A água fria escorria pelos meus cabelos. O vento cálido de inverno me deixava trêmula. Deixei-me cair de joelhos no chão,esperava que isso abafasse minha dor. Não a dor física de sentir-se congelando...Na verdade,eu estava congelando. Dentro do meu peito. Podia ouvir as gargalhadas.

Aria abriu seus olhos puxando o ar. Estava ofegante e suando frio por conta do pesadelo que sempre se repetia. Continou a respirar pesadamente,até que se acalmou. O pequeno gato branco estava enroscado sobre seus pés cobertos.

Levantou-se com um certo esforço e logo se arrumou. Ajeitou seu material e saiu sem fazer barulho,afim de não acordar o bichano que ainda dormia.

Andou pelas ruas pavimentadas,passando pelo mesmo parque de ontem. Parou no lugar onde a pequena caixinha com o gato,antes estava. O vento soprava levemente,a menina deixou que ele simplesmente a acariciasse. Ela podia ouvir o farfalhar das folhas no topo das árvores,a calmaria a inundava. Retomou seu caminho antes que perdesse a hora.

Chegando à escola,apressou-se logo para chegar a sala.

–Oi ! -disse Íris animada.

–Oi Íris. -falou sem animação alguma.

–O que foi? Está triste? -ela conseguiu sentir o tom de preocupação em sua voz.

Ela se preocupava comigo?Aria se perguntou,sentindo algum sentimento bom dentro de si.

–Estou bem. E você,como vai? -respondeu dando um singelo sorriso,o que pareceu aliviar a expressão de Íris.

–Também! -ela sorriu. - Oh,Nathaniel! Oi!

–Olá meninas! -ele se aproximou.

Elas acenaram para ele.

–Seu cabelo está uma bagunça! -exclamou Íris. - Com essa ventania lá fora!

Com isso ela puxou o garoto um pouco para baixo e ajeitou seus cabelos dourados.

–O-obrigada! -disse Nathaniel um tanto sem jeito.

–De nada. -ela respondeu.

–Olá! -Melody acenou e se sentou em seu lugar.

Com isso todos acenaram de volta.

–O professor chegou. -relatou a garota de cabelos negros vendo-o se sentar.

Faraize era professor de história. Não parecia ser muito rigoroso. Ele logo começou a chamada.

–Armin. -falou.

Não houve resposta. Espera! Eu conheço esse nome,o menino de ontem.Aria lembrou. Todos viraram a cabeça para o fundo da sala,consequentemente,ela fez o mesmo.Os cabelos negros, lá estavam,com seu console em mãos.Parecia não notar todos os olhares em cima dele. Um garoto de cabelos castanhos balançou seu braço e ele assustou-se,desviando os olhos do PSP.

–Armin,quantas vezes eu já disse para parar de jogar isso na minha aula? -Faraize suspirou.

–Foi mal! - ele deu um sorriso sem jeito.

O professor logo continuou a chamada,visto que já estava acostumado com aquela situação.Aria não pode deixar de achar graça daquilo. Armin a pegou sorrindo e balançou os ombros como se fosse inocente.

O resto da aula correu normalmente. Saíram finalmente para o intervalo. Os outros se sentaram a mesa enquanto eu fui buscar o lanche.

–Sou uma pessoa completamente ignorada pelos professores. -disse Armin,com uma voz de falso descontentamento.

–É você quem ignora os professores. -falou-lhe reunindo os alimentos na bandeja.

–Bem,não deixa de ser verdade. -ele riu.

–Seus olhos parecem com os meus. -notou ela. -Tem o mesmo tom de azul.

–E seus cabelos são pretos,como os meus. -ele disse. - Quem sabe eu sou seu irmão gêmeo e não do Alexy?

–Quantos anos você tem? -perguntou.

–Dezessete. -ele respondeu.

–Não dá,tenho dezesseis. - falou a menina.

–Entretanto,estamos na mesma série. Antes que você pergunte,eu não repeti. Meus pais nos colocaram na escola um pouquinho depois. -ele explicou.

–Certo. -disse puxando as duas bandejas.

–Quer ajuda? Afinal,sou seu irmão mais velho. -ele pegou o objeto da mão da garota.

Alguém passou o braço por seus ombros.

–Eai! -a voz alegre de Alexy disse próxima ao seu ouvido. - Que milagre! O Armin largou aquele PSP pra ajudar alguém! Que evolução!

–Até eu posso ser uma boa pessoa,Alexy. -Armin falou. -Ela é nossa nova irmãzinha. Calma! Evolução tipo pokemon?

–É mesmo!-Alexy ignorou a última pergunta.- Ela parece com a gente. Se eu não tivesse pintado meu cabelo,nós seriamos trigêmeos! Mas,cabelo azul é style.

Aria sorriu porque estava se divertindo.

–Sabe,o pessoal vai me matar. Estou demorando com a comida. -relatou.

–Vamos! -falou Alexy passando o braço sobre o seu.

Aria percebeu como era engraçado ela não ter nenhum tipo de briga com eles. Pensou que talvez fora por eles serem parecidos. De toda forma,era natural.

–Você demorou! -exclamou Íris. -Pensei que você já tinha brigado com a Ambre de novo!

–Eu roubei a menina aqui! -gritou Alexy se sentando.

Alexy era bem...Animado. A menina observou.

–Desculpe. -suspirou.

–Isso significa que você está se enturmando. Então não precisa se desculpas,Aria. -falou Nathaniel.

