The Lost Number escrita por Miss_Miyako


Capítulo 13
Nº 12: A decisão.


Notas iniciais do capítulo

Bam ba dan daaaaaaaan.
Penúltimo capítulo (Ou antepenúltimo se contar o epílogo.)
Esse cap é até que curto, mas ele explica algumas coisa importantes da história e, claro, faz ponte para o desfecho.

Espero que gostem e boa leitura!



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A sensação de cair em queda livre é estranha.

Você não sente como se caísse, mas sim como se um colchão de ar abraçasse suas costas.

É irônico, você sabe do perigo iminente, você tem medo, mas tudo parece ser abafado pela sensação de estar nos ares.

Ou pelo menos, foi assim que Blue se sentiu.

Metade da culpa podia ser por achar que merecia aquilo, afinal, ela merecia por ter colocado a melhor amiga no meio daquele pesadelo.

A morena conseguiu sentir as lágrimas subindo ao mesmo tempo que seus arredores ficavam cada vez mais escuros.

Ah... Me pergunto se Green e Silver estão brigando agora...— Ela pensou. - Espero que não...

A fissura do desfiladeiro parecia uma linha daquela distância.

A Lyra deve ter ficado em choque também, aposto... Ela é bem sensível.

Suas mechas castanhas dançavam diante dos seus olhos em movimentos irregulares.

Queria ter dado uma bronca na Yellow...— Comprimiu os lábios. - ... E ter pedido desculpas também.

Ela fechou os olhos com força, sentindo os cílios molhados tocarem sua pele. Podia ser impressão sua, mas algo lhe dizia que chegaria ao chão logo, tinha que estar preparada para enfrentar o que a aguardava.

—Tem tanta coisa que quero fazer... - Sussurrou, sua voz sendo levada junto com suas lágrimas. - Eu não quero morrer ainda.

...

E naquele instante a garota aprendeu o significado de "Cuidado com o que você deseja."

Mesmo com os olhos fechados, ela percebeu um raio de luz cruzar a sua frente e algo atingiu suas costas.

Ela, de fato, atingiu algo. Algo fofo, grande e rosa.

Antes que seu cérebro pudesse processar a informação, o impacto a arremessou para frente e ela se viu indo em direção à parede de pedra que cercava um dos seus lados.

Tendo sua conformidade substituída pela surpresa e sua estranha calma perdendo o lugar para um medo repentino, a garota não demorou para sentir um grito queimar sua garganta e sair pela sua boca.

Porém, este fora interrompido por outra superfície grande, fofa e rosa - bem maior que a primeira - e Blue foi lançada para cima pela segunda vez.

No estado de completa confusão em que se encontrava, ela não tinha controle dos seus atos e quando seu corpo atingiu uma outra superfície também rósea e macia, mas mais consistente que as outras duas, seus instintos fizeram com que sua mão agarrasse na primeira coisa que seu tato conseguisse registrar como segura.

Segurou-se a ela como se sua vida dependesse disso, o que era o caso, e soltou outro grito desesperado quando percebeu que ela continuava indo para baixo.

Porém, a coisa a qual se segurava parecia ter outros planos, foi o que ela concluiu quando a sentiu ir para o lado e bater - ou tentar se segurar, não dava para discernir - na parede de pedra. O movimento se repetiu mais algumas vezes, até que a garota não conseguiu mais se segurar e seu corpo encontrou rapidamente o chão.

Ela girou, girou e girou. Sua pele raspou no chão frio e seus cabelos se enrolaram ao seu redor, até que ela parasse de vez ao ir de encontro à pedra mais próxima, onde seu pé bateu sem dó nem piedade.

A morena urrou de dor e cravou as unhas no solo, tentando suportar.

Devido à agonia latejante no seu tornozelo direito, ela não percebeu de imediato que - apesar de tudo - ainda estava viva.

Mas quando se levantou para segurar seu machucado, que já se mostrava roxo com alguns arranhões abertos, ela arregalou os olhos.

Estava viva.

Seu coração acelerou, a dor momentaneamente esquecida, e olhou para si. Para seu machucado, para suas pernas, para o seu colo, para os seus braços, para suas mãos que tremiam sem parar. Tocou sua cabeça e agarrou seus cabelos, puxando-os com força para ter mais certeza ainda se não estava sonhando.

—Ai. - Exclamou e os soltou, os fios recém puxados reclamavam no seu coro cabeludo.

Estava viva.

Ela estava viva.

—... O quê...

—... Bull?

