Meus dias sombrios escrita por Clarice


Capítulo 16
Capítulo Quinze


Notas iniciais do capítulo

Depois de um baque desses, a história vai ter o que todo mundo aqui ta precisando: uma diminuição no ritmo ;)
Obs:. Alguém enforque o Diego, obrigada, de nada.
Hahaha!
Boa Leitura!



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Capítulo quinze

Eu não acreditava que tinha perdido o evento mais importante da vida de minha melhor amiga. Ao mesmo tempo em que eu queria chorar de tristeza, eu queria chorar de emoção e abraçá-la, segurar aquele bebê e dizer a ele que eu era a tia e que sempre estaria ali. Que eu o amava como se fosse meu. Só me permiti demonstrar emoções depois que aquela mulher foi embora. Fui ao almoço depois de lavar o rosto. Tentava manter a cabeça erguida, mesmo depois de tudo.

Eu fiquei lá mais uma semana. O psiquiatra mudou meus remédios, e eu mudaria de psicólogo. Eu iria passar a me encontrar com aquele que Matheus havia conseguido antes daquela internação forçada. A primeira ligação que eu recebi foi de minha mãe. Sua voz era a coisa mais aflita do mundo:

–Oi minha filha linda. Você está bem? Matheus tem se preocupado tanto com você, coitado. Esses dias ele ligou e ficamos horas conversando sobre você; Eu e seu irmão queremos ir aí no fim de semana.

–Eu não quero que vocês venham. -Aquela conversa dela estava cortando meu coração. A maneira que ela me tratava tinha mudado. Era completamente outra.

–Seu irmão e eu te amamos muito, minha filha. A gente tem muito orgulho de você.

–Eu te amo, mãe. Mas estou tão cansada. Será que a senhora não pode me ligar em outra hora? -Ela parecia prestes a chorar o tempo inteiro.

–Claro que sim, minha filha. Se cuide. Deixe o seu marido cuidar de você.

Eu estava no carro com Matheus. No meu carro. Até do cheiro daquele carro eu tinha sentido falta. Eu prometi a mim mesma que faria o jogo deles, e secretamente procuraria por Vanessa. Se eu deixasse todos saberem o que eu pensava, nunca sairia daquele lugar horrendo. Nunca voltaria para a minha vida.

–Alexandre me manda relatórios o tempo inteiro. Estão todos por lá torcendo por você, Lu. Os negócios não estão ruindo, seu pessoal é competente. -Ele tentava me animar. Mas eu havia criado uma espécie de bloqueio com aquele homem. Tudo o que ele me dizia entrava por uma orelha e saía por outra. A parte difícil era fingir que me importava.

–Eu ligo pro Alex mais tarde. Ele tem muito o que me dizer.

–Sim, não se esqueça de ligar. Marquei para segunda, terça e quinta o psicólogo. Depois a gente vê com ele se pode diminuir o número de seções. O psiquiatra é uma vez a cada quinze dias, já que a medicação está toda acertada.

–Tudo bem. Muito obrigada, Matheus. Você realmente está cuidando de tudo. -Ser falsa exigia muito de mim, eu me sentia nojenta.

–Eu faço isso e faria muito mais, porque eu te amo. Você só estava um pouco perdida, mas em momento algum deixou de ser a mulher da minha vida.

–Não sei se quero ser a mulher da sua vida. -Ele não me respondeu. Eu achava melhor assim.

Eu estava tão ansiosa dentro daquele carro, que ficava desperta, olhando a janela. Vendo aquela paisagem que parecia sempre ser a repetição infinita das mesmas árvores. Do mesmo campo, das mesmas montanhas lá atrás. Do mesmo céu. A parte boa era que Matheus havia me trazido o CD do Whitesnake que eu não ouvia a semanas. A gente voltou e ele colocou para tocar no carro. Aquilo me fez sentir ótima. Talvez, depois que tudo acabasse, eu esperava não guardar mágoas dele. Esperava lembrar apenas da parte boa da minha vida na qual ele fez parte. Lembrar o marido maravilhoso que ele havia sido. Mas aquilo era coisa para muito tempo a frente. Naquele instante eu me sentia mal só por estar na presença dele. Ouvir sua voz me repelia. Eu precisava encontrar Vanessa e colocar as coisas no lugar.

