Meus dias sombrios escrita por Clarice


Capítulo 5
Capítulo quatro


Notas iniciais do capítulo

Estamos pegando o ritmo!
Boa Leitura!



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Capítulo quatro

O despertador começou a tocar, e parar mim era como um som muito longínquo, como se ele estivesse tocando lá na esquina. Mas então algo dentro de mim me disse que eu estava atrasada. Minha cabeça nauseava, e de repente eu estava vomitando na beirada da cama, e parecia que o mundo estava girando como um carrossel. Minha boca estava com um gosto terrível, a cabeça doía muito como se meus miolos tivesse sido batidos no liquidificador. Fui correndo tomar um copo d’água da pia mesmo. Deus, ainda bem que o Matheus sai todo dia mais cedo do que eu. Fui tomar um banho e me sentia tonta, quase caí duas vezes no chão do banheiro. Meus olhos eram dois poços fundos, olheiras terríveis. Meu rosto pálido e cansado. Nenhuma maquiagem do mundo poderia resolver aquilo, só disfarçar um pouco. E mal. Quando saí do banho Matheus estava passando um pano no chão do quarto: não havia ido trabalhar no horário e estava com cara de insatisfeito enquanto eu segurava minha toalha pensando no que vestir. Eu não conseguia acreditar que ele tinha limpado meu vômito.

–O que aconteceu ontem, Luisa? –Minha cabeça ainda girava.

–Calma, Matheus. Agora não é hora para isso, tenho que me arrumar e ir trabalhar. -Eu mexia nos cabelos de nervosismo. Estava tremendo. -Por favor, não. -Ele me olhou como se estivesse enojado de mim.

–"Por favor, não"? Ah, Luísa! Você dormiu fora de casa! -Ele estava gritando. Seus gritos, em minha cabeça ecoavam como num anfiteatro.

–Quando eu voltar a gente conversa. -Eu estava tentando passar por ele para chegar ao meu guarda-roupas. Ele me segurou pelos ombros e me encarou. Seus olhos eram azuis e profundos, muitíssimo raivosos naquele instante.

–Pare com essa porra! -Matheus dificilmente falava palavrão daquele jeito. Ainda mais comigo. -Esquece o trabalho. Eu sou seu marido, e estou te pedindo uma explicação!

–Eu sou sua esposa, e estou precisando me curar dessa ressaca bem longe daqui! -Berrei. -Você quer uma conversa, mas não vai tê-la. Não agora. Não seria bom para nenhum de nós, olhe pra você! Estressado desse jeito. Não vai acabar bem. -Minha cabeça era como um enorme sino de igreja, ecoando infinitamente. -Deixa eu me vestir. A noite eu prometo que vamos conversar como adultos que somos.

–Está certo. -Ele me soltou. Saiu batendo a porta. Eu me senti aliviada. Terminei de me vestir tentando me controlar para não vomitar de novo. Tomei um café, liguei para a secretária enquanto descia no elevador. Cheguei depois de todo mundo na empresa. Todos me olhavam surpresos pela minha cara de ressaca, e pelo meu atraso. Talvez Matheus estivesse certo. Eu não deveria ter ido trabalhar naquelas condições. Mas o fato é que fui. E que agora que estava lá, precisava trabalhar. Minha secretária me comprou um café e um dorflex. Eu nem sequer pedi. Mas agradeci tantas vezes que acho que ela ganhou o dia. Priscila era uma daquelas pessoas felicíssimas em serem úteis, cheia de iniciativa, justamente por isso eu a tinha contratado.

Com muito esforço eu consegui chegar à hora do almoço. E, eu até me sentia mais ou menos bem. O pior já havia passado. O único terror do dia era mesmo a conversa com o meu marido. Mas esse tipo de coisa eu nunca deixava afetar o meu trabalho. Então eu afastava dos meus pensamentos. Na hora do almoço Natália veio até minha sala.

–Lu? -Porque ela não se tocava que só gente íntima me chamava por aquele apelido?

–Oi, precisa falar comigo?

–Na verdade sim. -Ela hesitou um instante. Respirou fundo e continuou. - Me desculpe por ontem... Você deve achar que sou uma pessoa terrível. Vivo tendo que me desculpar com você. Realmente precisava de alguém ontem e eu... -Fui logo cortando aquele rio de lamentações sem sentido.

–Você não tem obrigação nenhuma comigo fora da empresa. - Comecei, e então tomei um pouco de ar.- Eu não sei o que deu em mim...

