Lábios de dor escrita por Lipe Muliterno


Capítulo 19
Shout at the Devil




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Apesar de todos no carro estimarem por Anna, não se abalaram tanto, para eles está se tornando rotina perder pessoas próximas e estão sendo cada vez menos afetados.

O céu já começa a escurecer e isso dificulta a direção para Filipe.

Ao chegarem ao Graal o céu já está escuro, eles entram no estabelecimento de cabeça baixa carregando os rifles, alguns o recebem com um sorriso no rosto, mas logo desaparece ao perceberem que Anna não está mais com eles.

Eles jantam em silêncio em respeito à morte de Anna.

Mais tarde na mesma noite Filipe novamente acende a fogueira e dessa vez ninguém liga por ele estar nu, na verdade Léo e Dudu entram na onda e também estão nus chamando a atenção das garotas.

Vários assuntos são impostos ao redor da fogueira, mas vão se esfriando aos poucos.

–Vamos fazer o “eu sinto falta”. – Sugere Lore.

–Como é isso? – Pergunta Gabs.

–Você só fala do que sente falta, eu começo, eu sinto falta do meu ursinho de pelúcia. – Começa Lore.

–Eu sinto falta da minha cozinha. – Diz Dudu que é encarado por todas as garotas com um ar de safadas.

–Eu sinto falta de desenhar. – Diz Luc.

–Eu sinto falta da minha família.

–Eu sinto falta de transar. – Diz Mapa piscando com um olho para Dudu.

–Eu sinto falta de assistir animes e das minhas irmãs. – Diz Marti.

–Sinto falta do meu irmão. – Diz Ju.

–Eu sinto falta de fazer lap dance. – Diz Celly.

–Eu não sinto falta de nada. – Diz Nat beijando o rosto de Rasquel.

–Mesma resposta. – Rasquel responde beijando a namorada.

–Eu sinto falta de ser pura. – Diz Gabs.

–Eu sinto falta do Parvaroti. – Diz Magru.

–Quem é Parvaroti? – Pergunta Filipe.

–Era meu galo, ele me acordava todo dias às quatro horas. – Responde Magru com um sorriso no rosto lembrando-se de sua ave.

–Eu sinto falta do meu braço. – Reclama Clarisse.

–Eu sinto falta de Maze Runner entre outros livros. – Diz Malu sendo apoiada por Isa e Yokota principalmente.

–Eu sinto falta do Mc lanche feliz. – Diz Nico rindo.

–Eu sinto falta da minha antiga vida. – Diz Léo.

–Eu sinto falta do Jhon, eu amava aquele cara, com certeza um dos melhores amigos que eu já tive, ele até dormia de conchinha comigo no frio. – Revela Filipe.

–Lipe... – Começa Isa rindo

–Diga.

–Você sabe que o Jhon era bi, né?!

–Isso explica MUITA coisa. – Diz Filipe rindo.

–Eu sinto falta da Log. – Diz Thalles quase chorando novamente e acabando com os risos.

–Eu poderia dizer que sinto falta do meu olho, assim como a Claris sente do braço, mas estive pensando e na verdade o que mais me faz falta é a Mama, eu a amava e só percebi depois que a perdi. – Finaliza Yokota baixando a cabeça.

Fica um clima meio triste ali e então Dudu se levanta.

–Não sei vocês, mas hoje vou dormir em uma cama, posso levar mais quatro pessoas num carro.

Ele vai em direção à porta e é seguido por Mapa, Ju, Celly e Luc.

Após saírem Malu comenta:

–Dudu comedor.

Todos riem inclusive Thalles pela primeira vez desde a morte de Log.

Eles se deitam para dormir e tudo fica quieto, após horas, Filipe que ainda não conseguiu dormir escuta alguém andando em direção à porta, ele olha discretamente e vê que se trata de Yokota, curioso ele veste uma calça e segue o japonês, quando vai sair pela porta ouve o Skyline saindo do estacionamento, ele sai sem ser visto e vê o carro caindo na estrada.

Filipe então entra em seu carro e segue de longe o Skyline com os faróis desligados para não ser notado, ele não entende para onde Yokota vai até que o mesmo entra em uma estrada de terra, a da casa onde eles estavam abrigados anteriormente ele acelera um pouco e então para quase chegando à casa, o resto do caminho percorre a pé, forçando sua perna machucada.

Assim que ele alcança a casa, encontra o lugar em ruínas e Yokota com um rifle preso em suas carregando algo cheio de terra nos braços. Filipe se abaixa para não ser visto.

Yokota carrega em seus braços o leve corpo de Mama que está envolto em um lençol. Ele deita delicadamente o corpo no chão e abre o lençol revelando o corpo da linda e delicada garota, incrivelmente seu corpo está bem conservado. Yokota tira seu tapa olho e coloca sobre o olho ferido de Mama, passa a mão pelos ruivos cabelos e beija levemente os lábios dela.

–Yokotama sempre foi real, eu te amo. – Após dizer essas palavras de forma baixa ele tira o rifle das costas, se deita e apoiando o cano da arma no queixo dispara.

–NÃO! – Grita Filipe tentando correr na direção do amigo.

Ao chegar ele se joga de joelhos em frente aos corpos e chora como nunca chorou antes.

–EU AMAVA VOCÊS, PORRA! VOCÊS ERAM MINHA FAMÍLIA! NÃO ME ABANDONEM! – Filipe brande os punhos no ar enquanto grita lamentando a perda dos dois à sua frente.

Ele se ergue com dificuldade e pega um corpo em cada ombro os carregando com dificuldade até onde havia cavado os túmulos antes, primeiro ele coloca Yokota deitado para cima e depois Mama meio de lado, com a cabeça no peito de Yokota, o braço do japonês está mal posicionado e Filipe o ajeita como que se ele abraçasse a pequena garota.

Se não estivessem mortos Filipe poderia jurar que a expressão em seus rostos era de alegria e que ambos sorriam.

Ele joga terra cobrindo o corpo dos dois, Filipe amava ver Yokota e Mama juntos e secretamente sempre quis que os dois ficassem juntos, mas não daquela forma, não nessas circunstâncias.

Com lágrimas nos olhos e o punho travado ao redor do cano quente do rifle Filipe anda em direção ao seu carro, então ele para.

Olhando para o céu ele ergue o dedo médio.

–VAI SE FODER! – Grita ele com raiva.

Ao baixar novamente a cabeça ele encontra uma pá jogada, larga o rifle e a pega.

Rapidamente Filipe cavou um buraco no chão grande o suficiente para que caiba, ele entra no buraco e de pé posiciona o rifle da mesma forma que Yokota, respira fundo e põe o dedo no gatilho.

–INFERNO, AQUI VOU EU! – Grita ele travando os dentes.


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