The Lost Number escrita por Miss_Miyako


Capítulo 14
Nº 13: O Sacrifício.


Notas iniciais do capítulo

Tardou, mas não falhou!
Muito obrigada a todos que se mantiveram pacientes até então e mil desculpas pelo meu atraso.

Sem mais delongas,

Boa leitura e espero que gostem!



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"VOCÊ VAI FAZER O QUÊ?!"

Yellow colocou rapidamente as mãos na cabeça e olhou para o lado, onde uma ratinha amarela a encarava com os olhos arregalados.

"EU NÃO CONSIGO ACREDITAR EM VOCÊ."

—Chuchu, espera.

"Foi você, não foi?!" A Pokémon elétrica correu para ficar de frente para o pokémon transparente, suas bochechas soltavam pequenas faíscas. "Você colocou besteiras na cabeça dela!"

—Chuch-

"Eu não fiz nada, Pikachu." O bulbassauro respondeu. "Eu só lhe contei a verdade."

"Verdade, tá sei! Me poupe! Você não se importa, preferia que a Yellow tivesse morri-"

—Chuchu! - A loira exclamou e a pegou nos braços. - Já chega.

"Mas Yellow!" Ela se debateu. "Se você fizer o que pretende fazer... Você vai morrer!"

—Chuchu, eu já estou morrendo! - A garota parou e comprimiu os lábios. - E o Missigno também...

"Mas-!"

—Tudo o que eu vi era verdade, eu sinto. Meus poderes não deixam que Pokémons mintam pra mim, foi por isso que eu percebi que o Missingno estava sofrendo. Ele sofreu por tanto tempo... Por todos esses anos... Eu não posso deixar que isso continue assim.

A Pikachu a encarou e pequenas lágrimas se formaram nos cantos dos seus olhinhos redondos.

"Você sempre foi assim... Eu queria que você fosse egoísta pelo menos uma vez na vida..." E soluçou, afundando seu nariz no peito dela. "Por que logo você...? Isso não é justo."

—Chuchu...

—Yellow?

A loira levantou a cabeça e olhou para o lado. Blue, Red e Green estavam parados na frente da abertura para aquela cavidade da caverna, eles devem tê-la ouvido quando exclamara o nome de Chuchu.

Ela mordeu a bochecha interna.

—Vai contar para eles? - Ouviu o Bulbassauro murmurar e soltou a respiração que nem percebera que segurara.

—-000--

 

Minutos de silêncio se seguiram depois que a pequena explicou tudo para os outros três.

A atmosfera se tornou pesada e Yellow não sabia se estava difícil de respirar porque estava fraca ou se a tensão em si não deixava.

Red não conseguia acreditar no que ouvira.

Ele ainda esperava que ela sorrisse e dissesse que era só um susto, que eles não precisavam se preocupar, mas o seu rosto sério fazia seu coração doer.

A determinação nos olhos dela era impressionante, assustadora até. E aquilo o deixou sem ar.

No entanto, uma outra parte dele ficou com raiva. Cutucou seus pensamentos anteriores e gritou que de jeito nenhum ela poderia se arriscar desse jeito.

Que de jeito nenhum ele iria perdê-la.

Mas antes que pudesse falar qualquer coisa, Blue foi mais rápida.

—Eu não consigo acreditar em você.

O moreno olhou para a amiga e seu olhar azul parecia capaz de penetrar titânio. Ele engoliu em seco.

—Você tem que estar brincando.

—Blue...

Não!— Ela exclamou e se ergueu, cerrando os punhos. - Você não pode estar falando sério. Yellow, pelo amor de Arceus.

—Eu não posso deixar o Missingno desse jeito! - A outra retrucou.

—Você não é um anjo que caiu do céu e que precisa ajudar cada santa alma que aparece na sua frente, droga!! - A morena gritou. - Silver e os outros estão sei lá onde, nós estamos aos pedaços e tudo isso porque queríamos te salvar e agora você vai jogar tudo isso no lixo?!

—É claro que não! - A pequena se ergueu com o pouco de força que tinha, apoiada a parede. - Eu tenho que por um fim nisso e não vai ser matando o Missingno! Eu não quero e não vou matar ninguém!

—Ah! Mas tudo bem se for você que vai morrer?! 

—Ela não tem outra escolha.