–É que minha namorada estava um saco ontem, se eu não fosse atrás dela acabaria a noite solteira.

–Eu entendo. -na verdade não sabia mesmo se entendia, mas senti que precisava dizer aquilo.

–Na verdade acho que se você me conhecesse melhor não acharia que sou tão inútil. -Ela disse, por fim. Realmente se sentia mal por ter me deixado lá.

–Eu já descobri, você é útil à equipe, todos que trabalham comigo eu escolhi muito bem. Você sabe, eu não preciso ficar dizendo isso. -Tentei. Ela pareceu se convencer. -Agora vá almoçar, senão não dá tempo. -Ela sorriu como se tivesse acabado de tirar um peso enorme das costas. De certa forma eu me sentia aliviada também. Eu terminei de comer sozinha em minha sala, como o usual. Recebi também uma mensagem de Vanessa. Eu mal lembrava a existência da mulher, e ela preocupada comigo. Eu respondi a mensagem e agradeci a preocupação. Perguntei se ela não podia ser minha psicóloga. Ela disse que não, pois me conhecia de fora. Eu elogiei sua ética e então acabou meu horário de almoço. Trabalhei sem cessar até nove da noite. Todos costumeiramente vão embora às seis. Cheguei em casa cansada. O trânsito tinha sido uma merda, e eu tinha pegado chuva de novo. Odeio pegar chuva. Mesmo que seja só entre entrar do carro e sair dele. Pisar no chão molhado, sentir o corpo úmido. Tomei um banho, e quando saí Matheus estava sentado no sofá, mas com a televisão desligada. O gato estava no colo dele, e para mim, de alguma forma, aquilo significava uma coisa terrível. No fim, fiquei com medo de interpretar aquilo, de entender o que ele realmente estava tentando me dizer.

–Olá, querido. -Eu cheguei dizendo, sentando ao lado dele. Ele estava com um calção de dormir e eu de camisola. Ele me olhou, e então voltou os olhos ao gato.

–Eu gosto muito desse bichano. -Acarinhava o bicho.

–Eu sei. Acho muito bonito esse sentimento seu. -disse, me perguntando se não estaria pisando em ovos ao dizer aquilo.

–Sabe, Luísa, eu te amo. -Ele se virou para mim. -Não quero que a gente volte a brigar daquele jeito. Me desculpe.

–Eu também não quero. Eu também te amo. -Eu disse, sem entender aquela mansidão.

–Você está conhecendo alguém? -Ele perguntou, como se aquilo fosse natural.

–Claro que não, como assim?- Eu me senti como se tivesse chegando no cinema na parte final do filme e não entendendo porque as pessoas a minha volta choravam. Ou como se não tivesse entendido uma piada muito óbvia ou engraçada. Eu estava perdida.

–Você me deu esse fim de semana sem razão alguma, está estranha evasiva e passou a noite fora. Só estou interpretando sinais. -Ele disse mantendo o clima de calmaria em sua voz. Que maldito esforço não estava fazendo para não me esganar?

–Mas que merda, Matheus! -Berrei. Totalmente descontrolada. -Mas que merda! Estamos casados a dois anos e meio e você ainda não me conhece?! Eu sou incapaz de te trair. Eu sou incapaz. Eu estava nervosa, precisava passar um tempo fora daqui. Estava sufocada, precisava de ar. Fui parar num bar e bebi muito, foi só. Você sabe que eu nem sequer sou de beber. Tira isso tudo de sua cabeça pelo amor de deus. -Parei para tomar um ar. Continuei, - E quanto ao fim de semana... Eu acho que eu o mereço. Você o merece. Nós, enquanto casal, merecemos. Ou ao menos achava. Até descobrir que você acha que é presente de culpa.

–Cristo, estou tão cansado. -Ele disse. Eu não o abracei como sempre o faço.

–Eu também estou. -Me levantei. -Vamos dormir.

–Eu vou ficar aqui e ver um pouco de tv. Estou com insônia de novo. -Eu não queria dormir sem ele. Não de novo, não daquela forma. Mas estava sem saco, sem paciência para ficar implorando pela presença de meu marido em minha própria cama. Custei a conseguir dormir sozinha. Na verdade dormi triste, com uma angústia muito grande dentro de mim. Como se alguém estivesse me apertando muito forte.


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Notas finais do capítulo

Alguém poderia dividir comigo o que está achando da história?
Obrigada e Au Revoir!