Pov of Akie Kaori

O dia do jogo estava se aproximando e confesso que fiquei intrigada ao ver que as meninas estavam planejando fazer uma festa do pijama. Mas também seria mentira ao dizer que eu não estava com um pingo de interesse sobre isso. A minha vida toda, eu fora a 'nerd fria' da escola e por isso, ninguém me chamava para festinhas.

Aquilo seria uma ótima chance.

— Presidente, precisamos decidir quem ficará encarregado da parte principal essa semana. — Uma dos membros do clube apareceu, carregando mais uma pilha de cópias. Suspirei. Era muito difícil as pessoas se interessarem pelo o clube de jornalismo e desde que Kyoko saíra, ninguém mais aparecera para substituí-la.

Soltei um longo suspiro ao lembrar dela. Era mesmo suspeito, uma garota popular surgir no meio do período escolar e falar que gostaria de entrar para o clube. Talvez ela já planejasse isso desde o começo... Mas eu fora boba demais. Eu havia ficado tão impressionada com a facilidade que ela tinha para trazer novos assuntos e aprender rápido, que esquecera do principal. Conhecê-la.

Vamos Akie, pare de se culpar. Pensei irritada, pegando os papeis.

∞

— Vamos, vamos. Eu falei que conseguiria planejar uma festa e aqui está a resposta. — Emiko falou sem cerimônias, quando nos encontrou na porta de sua casa. Eu já estava cogitando ignorá-la e ir direito para casa, quando notei o seu estado. Ela parecia cansada, tanto psicologicamente quanto fisicamente, e estava segurando dois livros com sua mão que não estava engessada e parecia estar sofrendo bastante. Seu pijama eram um short e uma blusa de cor verde-claro com alguns babados bem ousados. Era o típico de pijama que ela usaria mesmo.

— Um clube do livro? — Arriscou Stéfanni arqueando as sobrancelhas e Emiko revirou os olhos. Me aproximei dos livros e notei algo, todos eram livros juvenis. E você não lê um livro juvenil na véspera de uma festa do pijama, à menos que...

— Você estava buscando ajuda em livros? — Perguntei, incrédula e como prova do que eu falara era verdade, seu rosto enrusbeceu e ela arrancou o livro da minha mão caminhando para dentro.

Seu sofá, estava com cerca de 7 livros, todos abertos jogados em várias direções. Quase tive vontade de arrumá-los, mas me segurei. Ao lado do sofá, havia um grande tapete e nele, exatamente 10 almofadas estavam colocadas formando um círculo. Não tinham 10 de nós, mas achei melhor ficar calada. Emiko estava dando o seu melhor.

— Espera, agora é hora que eu vou até a cozinha e trago biscoitos para gente... — Pensou alto, enquanto lia seu livro. Tanabe pegou o livro de sua mão fechando-o e colocando-o delicadamente sobre a estante. Ele sorriu brincalhona para Emiko, piscando com um olho só.

— Estamos em uma festa de pijama, vamos improvisar. — Destacou a última palavra, fazendo questão de dar ênfase em cada silaba. Emiko suspirou, mas também tinha um sorriso em seus lábios. Acho que ela também não estava gostando de toda aquela pressão consigo mesma.

— Então, o que vamos fazer primeiro? — Indagou Jenny curiosa.

— Acho que primeiro, temos que ir até a casa da Yuuna, não é? — Perguntou Taiga e todas nós caímos na real. Que tipo de amigos nós éramos? A principal causa da festa e a gente esquece! Todas olharam para Jenny que bateu a mão na testa envergonhada.

— Poxa, então, vamos logo! — Falou, caminhando até a porta.

— Eer... Eu nunca saí na rua de pijama e sinceramente, não quero saber a sensação de sair assim. — Emiko se manifestou, correndo em direção ao quarto. — 2 minutos!

