Acordei com dor de cabeça e um zumbido estranho nos ouvidos, como se tivesse batido a cabeça. Gemi infeliz sem nenhuma vontade de abrir os olhos, mas o fiz mesmo assim, e ai o negocio ficou esquisito. Eu estava em um quarto redondo, com uma cama de solteiro (onde eu estava dormindo) e um criado mudo. Mais nada. Só por curiosidade eu abri a gaveta que estava vazia

― Você finalmente acordou, querida ― um homem de pele clara e cabelo escuro falou entrando no quarto ― estava ficando preocupado, sabe Bonnie.

Eu não sabia do que ele estava falando.

― hein? como assim? Eu... Quem é você

Ele pareceu desapontado enquanto se sentava

― Me disseram que isso podia acontecer... ― ele acariciou meu cabelo ― você bateu a cabeça, filha, faz algumas semanas, você se perdeu na floresta e acabou sendo abordada por lobos. Então subiu em um arvore para se proteger. Eu... Eu tentei te proteger, mas quando os lobos foram embora, quando achei que você estava segura ― ele parecia tentar engolir uma bola de gude ― você escorregou descendo da arvore e bateu a cabeça... Em um galho, depois no chão. Eu fiquei tão desesperado... Você ficou esse tempo todo no hospital, quando eles disseram que você podia voltar...

Percebi seu desespero e forcei um sorriso.

― Claro. Eu... Me lembro... Muito pouco, mas ainda assim, lembro

Ele deu um sorriso triste, como se soubesse que era mentira. Passamos o restante do dia nos divertindo com varias coisas, ele sabia tudo que eu gostava, parecia mesmo ser meu pai. Mas então começou a escurecer

― Tenho que ir fazer uma coisa lá fora. Fique aqui ― para não voltar a se machucar ele não disse ― certo?

― Tudo bem ― respondi

Ele foi embora. Depois de alguns minutos eu fiquei meio entediada. Cheguei a me analisar no espelho: olhos e cabelos negros, pele clara. Certamente muito parecida com meu pai, mas ainda havia algo de errado. Quer dizer, eu me sentia estranha olhando meu próprio reflexo.

Der repente eu ouvi um som estranho lá fora, como se duas pessoas corressem, então ele foi finalizado com um som de queda, em seguida um grito e por fim, o silencio ensurdecedor.

Com algum medo, fui ver o que tinha acontecido. Eu temia pelo que meu pai falou dos lobos. No inicio temi até que fosse ele que caiu, e que foi pego pelos animais, mas logo percebi que o grito não fora na voz dele

― É, não pode ser ele ― disse dando uma risada nervosa

Me aproximei e olhei por entre os galhos das árvores, lá estavam um garoto e uma garota, ela usava camiseta e jeans que talvez já tivessem sido bonitos, mas agora estavam sujos como se ela tivesse rolado com eles na lama, aliás, a própria garota nas roupas não estava muito bem, de joelho, suja, e desesperada, com o companheiro desacordado no colo. O garoto, com cabelos negros e curtos, uma camisa da AC/DC e jeans lagos, parecia um tanto do tipo largado, mas é especialmente difícil julgar alguém que está desacordado. Eu teria ficado mais tempo ali, bastou um pequeno movimento em falso para a garota me pegar

― Hei, você o que está fazendo ai? ― ela perguntou

Engoli em seco e sai do meu esconderijo

― Eu... Eu só... Só ouvi um barulho estranho e fiquei curiosa, e então... Então eu... ― só então olhei pra cara da garota. Ela me olhava como se eu fosse algo extremamente perturbador ― hã... Algum problema?

― Você... Você é a outra.

Pisquei. O que?

― O que? ― falei ― desculpe, mas não sei do que você está falando. Meu nome é Bonnie.

Essa foi a vez dela ficar confusa.

― Não se lembra de nada?

― Defina “lembrar”

― Bom ― ela suspirou ― o que aconteceu á dois dias atrás?

― Hã... Eu... Ok, não lembro de nada. Mas afinal, que é você

― Eu sou... ― ela mordeu o lábio e se corrigiu ― Eu costumava ser Ester, a maga do castelo de Alexandro