Medo de falhar escrita por Mortícia


Capítulo 7
Confissões


Notas iniciais do capítulo

Olá! Dessa vez tentei o mais rápido que pude. Espero que gostem!

Para quem tiver interesse, a música do violino foi essa:
https://www.youtube.com/watch?v=f_FfAi68aW8



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Alguns dias se passaram após a conversa com Mycroft, John tentava não pensar muito sobre o assunto já que o Holmes mais velho disse que iria resolver, ele esperaria. Enquanto isso Sherlock ainda agia estranhamente. John achava que nunca conseguiria se acostumar com essa mudança drástica do amigo.

Enquanto voltava do trabalho decidiu passar no mercado para levar algumas coisas que estavam faltando em casa. As casas estavam começando a serem enfeitadas para o natal, John passava tanto tempo preocupado com seu trabalho que nem se lembrou que estava chegando, gostava da sensibilidade que a data trazia, as pessoas solidarias umas com as outras, a alegria dividida entre familiares e amigos, a ceia e a troca de presentes, sentia falta dos natais que passava com sua família antes de ir para a guerra. Mas o que faria nesse natal? Molly e a sra. Hudson iriam viajar, e não tinha intimidade e nem gostava tanto assim do pessoal do trabalho. Nem considerava a ideia dos irmãos Holmes, sabia o quanto os dois odiavam essa data. É, talvez tivesse que passar em algum barzinho com pessoas que também não tenham com quem passar o natal, quem diria.

Chegou em casa, estava cansado, guardou as compras e subiu para seu quarto, tomou um banho e desceu para ler alguma coisa antes de dormir.

Sherlock estava em sua poltrona dedilhando seu violino olhando para o nada.

– Por que não toca alguma coisa?

Sherlock sai do transe olhando para John.

– Você está lendo, não queria atrapalhar.

John ainda se sentia estranho quando Sherlock agia pensando nele.

– De forma alguma, eu gosto de te ouvir tocar. Vamos, toque alguma coisa pra eu ouvir. – Fecha o livro e espera.

Se Sherlock ficou nervoso ele não demonstrou, levantou-se de sua poltrona e empenhou o violino com a graciosidade de um felino e inspirou fundo.

Sherlock tocou “air” uma peça para violino de J.S Bach. John ficava fascinado pela forma que Sherlock deixava se levar pela música, a forma que seu corpo se movia em harmonia com a música, sua expressão... Nesses curtos minutos John era capaz de compreender o que Mycroft disse. Sherlock de fato possuía uma parte humana e essa parte humana era de uma sensibilidade e beleza incomparável. Sherlock nunca o deixava de surpreendê-lo.

Ao fim da peça, John bate palma deixando certo detetive encabulado.

– Wow! Perfeita Sherlock, é Bach?

– Sim, você conhecia?

– Não, mas algo na música me lembrava das melodias dele. Você é mesmo incrível.

– Obrigado, John! – Agora as maçãs de Sherlock demonstravam o quanto ele estava encabulado.

– Como você aprendeu?

– Quando criança. Mycroft fazia boxe depois da escola, então minha mãe insistiu para que eu fizesse algo também, eu sempre fugia das aulas até que um dia ela contratou um professor particular e por toda a aula ela nos trancava no quarto até que um mês depois ele pediu demissão.

– E o que você fez pra que ele pedisse demissão? – John ria.

– Hm, nada de mais. Somente consegui construir um método que fosse melhor que o dele, assim eu consegui aprender e teoricamente poderia me livrar dele mais rápido. Mas agradeço a ele, se não fosse por seu método ineficaz eu não teria dado chance ao violino.

– Sempre quis aprender algum instrumento, mas nunca tive oportunidade.

– E por que não? – Sherlock voltou a sentar-se em sua poltrona, manteria o plano de mostrar interesse em tudo que John falaria.

– Ora Sherlock, você deve saber muito bem, não conseguiu deduzir?