Eu pretendia fazer uma visita surpresa à Camila, mas a ligação de mamãe me deixou tão desanimada com a vida. Acabei ligando para ela:

–Alô, como vai? Miguel se encontra? -Ela riu muito do outro lado da linha. Se era feliz por ouvir a minha voz ou por pensar em Miguel eu não sabia.

–Lu! Eu estava com tantas saudades suas. Preciso desesperadamente te ver. Meu deus, como eu te amo. Você precisa ver o meu filho, o meu filho precisa te ver. Gente, não consigo dormir, e meus pontos não me deixam em paz.Vou te falar, parto normal é o inferno. Fabrício está me perguntando quando é que meu rosto vai desinchar. Eu pareço uma bexiga cheia d'água. Estou horrível. Mas as espinhas pararam. E venho emagrecendo. Meu filho está tão gordo! Eu recebo visita de velhas o tempo todo. Tive que levar o Miguel à casa de mamãe. Ela chorou a beça. Meu pai era quem enchia o saco, me dizendo como eu deveria cuidar do meu filho. Criticando tudo o que o Fabrício tentava fazer. -Parou para tomar um ar. -Meu deus, Luísa. Eu não acredito que você ficou tanto tempo naquela casa de repouso, ou sei lá. Mas Matheus disse que você está bem, que era só para baixar o estresse e você não ter outro ataque de nervos ou sei lá. Nunca entendo direito o que os médicos me dizem. Vem cá, você está bem?

–Eu estou ótima. Como eu te amo! É ótimo ouvir a sua voz, você não tem noção.

–Venha me dar um abraço.

–Eu vou logo que puder. -Matheus não tinha dito nada de Vanessa para ninguém. E nem eu tinha dito, deus, ela realmente parecia não existir. Nunca ter existido. Pensar nisso fez meu coração apertar.

Quando já estávamos na cidade, recebi uma ligação de Natália.

–Lu, você vai bem? -Ela e Camila pareciam normais comigo, isso era ótimo.

–Eu estou melhor. Bem descansada. -Menti. -Como vão as coisas aí?

–Todo mundo sente muito a sua falta. Mas o pessoal acha que você endoidou. -Ela riu. Era sincera o suficiente para me dizer o que nenhuma outra pessoa de lá diria. -Mas reconhecem sua importância na empresa. Alexandre não vê a hora de tirar aquele peso das costas e você voltar. Tomar as rédeas da situação.

–Eu também não vejo a hora de voltar. -Disse cheia de fôlego.

–O que houve de fato contigo? Seu marido disse que você iria para um lugar relaxar, porque estava com sérios problemas de estresse.

–O problema é um pouco mais profundo do que isso. -Eu comecei. -Mais tarde podemos nos encontrar? Tem algo que eu preciso te falar. -Quando eu desliguei Matheus perguntou com quem eu estava falando.

–Natália.

–Pensei que não gostasse dessa mulher. -Ele disse, desviando o olhar do trânsito por um momento e me olhando.

–Ela é diferente de mim. Mas estou aprendendo a lidar com isso. E ela tem um mal que poucas pessoas que conheço têm: ela é sincera.

–Está certo. É bom que tenha novas amigas. -Ele disse, voltando a olhar para frente. Eu temia que ele houvesse desconfiado de alguma coisa, por mais que não desse sinal disso. Se ele desconfiasse, não sei nem o que faria.

Quando chegamos em casa, Matheus me preparou um almoço delicioso. A casa parecia tão mais bonita quando eu cheguei. Mas tudo estava igual, nos mesmos lugares. Ele só havia dado uma geral. Eu elogiei a casa. Ele ouviu enquanto estava cozinhando. Comemos em silêncio.

–Eu sei que tudo parece incrivelmente estranho e forçado agora. Mas vamos nos adaptar. -Ele disse. Eu fiquei em silêncio, quase fingi que não tinha escutado. A campainha tocou, e pelo jeito insistente e desrespeitoso só poderia ser o Diego. Eu estava feliz por pensar que Camila havia mandado Fabrício me buscar de carro, numa mensagem que recebi antes do almoço. Não queria passar mais tempo do que o necessário com aquele idiota. Matheus se levantou e foi correndo atendê-lo.

