se você estava distraído demais para notar, mas Narscisa não estava querendo nos ajudar exatamente.

Dylan olhou para Alex, esperando que o amigo explicasse onde ele queria chegar com aquilo.

– Acha que eu não percebi? – Ele perguntou. – Dylan, você acha que Narscisa não percebeu? Você e Nôah estão passando dos limites aceitáveis.

– Do que você está falando, Alex? – Dylan já esperava pela resposta, mas mesmo assim perguntou; queria confirmar para si mesmo.

– Não sei se ainda é cedo para dizer, mas você está se apaixonando, meu amigo – Alex falou. – E de uma coisa eu sei, você está se apaixonando pela pessoa errada.

– E como você pode saber que ela é a pessoa errada? – Dylan quis saber.

– Dylan, você está admitindo que está gostando dela? – Ele balançou a cabeça e se levantou da mesa largando os talheres que segurava com força, dando as costas ao amigo. – É claro que sim. Eu vi... desde aquele dia... Dylan, você ficou doido? É claro que eu sei que ela é a pessoa errada para você. Ela é uma vampira. E nós caçamos vampiros.

Dylan olhou para as costas de Alex, incrédulo. De início, ele pensou que estava sentindo raiva do amigo; Alex o estava julgando quando ele mais precisava de apoio. Mas não era raiva, era algo mais parecido com decepção. Uma mágoa fria e cortante o invadiu naquele momento, fazendo com que Dylan não mais quisesse conversar com o amigo; não naquela noite. Ele precisava pensar.

– Boa noite, Alex – disse, quase um sussurro, indo em direção à porta. – Não devo demorar para voltar, – acrescentou ele – mas não precisa esperar por mim... Qualquer coisa estarei no celular.

Dylan ouviu o amigo o chamando atrás de si, mas correu. Não queria encará-lo. Apenas correu em direção à praia.

*

Em casa, Dylan tinha como controlar a temperatura com um termostato. É claro que seu corpo não respondia ao frio como os demais humanos. Sua pele tinha uma temperatura um pouco acima do normal, fazendo com que ele sempre ficasse aquecido quando as temperaturas baixavam. Mas vendo as ondas raivosas baterem contra o areia branca, o cheiro de sal no ar, as nuvens negras no céu ameaçando desabar sobre sua cabeça, e o vento cortante açoitando a areia e espalhando-a para todos os lugares, ele se permitiu sentir frio. Queria sentir-se normal ao menos uma vez. Viu seus poros se retraindo e os pelos de seus braços se arrepiando; um tremor passou por seu corpo, agitando-o.

Sem se preocupar, Dylan se deitou na areia e fechou os olhos. Queria tentar organizar seus pensamentos, mas como sempre acontecia quando ele os fechava, outros olhos o encaravam de volta. Eram cinzentos e tempestuosos; Nôah sempre o observava mesmo ela não estando por perto ou ela não sabendo que o fazia. Isso era bom; Dylan gostava, mas em parte ele se sentia sempre pressionado a fazer o certo, por ela. Não queria, de forma nenhuma, decepcioná-la. Menos ainda parecer um idiota que precisava ser salvo quando entrasse em estado de choque de novo.

E cada vez mais dúvidas se instalavam em sua cabeça. Estaria mesmo se apaixonado por uma vampira? Por que ele? Talvez não pudesse evitar mesmo se quisesse. Ou apenas não queria evitar. Como Nôah havia dito, ele sentira algo estranho quando a viu pela primeira vez. Foi como se tivesse se desprendido de algo que o segurava por tanto tempo e agora estivesse livre, mais ainda assim, não quisesse aproveitar a liberdade sem aquela garota. Ela tinha algo que o fazia querer ficar e lutar, mesmo que sua vontade de ser normal – humano –, aquela vontade louca de apenas não se preocupar com o sobrenatural, o consumisse às vezes.

Uma lembrança veio à sua mente, levando-o de volta ao passado, pouco mais de um ano atrás.

***

O sol estava quente naquele dia. Dylan o aproveitava na beira da piscina de sua casa em Londres. Seu pai e Alex também estavam deitados em espreguiçadeiras brancas, assim como Dylan.

Alex se levantou com um suspiro de impaciência e disse que tinha que ir, pois em meia hora faria uma patrulha com seu pai.