– Sei que teve problemas na infância e adolescência, pai alcoólatra, irmã homossexual...

– O fato de Harriet ser homossexual nunca nos atrapalhou em nada. Sempre fomos unidos e minha mãe e eu sempre a apoiamos.

– Acredito que seu pai não.

– Aonde você quer chegar com isso, Sherlock?

– A lugar nenhum. Apenas gostaria de saber mais sobre meu companheiro.

– Ok, não vejo motivos para esconder apesar de não gostar de lembrar dessa época. Mas prometa não interromper.

– Você tem minha palavra. – Sherlock ergue a mão direita na altura da orelha.

– Bom, como sabe eu vim de uma família muito humilde e problemática, após o nascimento de Harriet minha mãe teve que parar de trabalhar porque não tinham com quem deixa-la, como eles não possuíam ensino superior ganhavam pouco, isso afetou bastante a economia da família. Após meu nascimento a pressão era tanta que meu pai se tornou alcoólatra, ele culpava minha mãe por ter engravidado de mim. Um dia quando eu tinha oito anos, meu pai chegou bêbado em casa e após discutirem muito ele tentou agredir minha mãe com uma faca, eu não pude assistir a tudo de braços cruzados então pulei na frente para defendê-la, a faca cravou no meu ombro que por coincidência foi no mesmo lugar que anos depois levaria um tiro. – Um pequeno sorriso amargo surge nos lábios do ex-soldado. – Então, com muito custo o expulsamos para fora de casa. Minha irmã na época tinha 14 anos então ela conseguiu uns bicos para ajudar em casa. Enquanto as duas trabalhavam eu ficava arrumando a casa e preparando a comida, não tinha muito tempo para fazer outras coisas. Assim que terminei o ensino médio consegui um trabalho num mercadinho perto de casa, com o que ganhava ajudava minha mãe e com uma pequena parte comprava livros para estudar, passei três anos da minha vida estudando feito louco para passar em medicina, quando finalmente consegui não podia me descuidar já que tinha bolsa de baixa renda não podia tirar notas baixas e bom, eu estudei minha vida toda em escola pública e convenhamos não sou nenhum gênio, dispensei várias noites de farras para estudar... e depois veio o exército... – a expressão de John mudou de nostálgica para serena. – E é por isso que não tive oportunidade para aprender um instrumento.

Sherlock sabia que a vida de John não tinha sido um mar de rosas, mas não sabia que havia sido tão intensa e... triste. Não sabia como reagir a momentos como esse então fez a primeira coisa que passou por sua mente.

– Vamos John, levante-se.

Sherlock pegava em suas mãos, fazendo-o ficar de pé.

– Mas o que... O que está fazendo?

– Pegue o violino.

– Mas eu não...

O moreno coloca o instrumento nas mãos do mais baixo.

– Agora segure o braço com a mão esquerda e coloque o corpo do violino no ombro, esse equipamento embutido embaixo se chama espaleira ela dará mais estabilidade, agora apoie seu queixo na queixeira, obviamente.

John tenta fazer como Sherlock o instruiu, de forma desengonçada.

– Você tem que entender o violino como uma extensão do seu corpo, ele faz parte de você. Tente deixa-lo o mais reto possível, assim. – Sherlock ajeitava o violino em John.

Os dois estavam muito próximos, John sentia seus batimentos acelerar. Sherlock tinha um cheiro tão bom, tão suave.

– John, está me ouvindo?

– De-desculpe. O que disse?

– Disse para ficar com o violino empenhado por alguns minutos, para que se acostume um pouco. – A voz de Sherlock era apenas sussurro. – Agora preste atenção no nome das cordas. De baixo para cima, da mais aguda para a mais grave temos Mi, Lá, Ré e Sol. – Sherlock segurava a mão direita de John e o fazia dedilhar as cordas para ouvir o som.

– Tente se familiarizar com o som de cada nota.

A mão de Sherlock era quente e macia. Os dois estavam tão próximos até John abrir a boca.

