Meus dias sombrios escrita por Clarice


Capítulo 17
Capítulo Dezesseis


Notas iniciais do capítulo

Saudades Vanessa :/
Natália



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Não parecia que eu não a via a umas semanas. Parecia que faziam apenas algumas poucas horas. Ela tinha os mesmos lápis de olho, o mesmo cabelo preto escorrido. Ela chegou e me encontrou logo.

–Você está ótima.

–Todo mundo fica me dizendo isso como se esperasse me encontrar destruída. -Comentei. Ela riu.

–Talvez esperem mesmo. Essa coisa de estresse, ansiedade e nervos são coisa séria. A gente sempre espera o pior das pessoas que convivem com isso. -Ela respondeu.

–É verdade. -Concordei. -Tente não ficar bêbada, vou te confiar uma história que não confiaria a outra pessoa. -Ela mudou de postura na hora.

–O que você precisa me contar?

–Eu preciso que me ajude a localizar uma pessoa. Mas tem de ser de uma maneira muito discreta. Por favor.

–Claro, quem é?

–Uma pessoa com quem me envolvi.

–Lu, você tem um caso? -A voz dela era cheia de excitação. Meu deus, eu estava mesmo desesperada para recorrer àquela garota.

–Eu vou te contar tudo desde o começo. -Ela fez que sim com a cabeça, a partir daí não tirou mais os olhos dos meus. -Sabe aquele dia, do bar? Em que você acabou indo embora atrás daquela outra garota? Bem, eu conheci uma mulher nesse mesmo dia. Vanessa Ferreira Morais. Deve ser um nome que você nunca ouviu. Ela é psicóloga, a gente se tornou amiga e eu acabei traindo o meu marido com ela. -Natália estava muito animada com aquele relato. Ela até se policiava nas expressões para não me interromper. -O fato é que eu estava passando por um estresse muito profundo. Você sabe, o assalto. E eu acabei descobrindo que um ano e meio atrás sofri um aborto terrível de uma criança que já estava prestes a nascer. De alguma forma eu me esqueci. Eu pensava que poderia superar aquilo com a ajuda de um psicólogo, e amando Vanessa tudo parecia possível. Eu iria me separar de Matheus para tentar algo com ela. Eu cheguei em casa e conversei com ele. No dia seguinte ele me internou naquela casa de repouso.

–Deus.

–Pois é. Eu não tive escolha, fui obrigada. Eu conheci outros profissionais que me orientavam. Eles estavam me ajudando a lidar com meu estresse. Para que não acontecesse comigo o mesmo que aconteceu quando perdi meu filho. -Respirei fundo e continuei -Mas uma semana depois o Matheus voltou me falando que mexeu nas minhas coisas porque queria falar com Vanessa. Ele disse que não a encontrava de jeito nenhum. Nem o consultório dela, nem no apartamento tinha alguém com aquele nome. Ele me disse que ela simplesmente nunca existiu.

–Jesus.

–Ainda não acabei. Eu fiquei mais uma semana lá, passei a ser tratada como uma esquizofrênica. Porque eu tive um caso com uma mulher que supostamente não existe. E eu não tenho provas que contrariam isso. A gente nunca tirou foto junta, nunca a apresentei a ninguém. Não sei o que fazer. Agora que saí da casa de repouso quero continuar procurando por ela. Preciso provar que não estou louca. Você acredita em mim?

–Eu acredito. -Ela nem sequer hesitou. Deus, nem eu mesma acreditaria em mim. Em quem eu estava confiando? -Eu nunca gostei daquele seu marido. Acho que ele deu um chega pra lá nela, sabe?

–Mas você acha que ele mentiria para todos só pra me ter de volta? -Perguntei, escandalizada.

–Eu não o conheço. Me diga você!

–Eu não quero tomar nenhuma conclusão sobre o Matheus até eu chegar ao fundo dessa história toda. -Respirei fundo. -Posso contar com você?

–Claro que pode. Agora me pague uma cerveja. É difícil ouvir uma história dessas e não querer se embriagar. Segunda a gente começa a checar as coisas. O endereço dela, do local onde ela trabalhava, coisas assim. Qualquer pista que aparecer a gente segue. Por mais que tudo não seja real, vai fazer bem para a sua mente. Você vai poder se conformar com a verdade, não importando qual seja ela. -Eu me assustei com tanta maturidade. -Parece que eu estou aderindo rápido demais, mas é que eu sou uma pessoa vivida, sabe, Lu. Eu já fiz muita coisa nessa vida, e já testemunhei muitas outras também. Foi a literatura quem me salvou, e em parte, a Irmãos Bianucci também. É como se eu tivesse uma dívida contigo.

–Você não me deve nada.

–Já esqueceu que vomitei no seu sofá e no seu tapete? E no seu pijama? -Rimos.

–É, talvez me deva alguma coisa. -Chamei o garçom para pedir a cerveja dela.

Passamos o resto do tempo conversando sobre como andava a empresa. Natália parecia quase uma agente infiltrada em minha própria editora. Eu gostei de saber como as coisas andavam. O bom dela é que era sem noção o suficiente para sempre dizer a verdade e ser sincera, por mais que isso às vezes a prejudicasse. Quando nos despedimos ela estava bêbada, eu não bebi. Devia ser umas dez e meia. Matheus a cumprimentou, mas ela não aceitou que ele a levasse em casa. Ele me levou e o caminho todo fomos em silêncio, tirando a parte em que ele me elogiava por eu não estar bêbada.

–A partir de agora, sempre que eu tiver a opção de estar consciente, eu estarei. -Disse a ele.

–Você às vezes soa estranha, como se a culpa de tudo fosse minha.

–Me desculpe.

–Não, está tudo bem. Você só precisa colocar a cabeça no lugar. Ao menos o pior já passou. -E o melhor também, tive a impressão. E era uma impressão tão forte.


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Notas finais do capítulo

Au Revoir



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