Todos olharam para o Pokémon transparente.

—Eu sei o que você estava pensando. Vocês dariam um jeito de escapar e tentariam curá-la no mundo de vocês, mas isso é ínutil. O Cavaleiro de Cor Quente não pode sair da Glitch City até que a lenda seja cumprida.

—Eu já estou cansada de você, seu pedaço de-

O moreno viu o melhor amigo passar por ele e segurar a garota.

—Blue, para.

—Eu não quero parar! - E encarou o ser transparente com olhos cheios de raiva. - Você nem liga! Só quer que ela morra para acabar com essa maldição e se safar de vez!

Os olhos vermelhos do Pokémon tomaram um tom mais escuro.

—É verdade que Missingno me acolheu de um mundo onde não tinha lugar para mim e todos me encaravam como uma abominação. - Sua voz era venenosa. - Eu tenho todos os motivos para odiá-los se quisesse.

—Então-!

—Eu disse "se quisesse"! - E a interrompeu, com um tom mais alto e severo. - Mas eu tão pouco quero tomar parte nesse jogo de morte que só trouxe tristeza até agora! Eu já desejei que ele acabasse diversas vezes e que o Senhor Missingno finalmente tivesse o descanso que ele merecia.

Silêncio.

—Você sequer tem ideia de como é ver a pessoa que te deu um lar sofrer durante anos e anos a fio enquanto você não podia fazer nada por ela?! Tem ideia de como é ver essa pessoa definhando aos poucos, se entregando ao desespero, cometendo coisas horríveis e não podendo fazer nada! ?

Seu tom era tão cheio de tristeza e raiva que ninguém se atreveu a cortá-lo. Ele parecia tão diferente do Bulbassauro de momentos atrás, como se uma máscara tivesse caído.

—Se você quer que eu admita que já tive ódio desse cavaleiro, então sim! Eu já tive! Eu o odiei durante muitos anos, odiei Arceus, odiei todo esse pesadelo!!

Ele voltou seus olhos para Yellow e parou por um momento.

—Mas então... O verdadeiro Cavaleiro de Cor Quente apareceu depois de tanto tempo e... - Seu olhar se suavizou. - ... Ela chorou por ele, ela se preocupou com ele, ela se culpou por ele e... E está disposta a se sacrificar por ele!!

A loira comprimiu os lábios.

—Tente entender como eu me sinto!! Não tem um lado certo a seguir, não importa para onde eu olhe não há inimigos, só dois lados que não mereciam nada disso... Eu não sei mais o que pensar...

Ele foi interrompido por dois braços que o seguraram e a pequena o trouxe para perto do seu peito, abraçando-o.

—Desculpa... Você também esteve se segurando por tanto tempo, não é?

Foi só então que as lágrimas caíram dos olhos do Pokémon transparente.

—Você não... Tem culpa de nada...

—-000--

 

—Então... Você tem certeza disso, não é?

Ela assentiu.

Green suspirou.

Ele havia treinado aquela garota, sabia o quanto ela podia ser persistente e teimosa. Apesar de sua estatura pequena, Yellow era do tipo que quando queria, conseguia ser bem pior que um Primeape obstinado.

Por isso, sabia que se discordasse, não adiantaria de nada e só iria gerar brigas desnecessárias.

Mas de qualquer forma, ele aprendera em primeira mão a não duvidar dela ou de suas habilidades. O líder de Ginásio ainda se lembrava bem da vez que pensara que o talento dela poderia superar todos os outros.

E sinceramente, ele ainda tinha fé naquilo.

—Certo, então vamos logo!

—Sim, eu se-! - A garota encarou o garoto que colocava seu colete vermelho e branco. - Espera, o quê!?

—Hm? - Red piscou e tombou a cabeça para o lado. - Eu vou com você, ué.

—N- Não, de jeito nenhum! - Ela tentou se aproximar dele, mesmo que precisasse se manter de pé com a ajuda de Gravvy. - Você não pode! Você-

Uma mão em sua cabeça, suave e gentil, a interrompeu.

—Eu acredito em você, Yellow. De verdade. - Seu olhos vermelhos encaravam seus verdes, confiantes. - Desculpa se algum dia te fiz pensar que não, mas eu confio.

Sua pele formigou com aquelas palavras, talvez a vontade de ouví-las fosse bem maior do que imaginava.