—AI! - Berrou, jogando-se para o lado e virou seu rosto na direção do som.

Um Pokémon grande e rosa a encarava com grandes olhos negros, orelhas caídas e presas pontudas. Sua pata estava erguida como se também estivesse machucada.

Demorou algum tempo para perceber que era seu Granbull.

Respirava com tanta força que até seus braços seguiam os movimentos do seu peito.

—Granbull... - Ela sussurrou e estendeu os braços, o Pokémon cão encarou aquilo como um convite e correu até ela, deitando em seu colo. Blue abraçou a cabeça dele e segurou suas orelhas com força. - Granbull... Ai, meu Arceus, Granbull...

—Wiggly!

—Ditto!

Ela olhou para cima e encontrou um Wigglytuff e um Jigglypuff a encarando com o mesmo olhar que seu Granbull dera alguns segundos atrás. O segundo Pokémon começou a diminuir até assumir uma forma rosa e gelatinosa.

—Jiggly... Ditty... - Ela nem tinha a forças para segurar as lágrimas e os dois Pokémons não perderam tempo para se juntar a ela.

Ao ser abraçada pelos três de uma vez só, a morena recebeu de bom grado e com muita alegria a sensação de calor e segurança, ainda sem acreditar no que tinha acabado de acontecer e com seus pulmões ainda em rebuliço.

Pokémons não conseguem sair de suas pokébolas a menos que seus treinadores permitam, mas não é um ato impossível. Exige muita força física e é um ato perigoso, já que não há como saber se ela vai explodir com a tentativa ou prendê-los completamente, podendo os esmagar.

E para ter tomado aquele risco, caindo numa velocidade absurda e em direção à morte... Apenas por ela...

Blue não conseguia acreditar.

—-000--

A morena encarou as bandagens improvisadas envoltas no seu tornozelo com gelo recém feito preso a ele.

—Então foi assim que você escapou... - Ela ouviu seu amigo de olhos vermelhos murmurar e ela voltou seus olhos para os dois garotos a sua frente antes de assentir.

—Foi.

Green não tirara os olhos dela durante toda a história, ela percebeu.

A garota sabia que ele ainda se culpava e a maneira como seus ombros estavam tensos a deixava com medo que talvez ele nunca se recuperasse do choque.

Mas levando em conta o estado dela, de Red, Yellow e provavelmente dos outros, era normal que essas sequelas nunca fossem se recuperar completamente.

Blue voltou seus pensamentos para a sua melhor amiga e olhou na direção da cavidade da caverna onde a loira descansava.

Durante o período que Yellow tentava controlar seu choro, o Bulbassauro transparente tomou a liberdade de contar a eles a história de Missingno. Diferente da pequena, eles não viram as cenas em primeira mão com a ajuda do Sleep Powder, mas as palavras e a descrição contada pelo Pokémon foram desagradáveis o suficiente.

Para alguém como a sua amiga, que odeia violência, ver tudo aquilo sem quaisquer filtros, tendo a verdade nua e crua jogada na sua cara, era compreensível a sua reação.

Quer dizer, ela só ouvira e já sentia seu estômago revirar.

A morena viu os ombros de Red caírem, surpreso com a revelação e provavelmente sendo atacado por um turbilhão de pensamentos enquanto as duas impressões que tinha do Pokémon pássaro brigavam entre si.

Diante dos seus olhos, a lenda estava se realizando e eles não tinham ideia de como - ou sequer forças para - pará-la.

O tempo que levaram para digerir toda a nova informação, foi o tempo que a loira levou para se acalmar. Ela pediu com a voz rouca para que esperassem por ela no outro canto da caverna, já que queria falar a sós com o Bulbassauro novamente.

Apesar dos protestos por parte dela e do garoto de boné vermelho, a insistência da mais nova fora forte demais e eles cederam.

Por isso, estavam esperando ao redor da fogueira que o Charizard de Green havia criado, aproveitando o momento para contar sobre os incidentes que ocorreram com eles desde que se separaram.

—Sua vez, Red. - A garota ajeitou o gelo no seu pé. - O que aconteceu com vocês?

Ele suspirou.

—Depois que rolou aquele terremoto que nos separou, Gold, Crys e eu corremos até uma floresta de árvores secas para despistar os Unowns. Gold encontrou a Yellow por lá por coincidência enquanto verificava se a área estava livre.

Piscou algumas vezes como se a realização de algo tivesse atingido o seu cérebro e comprimiu os olhos.