–Eu vim trazer aqueles CD's que você me emprestou. A doidinha já está de volta? -Eu tinha certeza de que ele havia dito isso pra eu escutar.

–Não a trate desse jeito. O caso é sério. Minha esposa chegou hoje. Na verdade eu a trouxe.

–Você é louco, cara. A mulher surta duas vezes e você continua aí como um bobão. Quer uma esposa ou uma paciente?

–Cala a boca, cara. Andou bebendo? -Matheus o reprimia.

–Eu sempre ando bebendo, mas ao menos digo o que precisa ser dito. O resto dos teus amigos são um bando de otários. Todos passam a mão na sua cabeça, aplaudem suas idiotices. Agora eu, eu falo a verdade. Sou o único que te ama, cara. Você é meu irmão. -Tentava abraçar o Matheus, que se desvencilhava dele.

–Diego, outra hora a gente conversa. Volta pra casa. -Tentava fechar a porta. Eu não via a cena, mas ouvia perfeitamente, era quase como se eu estivesse ali com eles.

–Eu não quero voltar pra casa, eu quero ficar aqui. Enquanto a doidinha estava fora você não me expulsava desse jeito, eu cansei de dormir aqui. -Ele forçava a porta para entrar. Matheus acabou deixando. Ele se sentou no sofá. Meu marido veio até a cozinha se desculpar comigo, eu disse que não me importava.

–Ela ainda te trai com uma mulher invisível, ou voltou curada disso também? –Aquele cara era realmente um idiota. Eu terminei de comer e fui escovar os dentes. Daí ele me viu.

–Oi doidinha, tudo bem com você? Deixa eu te perguntar, quando você trepava com ela enfiava o dedo em si mesma ou usava alguma outra coisa de fora? Eu sempre tento imaginar isso e fico confuso. Sabe, porque na verdade você estava sozinha. Então como devia ser?

–Vá se foder, Diego. -Eu disse, escovei os dentes e fui arrumar minha bolsa. Cheguei a conclusão de que meu marido havia revelado a parte sórdida da história só para os seus amigos, e com o resto do mundo ele tinha sido delicadíssimo. O propósito daquilo era incompreensível para mim.

Talvez dormisse na casa de Camila. Matheus tentava calar a boca do amigo mas parecia impossível. Eu tentava fingir que não estava escutando, e acabei conseguindo ignorar o resto das coisas que ele me dizia. Eu achava curioso uma pessoa daquele jeito. Ele sempre tentava ser tão mau comigo, como se eu fosse culpada de alguma coisa. Como se eu já tivesse feito algo contra ele. Alguém tinha de dizer a ele que eu não era responsável pelos seus problemas. Matheus não falava mais nada em defesa do amigo, tentava conversar com ele. Já que não conseguiu convencê-lo a ir embora. Ele tentava fazer com o que o assunto deixasse de ser eu. Mas quando Fabrício tocou a campainha e eu tive de passar atrás do sofá para chegar até a porta, ele me gritou:

–Você é uma vagabunda que só faz meu irmãozinho sofrer. Egocêntrica do inferno. -Ele não sabia da missa a metade.

Eu e Fabrício descemos pelo elevador. Ele tinha cabelos cacheados até a altura das orelhas e uma barba de uns três dias. Olhos claros, era tão bonito. Tinha um ar de menino. Ele e Camila faziam um casal tão bonito. Ele sempre usava aquelas bermudas cargo e camisetas pólo ou xadrez de botão. E adorava usar chinelos. Trabalhava com design, mas era freelancer. E nos últimos tempos ele estava trabalhando pouco para cuidar da mulher. Os pais dele tinham grana e sempre acabavam ajudando. Na verdade a mãe de Fabrício era apaixonada por Camila, chegava a chamá-la de anjo. Eu achava tudo tão bonito. Achava tudo tão natural e verdadeiro. Comum. Minha vida costumava ser assim também, mas em algum ponto tudo deu errado e mudou.

Eu descobri, enquanto estava dentro daquele carro, que Fabrício era uma das pessoas que tinham mudado comigo. Eu costumava achar as conversas com ele divertidíssimas, tanto que parecíamos adolescentes. Os nossos assuntos eram tão banais. Eu tinha um carinho muito grande por ele. Mas algo estava tão esquisito. Até eu puxar o assunto do filho:

–Como é ser o pai do Miguel?

