Lábios de dor escrita por Lipe Muliterno


Capítulo 13
Cherokee




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Filipe levanta sua cabeça com dificuldade e vê entrando na sala mais cinco pessoas. A primeira a entrar é uma garota dotada de certa beleza, pele clara, cabelo castanho e ondulado, olhos castanho claro, bochechas um pouco maiores que o normal, mas quase nada, e em sua mão carrega um bastão fazendo contraste com a delicadeza de sua coroa de flores vermelhas, atrás dela entra outra garota, essa por sua vez de estatura mediana, cabelos escuros que vão até a altura do peito, olhos claros, uma pintinha paira pouco acima do canto esquerdo do lábio superior e por algum motivo Filipe a acha parecida com um ursinho, a garota de cabelos vermelhos entra pouco depois seguida por dois rapazes, um tem quase a mesma altura que Filipe, está um pouco acima do peso, sua pele é clara e seus cabelos são totalmente cacheados e o outro rapaz é alto, pele clara, cabelos pretos e é dono de uma barba rala porém fechada.

–Obrigada, Ki. – Agradece a garota que carrega o bastão.

Com exceção dela que está em pé, Filipe que está amarrado e a garota que está sentada em sua frente, todos estão encostados à parede assistindo.

–Muito bem, vamos começar. Tá vendo esse bastão aqui? – A garota passa o bastão perto do rosto de Filipe. – Se eu não gostar da sua resposta você o beija, entendeu?

Filipe concorda com a cabeça.

–Então vamos lá, cabra. – Começa ela. – Quem é você?

–Meu nome é Filipe.

–Você estava sozinho até agora?

Filipe hesita em responder com medo de prejudicar seus amigos.

–Si...

–Se você mentir quebro sua cara.

–Não, eu estava com um grupo maior em uma casa aqui perto, mas agora estou sozinho.

–Um grupo maior de quantas pessoas?

–Umas vinte, vinte e uma, e temos um prisioneiro.

A garota troca olhares com o seu grupo.

–Você pode nos levar até lá?

Filipe ri.

–Prefiro que me torture a colocar eles em risco.

A garota trava os dentes e levanta o bastão, mas antes que possa deferir o golpe a garota de cabelos vermelhos segura seu braço.

–Ele morto não terá utilidade alguma. – Diz ela.

A garota, que agora Filipe imagina ser a líder, baixa o bastão e respira fundo.

–Nós estamos em apenas cinco, não temos chances de atacá-los, só queremos unir forças.

Filipe se levanta da cadeira e as cordas caem no chão.

–Você tava solto?!

–Me soltei agora a pouco, vocês não sabem dar nó, a questão é, eu poderia ter atacado vocês e não o fiz, vocês podem confiar em mim, mas e eu, posso confiar em vocês?

A líder pensa por uns instantes e entrega o bastão para Filipe.

–Agora você é o único armado na sala, poderia ter te batido, mas não bati.

Ela estende a mão para Filipe.

–Aliados?

–Aliados.

Filipe segura a mão da garota.

–Eu sou a Mapa...

–Mapa? Tipo o objeto?

–Não, é a abreviação do meu nome e sobrenome, MAriana PAcheco. – Ela responde como se já estivesse.

–Ah, acho que entendi.

–Okas. – Filipe não entende esse último mas imagina que deve ser um “Okay”. – Se apresentem para ele.

–Eu sou Chiara. – A garota sentada à frente de Filipe se apresenta levantando a mão aberta próximo ao rosto.

–Eu sou a Luc. – Diz a garota de cabelos vermelhos.

–Eu me chamo Alexandre, mas me chama de Buzz. – Pede o garoto de cabelos cacheados.

–Pode me chamar de Lore. – Avisa a garota parecida com um ursinho.

–E eu sou o Pedro. – Finaliza o garoto com a barba.

–Vocês têm armas? – Pergunta Filipe.

–Apenas o bastão, e você, cabra? – Pergunta Mapa.

–Não tenho nada, bom, podemos ir então?

–Só vou chamar o Dudu. – Avisa Buzz.

Poucos instantes depois, Buzz reaparece seguido por um homem alto, forte, moreno, com uma barba fechada e um cabelo cheio de estilo, ele faz qualquer garota que o vê babar. Ele e Filipe são apresentados e se cumprimentam.

–Podemos ir agora? – Pergunta Filipe

–Sim, mas como vamos? – Pergunta Lore.

