Lábios de dor escrita por Lipe Muliterno
O grupo começa a se reunir fora da igreja e olhar para suas paredes externas que são protegidas por um segundo muro, um segundo muro feito com as cabeças dos mordedores e preenchendo quase todas as paredes.
–Qual a razão de você fazer isso? – Pergunta Isa enojada.
Sabs dá de ombros.
–Estava me sentindo sozinha aqui, aí comecei a guardar as cabeças dos mordedores, elas continuam “vivas” mesmo que separadas do restante do corpo.
–Sabs, ontem havia uma horda gigantesca circundando a igreja, e agora todos eles estão mortos e sem as cabeças, como você fez isso? – Luc parece intrigada ao fazer a pergunta.
–Ué, eu tenho uma faca. – Responde Sabs erguendo a pequena lâmina perto do rosto.
–Sim, mas é uma faca de pão! – Gabs eleva o tom de voz preocupada.
–Mas é uma faca.
–Você está querendo nos dizer que passou esse tempo todo sozinha e nessa manhã simplesmente saiu da igreja com uma faca de pão e sozinha decepou toda essa horda sem ser atacada? – Pergunta Mapa.
–Sim, qual a dúvida?
–Acabamos de perder uma amiga para um mordedor e ela estava fora do estabelecimento quando o mordedor a percebeu e você caminha por aí matando eles sem sofrer nenhum arranhão, desculpe-me, mas isso é realmente estranho. – Diz Luke.
–Não sei explicar, eles simplesmente não me percebem.
–Como não percebem? – Thalles parece impressionado.
–Não sei, posso estar abraçada a um deles e ele não me ataca.
–Desculpa Sabs, mas não podemos ficar aqui. – Diz Isadora.
Parte do grupo que começara a sentir medo de Sabs se tranquiliza pela decisão de Isadora.
–Mas pra onde vocês vão? – Pergunta Sabs cabisbaixa.
–Vocês não, Nós. Você vem junto.
Sabs abre um sorriso e abraça Isadora manchando-a com o sangue escuro dos mordedores.
–Obrigada.
...
Todo o ocorrido dos dias anteriores foi explicado para Sabs e agora ela sabe para onde irão.
–Aqui ainda há alguns pães e garrafas de suco de uva que eram usados na santa ceia. – Conta Sabs. – Podemos pegar algumas coisas e ir para a estrada.
–Pode nos mostrar onde ficam? – Pede Dudu.
–Fica nos fundos da igreja, tem uma porta perto do púlpito, ela dá no armazém.
–Okay. Léo, você pode me ajudar a pegar?
–Claro.
Léo e Dudu se levantam deixando Sabs e Marti sozinhos e vão em direção ao altar, após alguns segundos olhando a parede encontram uma porta praticamente camuflada com a parede.
–E então... Como você veio parar aqui? – Marti tenta puxar assunto.
–Como assim?
–Sua história desde que essa porra começou, qual é?
– Bem, eu morava com meus pais, meu irmão mais novo e minha avó. Meu pai saiu mais cedo do trabalho, levou minha avó e minha mãe até um mercado, quando saíram pegaram meu irmão no colégio e depois me buscaram na faculdade, estávamos indo para nossa casa no Grajaú quando ouvimos a transmissão no rádio sobre a doença, meu pai que era pastor de uma igreja nos levou a sua igreja, pegamos uma van e viemos com um grupo que fomos reunindo até aqui, alguém se esqueceu de conferir o interior daqui e não viram um mordedor caído atrás do gazofilácio era tarde e fomos dormir, no dia seguinte quando acordei estavam todos transformados exceto eu e Miguel, meu irmão, que ainda dormia os mordedores não vinham até nós nem me atacavam eu então fui até o altar, peguei uma cruz de metal e com ela bati varias vezes na cabeça de Miguel, arrebentando seu crânio e o matando, ele não mereceria ver o que aconteceu com nossa família.
–Meus pêsames.
Sabs dá de ombros.
–Já passou, mas foi ruim ficar sozinha. – Diz Sabs respirando fundo.
–Agora você não precisa mais ficar sozinha. – Responde Marti apoiando sua mão sobre a de Sabs.
Sabs cora e em vão tenta esconder seu sorriso.
...
–Azevedo, na boa, transa comigo! – Pede Bia já irritada.
–Desculpa, sou goy.
–Vai se foder, vi você transando com a Malu hoje mais cedo.
–Então, estou cansado, não vai rolar.
Bia fica nervosa e sai pisando duro deixando Luke para trás.
–Pode sair. – Diz Luke baixinho após Bia se distanciar.
Gabs aparece então e os dois começam a se beijar freneticamente.
...
Após Dudu e Léo carregarem os carros com mantimentos de pães e suco o grupo entra nos carros e parte estrada a fora. Passaram apenas duas horas desde que o sol esteve no centro do céu, mas há uma incrível escuridão no ar devido as nuvens carregadas que tomam praticamente todo o céu.
No Camaro Celly está deitada no banco de trás cheia de tédio, quando percebe uma tatuagem nas costas de Sabs.
A tatuagem retrata uma anja e um demônio entrelaçados, um de frente para o outro com as asas abertas planando sobre chamas.
–Qual o significado da tatuagem? – Pergunta Celly curiosa.
Sabs ri.
–Sou apenas uma garota estranha, tive minha época rebelde, perdi a cabeça e tatuei isso. Luxuria estava no meu sangue, eu era um anjo frio e cruel, então eu caí. A anja está caindo e representa minha queda, já o demônio é minha saída do inferno. Achava que eu morreria pra conhecer o inferno, mas ele apareceu antes.
–Então você se compara a um demônio? – Pergunta Marti com uma sobrancelha erguida.
–Não, me comparo a um anjo caído.
O silencio novamente se instala sobre o carro de forma pouco confortável e Celly resolve dormir.
Ela sonha.
Sonha com o dia em que foi deixada sozinha pelos seus companheiros, ela havia se recusado a transar com alguns homens e eles simplesmente a abandonaram lá, com uma arma descarregada, ela gritava por socorro, mas já cogitava se lançar de cima do mercado para a morte, para ser devorada pelos mordedores, até que um homem escalou até o teto e seguido por seu amigo, o som de um carro buzinando se aproximava e antes que ela realmente pensasse no que fazer já estava saltando para a caçamba da picape, mas novamente sentia a dor de deixar alguém para trás para morrer por salvá-la assim como seu primo Gui havia feito algum tempo antes.
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