—Então, acredita em mim mais uma vez. Eu vou conseguir.

Ela engoliu em seco e finalmente quebrou o contato visual. Mesmo naquele estado, o olhar dele ainda a afetava demais.

—Tá bom. - E respirou fundo antes de se virar para trás uma última vez.

Blue estava de costas para os três, com os braços cruzados e encarando o horizonte escuro a frente. Ela se lembrou das palavras que o garoto de cabelos espetados conseguiu sussurar para ela quando a outra não estava olhando, sobre o peso que ela carregava em seus ombros.

"Sobre a Blue... Ela se culpa por você ser o Cavaleiro de Cor Quente, imagino que você já deve imaginar o porquê."

—Blue! - Ela chamou e viu os ombros da amiga ficarem tensos. - Não importa o que você pode achar, a culpa não é sua! Eu nunca vou te culpar por isso!

A morena abaixou a cabeça.

—E mesmo que fosse, eu ainda não te culparia! Eu faria tudo de novo e aceitaria esse nome de novo!

Mas parou de falar quando viu a mais velha girar nos calcanhares e caminhar pisando forte - o quanto seu pé quebrado parecia permitir - até ela. A pequena fechou os olhos com força, por instinto.

E sua surpresa não foi nem um pouco pequena quando seu nariz foi de encontro a um ombro.

Yellow abriu os olhos e piscou um par de vezes enquanto a morena a segurava com mais força em seus braços. O abraço chegava a ser dolorido devido aos seus membros estarem fracos, mas ela o aceitou de bom grado. Não teve noção de quanto tempo ele durou.

Quando a outra a soltou, nenhuma palavra foi dita, apenas olhares de entendimento ocorreram entre as duas.

—Boa sorte. - A mais alta falou.

—Obrigada. - A mais baixa assentiu.

Enquanto davam as costas uma para a outra, Green lançou um último aceno de cabeça para Red que não perdeu tempo em retribuir. Ao mesmo tempo que seu melhor amigo e a pequena sumiram dentro da fenda no pé da montanha, os sons dos pokémons psíquicos puderam ser ouvidos.

O líder de Ginásio caminhou até a morena e se pôs ao lado dela.

—Espero que isso seja o suficiente para você.

—Bondosa demais, sempre se colocando em segundo plano e nunca pensando duas vezes antes de perdoar alguém. - Ela bufou, mas sorria. - Não dá pra acreditar nessa garota...

—Imagino que tenha orgulho de tê-la como melhor amiga então.

A garota respirou fundo, seus olhos azuis já podiam avistar seus oponentes ao longe.

—E como.

Ele sentiu uma mão segurar a sua com força.

—Mas não fica assim, Grennie. Tenho orgulho de você também.

Demorou um pouco, mas ele devolveu o gesto.

—... Travessa.

—-000--

 

—Eles chegaram mais rápido do que eu imaginei. - O moreno comentou, dando uma olhada por cima do ombro.

—Eu também... - A garota concordou, ofegante e se segurando ao seu Golem. - Mas é a Blue e o Green-san... Eles podem dar um jeito... Neles...!

Ele olhou para frente, para a garota que estava há alguns passos diante dele e fazia o maior esforço só para dar um passo.

—... Por que não pediu ajuda pro Dody? - Ele perguntou e liberou seu Polywrath da pokébola para proteger a retaguarda deles.

—Ele já me... Carregou de mais... Precisa descansar...

O garoto trincou os dentes e balançou a cabeça. Era até um pouco hipócrita da parte dela falar aquilo levando em conta sua situação, mas ele não disse nada.

Apenas apertou o passo e quando estava do lado dela, segurou seus ombros.

—Re-

E pôs um braço atrás das pernas dela antes de levantá-la do chão.

—Red-san!? - Yellow exclamou antes de ter um acesso de tosse.

—Você precisa guardar a pouca energia que te resta. - Ele sorriu para ela. - Não se preocupe, você não pesa nada.

Gesticulou para o Pokémon da garota para que ficasse atrás deles, ajudando Poli. Gravvy assentiu e rolou para perto do Pokémon de água, sem esperar para ver se os dois estavam lá, Red disparou caminho a cima com a pequena em seus braços.