Enquanto ela se trocava, eu e as meninas lançamos olhares desconfortáveis umas as outras. E eu sabia no que elas estavam pensando. O que iriamos fazer quando encontrássemos com a Yuuna? "Então, Yuuna-chan. Nós sentimos muito pelo pé na bunda que seu namorado deu em você", eu sabia mais ou menos como era a sensação, por isso essa opção já estava descartada.

"Então, Yuuna, decidimos fazer uma festa do pijama para você superar o seu fim de namoro! Mas não chora, okay? ", isso também não.

— Quer dizer, não deve ser tão difícil lidar com alguém na situação da Yuuna, não é? — Taiga perguntou e seu tom de voz baixou, ao ver que ninguém quis, na verdade não conseguiu, responder.

Pov of Aisaka Taiga

— Por quê? Eu era a namorada perfeita! Eu nunca o traí! Eu concordava em tudo! Eu era tão legal com ele! Por quê? — Yuuna me chacoalhava sem parar e agora eu entendia o por quê das meninas não responderem minha pergunta. Não era questão de ser difícil lidar com alguém dessa situação, era impossível! Ela estava com os olhos vermelhos e parecia ter chorado por horas, o que explicaria o fato dela não ter ido à escola, mas eu me senti mal por isso. Já que tudo que eu podia fazer era falar que sentia muito, já que não entendia como ela se sentia.

— Calma, Yuuna-chan. Vai dar tudo certo. — Jenny a abraçou forte, e ela começou a chorar mais.

— A gente veio te chamar para uma festa do pijama. — Shine falou, sorrindo docemente. — Tem certeza que não quer ir conosco?

— Eu não quero mais sair de casa, meu mundo foi destruído. Eu só quero chorar, chorar e chorar mais. — Ela falava em meios aos soluços e eu recuei alguns passos. O que a gente faz nessas situações?

— Mas vai ser melhor se você for. Vamos comer toneladas de sorvetes, pegar uma foto do seu namorado e usar como alvo em um jogo de dardos. — Stéfanni tentou animá-la, dando um sorriso maléfico. — Se quiser, nós até damos uma lição pessoalmente à ele.

— Não, não! A culpa é minha! — Yuuna balançou os braços, fragilizada. Eu já não estava aguentando mais ver aquilo. Eu não sabia como era se sentir naquela situação, mas ver uma das minhas companheiras passando por aquilo... Era meio agonizante.

— Yuuna. — Me ajoelhei, ficando olho à olho com ela. — Tem certeza que foi sua culpa? Você falou que sempre foi a namorada perfeita. Você é linda, educada, alegre e gentil. Se alguém é culpado nessa história, com certeza é o seu namorado.

— Mas a Jenny tinha razão, um namoro onde a garota nem quer beijar...

— Yuuna, eu não entendo muito de relacionamentos. — A interrompi, dando de ombros. — Na verdade, as meninas tem razão. Eu sou meio que uma alienígena em tudo que vocês falam. Mas eu sei de uma coisa. Se você continuar chorando aí, nada vai mudar. Ao invés disso, você tem que aprender a se valorizar, entende? Dar mais valor à si mesma. Esquece o seu namorado. Você tem o time de futebol agora, que vai sempre te receber de braços abertos.

E eu não sei por quê, mas a Yuuna começou a chorar mais. Mas não de desespero como antes, diferente. Como se ela estivesse feliz ou satisfeita. Será que tem como? Achei melhor deixá-la chorar em paz, enquanto esperava aproveitei para observar à casa. A casa da Yuuna não era muito grande como a da Emiko, mas parecia tão cheia de coisas quanto.

Finalmente ela parou de chorar, limpando o rosto e sorrindo grata para mim:

— Obrigada capitã. — Ela se levantou decidida. — Iosh! Agora vamos para essa festa de pijama falar mal do canalha do meu ex até o amanhecer!

— Podemos armar algo contra ele? — Perguntou esperançosa, Jenny esfregando as mãos ansiosa.