– Já cansado da vida de lobo, Alex? – Brincou Sam.

– Não, senhor – ele disse. Dylan riu quando ele usou aquela formalidade com seu pai; Alex não era assim. – Eu só queria que algo acontecesse... isso aqui é um tédio para a minha cabeça – Sam levantou uma sobrancelha de modo interrogativo a Alex e ele apenas balançou a cabeça e saiu, murmurando para si. – É pedir demais? Algo grande?

Depois que Alex se foi, Sam quebrou o silêncio, dizendo:

– Dylan, você quer saber o que a mãe do Alex é?

Seu pai não o estava olhando quando fez a pergunta. Dylan via o céu através das lentes escuras de seus óculos. O garoto não entendeu o que o pai queria dizer com aquilo, então perguntou:

– Saber o que ela é? Como assim?

– Bem como eu pensei – observou seu pai, pensando alto como sempre fazia quando tinha algo o preocupando. – Joseph não deve ter contado ao Alex, certamente você também saberia.

Joseph era o pai de Alex. Agora que seu pai havia tocado no assunto, Dylan entendeu o que ele queria dizer. Alex tivera aquela conversa com ele há alguns meses, mas pedira para ele nunca contar nada a ninguém. Ele também não deveria saber de nada, como assim seu pai queria. Dylan ficou tentado a contar para seu pai que sabia, tinha certeza que ele manteria a discrição, mas sentiu que trairia Alex se o fizesse. Aquele era um dos maiores segredos do amigo. Então deixou que seu pai continuasse a falar sem interrompê-lo.

– Rosie é uma bruxa, meu filho – Sam explicou. – Ou era, há um tempo atrás. Depois que perdeu os poderes, a mãe de Alex nunca mais foi a mesma.

– Isso é importante? – Dylan perguntou, querendo saber se seu pai sabia mais do que ele próprio.

– Agora vai ser – declarou seu pai levantou-se da cadeira, olhando para Dylan ainda deitado. O garoto olhou para o pai e se sentou, esperando que ele contasse o resto da história. – Venha comigo, Dylan, está na hora de eu te contar uma coisa.

Ele achou estranho o pai falar aquilo. Ele estava começando a achar que tinha mais coisa naquela história que nem mesmo Alex sabia.

Sam seguiu para a porta dos fundos que dava para a cozinha e Dylan foi atrás dele. Eles passaram pelos cômodos da casa e Sam entrou em seu quarto. Era grande, tinha uma cama enorme encostada na parede no meio do quarto e, na frente, um tapete negro, grande e espesso no chão; ao lado da cama tinha uma pequena estante com algumas fotografias dele, de Dylan e de Marie, sempre sorrindo, e ainda alguns livros ao lado; do outro lado do quarto estava a porta para seu banheiro e uma outra que dava para seu pequeno closet; Sam não se dava muito bem com o luxo, sempre dizia que o desnecessário não deveria existir.

– O que está acontecendo, pai? – Dylan perguntou.

Sam olhou para Dylan antes de responder.

– Eu já te contei como conheci sua mãe, Dylan? – Perguntou ele com um sorriso dançando em seus lábios, provavelmente lembrando-se da ocasião.

– Não – Dylan respondeu. – Mas por que isso agora, pai? Por que falar da mamãe?

– No fim da história você vai descobrir, Dylan – falou ele. – Quer ouvir?

– É claro – Dylan disse, com notável curiosidade.

