Meus dias sombrios escrita por Clarice


Capítulo 18
Capítulo dezessete


Notas iniciais do capítulo

A história está acabando, pessoal ;(
Sim, eu nem estava percebendo, mas é isso mesmo.
Temos poucos capítulos pela frente.
Foi bom ter todos vocês aqui, obrigada.

Boa Leitura!



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O sábado começou com uma paz que eu já nem estava mais acostumada a sentir. Era uma serenidade muito completa. O gato estava deitado na cama junto comigo, eu o olhava e ele me olhava de volta. Eu fiz carinho nele e o bichano se espalhou todo. Me levantei e fui tomar um café. Estava felicíssima por ter aquele tempo meu. Peguei um livro pra ler. Eu tinha uma estante enorme, e fazia tempo que não tocava nela. O trabalho me deixava cansada demais para querer ler. E quando eu tinha tempo, tinha outras prioridades. Mas li a manhã inteira. Li Alice no País das Maravilhas. E depois li Através do Espelho. Quando fiquei com fome fiz um almoço. Cozinhar soou como algo infinitamente prazeroso. E eu nem mesmo sabia onde ficavam as coisas naquela casa. Eu era uma absoluta estranha.

Depois do almoço fiquei um tempo pendurada no telefone conversando com Camila. Depois Liguei o notebook e conversei um pouco com meu irmão pela internet. Mandei estudar. Ele riu, disse que estava de folga. Me chamou para sair. Eu disse que o amava e desliguei o computador. Depois disso vi um filme, e então desci para a rua e caminhei um pouco a esmo. Comprei jornal, a banca já estava fechando. Dei uma volta no quarteirão e voltei. Senti saudade de andar de bicicleta. Naquele bairro era completamente impossível. Subi para o apartamento e tomei um banho longo. Quando saí do chuveiro dei de cara com Matheus. Ele tentou me beijar e eu me esquivei.

–Eu sentia tanto a falta do seu cheiro. Do cheiro que você deixa pela casa quando toma banho. -Ele me disse com prazer na voz. -Como foi o seu dia?

–Foi ótimo. Eu gosto de dias não-planejados. O problema é que eles me fazem sentir falta de minha rotina. Não vejo a hora de dar segunda-feira.

–Amanhã eu vou ficar em casa, quer fazer alguma coisa?

–Não sei, amanhã a gente decide. -Eu estava visivelmente desinteressada em ficar trancada em casa com o Matheus.

–Você está tão fechada.

–Eu não consigo estar de outra forma.

–Tudo bem. -Ele disse, depois disso foi tomar um banho.

Eu me deitei. Era oito e meia da noite. Lá no retiro a gente tinha de ir dormir às dez. Eu já estava quase com sono. Matheus esquentou minha comida e comeu e elogiou. Escovou os dentes e veio deitar ao meu lado. Eu permitia que ele se aproximasse só quando íamos dormir. Apesar de tudo, eu gostava muito de dormir com ele. Sentir que estava ao meu redor. E ele gostava também. Na cabeça dele tudo era uma fase. E iríamos ficar bem, como sempre ficávamos. Eu tentava acreditar nisso, mas não conseguia. Era como ler um conto de fadas. No dia seguinte ele me fez ter um ótimo dia.

Era como se tivesse adivinhado que eu não queria passar o dia trancada com ele em casa. Me levou para mil lugares. Fomos a uma exposição de arte, fomos ao cinema. Demos um passeio na praia ao final da tarde. A gente jantou em um lugar muito legal que eu nunca tinha ido. Tudo parecia tão mágico.

–Eu gosto de te ver tão deslumbrada. -Ele me disse enquanto jantávamos. -Me faz lembrar de como foi quando começamos a sair.

–Ah, não queira lembrar disso. -Eu me sentia envergonhada, mas ria. -Eu estava infinitamente carente.

–Sério? Foi tão difícil conquistá-la!

–Na verdade você me conquistou quando quis a mim e não a Camila que era infinitamente mais bonita. E mais madura do que eu. Eu só era uma criança mais ou menos dedicada, num cargo que era maior do que eu na empresa de um velho que estava quase morto. Ninguém entendia as escolhas dele, eu tive de suar muito para que me respeitassem por lá. Você não, você era bonito, simpático, carismático. Seu sorriso e seus olhos azuis faziam as pernas se abrirem magicamente. Ao menos era assim que eu te via. Achei que fosse me usar e me largar... E a verdade era que eu não me importava muito.

–Nossa. E olha que fui eu quem se apaixonou primeiro!

–É, teve isso. –Fazia tempo que eu não me lembrava o que me fazia gostar de meu marido e ter um casamento tão estável com ele. -Você ficava me ligando, e Camila me enchia o saco. Demonstrava que gostava de mim na frente dos outros, e eu me sentia tão embaraçada.

–A gente só estava saindo, mas eu queria desesperadamente que você fosse minha de uma maneira mais permanente. Daquele jeito parecia que até um vento podia te levar. -Eu me esquecia o quanto ele sabia ser adorável. Eu estava com um peso tão grande sobre os ombros. Durante aquele dia era como se ele tivesse me dado um descanso. O peso não existia. Fizemos amor naquela noite. Fizemos pela casa inteira. Fizemos e dormimos nus. Eu acordei na segunda e ele já tinha ido trabalhar.