— Não. — Ela falou ríspida, e sorriu logo depois. (What?!)

Pov of Emiko Ominae

Eu não fiquei muito feliz ao saber que todo o meu trabalho havia sido em vão. Mas ver todas as meninas sentadas na almofada da minha casa, conversando, rindo, comendo, significava que aquilo era o bastante já que eu nunca tinha rido tanto na minha vida. Stéfanni terminou de contar uma das suas histórias do clube de música e Tanabe já estava começando a dar suas lições de moral sobre isso ser errado, quando Maya a interrompeu repentinamente dando um sorriso:

— Hey meninas, vocês tem alguém especial na sua vida? — Todas se calaram e muitas engoliram em seco. Eu estava torcendo do fundo do meu coração para que ela me ignorasse nesta pergunta.

— Tipo, alguém especial da família, tipo parentes, ou amigos? — Perguntou Taiga com um enorme ponto de interrogação. Maya sorriu maliciosa, balançando a cabeça.

— Não, são garotos. — Ela levou a mão ao queixo pensativa, procurando talvez um jeito melhor de explicar. — São aqueles garotos que fazem nosso coração acelerar. Que sabemos que podemos contar com eles em qualquer ocasião. Eles são especiais por isso, simplificando; é aquele gostar, gostar mesmo. — E a Taiga assentiu corando bastante, parando de falar na hora.

— Oh, a capitã finalmente entendeu algo sobre amor? — Brincou Shine, que estava sentada ao lado da Taiga e aproveitou para lhe dar um leve empurrão no ombro.

— Então, por que não começamos pelo o casal mais óbvio dos dois lados aqui da roda? — Perguntou Maya e eu suspirei aliviada, já que nenhuma delas sabia sobre ele, então eu estava livre por enquanto.

— Que seria...?

— Shine e Hiroto. — Maya respondeu como se fosse óbvio e todas começaram a murmurar, encarando Shine que com sua pele branquinha, agora parecia um tomate, não parando de apertar a parte de baixo da sua camisola. — Ahá, peguei você, né Shine?

— Mentira! Eu protesto! Eu e o idiota do Hiroto somos só amigos! — Ela se perde toda enquanto falava, chegando até a gaguejar o que era o que eu nunca esperaria dela. Maya era a que mais parecia feliz com a situação, como se já previsse aquilo. — Quer dizer, nunca aconteceu nada entre a gente...

— Nada? Sério? — Maya pareceu desconformada.

— Somos suas amigas, o que você falar aqui, não saí daqui. — Jenny falou sorridente, e a albina pareceu mais confortável depois disso.

— Okay, seria errado dizer que eu e o Hiroto somos só amigos, mas eu também não sei o que sinto à respeito dele na verdade. Sabe como é... A nossa linha da amizade já ultrapassou tanto, que fica difícil identificar... — Ela explicou, recuperando sua cor normal aos poucos, conforme explicava.

— Mas eu duvido que o Hiroto se sinta da mesma forma. — Foi a vez da Stéfanni argumentar e eu assenti, prestando atenção. — Ele nunca fez nada que ultrapassasse essa linha?

Shine hesitou pensativa, e percebi que ela ainda não tinha largado a saia da sua camisola. Já ia dizer que estávamos indo longe demais, quando ela pareceu lembrar de algo e se levantou decidida a contar:

— Teve algo sim. — Todas se aproximaram, curiosas. — No dia que a Tanabe deu a dica de técnica para a gente, eu estava muito irritada, sabe? E resolvi ir para a casa para amenizar minha cabeça, mas o Hiroto me acompanhou e tentou puxar conversa comigo. Mas acho que eu acabei descontando tudo nele e então... — Ela mordeu os lábios e toda a vermelhidão que tinha no seu rosto antes, pareceu voltar quatro vezes mais. — ele me agarrou pelo pulso e m-me imprensou na p-parede...

— Meu Deus, o Hiroto fez isso?! — Tanabe pareceu alarmada, até ela que parecia bem mais forte.