—Quando estávamos decidindo como iríamos encontrar vocês e os outros, a Yellow começou a agir estranho e quando ela descobriu que o Missingno ficava no topo da montanha, ela saiu correndo até lá sem mais nem menos. - Parou para retomar o ar. - Agora faz sentido...

—E como vocês se separaram do Gold e da Crystal? - Foi a vez de Green se pronunciar depois de todo aquele tempo calado.

— Fomos atrás dela e eu consegui segurá-la quando estávamos no pé da montanha, depois disso, nós nos desentendemos e isso chamou a atenção dos Unowns. Eles nos atacaram e um pedaço da montanha caiu entre nós, nos separando. Saímos correndo em direções opostas para fugir deles, eu e Yellow fomos montanha acima e Gold e Crys voltaram para a floresta.

—E depois?

—Eu não sei. Quando estávamos no topo da montanha, a Yellow conseguiu me convencer a deixá-la ver o Missingno. Depois que eu ouvi o berro dele e a montanha começou a tremer, mandei Aero resgatá-la e dei um jeito de fechar a passagem atrás dela para atrasar os Unowns.

—E por que você deixou ela ir? - A voz de Blue estava irritada, mas contida.

Red encolheu as pernas e apoiou seus braços sobre seus joelhos.

"Quero que você fique aqui... E quero que você confie em mim."

—... Eu decidi confiar nela.

—O quê?

—Nós tivemos outra briga quando nos encontramos na floresta! Ela...

"Eu preciso que você use palavras para te entender, sabia??!"

Ele respirou fundo e a pedido da morena, contou sobre a briga que tivera com Yellow. Não é como se ele quisesse esconder, afinal.

—... Ah. - A expressão de Blue finalmente mudou e ela se encostou na parede de pedra. - Entendi.

—Então, eu sou assim mesmo, não é? - O moreno abaixou a cabeça.

—É claro. - Seu melhor amigo respondeu. - Você sempre prefere fazer tudo sozinho e cai de cabeça antes de pensar nas consequências.

—Ei, não precisa jogar na minha cara, Green. - Virou-se para ele. - E você também adora fazer tudo sozinho.

—Não estou contando vantagem, Red. Estou apontando um defeito que eu e você temos.

O campeão da liga se calou.

—Vocês e eu temos. - Ambos se voltaram para a morena. - E a Yellow também, é um problema que nós quatro temos em comum. Sempre vamos pra linha de frente por diversos motivos, seja por nós, seja pela situação ou por alguém que importa.

Silêncio.

—No fim, é exatamente por isso ou estou errada? - Ela os encarou e eles não responderam. - Vou tomar isso como um sim.

A garota respirou fundo antes de voltar a falar.

—Escuta, eu não tenho moral nenhuma para falar de vocês, okay? Eu vivi muito tempo tendo que lidar com tudo sozinha e apesar da minha maneira de agir ser diferente, eu entendo como a Yellow se sente.

Blue desviou o olhar para a cavidade da caverna onde sua amiga estava.

—Ela não sabe ser egoísta, ela coloca todo mundo na frente dela sem pensar duas vezes e ela se importa demais se essa pessoa for especial. - A morena passou uma mão pelos cabelos. - Só que ela se coloca tanto em segundo plano que ela não se sente no direito de ficar com raiva da pessoa.

O garoto de cabelos negros engoliu em seco.

—A questão é que... Ela quer que se apoiem nela, mas quando não fazem isso, ela respeita e fica quieta, mas lá no fundo ela se sente mal e não quer admitir. Talvez, ela possa ter pensado alguma hora que você não confiava nela para falar dos seus problemas.

Red arregalou os olhos.

—Quando na verdade, você é igualzinho a ela e não fala porque também se coloca em segundo plano nessas situações. Então, as brigas, o estresse, tudo isso pilhou nela e explodiu.

—Não foi culpa sua. - Green interveio e a morena piscou, surpresa. - É um defeito que surgiu de uma qualidade e você percebeu agora que precisa consertar, simples.

Ele encarou o melhor amigo nos olhos.

—Então concerte ao invés de deixá-lo te perturbar desse jeito e impeça que ele gere um problema maior ainda.

O garoto de olhos vermelhos abaixou os ombros e assentiu por fim. A garota abriu um pequeno sorriso, ciente que aquele sermão não havia sido apenas para Red, mas para ela e ele próprio. Suas teimosias podiam ser diferentes da dos outros dois, mas estavam no mesmo barco.