–Eu já sou o pai do Miguel faz um montão de meses. Mas agora é que está me dando mais trabalho. Eu e Camila mal conseguimos dormir. Eu vivo cansado. Mas segurá-lo nos braços é a melhor coisa que eu consigo pensar agora. Antes era sexo. -Ele riu. -A gente muda muito depois que tem filho.

–É bom e natural. Acho que é uma espécie nova de entendimento que chega até as pessoas, quero dizer, estou só chutando.

–Você teria sido uma ótima mãe, Luísa. -Eu nunca esperaria que ele me dissesse isso.

–Eu não tenho tanta certeza disso agora. Mas em todo caso fico feliz com a sua opinião.

–A vida as vezes vira de cabeça para baixo. -Ele falou. E ficamos o resto do tempo em silêncio. Quando Camila conheceu o Fabrício eu já estava casada com Matheus. Acho que já tínhamos um ano de casados. Isso ainda me é confuso.

Quando chegamos Camila estava em pé vigiando o berço. Ela me viu e correu para me dar um abraço. Pra mim estava infinitamente mais magra. Mas estava inchada. Aquele abraço foi tão gostoso, como eu amava nossa amizade.

–Eu senti tanto a sua falta, você não faz ideia.

–Eu também senti. -Fabrício desapareceu em algum lugar, nos deixando sozinhas. -Deixa eu ver o seu filho. -Fomos juntas para o berço. Ele dormia. Ainda era meio vermelho, suas feições eu não sabia dizer de quem eram. Se de Camila e do Fabrício, ou dos tios ou dos pais ou de quem quer que fosse. Mas era uma criança bonita e grande, respirava tão regradamente. Tinha um cheirinho característico. Eu me derretia olhando aquele berço. Que perfeição de criança. Tão delicado e ingênuo, tão despreocupado.

–Ele é lindo, não é? -Ela me perguntou, sua voz tremia.

–É claro que é. -A minha também. Eu secava meus olhos com os dedos. -Você tem um filho lindo.

–Você não sabe o trabalho que dá! -Ela me disse, e me abraçou de novo. -Você parece descansada. Está ótima.

–Eu só pareço ótima, você não sabe da missa a metade.

–Sério? O lugar não era legal?

–O lugar era péssimo. Mas eu pensei bastante sobre muitas coisas. -Eu não iria falar de Vanessa, nem de nada do tipo. -Pensar é bom.

–Nossa, amiga, eu me sinto tão plena. Eu quero que você participe de minha felicidade. -Ela parecia muitíssimo feliz em me ver. Eu me sentia péssima em não corresponder a altura. Quero dizer, eu estava muito animada, mas sabia que quando saísse porta a fora aquela alegria se desfaria. Eu parecia um caco velho de algo que já tinha sido muito melhor.

Passei bastante tempo por lá, mas não aguentei ficar para dormir. Saí era umas sete e meia da noite. Vi o Miguel acordado, os olhos dele eram lindos. E ele chorava como um desesperado. Eu gostava disso também, segurou meu dedo com a mãozinha e tudo. Ele era tão pequeno, deus, como era pequeno. Eu tinha até medo de segurá-lo. Tentei desesperadamente não pensar no filho que eu tinha perdido. Tentei desesperadamente não chorar olhando para aquela carinha curiosa. Mas a ideia de que meu filho poderia ser assim não saía de minha cabeça. Eu precisava fugir dali.

Liguei para Natália. Aquele dia era uma sexta-feira. Felizmente pra mim. Eu tinha deixado a ligação para o Alexandre para segunda-feira. Natália marcou de me encontrar num bar, como eu já esperava. Mas eu disse que o assunto era sério. Melhor seria se nos víssemos em um lugar mais reservado. Eu não sei onde minha cabeça estava, para confiar naquela garota. Mas algo sobre ela me fazia acreditar que ela não me acharia louca. E eu precisava desesperadamente de alguém que acreditasse em mim para eu seguir em frente com meu plano. Eu tinha combinado com Matheus que sempre ligaria para ele para avisar onde eu estava indo. Eu disse que iria me encontrar com Natália. Ele concordou animado. Era importante que ele sentisse que tinha as coisas sob controle.


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Notas finais do capítulo

Au Revoir!



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