Ela sentia seus braços e pernas bambos, ao ponto que não conseguia segurar-se nele e por mais que não quisesse admitir, aquele apoio foi muito bem-vindo.

Sua mente estava nebulosa, seu coração estava pesado e mesmo  que não houvesse uma dor constante, podia sentir a energia do seu corpo escapando aos poucos.

Estava com medo, mas é claro, ela era humana afinal de contas. Podia não pensar duas vezes antes de ajudar quem quer que fosse, mas não era como se não tivesse consciência dos riscos.

Ela tinha.

Ainda assim, ela seguia em frente. Podia ser a mais pura estupidez, mas a garota tinha certeza desde o canto mais profundo de si até a ponta de cada um de seus dedos que ela estava fazendo aquilo que devia. Era o que acreditava.

Seus olhos se voltaram para o rosto do garoto que a carregava e encostou sua cabeça no ombro dele. Parecia que a briga que tiveram - por causa daquele papel que ela não fazia ideia de onde estava - tinha sido há tanto tempo.

Tudo começava a fazer mais sentido pra ela, o medo nos olhos dele, o desespero em sua voz. Sentia-se mal por tê-lo deixado tão preocupado e não tinha palavras para explicar o que sentia quando ele veio atrás dela apesar de tudo.

Ele realmente...

—Preciso admitir. - Sua voz atrapalhou sua linha de raciocínio e ela voltou sua atenção para o garoto. - Nem parece que você era uma garotinha perdida na floresta e que quase foi atacada por um Dratini.

A loira sorriu sem graça.

—Poxa, mas isso já foi há-

Sua expressão e fala congelaram enquanto seus olhos se arregalavam.

—VOCÊ LEMBRA?! - Gritou e teve outro ataque de tosse. A reação da garota fez Red levar um susto e quase tropeçar. Ao fundo, a entrada para a dentro da montanha foi invadida pelo Unowns que Green e Blue não conseguiram segurar.

—M- Mas ué! É claro que eu lembro! - O moreno respondeu depois de se recuperar e começou a correr mais rápido. - Eu não sou tão idiota assim, né!

—Nã- Não foi isso que eu quis dizer! - A loira sentiu suas bochechas esquentarem, pouco se importanto com o som alto do Rock Throw de seu Pokémon. - P- Por que você nunca falou nada?

—Porque você nunca perguntou! - Foi a resposta. - Achei que você tivesse esquecido.

—E eu achei que você tivesse esquecido!

Ainda correndo, Red a encarou com um rosto igualmente surpreso, antes de suas bochechas se inflarem e soltar uma risada. A garota piscou um par de vezes, mas não conseguiu deixar de ser contagiada e dar risadinhas também.

—Que hora pra resolver um mal-entendido!

—Também acho. - E sorriu. - Mas parece que você sempre resolve coisas das maneiras mais estranhas, Red-san!

—Ei, assim também n-

Mas um vulto preto descontinuou sua frase, quando cortou a sua frente e fez o garoto de vestes vermelhas segurar a loira em seus braços com mais força, antes de tentar se esquivar do ataque o mais rápido que pudesse.

Só que o Pokémon psíquico nunca teve a oportunidade, já que um rajada de Razor Leaf foi muito mais rápida que ele. Ambos olharam em choque para o Pokémon verde claro e transparente que apareceu ao lado deles.

—Odeio interromper o momento de vocês. - Ele respondeu. - Mas acho melhor se apressarem.

—E- Eu já sei disso. - O garoto de olhos vermelhos resmungou logo após se recuperar do susto e voltou a correr.

O Bulbassauro tomou a liberdade de se livrar de cada Unown que escapasse da barreira de Poli e Gravvy, não medindo esforços para tal. Suas folhas eram rápidas como tiros, os cipós que saíam do seu bulbo agarravam os Pokémons negros e os lançavam para longe mesmo que já estivessem desacordados.

Quando estavam chegando no topo da montanha, ele se pronunciou mais uma vez.

—Tem uma coisa que eu quero te contar, mas acho que não vou conseguir uma vez que chegarmos ao topo.

Os dois dexholders o olharam.

—Eu conheci o Senhor Missingno muito antes dele ser jogado na Glitch City. - Começou. - Ele me encontrou perdido depois de ser arrastado pela água até Cinnabar, ele me acolheu e me protegeu...