— Taiga, não deixa ela corromper sua inocência, tampa os ouvidos! — Falei para Taiga que parecia um pimentão, ainda mais do que a Shine que estava contando a história. Ela imediatamente tampou, e a albina entrou em desespero começando a balançar as mãos freneticamente.

— Não, não é nada disso! Não aconteceu nada do que vocês estão pensando! — Ela falou, continuando a balançar as mãos.

— Nada? — Maya pareceu inconformada.

— E não era para ter acontecido! — Corou. — Mas continuando... Ele parecia diferente, sei lá, olhos mais escuros, sabe? Não parecia o Hiroto brincalhão. E então, ele fez uma pergunta mais estranha ainda, 'Hikari, algum dia você já me viu mais do que um amigo?', ou algo assim. — Todas se encontravam boquiabertas, e eu só queria saber a reação da Shine quanto aquilo. — E eu fiquei em choque sem entender nada.

— Então, você não respondeu? — Foi a minha vez de se manifestar e ao ver a expressão da albina, bati a mão na testa. — Por quê?

— Você sabe o que queria dizer, não é? — Tanabe indagou, com as sobrancelhas arqueadas.

— O quê? — Taiga e Shine perguntaram em uníssono e todas caíram na risada.

— O Hiroto está caidinho por você. Minha resposta. — Maya, bateu as mãos uma nas outras como se desse fim à conversa.

— Mas depois... Ele falou que era brincadeira e disse que tinha me pegado, começando até a rir. — E toda a felicidade de saber que Hiroto gostava da Shine, pareceu despencar. Oi? Pisquei algumas vezes. Mas aquilo tinha sido quase uma declaração... E aquela brincadeira não era do tipo que Hiroto fazeria, a menos que...

— Mas meninas, e se...

— Esse se parece mais com o Hiroto que a gente conhece. — Suspirou Stéfanni, dando de ombros, me interrompendo.

— Mas vamos parar de falar de mim! Tem outras garotas aqui... — Shine falou e eu desisti de contar minha teoria, ficando quieta. Já que ela dormiria na minha casa, eu tinha ainda algumas horas para contar aquilo à ela. No momento, eu estava mais preocupada em ser escolhida pelas garotas. Ela passou os olhos por mim e eu congelei, e só fui perceber que tinha prendido a respiração quando ela falou não o meu nome, mas de outra pessoa. — Stéfanni, de quem você gosta?

— Dá para me pular? — Ela perguntou fria, revirando os olhos.

— Por quê? E você e o Atsuya? — Ri.

— Ah, o Atsuya é só um ignorante. — Falou Stéfanni, bufando de raiva.

— Mas você bem que gosta dele... — E ela corou. Novidade, não?

— Okay, acho que nem precisamos de um 'sim'. — Falou Maya brincalhona e Stéfanni se levantou irritada.

— Eu escolho a... — E então, ela olhou para mim e soltou um sorriso malicioso. — A E...

— Capitã! — Falei de repente e todas me olharam confusas. — A Capitã deveria ter as honras de escolher a próxima pessoa!

— Por quê? — Maya franziu as sobrancelhas.

— Porque... — Pensei, pensei e já estava desistindo dessa ideia maluca, quando Taiga bateu palmas animada.

— Eu quero escolher! Por favor! — Pediu, animada.

— Por mim tudo bem. — Stéfanni se sentou novamente e eu suspirei aliviada.

— Vamos ver... — Taiga rolou os olhos pela sala e sorriu empolgada. — Yuuna-chan, de quem você gosta?

E ela cometeu o pior erro da vida dela. A Yuuna começou a chorar sem parar novamente e todas olhamos para a Taiga com olhares mortais, do tipo, 'o que você tem na cabeça?' e ela parecia mais confusa ainda.

Meu Deus, pensei batendo a mão na minha testa.

Algo me dizia que aquilo só estava começando.