–No meu carro cabem mais quatro pessoas, vocês tem mais algum automóvel?

Buzz ri.

...

–Ela tá piorando. – Diz Isadora se referindo a Marea.

Isadora já fez praticamente tudo o que podia, mas a ferida não melhora e agora Marea sofre com forte febre e sente imensa dor na lateral do corpo.

–Qual foi o estrago que a faca fez? – Pergunta Malu que ajuda Isadora.

–Nada muito grave, apenas rasgou a pele e raspou as costelas, por pouco não atinge o pulmão.

–Então qual é o motivo dela estar assim?

Uma ideia corre pela mente de Isadora e ela fica paralisada.

–Is? Tá tudo bem? – Pergunta Malu preocupada.

–Malu, traz a faca pra mim.

Malu pega a faca e leva para Isadora.

–Pra que precisa dela?

–Vem cá.

Malu se aproxima.

–Tá vendo esse sangue mais escuro? A faca antes passou pelo corpo de um daqueles errantes e tá contaminada, isso é uma arma biológica.

Malu fica petrificada.

–Esse cara é um gênio. – Finalmente ela diz.

–Um arranhão disso aqui e você caminha na direção da mutação.

–Veja se alguém pode ficar com a Marea essa noite.

Malu sai do quarto e vai atrás de alguém para ficar com a enferma.

...

Dentro do Ford Galaxie estão Filipe, Mapa, Luc, Chiara, Dudu e a gatinha de Mapa, Zöe. Buzz os acompanha com sua moto modificada para parecer um dinossauro e realmente parece, na garupa da moto está Pedro e Buzz parece incomodado com alguma coisa.

–Ali, pare ali. – Pede Dudu apontando para um milharal. – Mapa, se prepara pra comer pamonha.

–Eu nunca comi pamonha. – Explica Mapa.

–Como assim?! – Se espanta Filipe. – Eu não ia parar, mas parece que temos uma emergência aqui.

Todos no carro riem.

O pequeno grupo para ali perto.

–Porra, Pedro, para de passar a mão na minha bunda. – Pede Buzz.

–Como se eu estivesse fazendo de propósito. – Responde Pedro.

–E vai mais para trás, você tava quase me encoxando.

–Se eu for mais pra trás caio da moto.

Dudu seleciona algumas espigas de milho e eles enchem o porta-malas.

O céu começa a escurecer e Filipe anuncia:

–Daqui a pouco vamos para e dormir em algum lugar afastado da estrada, tem muitos carros e destroços pelo caminho e é arriscado dirigir durante a noite.

Todos concordam e voltam para seus respectivos automóveis.

...

Já é noite e na casa todos dormem com exceção de Tomi, ele cuida de Marea como um cacique cuida de sua tribo, a garota as vezes se contorce na cama mas nada que dure muito, Tomi entediado então acende um cachimbo e pronuncia:

–A cerimônia do cachimbo e um ritual sagrado para a conexão do mundo espiritual e físico. O cachimbo é uma conexão entre o céu e a terra, de acordo com Cervo Branco do Outono. Nada é mais sagrado. O cachimbo é a nossa oração em forma física. A fumaça se transforma em nossas palavras; se espalha, toca tudo e se torna parte do todo. O fogo no cachimbo é o fogo no sol que é a fonte da vida. A razão pela qual o tabaco é usado para unir os mundos é que as raízes das plantas penetram profundamente na terra e sua fumaça sobe alta para os céus.

Ele faz uma prece ao Poder do Oeste, enquanto se reflete sobre a vida provendo chuvas e o sempre presente espírito do mundo. Em seguida, suplica ao Poder do Norte, a fonte da resistência, força, honestidade e sinceridade que são qualidades necessárias para se percorrer um bom caminho na vida. O Poder do Leste onde o sol nasce vem a seguir. O sol traz sabedoria, a essência da espiritualidade. E Tomi ainda faz uma quarta prece ao Poder do Sul que traz a graça, medicina e crescimento.

Depois disso Tomi agradece o Espírito da Terra. O cachimbo toca o chão e ele diz:

–Mãe Terra eu te procuro para te proteger. –Ele agora ergue o cachimbo e depois o coloca em linha reta. - Oh Grande Espírito eu lhe agradeço pelos seis poderes do universo.

Tomi traga o cachimbo até acabar com o tabaco e descuidadamente pouco tempo depois começa a dormir. Sem se dar conta dos recentes espasmos de Marea.


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