– Bem, – Sam riu mais um vez antes de continuar – nós nos odiávamos. – Contou ele, ainda rindo. – Mas só porque eu era muito estúpido para perceber o óbvio. Ela sempre foi muito metida na escola, sempre queria me confrontar na frente dos meus amigos, me fazendo passar vergonha, nunca perdia uma oportunidade sequer. Eu confesso que tenho certa carga de culpa nisso. Eu não era santo e sempre que podia também retribuía cada uma de suas peças, às vezes pior. Isso se repetiu por vezes seguidas até no dia do baile de outono da escola; no fim das contas ficamos os dois sem par. Dispensávamos todas as pessoas que nos convidavam e nos recusávamos a admitir que queríamos ir juntos, então acabamos indo sozinhos. – Ele fez uma pausa, estreitando os olhos e apertando os lábios. – Isso foi até eu perdê-la de vista na festa – ele continuou. – Eu nunca admiti isso à sua mãe, nem mesmo depois que ficamos juntos, mas eu vigiava cada um de seus passos, o que só depois eu percebi ser a vontade que eu tinha de protegê-la. Bem, quando não a vi mais, fui até suas amigas e perguntei, mas algumas disseram não terem-na visto e que não estavam preocupadas, pois ela reapareceria em algum momento, outras disseram que ela tinha seguido na direção da saída, mas não tinham certeza. Segui minha melhor pista... Naquela época eu já sabia que podia me transformar em lobo, tinha um ou dois anos a mais do que você tem agora... eram muitos cheiros misturados... eu não consegui sentir o dela especificamente. Mesmo assim não desisti de encontrá-la.

“Fui para a saída do colégio, mas não a encontrei. Foi quando ouvi um barulho no estacionamento e corri até lá. Segui sorrateiramente entre os carros e cheguei em uma área mais aberta e ela estava lá, mas não estava sozinha. Três vampiros estavam tentando pegá-la, mas ela fazia alguns feitiços e estava conseguindo afastá-los. Eu não sabia que ela era uma bruxa e fiquei fascinado por ela conseguir lidar com três vampiros sozinha. Depois ela me viu e pareceu perder a concentração e os vampiros conseguiram segurá-la. Quando vi aquela cena algo aconteceu dentro de mim. Eu não sei bem o que houve, mas quando recuperei os sentidos, um dos vampiros estava sob minhas patas, os outros, também mortos estavam deitados, imóveis, sem suas cabeças.

“Eu voltei à forma humana, mas não cheguei perto dela. Temi tê-la assustado, mas sua reação foi totalmente contrária ao que eu esperava. Marie correu até mim, me olhou nos olhos e me abraçou, me agradecendo por tê-la salvado. Naquele momento, eu entendi o que tinha me feito correr e matar aqueles vampiros. Como você sabe, somos treinados para matar os sobrenaturais que representam ameaça a qualquer outro ser vivo, mas não foi isso, era muito mais do que apenas meus instintos. Eu percebi que não podia deixar que ela se ferisse, não podia deixar que nada de ruim lhe acontecesse; eu percebi que tinha encontrado a mulher com quem eu queria viver o resto da minha vida. Ela tinha aquela coisa de ficar me olhando com aqueles olhos azuis, assim como os seus, com uma cara engraçada, como se não acreditasse que eu estivesse realmente ali... Daquele momento em diante, nunca mais nos separamos.”

Ele parou de falar. Dylan estava um pouco atordoado com aquela história. Não era como das outras vezes que seu pai lhe contara que sua mãe o amava ou que fora ela quem escolhera seu nome. Aquela história o pegou de surpresa. Seu pai tinha vivido uma história de amor verdadeiro até que o destino decidiu que não queria mais aquilo e os separou.

– Rosie e Marie eram melhores amigas – ele continuou. – Ambas bruxas de famílias muito poderosas. Quando eu comecei a namorar com sua mãe, Joseph tinha conhecido Rosie e eles ficaram juntos também. Eu acabei por descobrir que Joseph era um homem-lobo de uma família distante e não identificada e estava procurando um bando para se instalar. É claro que o ofereci para ficar. Marie e eu nos casamos, Rosie e Joseph, logo em seguida... não demorou para que as duas ficassem grávidas. E então vieram as complicações.

Sam parou de falar só por um instante e encarou Dylan, que estava na sua frente. Ele parecia querer encontrar sua mulher há muito falecida dentro dos olhos do filho, mas sempre se decepcionava.

– Joseph e eu ficamos desesperados e fomos atrás de respostas. Encontramos uma bruxa que poderia nos dar as informações que precisávamos. Ela ficou chocada quando contamos nossa história. Disse que há muito tempo não se ouvia casos de dois seres de espécies diferentes conseguirem gerar uma prole, especialmente um homem-lobo com uma bruxa. Quando perguntamos o que ela queria dizer com aquilo, a resposta veio como uma bomba: nossos corpos não eram compatíveis, as duas morreriam, assim como seus filhos.

