Meus dias sombrios escrita por Clarice


Capítulo 6
Capítulo Cinco


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura!



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Capítulo Cinco

Quando eu acordei, às seis da manhã como sempre, tive a sensação de que a noite de ontem fora só um grande pesadelo. Que Natália aparecendo bêbada no meu apartamento era um pesadelo. Que aquela psicóloga lésbica também fazia parte da enorme alegoria na qual eu me metera, quando saltara sem reservas ao mundo dos sonhos. Mas meu marido não havia dormido comigo. Eu sabia. E ele também já tinha ido trabalhar. Me levantei com um desânimo sem tamanho, e fui tomar um banho.

Enquanto tomava banho notei que eu e meu marido precisávamos acertar as coisas. E ficar bem de novo. Mas eu estava tão magoada com ele. E devia ser mútuo. Na verdade, estava claro que era. Estávamos magoados um com o outro. E eu acabei achando que aquela viagem havia sido uma ideia idiota, um dinheiro gasto a toa. E que, no fim, eu devia me lembrar que somos pessoas de verdade, e não um casal idiota perfeito qualquer. Nossos problemas às vezes nos afogam antes que possamos pensar em qualquer coisa. Antes que tentemos nadar para a margem.

O que me deixava mais chateada era pensar que aquela briga não era fútil e superficial como nossas brigas sempre o eram. De alguma maneira parecia que aquilo era diferente. De repente Matheus me pareceu um completo desconhecido, um homem com quem eu vivia e só. Distante, muito distante, como se eu só pudesse ver o contorno de sua silhueta quando forçasse os olhos, os espremendo. Tentei afastar aquela sensação enquanto enfiava as torradas na boca com pressa. Peguei minha bolsa e fui ao elevador.

Cheguei no horário. Fora a dor de cabeça constante e um pouco de tremedeira, tudo estava muito bem. Camila me visitou na hora do almoço. Nem avisou, pediu ou nada. Chegou na minha sala falando que íamos almoçar no shopping e que eu estava precisando ver gente, porque minha cara estava horrível. Camila era bastante bonita. Ainda era, mesmo com todas aquelas espinhas. Tinha cabelos tingidos de loiro até a altura dos ombros e olhos castanho-claros. Seu cabelo era ondulado e seu rosto tinha formato de coração. Ela andava com dificuldade, reclamava do peso da barriga o tempo inteiro. Apoiava a coluna com a mão. Eu tentava ajudá-la a andar. Agora sempre vestia aqueles vestidinhos soltos, com estampas florais. Ficava adorável. Ficamos nas mesas mais próximas à escada rolante, porque ela disse que seus pés a estavam matando. Eu concordei sem pestanejar.

Almoçávamos:

–Você parece triste, amiga. O que está havendo? -Ela perguntando isso foi quase como uma permissão para eu abrir o berreiro, mesmo que fosse no meio do shopping. Era uma espécie de poder que só nossa melhor amiga tem sobre nós.

–Eu e Matheus tivemos uma briga terrível. -Respirei fundo, tentando tomar o controle. -Mas tudo vai ficar bem, só precisamos de um pouco de tempo. -Ela me olhou e então decidiu não forçar a barra. Segurou minha mão e perguntou se poderia fazer alguma coisa. Eu disse que não, perguntei como ela ia:

–Eu vou cansada né, amiga. Não tem jeito. Essa coisa de gravidez, vou te dizer, é muito cansativa, complicada. Sinto como se meus sentimentos tivessem sido grudados com massa corrida. Eu posso estar sorrindo e começar a chorar como se agora tudo fosse a mesma coisa. O Fabrício falta enlouquecer comigo, coitado, mas ele bem que tenta. Tem trabalhado como louco, porque quer que o Miguel tenha tudo quando nascer. Eu não conseguiria voltar a pintar mesmo que quisesse, então é como se o peso financeiro ficasse só sobre ele. Meu pai, você sabe, né?! Toda vez que vai lá em casa deixa tudo com cheiro de cigarro. Reclama do Fabrício, diz que tínhamos de nos casar. E tal... Mamãe não sai de casa por nada. Ela diz que a dor nas pernas só está piorando. E meu pai foge de casa para vir me encher o saco... -E ela continuou falando por quase uma hora, até eu dizer que tinha de voltar para a empresa. Aí foi que ela teve a idéia:

–E sua mãe, Lu? -Perguntou do nada. -Tempo que não a vemos, não é?! Que tal a gente viajar para visitá-la? -Minha mãe e a maior parte da família moravam numa cidade pequena, a quatro horas de carro de onde eu morava, que era uma capital. -A gente passa o fim de semana todo lá. Vou precisar de muito espaço no carro para as minhas coisas, mas ainda estou bem longe de ter um trabalho de parto. Acho que meu médico não vai encrencar. -Hesitou, e então acrescentou, - E sem os nossos maridos, é claro. -A idéia me pareceu ótima.

–Claro! -Me apressei em dizer. -Será ótimo! Se o Matheus conseguir a folga, é bom que ele pode passar um tempo com os amigos ou sei lá. Talvez se ficarmos um pouco afastados por três dias a saudade nos una de novo ou conseguimos colocar as coisas no lugar. -Ela sorriu. Até com os olhos. Eu a levei até o ponto de taxi e a vi indo embora. Fui caminhando até meu prédio e voltei a trabalhar.


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Notas finais do capítulo

Au Revoir!