O recreio passou de um modo normal,seu segundo dia fora ótimo. Hoje ela não havia feito nada de errado. Notou que apenas Lysandre a deixava inquieta.Onde ele estava? Aria não havia o visto naquela manhã. Procurou-o pelo refeitório e nada encontrou.

Voltaram para a sala e o resto da aula correu rapidamente. Nathaniel e Melody de todo modo teriam de ficar por serem representantes. Já ela,precisava ver algo sobre clubes escolares com a diretora.Encaminhou-se para a direção. Os corredores se encontravam novamente limpos.

Falara com a diretora e ela logo lhe disse que precisava escolher um clube. Escolheu o de música,já que sempre tivera afinidade com essa área. Quando viu a lista de pessoas do clube,percebeu o nome de Íris e Lysandre. Novamente seus pensamentos se voltaram à ele. Por quê? Ela definitivamente não sabia.

Lembrou-se das escadas que levavam ao telhado do qual Nathaniel havia lhe mostrado.Subiu-as achando que lá poderia resolver os assuntos pendentes em sua mente. A garota queria pedir desculpas,mas ao mesmo tempo não queria.

–Talvesse você devesse pedir desculpas. Talvez não. Mas você sabe que deve, não é mesmo? - começou a falar em voz alta. Queria que a razão entrasse em sua cabeça. -Eu odeio esse garoto! Odeio você Lysandre!

–Sério? -a voz que ela não podia ouvir no momento,questionou-a.

Lysandre vira a garota conversando algo sobre desculpas sozinha. Não pode deixar de ver graça. O que ela dizia,não era relativo ao que pensava. Quando ouviu seu nome,resolvera aparecer.

–Sério? -falou ele. - Me odeia tanto assim?

As bochechas da menina estavam completamente vermelhas.

–Por que você está aqui?- ela assustou-se.

–Bem,eu sempre venho aqui. Além disso,esqueci meu bloco de notas. -Lysandre mostrou à ela o pequeno caderno.

–D-desde quando você está aqui? -ela disse gaguejando.

–Há algum tempo. - contou.

–Do que você está rindo? Não tem nada de engraçado! -ela exclamou.

A vergonha dela era engraçada,pensou ele.

–Então,você tem algo para me dizer?-provocou-a.

–E-eu só...Só...Pensei em pedir desculpas pelo ocorrido de ontem. Não porque eu quero! É educação! -ela falou virando o rosto.

Aproximou-se de Aria e se curvou,beijando sua mão suavemente.

–Pedirei perdão para a pequena senhorita,já que para ela é um grande incômodo. - sorriu.

Agora ela estava ainda mais corada. As sobrancelhas arqueadas em espanto. Ela puxou sua mão e cruzou os braços.

–Bem,devo pedir des...Não! Quem você está chamando de pequena? -ela indignou-se

–Você é pequena. -observou.

–Você que é alto demais! -ela reclamou.

–Certo,certo! Vai continuar no local ou podemos descer? -perguntou-lhe.

–Eu já ia fazer isso antes! -ela esbravejou.

–Claro. -Lysandre fez um gesto para que ela passasse.

Ela desceu na frente,em passos pesados e irritados.

Idiota. Lysandre é um verdadeiro idiota,foi a primeira coisa que Aria pensara. Suas bochechas estavam doendo pelo choque de repentina vergonha.

Ela fora andando na frente sem esperá-lo. Enquanto ia para fora, um garoto veio na direção inversa. Usava calças camufladas,um regata preta e uma blusa social branca jogada por cima.Além das botas coturnos pretas. Quando estavam próximos ele entrou em sua frente.

Os cabelos castanhos estavam jogados na testa de pele morena clara.Ele sorriu para a garota.Aria tinha a estranha sensação de que o conhecia.

–Não se lembra mais de mim? -perguntou o garoto.

Era alto,por isso teve de erguer a cabeça para enxergá-lo.

–Verdes. -ela separou seus lábios em surpresa.

–Verdes? -ele não entendeu.

–Os olhos. São tão verdes. - a menina apontou seu rosto.

As memórias vieram a sua mente instantaneamente. O garoto que se escondera no canto atrás da quadra. Sua mente voara até o passado.

–Não pode deixá-los fazerem isso com você! -falou passando sermão.

–O que eu posso fazer? -ele se lamentava.

Mesmo criança a expressão da gaorta era dura,porém aos pouco se suavizou. Agachou-se ao lado do pequeno menino com óculos fundo de garrafa.

–Sabe,não se importe com o que eles dizem. Eu estou aqui,certo? -falou.

Sua cabeça se levantou,agitando levemente seus cabelos cortados em asa delta.

–Obrigada,mas você não vai estar aqui para sempre,não é? -ele abaixou a cabeça novamente.

Ela levantou seu rosto e puxou seus óculos. Aria se surpreendeu com a intensidade do verde em seus olhos. Com aquela franja e os óculos, nunca havia notado.

–Olhe para mim. -disse fazendo-o olhar. -Mesmo que eu não esteja aqui de verdade,você pode lembrar de mim. Você pode lembrar,de todas as vezes que eu briguei com esses idiotas por te irritar.Com isso,você vai rir de tudo isso ao invés de chorar. Certo?

–Certo! -ele sorriu.

Apesar de ela dizer-lhe para ter coragem,a própria menina não a tinha.

Ela voltou realidade.Encarava o menino à sua frente boquiaberta.

–Ken? -questionou espantada.