“Quando voltamos, frustrados, com as respostas para casa, as duas apenas sorriram. Elas eram altruístas demais para quererem fazer alguma coisa para se salvar. Vocês não demoraram muito mais para nascerem e eu só pude ter fé de que a bruxa estava errada. Foram dias difíceis, Dylan, os mais difíceis da minha vida, assim como foi para Joseph. Não sabíamos o que fazer, elas não comiam e vocês precisavam se nutrir para que resistissem por mais tempo.

“Entenda, elas não tinham escolha e Marie parecia saber disso. Foi quando ela fez seu último ato de magia. Eu não entendi o porquê de ela fazer aquilo, mas não questionei muito. Àquela altura eu já nem saia mais de casa, apenas cuidava de vocês. A única coisa que ela me explicou que fez sentido foi que tempos sombrios estavam se aproximando e você estaria no meio de tudo quando começasse a acontecer. Ela não sabia exatamente o quê, mas disse que te ajudaria a passar por tudo, de certa forma. Sua mãe disse que você saberia o que fazer quando chegasse a hora.”

Sam afastou sua cama um pouco para a direita e, no chão de madeira, abriu um pequeno compartimento, que Dylan nunca teria notado se não focasse bem a visão em um ponto específico. Dentro havia um cofre com um painel numérico. Seu pai digitou a senha e abriu a pequena porta do cofre, tirando de lá uma coisa que reluzia um pouco à luz que entrava pela janela.

Quando ele abriu a mão, tinha um cordão de ouro com pingente dentro dela. O pingente era um infinito duplo, também feito de ouro. Sam o entregou a Dylan e o garoto o revirou na mão, admirando-o.

– Eu dei isso a ela quando começamos a namorar. – Explicou ele. – Ela nunca o tirou. – O feitiço está aí dentro, preso de alguma forma, mas eu não faço ideia do que se trata. Marie morreu antes que pudesse me falar mais sobre o que tinha feito. Ela apenas disse que você precisará dar isso à pessoa certa e só então tudo poderia se resolver.

– Pessoa certa? Hora certa? – Perguntou Dylan. – Como eu vou saber isso tudo?

– Confie em sua mãe, Dylan – seu pai disse. – Ela nunca fazia uma coisa em vão. Apenas espere, tenho certeza que você saberá o que fazer.

– Mas, pai, se minha mãe morreu por causa das complicações na gravidez... Bem, não que eu esteja reclamando, mas como a mãe de Alex fez para sobreviver?

– Como eu disse antes, filho – recomeçou ele –, as duas não tiveram escolhas. Nós nunca colocamos a culpa em vocês, nós os amávamos mesmo quando ainda não tinham nascido. Nós faríamos qualquer coisa para vocês nascerem saudáveis. Mas a prole de um homem-lobo com uma bruxa é muito poderosa e tudo precisa ter uma fraqueza, meu filho. Cada ação da natureza tem uma reação diferente. Sua mãe morreu e a mãe de Alex não, mas ela perdeu seus poderes. E para uma bruxa perder os poderes é quase o mesmo para um humano perder os movimentos dos braços e pernas. Ela não consegue mais fazer nem o mais simples feitiço. Rosie disse que teria dado sua vida, assim como sua mãe fez por você, para que Alex vivesse se assim ele precisasse. Joseph e Rosie agora tem algo que realmente vale pagar qualquer preço, mas ainda assim é uma grande perda. Acho que Joseph não contou nada ao filho ainda porque ele teme que Alex possa fazer alguma besteira. Você conhece Alex, melhor do que qualquer um, sabe o que passa por aquela cabeça... Talvez seja melhor deixar tudo como está.

Sam encarou o filho, mas só depois de um tempo que Dylan percebeu o que ele queria dizer com aquele olhar. Ele estava se certificando que Dylan não contasse nada daquilo a Alex, mesmo o amigo já sabendo de parte da história. Alex só não conhecia os detalhes, mas isso não importava agora.

– Pai. – Dylan se empertigou, mas resolveu que não podia mais esconder aquilo. – Pai, não conte nada ao Joseph, por favor, mas Alex já sabe dessa história e eu também. Ele ouviu os pais conversando sobre isso há algum tempo e me contou logo em seguida. Alex se sente culpado, sim, mas ele não vai fazer nada para se prejudicar ou aos outros...

