Lábios de dor escrita por Lipe Muliterno


Capítulo 26
O desconhecido




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Um estrondo preenche o ar e Magru é lançada ao chão devido o impacto de algo se chocando dolorosamente contra seu abdômen. Ela abre os olhos que sem mesmo notar fechara ao ouvir o estrondo, a nuvem de sangue está abaixando aos poucos pelo ar, mas ela não sente a dor. Levando a mão em direção a seu abdômen Magru sente o sangue molhar a ponta de seus dedos e só agora percebe um peso sobre ela e ao olhar para baixo encontra o corpo de Lore caído sobre suas pernas arfando enquanto o sangue vasa em forma de cascata de um ponto pouco abaixo de seu olho esquerdo, mas é um buraco grande, aproximadamente do tamanho de uma laranja. Magru então entende que a bala deve ter entrado pela nuca de Lore.

Lore olha para Magru, mas apenas seu olho direito se move, o outro deve ter tido algum nervo atingido, a expressão em seu rosto é de dor e súplica.

Magru cola o cano de sua arma na têmpora de Lore e dispara. O sofrimento de sua salvadora acabou.

Todos ficam parados em silencio, foi um grande choque, mas então um clique chama a atenção de volta para o atirador. Ele acaba de colocar uma nova bala no tambor de sua arma e o fecha, após fazer isso, aponta novamente a arma para Magru que ainda está caída, seu olhar é de determinação, seu dedo caminha firmemente e repousa sobre o gatilho.

–Calmo aí amigo! Vamos conversar.

Filipe agora se prostra entre o líder da vila e Magru com as mãos levantadas e palmas voltadas para frente.

–O que você quer? - Pergunta o homem de forma ríspida.

–Negociar. Dois dos mortos recentes fazem parte do mesmo grupo que eu, e você perdeu apenas um de seus homens. Vocês estão na vantagem, acho que podemos deixar assim.

O líder parece resistir por um tempo, mas finalmente baixa sua arma de forma relutante.

–Não quero vocês sob minha proteção.

–Deixamos sua cidade em 30 minutos. Temos um trato? - Pergunta Filipe estendendo a mão com um largo sorriso no rosto.

–Temos.

Assim que as mãos dos homens se fecham uma sobre a outra Filipe puxa com violência o corpo do homem e acerta uma joelhada em seu estomago, o homem tenta reagir, mas Filipe agarra o braço na qual ele carrega a arma com apenas uma bala no tambor e o faz disparar contra o próprio pé. O homem solta um guincho de dor e acerta um soco no maxilar de Filipe.

Filipe olha nos olhos do homem.

–Você não devia ter revidado. – Diz Filipe com assustadora calma.

Após proferir tais palavras Filipe se lança sobre o homem e eles se engalfinham no chão. Filipe consegue ficar por cima e dá uma série de pancadas contra o rosto de seu adversário que após receber algumas pancadas que não conseguiu defender desmaia.

–VOCÊ SE FODEU FODIDAMENTE SEU FODIDO DE MERDA, VOU TE FODER TANTO QUE ATÉ OS FILHOS QUE VOCÊ NÃO TEVE VÃO SENTIR O QUANTO EU FODI COM O FODIDO DO PAI DELES!

Filipe pega uma faca em uma faca de camping em uma barraca ali perto e volta com ferocidade para perto do homem que começa a recobrar a consciência. Ele então faz um movimento rápido e abre a barriga do homem pouco abaixo de seu umbigo, ele puxa pra fora o intestino delgado do infeliz e enrola ao redor do pescoço do mesmo, depois puxa o resto do intestino para fora obrigando o homem a se levantar. Os gritos de dor são horríveis e a cena é deplorável, aquilo não é justiça, aquilo não é humano, aquilo é tortura. Filipe passa o intestino por cima de uma alta barra de uma barraca e puxa, o corpo do homem se ergue e ele se debate horrivelmente colocando órgãos para fora do corpo e arrebentando veias e artérias, Filipe está o enforcando com o próprio intestino.

Com um caixote Filipe prende o intestino no chão e caminha para o corpo suspenso do homem. Ele pega novamente a faca e crava no braço do torturado, depois começa a girá-la aumentando o ferimento.

Então algo o faz parar.

Uma dor toma conta de seu corpo.

Ele olha para baixo e vê a ponta de uma lâmina, do tamanho da falange de seu polegar, brotar de seu peito esquerdo e rasgar sua camiseta, seu sangue sai borbulhando pela ferida. Atravessou o coração.

Virando-se para trás ele encontra Isadora chorando com as duas mãos sobre a boca.

Ele tenta dizer algo, mas sua voz não sai.

A primeira facada que Filipe havia levado foi em seu antebraço esquerdo aos 10 anos durante uma reação a assalto, ele ainda carrega a cicatriz. A segunda foi durante uma briga de seus pais também aos 10 anos, a facada deferida por seu pai acertou seu tronco e entrou pouco mais da metade, danificou alguns músculos e por pouco não atingiu seu rim direito, a marca é praticamente invisível, mas agora a dor é diferente, parece ter algo entalado em sua garganta, o ar não é mais respirável e de forma tonta ele desaba para trás, a faca se aprofunda em seu corpo que se estira no chão e com o sangue gorgolejando em sua boca ele diz com dificuldade:

– Acredito que a covardia deve ser culpada pelas injustiças do mundo. Acredito que a paz não se ganha fácil, que às vezes, é necessário lutar pela paz. Mas, mas que isso: Acredito que justiça é mais importante que a paz. Acredito na liberdade do medo, em negar ao medo o poder de influenciar nossas decisões. Acredito nos atos simples de bravura, na coragem que leva uma pessoa a se levantar em defesa da outra. Acredito em reconhecer o medo e o que o leva a nos governar. Acredito em enfrentar o medo não importa o que isso custa do nosso conforto, nossa felicidade, ou até mesmo nossa sanidade. Acredito em gritar por aqueles que só cochicham, em defender aqueles que não conseguem defender a si próprios. Acredito não apenas em palavras ousadas, mas em ações ousadas para combinar com elas. Acredito que a dor e a morte são melhores que covardia e inatividade, porque – Ele esboça um sorriso. - Acredito em ação. Não acredito em viver vidas confortáveis. Não acredito que o silêncio seja útil. Não acredito em boas maneiras. Não acredito em limitar as riquezas da vida. – Agora ele fala com mais dificuldade. - Não acredito em cabeças vazias, bocas vazias, ou mãos vazias. Não acredito que aprender a violência máxima encoraja a violência desnecessária. Não acredito que devemos ser autorizados a ficar de braços cruzados. – Ele puxa o ar e com um largo e satisfeito sorriso termina. - Não acredito que qualquer outra virtude seja mais importante que a bravura.

Seus olhos se fecham.

Isadora sente as têmporas latejarem, sinal de que ela está se acalmando, e o cheiro de sangue invade suas narinas, ela vomita e olha para Filipe, porém sem arrependimento.

–Vai fazer falta. – Diz ela se virando de costas para os corpos e deixando seu grupo boquiaberto.


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