Lábios de dor escrita por Lipe Muliterno


Capítulo 12
Divergindo os caminhos




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Filipe acorda assustado, se afogando e todo molhado. Do lado do sofá, Isadora vira um balde cheio de água, alguns segundos antes, sobre o homem bêbado. Ele recupera o ar e se levanta.

–VOCÊ JÁ ESTÁ ME DANDO NOS NERVOS! – Grita ele enfurecido.

–OLHA PRO SEU ESTADO, EU NÃO GOSTO DE TE VER ASSIM!

–ISSO É PROBLEMA MEU!

–POIS ENTÃO LEVE SEUS PROBLEMAS PARA LONGE DE MIM!

–QUER SABER, É EXATAMENTE O QUE VOU FAZER.

Filipe sai andando, pega a chave do carro e vai em direção à porta, ao passar pela escada ele encontra todos ali de olhos arregalados.

–Calma, Lipe, ela só se preocupa com vo...

–Vai se foder você também. – Filipe interrompe Marea.

–Como é que é?!

–Você entendeu.

Filipe sai e bate a porta de casa, todos ouvem o motor de seu carro se ligando e em poucos segundos se distanciando. Isadora se joga no sofá molhado e começa a chorar, todos vão para perto dela consolá-la.

O clima fica ruim ali dentro, mas todos tentam ignorá-lo e recomeçar seus afazeres.

Ninguém troca uma palavra se quer e o único som que se ouve é o dos altos gemidos dos errantes, antes praticamente imperceptíveis agora aumentaram muito. O dia continua assim por muito tempo até que um tiro e um grito de dor chama a atenção de todos que correm para fora da casa, chegando lá encontram Yokota ajoelhado, ele está com as mãos ensanguentadas no rosto e o rifle de Filipe está ao seu lado.

Isadora já sai da casa com seu kit médico em mãos.

–Saiam daqui, eu cuido disso. – Manda ela. – O que você fez aqui? – Pergunta ela limpando o olho ensanguentado de Yokota.

Os arredores do olho estão escuros num tom entre o roxo e o preto com alguns pontos verde e inchado, o globo ocular está completamente vermelho, a íris está deslocada e a córnea solta.

–Eu vi uma daquelas coisas ao longe, peguei o rifle e disparei, mas quando fiz isso o coice da arma jogos ela pra trás e a scope atingiu meu olho. – responde ele apressado.

–Você consegue enxergar com ele?

–Não.

Isadora deita Yokota no chão, senta-se sobre seu peito e prende seus braços usando os joelhos, após fazer isso ela tampa a boca do japonês e prende as narinas com o indicador.

O asiático se debate sob ela tentando sair, sua tentativas são em vão e só facilitam o trabalho de Isadora, em alguns segundos, mais do que se era esperado, todo o oxigênio dos pulmões do homem se esvaem e ele desmaia. Infelizmente isso fez certa pressão sobre os olhos, e o machucado volta a sangrar.

Com parcimônia, Isadora limpa novamente o olho e agora abre seu kit retirando dele algodões, um bisturi, uma tesoura, um pote, uma espécie de maçarico, algumas gazes e esparadrapo.

–Me desculpe por isso.

Usando o bisturi, Isadora faz uma pequena incisão vertical na pálpebra superior do paciente e puxa o globo ocular para fora, a retina e a esclera foram comprometidas, os vasos da coroide se romperam e encheram o olho de sangue, Isadora perfura a parte de trás do olho e da fenda começa a se derramar sangue e o humor vítreo. Ela apanha então a tesoura e corta o nervo óptico, com o maçarico queima o resto do nervo o cauterizando, o olho é colocado no pote que é tampado e guardado. Isadora agora coloca um tufo de algodão entre duas gazes e as gruda usando quatro pequenos pedaços do esparadrapo, ela coloca o tampão improvisado sobre a cavidade ocular e gruda a seus arredores com mais um pouco do esparadrapo. Enquanto ela guarda o equipamento, Yokota acorda.

–O que você fez? – Pergunta ele confuso.

–Toma isso é seu. – Isadora estende o pote com o globo ocular para ele.

–VOCÊ ARRANCOU MEU OLHO?! – Ele leva a mão em direção ao olho, mas Isadora segura sua mão.

–Não toque, a área vai ficar dolorida por um tempo, tome alguns analgésicos e anti-inflamatórios pra garantir que fique tudo certo.

–Tá. – Responde ele com um resmungo, mas ainda assim agradecido.

Ambos se levantam e vão para casa onde os presentes se surpreendem com a perda de Yokota.

...

Há uma distância razoável da casa, Filipe dirige de forma acelerada e despreocupada, do mesmo jeito que pessoas insolentes dirigem segundos antes de causarem uma batida e perderem suas vidas. Ele está ouvindo Let Go do Blue Öyster Cult e cantarolando quando algo chama a sua atenção e ele freia bruscamente.

Ele dirigiu até um pouco adiante do rio Piracicaba.

O que chamou sua atenção foram algumas roupas no varal de uma casa ali perto, mas isso não era nada relevante, a não ser pelo fato delas estarem molhadas e não ter chovido recentemente, absolutamente havia alguém morando ali.

Filipe então dirige em direção à casa e chegando lá uma moça corre em direção ao carro, ela é um tanto quanto alta, seu cabelo vermelho é curto e enrolado e seu rosto transmite desespero.

Filipe desce do carro.

–Por favor, me ajude. – Pede a garota desesperada.

Filipe tenta perguntar o que está acontecendo, mas a garota já está correndo de volta para casa, ele corre atrás dela, ela atravessa a porta de entrada e quando Filipe coloca o primeiro pé dentro da casa e adianta se corpo algo atinge sua nuca com violência, ele cai no chão e sua visão começa a ficar turva e se apagar, mas antes ele ouve:

–Mapa, acho que você o matou.

–Que nada, Buzz, daqui a pouco o cabra acorda, me ajuda a amarrá-lo.

Tudo fica escuro para Filipe.

...

–Toma, fiz isso pra você.

Clarisse se aproximou de Yokota sem ser percebida e agora estende para ele um tapa olho feito com um fio de fones de ouvido e um pedaço de couro. Ele apanha o presente e coloca.

–Obrigado, como estou?

–Tá com cara de mau. – Brinca a garota.

–É... Aqui as moto que faz sucesso...

Clarisse o encara diante da frase sem sentido e inusitada e ambos começam a rir.

–Acha que o Lipe volta? – Pergunta ele.

–Sinceramente, não sei mais o que esperar dele.

–Ele tá mudado, achava que ele era forte, mas ele não está conseguindo enfrentar essa situação.

–Ele se jogou para a morte ao sair daqui, ele não tem chances sozinho e desarmado lá fora.

–Tem razão.

O sol já está bem no centro do céu, um relógio de sol estaria marcando meio dia, mas agora se é difícil marcar o tempo, estações de rádio não funcionam, a energia está acabando em vários lugares e a casa precisa ser alimentada por geradores, não existem mais emissoras de TV e pilhas e baterias começam a ser usadas compulsivamente.

...

Filipe acorda, ele está amarrado a uma cadeira em uma sala pequena e quase vazia, sua cabeça dói e ele enxerga com dificuldade mais uma pessoa na sua frente.

–O bonitinho acordou. – A garota de cabelo castanho preso em um rabo de cavalo, nariz empinado, aparelho nos dentes e pele clara avisa seus companheiros.


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