– Dylan... – interrompeu Sam, falando baixo como se desse uma notícia ruim a alguém feliz – você não pode saber...

– Pai, Alex é o meu melhor amigo – insistiu Dylan. – Vou sempre me certificar de que ele não fará nenhuma besteira. Enquanto eu puder evitar, nada vai acontecer a ele.

Sam sorriu para o filho, mas Dylan percebeu que ele se esforçava mais do que deixava parecer. Não era um daqueles seus sorrisos que chegavam aos olhos. Tinha algo entre preocupação e tragédia em sua expressão e ele tentava esconder desesperadamente, sem sucesso.

Dylan desviou o olhar; seu pai estava escondendo alguma coisa dele, mas Dylan não tinha coragem de insistir no assunto. Sam não era conhecido por se deixar parecer vulnerável como naquele momento, mas a história que tinha contado teve esse efeito. Não insistiria no assunto.

– Pai, posso te fazer uma última pergunta? – Falou Dylan, um pouco constrangido. – Será a última, prometo.

– É claro, meu filho – respondeu Sam, soando cansado.

Dylan apertou o pequeno colar na mão direita, tentando saber o que ele poderia fazer com ele e quando essa hora iria chegar.

– Você disse que a razão para um homem-lobo e uma bruxa não terem filhos é que as proles são muito poderosas. Mas poderosas como? Por acaso, eu poderia lançar feitiços?

– Não sei, Dylan – falou Sam. – Talvez sim, talvez não. O poder das bruxas vem da natureza, isso quer dizer que pode se manifestar de muitas formas diferentes ou nunca se manifestar por algum bloqueio...

Dylan fez menção de entregar o colar a seu pai, mas Sam o recusou, dizendo:

– É seu agora. – E vendo a preocupação do filho, continuou: – Dylan, não se preocupe. Não mãe não errou quanto a você ser alguém muito especial. Você fará a coisa certa, tenho certeza.

A partir daquele dia, Dylan nunca havia se separado daquele colar. Levava ele sempre no pescoço, mas o mantinha escondido debaixo da camisa para não se separar mais de sua mãe.

***

Uma das últimas respostas de seu pai estava martelando em sua mente naquele momento, como se fosse um pássaro preso em uma gaiola pequena demais, desesperado para sair.

Dylan olhou para o mar mais uma vez; parecia nunca se cansar de fazê-lo. Ele se levantou e foi até o mar, tirando os tênis e puxando a barra da calça para cima e andou até onde as menores ondas se desmanchavam na areia. Não era nada que já não tivesse feito antes, mas ele nunca se acostumaria com a sensação que o tomava sempre que o fazia.

Ele não sabia se era da mesma forma para as outras pessoas e nunca pensou em perguntar, mas seus pensamentos fluíam melhor dentro de sua cabeça; pareciam querer se organizar sozinhos.

Depois de ter aquela lembrança de seu pai lhe contando como ele se sua mãe se conheceram, Dylan ficou pensando se a história não estava se repetindo agora, não da mesma forma, é claro, com ele. Era algo totalmente novo para Dylan; ele nunca imaginou que no tortuoso caminho para encontrar seu pai, ele acharia o amor à espreita, só esperando para agarrá-lo e nunca mais querer soltá-lo. Alex não tinha gostado nem um pouco depois que percebeu o que Dylan sentia por Nôah e ele não o culpava. Ela era uma vampira e os vampiros não era conhecidos por autocontrole e pacificidade; além de eles precisarem de... e afastou aquele pensamento. Não tinha como ele pensar em Nôah daquele jeito. Ele tinha certeza que ela nunca mataria para sobreviver se tivesse outro meio de fazê-lo. Ela vivia de um modo completamente diferente dos vampiros que Alex e ele combatiam em Londres. Nôah tinha todos aqueles poderes ao seu dispor e ainda sua mãe para ajudá-la; elas não precisavam temer ninguém se não quisessem. Poderiam fazer qualquer coisa e ainda assim viviam sem ferir ninguém.

