John estava pensativo, o que estaria acontecendo com ele? Toda vez que via Sherlock se sentia diferente, não como dois grandes amigos se sentem na companhia um do outro, era de outro jeito. Sherlock o fazia ficar de boca aberta devido sua tamanha inteligência, o fazia suspirar quando passava por ele e deixava um rastro do seu perfume, o fazia estremecer ao simples encontro das mãos na trocas das canecas de chá e o deixava sem folego quando o olhava fixamente com aqueles pálidos olhos azuis. Na verdade John sabia muito bem do que se tratava, já havia se sentido assim, mas apenas uma única vez. A grande verdade era que estava apaixonado pelo mais arrogante e único detetive consultor do mundo e não seria nada de mais se ele não fosse também seu melhor amigo.

“Poxa John, você precisa sempre acabar com tudo?”

Achava essa ideia absurda, como se deixou levar dessa forma? Nunca se interessou por homens na vida, por que agora?

Sherlock era inteligentíssimo, sempre imprevisível e muito atraente, viver com ele era dizer adeus a rotinas, ao contrário de John que era o mais simplório e óbvio de todos. Claro que Sherlock não se interessaria por ele. O amigo já estava apaixonado por alguém que John não sabia e toda esses gestos do amigo com certeza não passava de suas experiências para conseguir se aproximar de quem seja.

Claro que quando pensava nisso ficava com ciúmes, mas o que poderia fazer? Conseguir conviver ao lado dele teria de ser suficiente para John, não arriscaria perder o que tinha tão próximo.

O loiro havia acabado de chegar em casa, não havia visto Sherlock desde ontem a noite depois da aula de violino, deveria estar em seu quarto. De repente alguém bate a porta.

Qual foi a surpresa quando se deparou com uma Sarah vermelha e aparentemente furiosa.

– Sarah?!

Ela entra no 221B a todo vapor, por pouco não esbarra em John.

– A quem você pensa que está engando, hm? Duas semanas sem sinal de você, John. Você não responde a porra das minhas mensagens, nem minhas ligações. – Sarah estava histérica.

– Sarah acalme-se. Me perdoe, eu realmente andei meio atarefado no trabalho esses dias.

– Dias? Você ligou o foda-se para mim, com certeza estava me traindo.

– O que?

– Não se faça de desentendido.

– Sarah, você está nervosa se acalme, venha sentar.

– Não peça pra eu me acalmar John. – Sarah grita. – Sabe o que eu fiz? Fui me diverti, sai com o primeiro que apareceu e sabe o que mais? Você não se compara a ele na cama.

John não conseguia pronunciar uma palavra se quer, não conseguia acreditar no que estava acontecendo.

– Sarah, você ficou louca? Porque está agindo assim?

Mas Sarah não parecia ouvi-lo.

– Ah, como eu fui cega, é claro que é o ridículo do Sherlock.

– O que?

– Acha que eu não sei? Ele desde o início quer destruir nossa amor, o que ele te fez John?

– Sherlock não me fez nada Sarah, não sei aonde você quer chegar com essa conversa. Esta será a última vez que te peço, por favor se acalme e vamos conversar.

– Não me engane porque eu não sou idiota, eu sei que você tem me trocado por aquela aberração.

Sarah podia falar do que quisesse dele, que se vestia mal, que precisava fazer alguns exercícios, que era muito baixo para ela, até que fosse ruim de cama, mas falar de seu melhor amigo por quem descobriu recentemente estar apaixonado era a gota d’água.

– Como ousa insultar MEU amigo em MEU apartamento? – John falava com uma voz ameaçadoramente baixa. – Saia, saia agora.

– John, por favor...

– Eu devia tê-lo ouvido quando me alertou sobre você. Não me faça tirá-la a força. SAIA AGORA! E nunca mais volte a me procurar. – John abriu a porta do flat e com o dedo esticado apontado para fora pedia para que ela se retirasse.

Sarah mudou totalmente seu comportamento, toda aquela histeria parecia ter ido embora.

– Não John, não me deixe, eu quero ficar com você...

– Pessoas como você me enojam. Adeus Sarah. – John estava parado feito estátua frente a porta.

Sarah sai do apartamento se dirigindo a rua.