—Já que isso foi resolvido, tem uma coisa que eu ainda não entendi. - O líder de ginásio voltou seus olhos para ela. - Eu ainda não entendi porque você disse que é culpa sua a Yellow ser o Cavaleiro de Cor Quente. O que você tem a ver com isso?

Ela respirou fundo. Aquela era uma pergunta justa e, sinceramente, a mesma também queria falar sobre isso.

—Quando eu a chamei e pedi que procurasse pelo Red, depois da ideia dela se disfarçar de menino, eu a chamei por um nome.

—Um nome? - O campeão da liga perguntou.

—Caballero Amarillo. Traduzindo do espanhol significa Cavaleiro Amarelo. O Cavaleiro de Cor Quente.

Eles a encararam e o moreno de cabelos espetados balançou a cabeça.

—Mas e daí? Isso é só uma coincidência-

—Coincidências não existem, Green. Tudo acontece por algum motivo. - Retrucou. - Pensa bem! A Yellow é o Cavaleiro da lenda, eu a chamei de cavaleiro tanto anos atrás e sempre foi tão estranho!

Ela bateu as mãos nas pernas e olhou para os lados, tentando se explicar.

—Quer dizer, quando você olha pra Yellow, "cavaleiro" não é uma das primeiras coisas que você pensa. Ela é uma garota que pesca, que desenha, que tem poderes de cura! Então porque raios eu dei aquele nome pra ela?

Silêncio. Aquilo fazia sentido, mesmo que soasse impossível.

—E se... Ela foi escolhida justamente por causa desse nome? - Seus olhos azuis os encararam, sérios. - Ou se vocês tiverem uma outra razão para explicar tudo isso, sou toda ouvidos.

—-000--

—Perdão? - O Bulbassauro piscou. - Pode repetir?

—Eu perguntei... - A loira agarrou o tecido da sua calça com força. - Ainda há alguma chance de salvar o Missingno? O estado dele tem como ser revertido?

—Você não pode salvar o Missingno. - Ele retrucou. - Suas mãos estão destinadas a matá-lo.

—EU-! - A garota conseguiu segurar seu tom a tempo e o Pokémon pode jurar que vira seus olhos verdes faiscando. - Eu não vou matar ninguém, muito menos o Missingno.

—Mas você-

—Há chance ou não há!? - Ela estava cada vez mais pálida e ele podia ver que estava usando um esforço que não possuía para discutir com ele.

O Pokémon transparente permaneceu calado, ponderando o que dizer.

—Sim. O ataque Curse do Missigno é diferente, ele mata o atingindo dentro de algumas horas, mas em teoria, não deixa de ser um estado como se estivesse queimado ou congelado, se você tiver algo poderoso o suficiente para interrompê-lo, então sim. Ainda há uma chance de salvá-lo.

—Então dá para salvá-lo se... - Ela pôs a mão sobre o peito. - Eu usar o meu poder?

—... O poder curativo da Floresta de Viridian é absoluto, ele pode curar qualquer coisa. É um poder que transborda vida.

Yellow soltou a respiração, relaxando os músculos e seu rosto assumiu uma expressão aliviada.

—Mas também é um poder que exige demais do usuário! - O Pokémon de planta avançou um passo. - Se você fizer isso, vai-!

—Eu sei. - A resposta foi curta e decidida, sua face tinha mudado completamente para uma séria.

Ele parou.

—Mas eu vou salvá-lo.

Quando você pensa em um cavaleiro, a primeira coisa que vem a sua mente seria um defensor. Uma pessoa forte, confiante e que tem o poder de proteger quem quisesse. Naquele momento, o Bulbassauro podia jurar que a pequena e frágil garota diante dele parecia mais reluzente, corajosa e imponente que qualquer outra pessoa de armadura de aço.

A garota tinha sim um gênio altruísta e bondoso que sempre a fazia colocar todos na frente dela.  Forte e sincero, até demais.

Sempre. Ao ponto de que, talvez, se transformasse na sua própria ruína.

Um coração que bate

Puro e digno

Sem parar até o fim


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Notas finais do capítulo

Antes que alguém fale que não lembra dessa passagem no mangá: (http://mangas.centraldemangas.com.br/pokemon_adventures/pokemon_adventures083-14.jpg) Tó, tá até em português pra não ter erro. Se alguém pescou a referência antes, parabéns. Se não, acho que eu sou a única que é doida pela Yellow o suficiente para saber cada santo detalhe xD

Obrigada por terem lido e até a próxima!



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