– Sherlock, não consigo mais segurar o violino, meu braço está cansado.

– Ok, pode abaixar. Isso é normal, aos poucos você vai se acostumando. – Sherlock olhava para os olhos de John, o loiro estava corado.

– Obrigado pela aula, mas acho que não levo jeito para isso, deixo a responsabilidade de alegrar a casa com música a você. – disse sorrindo para não transparecer muito o quanto se sentia desconfortável com tamanha proximidade.

– Mas é claro que consegue, você estava se saindo bem.

– Obrigado. – John olhava de volta para o moreno, que se aproximava cada vez mais.

– Bem, agora irei dormir. Amanhã tenho trabalho e já está tarde. Boa noite, Sherlock.

Sherlock ouviu a porta do quarto do loiro de fechar.

– Droga, John. – A voz do detetive não foi mais que um sussurro.

♥♥♥

Na manhã seguinte, Sherlock estava empenhado tocando seu violino, quando ouve a porta se abrindo e uma voz reconhecida.

– Olá, irmãozinho!

Sherlock ignora e continua a tocar.

– Sherlock, por favor, não seja mal educado essa hora da manhã.

Sherlock obedece ao irmão largando seu violino.

– Olá, Mycroft, o que deseja? Gostaria de um chá? – diz Sherlock, irônico.

– Sem açúcar, por favor.

Sherlock revira os olhos e se joga em sua poltrona, ficando todo esparramado e demonstrando tédio.

– Eu e John estamos nos encontramos sabia? Conversamos sobre algumas coisas, especialmente sobre você.

Sherlock rapidamente leva seus olhos até Mycroft.

– Sherlock, você está ficando tão lento que nem consegue mais deduzir coisas óbvias ou está tão obcecado pelo seu novo conflito pessoal que fica cego mesmo para coisas que estão na sua cara?

O moreno se ajeita na poltrona até ficar numa posição ereta e encara Mycorft.

– Seja lá o que John possa ter dito esqueça, Mycroft. Não se intrometa.

– John está preocupado porque você ficou três semanas em crise e desde então não procura caso nenhum. Quando ele contou, automaticamente deduzi o que poderia ser, só que não pensei que pudesse ser tão sério. Como pode se deixar levar, irmão meu? – fala com tom preocupado ao menos tempo que um pouco irônico.

– Não sei do que está falando.

– Oh Sherlock! Por favor, não insulte minha inteligência. – Mycroft se mostrava indignado. – Sei que está totalmente perdido, é compreensível.

Sherlock ouvia tudo com um olhar vago enquanto Mycroft continuava a falar.

– É a primeira vez que se importa verdadeiramente com alguém e está assustado, eu sei que está.

Mycroft era como Sherlock, dizer que havia cometido um erro ou fingir que estava louco não adiantaria nada.

– E o que você entende de sentimentos, Mycroft?

O Holmes mais velho dá um sorriso no canto da boca.

– Com certeza mais que você.

Sherlock tentava não aparentar surpresa. Então o coração de Mycroft havia o traído também.

– John é um bom homem, um dos únicos que se aproximou sem interesse. Ele se preocupa de verdade. Só está confuso. Você tem sorte, Sherlock.

– Com isso você quer me dizer que John corresponde...?

– Obviamente. Sei que não se acha merecedor e talvez não sejamos. Pessoas como nós não deveriam ter esse privilégio. Mas tome cuidado, lembre-se de que se importar nunca foi vantagem.

Ssherlock consideraria o que Mycroft dissera, sempre considerava.

Diferente do irmão que raríssimas vezes dava uma escorregada, Mycroft nunca errou em uma dedução.


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Notas finais do capítulo

Por ventura e para não perder o costume, desculpem algum erro na escrita. Geente, só lembrei agora, me esqueci completamente da Sarah hahaha Tenho que fazer o John da um pé nela logo :x

E comentários são sempre ótimos s2



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