Yellow sentiu pequenas engrenagens girarem no seu cérebro.

—Eu fiquei com ele durante todo aquele tempo e não pensei duas vezes antes de pular dentro do buraco quando ele foi amaldiçoado por Arceus.

As peças se encaixaram e ela prendeu a respiração.

—As visões daquele sonho... Elas eram suas...

O Pokémon planta olhou para baixo e não respondeu o que já era óbvio. A saída se acendeu ao longe e o tempo pareceu correr rápido demais.

"...Obrigado, Yellow."

A pequena tentou olhá-lo por cima do ombro do garoto, mas uma explosão de pedra e água a fez recuar.

—RÁPIDO! - O Bulbassauro gritou. O campeão da Liga disparou para fora do atalho e caverna adentro.

—POLI, GRAVVY! CONTO COM VOCÊS! - Ele gritou para os outros pokémons e a resposta foi outro estrondo.

Conforme seguiam em direção ao núcleo da montanha, a loira pode sentir uma fraca energia vinda da direção oposta que por pouco ela conseguiu reconhecer como Missingno. Ele estava mal, tão mal quanto ela ou talvez até pior. Bem pior.

—Garoto! Você não pode entrar junto com ela.

—O quê!?

—Você já chegou a entrar no centro da caverna dele?!

—N- Não, mas-

—Isso não é por acaso, só o verdadeiro Cavaleiro de Cor Quente consegue entrar, ou seja, ela tem que fazer isso sozinha!

—E desde quando-?!

—Red-san, tudo bem. - Ele voltou seu olhar para ela que assentiu determinada. - Eu consigo.

O moreno a encarou antes de suspirar pesadamente e assentir.

—Tá.

Não demorou para que chegassem na abertura interna e ele podia jurar que suas pernas começaram a pesar uma tonelada, como da primeira vez que estivera ali. Parou de correr aos poucos e continuou andando, mas quando estava cara a cara com ela, teve que parar de vez.

—N- Não dá. - Sentiu uma pontada aguda na testa. - Eu não consigo ir mais do que isso.

—Eu avisei. - O Pokémon transparente se voltou para a garota e assentiu.

Ela respirou fundo e desceu dos braços de Red, apoiou-se nele para recuperar o seu equilíbrio. Ele demorou para soltar os braços dela, mas sabia que não podia segurá-la para sempre.

—Eu já vou. - Ela sorriu para ele e lhe deu as costas.

Seus passos estavam pesados, sua mente voltou a altenar entre sonho e realidade, seu corpo não parecia mais ter firmeza alguma, nada dentro de si estava em harmonia.

Estavam tudo lento, fraco.

Podia ver Missingno deitado alguns metros de si e respirou fundo outra vez.

Mas quando deu mais um passo para frente, seu coração pareceu falhar uma batida por muito mais tempo que as outras. Ela se segurou para não cair no chão, respirou várias vezes como se algo tivesse bloqueado a entrada de ar nos seus pulmões e ela percebeu.

Seu tempo estava por um fio, não tinha mais volta.

Seus lábios tremeram e as lágrimas que estava segurando finalmente caíram.

Estava com medo, com tanto medo.

Mas ela iria fazer aquilo e não pretendia ter qualquer arrependimento a segurando.

Yellow girou nos calcanhares e ficou de frente para Red.

—Red-san!

—Yellow? O que foi?!

A pequena balançou a cabeça, um sorriso entre suas lágrimas.

—Muito obrigada por ter me salvado daquele Dratini naquela vez! Obrigada por ter me ensinado sobre pokémons, por ter me ajudado a capturar o Ratty e por ter me feito sair numa jornada.

Ele a encarou confuso. Porque ela estava...?

—Desculpa por ter demorado para te contar que eu era uma menina, mas obrigada por ter continuado meu amigo mesmo depois disso. Obrigada por ter me dado a sua pokédex e ter me tornado uma Dexholder...

—Yellow...?

—Obrigada por ter me feito conhecer lugares e pessoas incríveis... Obrigada por ter me motivado a enfrentar todos os meus limites...

Suas pequenas mãos começaram a tremer, mas ela se manteve o mais forte que pode.

—Eu consegui tantas coisas porque você me fez dar o primeiro passo... Por isso, obrigada. Muito obrigada por tudo.