Ele acreditava que era só uma questão de tempo para Alex se acostumar com a ideia. Ele mesmo dissera antes que não escolhemos por quem vamos nos apaixonar. E Dylan não tinha escolhido. Ele só pensou que as vezes era mais difícil aprender a controlar suas prioridades e isso não queria dizer que Dylan deixaria de tentar encontrar seu pai. Ele conversaria com Alex mais tarde sobre isso e esclareceria tudo, afinal, ele ainda não tinha dito à Nôah que gostava dela. Ainda tinha algum tempo quanto a esse assunto.

Dylan começou a pensar em que tipo de bloqueio seu pai tinha se referido ao dizer que ele podia despertar algum poder extra. Talvez por ele não saber ou não pensar sobre isso fizera com que sua parte bruxo ficasse adormecida. Mas o que ele podia fazer para ativá-la? Se, no fim, tivesse que enfrentar a Fênix, ter aqueles poderes extras, fossem eles quais fossem, poderiam vir a ser alguma vantagem. Ele nunca tinha presenciado uma bruxa fazendo feitiços antes e, por isso, não sabia o que fazer. Era totalmente bizarro saber que podia, além de seus poderes de homem-lobo, despertar algum legado que sua mãe tinha deixado para ele.

Ao pensar em sua mãe seu coração pareceu dar um salto. Ele sentia falta dela, apesar de seu pai sempre dizer que ela a amava e que estaria cuidando dele se possível. Naquele momento ele levou a mão ao pescoço, segurando o colar com o pingente em forma de infinito duplo, lembrando-se mais uma vez de seu pai o entregando. Sam nunca deixou nada faltar para Dylan, mas ele sentia falta da mãe mesmo sem conhecê-la. Ela tinha escolhido seu nome logo depois de ele nascer, segundo seu pai... Aquele que veio do mar.

Se havia uma possibilidade de que Dylan pudesse ter mais poderes do que imaginava, então Alex também poderia ter, sendo também filho de uma bruxa. Talvez Alex gostasse de ouvir aquela notícia; ele sempre reclamava que nada grande acontecia. Mas aquele era um assunto delicado para o amigo. Dylan entendia a culpa que Alex dissera sentir por ter nascido e isso ter feito sua mãe perder os poderes.

Ele se concentrou, tentando encontrar alguma coisa que nunca tinha notado dentro de si; alguma força, energia, qualquer coisa serviria. Dylan ficou daquele jeito pelo que lhe pareceu quase meia hora, mas ele tinha certeza que não passara tanto tempo assim. tinha que encontrar esse tal bloqueio...

Dylan começou a imaginar seu ser sobrenatural dividido em duas partes dentro de si. Exatamente iguais, coexistindo sem atrapalhar um ao outro. Um ativo, sua parte lobo, outro dormindo, a parte bruxo. Quando tentou acessar a segunda parte, algo o estava bloqueando... era uma parede que logo se transformou em uma porta. A porta era enorme e impedia sua passagem, não tinha sequer uma fechadura ou qualquer tipo de alavanca para abri-la. “Descubra, Dylan.” Falou uma voz em sua cabeça. “Você está chegando perto, qual é o poder?” Mas ele não sabia a resposta, sabia? Poderia ser milhões de poderes diferentes... coisas que ele nem sequer sabia poder existir. Mas e se...

Ele abriu os olhos e tudo pareceu fluir de uma só vez. Dylan conseguia sentir cada molécula de água salgada à sua volta. Era como se um gigante estivesse acordando de um sono profundo e agora quisesse apenas ser livre. As ondas já não quebravam mais na areia como antes... não havia mais ondas, na verdade. Paredões de água salgada de mais de cinco metros de altura se agitavam e se erguiam no ar como se tivessem vida própria.

Era o mar. Dylan tinha o poder sobre o mar, assim como sua mãe tinha previsto.

Com um movimento das mãos, ele fez com que os paredões se desmanchassem devagar e tudo voltou ao normal. Era como se ele ganhasse um novo membro, um novo braço. Ele sentia o movimento do mar como algo dentro de si. Cada onda que quebrava, cada ser vivo que dentro dele vivia, tudo o que se movimentava ou não...

Sua mãe tinha deixado isso para ele. O mar.

Ele não podia fazer feitiços como as bruxas. Sua mãe tinha morrido. O poder Rosie foi todo drenado assim que Alex nasceu. Rosie não tinha morrido. O que Alex podia fazer, então?

“Dylan significa aquele que vem do mar.” Seu pai tinha dito.


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