– E saiba que ele não é o que você disse, ele é a melhor pessoa que já conheci na vida, o melhor de todos, em todos os aspectos.

Sarah olha para trás e John bate a porta em sua cara. Rezaria para que Sherlock não tivesse ouvido a briga. Porém quando entra no apartamento o detetive estava sentado em sua poltrona.

– Sherlock!

– Finalmente se resolveu com Sarah?

– Você ouviu? Nossa, me desculpe Sherlock, ela estava fora de controle, não liga para o que ela disse.

– Eu não ligo.

– Como ela pode fazer uma coisa dessas? Eu não consigo acreditar.

– Eu sei.

Você estava certo, eu devia ter te ouvido desde o começo.

– Eu sempre estou, John.

Os dois se olharam por um tempo. John de pé e Sherlock com os braços apoiados na poltrona e as mãos unidas de frente ao rosto. Ambos estavam sérios, John é o primeiro a cortar o silêncio.

– Eu sinto muito, Sherlock. Agora prometo que nunca mais trarei ninguém para nosso apartamento. Isso foi um erro, me desculpe. – Dito isso John se retira da sala, deixando um Sherlock triste e pensativo.

Pela primeira vez em toda a sua vida o moreno não queria passar a noite sozinho, queria estar com John, mas já havia deduzido que ele sairia com Lestrade. Teria que encontrar uma forma de não se sentir tão só.

♥♥♥

John havia acabado de chegar no bar, avistou Lestrade e foi a seu encontro.

– Desculpe a demora, Greg, meu dia foi tão cagado que achei que nunca fosse terminar.

– Nossa, o que aconteceu?

Enquanto bebiam chopp John contou as peripécias de seu dia, até o insulto de Sarah a Sherlock.

Agora Lestrade ria sem parar.

– Não é uma situação engraçada, Greg.

– Ok, eu concordo com você que a moça era louca, mas John, duas semanas? Ela te ligava e mandava mensagem e você ignorou ela por duas semanas? Eu não aguento. – E continuava rindo.

– Ela é totalmente louca. Assim que Sherlock havia me dito aquilo sobre ela eu deveria ter pulado fora, mas não, eu tive que deixar chegar a esse ponto... Estou preocupado com ele.

– Com Sherlock? Não me faça rir, John. De todos esses anos que o conheço já presenciei insultos muito piores que esse que até eu me sentia mal e o nunca vi abalado por isso, Sherlock não é do tipo que se importa.

– Eu também pensava assim, mas ele mudou mesmo Greg.

John havia contado algumas das mudanças de Sherlock.

– Eu acho que ele te pegou.

– Como assim?

– John John, só você não percebe? Sherlock quer que você morda a isca e pelo jeito está conseguindo. Não faça essa cara de bobo, Mycroft me contou tudo.

– Mycroft? Você tem encontrado com ele? – Mesmo os casos que resolveu com Sherlock não tinham deixado John tão perdido como nessas últimas semanas.

– Sim, o governo precisa de uns dados que temos, sabe, assunto confidencial.

– E isso também envolve assuntos pessoais? – John estava em seu quinto chopp.

– Sabe como é, Mycroft é um cara bem apessoado, extremamente educado, não recusaria um chá ou um almoço.

– Então é isso, você convida ele para um chá e ele já sai contando tudo da vida do irmão. Mycroft está caindo em meu conceito.

– Não seja tolo, Mycroft e eu viemos nos encontrando há meses é muito difícil tirar qualquer coisa dele, mas estamos indo bem, estou quase convencendo ele a me contar o dia de seu aniversário. Com ele estou indo bem devagar.

– E-eu não sabia que você...

– Ah não se preocupe, eu também não. Parece que os Holmes tem o poder de transformar as pessoas.

John resolveu mudar de assunto, estava muito atordoado com isso tudo.

♥♥♥

Eram 3:30 da madrugada quando o loiro razoavelmente embriagado abre a porta do flat. Quando a fecha ouve um barulho de garrafas se batendo.

– Sherlock?

Do chão Sherlock ergue o braço, avisando onde estava. John chega onde Sherlock estava e repara nos copos e garrafas espalhadas pelo chão.

– Sherlock, você está bêbado? Onde arrumou essas garrafas?