Ela estava tão fraca, talvez seu coração não aguentasse bater tão forte daquele jeito.

—Eu te amo. - Mas falou por fim, dando o melhor sorriso que pode e o encarando pela visão embaçada. - Eu te amo muito.

E deu as costas para o garoto que continuava embasbacado, quando estava a meio caminho de Missingno, ela o ouviu gritar seu nome, o ouviu tentar correr para dentro da caverna e sendo impedido pelo Bulbassauro transparente.

Sua audição começou a falhar e aos poucos não conseguiu mais ouvir os berros dele, por mais altos que fossem.

Parou há poucos passos da ave gigante que abriu seus olhos foscos, pesadamente.

"... Você voltou." A voz de seus pensamentos estava clara, mas tão fraca. "Não precisa se dar ao trabalho, eu já estou morrendo."

—Eu também. - A loira sussurrou e só deu mais alguns passos antes das suas pernas pararem completamente.

"Acho que nem a morte pode parar o Cavaleiro de Cor Quente..."

—Não... - Negou com a cabeça e pôs uma mão sobre o bico dele. - Eu não vou te matar.

Ainda que fraca, seus poderes deixaram ela sentir os sentimentos de confusão e medo borbulharem na sua mente.

—Desculpa, Missingno... - Ela continuou fazendo carinho sobre seu bico, sua mão estava começando a ficar gelada, mas seu toque era doce e amável. - Por tanto tempo, eu te fiz sofrer tanto...

"Não fale como se você soubesse..."

—Eu sei... O Bulbassauro transparente me mostrou. Sobre Moltres, sobre Ho-Oh, sobre Arceus, sobre tudo... Eu vi graças ao Sleep Powder dele.

O passáro gigante permaneceu em silêncio, seu peito subia e descia lentamente.

—Você já sabe o poder que eu tenho, não é? - Não conseguia mais segurar seu próprio peso e se apoiou sobre o bico do Pokémon, suas palpebras estavam pesadas e molhadas.

"Por que...!? Depois de tudo que eu fiz..."

—Porque eu quero te salvar. Eu vou te salvar e por um fim nessa maldição.

"Se fizer isso..."

—Eu sei... Eu vou morrer. - As pontas dos seus dedos começaram a formigar a medida que uma luz fraca cobria o corpo arroxeado do Pokémon. - Eu estou com... Muito medo, mas... Eu me recuso a perder para um destino tão cruel assim...

Missigno fechou seus olhos e se perdeu na luz quente e confortável dos poderes da garota. Era como o sol que acariciava suas asas cansadas e esquentava suas penas, ele pode sentir o cheiro de grama, de água salgada e se imaginou aos pés da ilha de Cinnabar.

Depois de séculos, se convencera de que era um erro. Sua existência era tão falsa e triste, por que raios ele havia sequer nascido? Ele foi condenado a viver preso, num mundo horrível enquanto esperava todo os dias pela sua sentença de morte.

Parara de desejar por misericórdia e seus olhos haviam perdido todo o brilho que uma dia tiveram, havia perdido a vontade de viver, a esperança. Não acreditava mais em nada, nem nas lembranças boas que teve com Moltres e nem em si mesmo.

Ele era um ser completamente vazio, indigno até de pena.

No entanto, lá estava ela, usando o resto das forças que lhe sobravam para lhe dar a segunda chance que a tanta eras atrás havia implorado. Ela pediu desculpas mesmo que não devesse, admitiu ter medo, chorou, não voltou atrás no que havia dito e lhe deu a coisa que mais ansiava.

Compaixão.

Gotas grandes caíam dos seus olhos e encharcavam as pernas dela que nem andavam mais, ele podia sentir o seu toque ficar cada vez mais frio a medida que seu corpo retomava força.

Yellow sorriu e fechou os olhos antes de tudo ficar escuro.

O desespero por fim

Encontrou então

A hora de terminar


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Notas finais do capítulo

“Show me a hero, and I'll write you a tragedy.
(Mostre-me um herói e lhe escreverei uma tragédia.)”

― F. Scott Fitzgerald

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E com isso, posto aqui o último capítulo de The Lost Number.
Quero agradecer a todos que acompanharam essa história e me deram apoio.
Espero que tenham gostado.

E até a próxima~
Inté!



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