A realidade sempre batia à minha porta. Felizmente dessa vez eu estava alegre em atendê-la. Fiz uma reunião geral na empresa. Conversei muito com o Alex. Comecei meu trabalho de fato só depois do almoço. Não almocei com Natália, mas marquei de vê-la assim que saísse do psicólogo. Devia ser umas sete horas quando a encontrei.

–Vamos ao apartamento primeiro. -Quando chegamos lá o porteiro era um recém-contratado. Não sabia de nada. Demos com os burros n'água. Até perguntamos sobre o andar dela, mas ele não sabia dizer. Ele não me deixou entrar para ver se alguém do décimo andar conheceu a Vanessa. Nem sequer quis ligar. Ver alguma espécie de arquivo era impossível. Nos fechavam de todos os lados.

Na terça, eu e ela tentamos o consultório. Chegamos lá e era um novo locatário, que estava ali há algumas semanas, mas que não sabia nada sobre quem esteve ali antes dele. O número que ele me deu para ligar para a proprietária que fazia os aluguéis ninguém nunca me atendia. Quando atendeu era uma velha que não entendia nada do que eu dizia. E que não conhecia nenhuma Vanessa. Eu estava quase ficando sem saída. Na quarta-feira, Natália apareceu com a ideia de a gente procurar nas telelistas. A da minha casa não tinha, a gente comprou outra mais atualizada. Achamos o nome de Vanessa! Foi tão real. Eu me senti tão bem. A gente ligou para o número, e dava que não existia.

–Você sabe que pode haver dois psicólogos com o mesmo nome, não é? -Não tinha nem foto. Era um nome e um número. Decepção.

Conforme a semana se passava eu ia me desanimando. Dar aquelas escapadas, mentir ao Matheus, ficar sem dormir a noite, negar o amor dele... Tudo foi perdendo o sentido. Vanessa de repente pareceu um sonho longínquo. Meu trabalho ia bem, meu casamento parecia querer entrar nos eixos. Eu conversava cada vez mais com Camila. Ia na casa dela. Liguei para minha mãe e fiquei horas conversando com ela. As pessoas iam ganhando uma confiança de gelo fino em cima de mim. Matheus tinha me prometido que Diego não pisava mais em nosso apartamento. E não pisou. Mas eu me prendia desesperadamente àquelas memórias. Eu queria que elas fossem reais mais do que tudo. Eu precisava delas. Não era possível que Vanessa tenha sido só uma válvula de escape. Não era possível que ela era invenção de minha mente. Eu pensava tanto em chorar quando isso me vinha a mente. Eu acabei nunca mais tendo pesadelos-memória como aquele do bebê. Eu também pensava muito sobre isso. Sobre o meu bebê. Voltei a ler com mais frequência.

Me irritava ver que o tempo passava, e as coisas passavam. Me irritava ver que a vida seguia e meu problema continuava sem solução. Até Natália, em nossos encontros clandestinos me dizia que estávamos ficando sem saída, e que aquela poderia ser a verdade a qual eu precisava me acostumar. Eu a agradecia muito pelo que ela estava fazendo por mim. Éramos quase como parceiras num crime que nunca foi consumado. Arquitetávamos coisas insanas que não dariam cabo.

–Um dia desses você poderia me contar a sua história. -Eu disse.

–Você não vai querer ouvi-la. -Estávamos nos despedindo depois de uma longa conversa. -Nem eu quero. Se pudesse a esquecia. -E então se lembrou que eu havia esquecido a minha. -Me desculpe. Eu vivo fazendo isso.

–Talvez esquecer não seja tão bom assim. -Eu disse.

–Talvez não seja. -Nunca mais voltamos a falar sobre o passado dela. Ou qualquer coisa assim. O máximo que ela já fez foi falar sobre a sua vida amorosa. Ouvir aquilo me lembrou muito de Vanessa. Uma angústia me dominava tanto. E a saudade, a necessidade de estar perto me afligia e eu queria muito chorar. Essas "crises" estavam ficando cada vez mais espaçadas. Eu temia estar esquecendo o grande amor de minha vida. Já havia passado três meses desde que eu e Natália estávamos tendo aqueles encontros. E, na verdade, aquele era o último. O último a respeito daquela busca. Eu já havia me conformado.

Natália me contou que havia terminado com aquela garota de cabelo azul. Disse que ela era muito difícil de lidar. Mas que ainda tinha muitas saudades dela. E agora ela estava namorando com o melhor amigo. Ela falava dele de uma maneira muito animada. Eu gostava de ouvir quando o assunto era esse. Era nessas horas que eu via o quão diferente a gente era. E ela era tão nova, quero dizer, eu me sentia como se ela fosse como meu irmão. De repente pensei que os dois tinham coisas em comum e que gostariam um do outro. Camila achou a ideia de levar Natália em nossa próxima viagem uma coisa idiota. Camila não gostava dela. Ela não gostava de Camila. E eu ficava nesse meio tentando unir dois pontos que se repeliam.


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Notas finais do capítulo

Au Revoir!



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