Dentro do Espelho escrita por Banshee


Capítulo 25
Eu Me Culpo


Notas iniciais do capítulo

Dia 31! Faltam 4 dias!!!! Janelas do Inferno irão se abrir!



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Na mala estavam às roupas e os milhares de dólares, euros, reais, pesos... Segui suas instruções ao pé da letra. Skie estava dormindo por enquanto e eu me apossei desta vez. Peguei o iPod novo e liguei numa cantora qualquer, e por algum motivo parecia que ela me entendia.
É porque você sabe meu nome? Ou é porque você viu meu rosto na capa? De qualquer forma, é tudo a mesma coisa, é como falar com um amigo que está tentando ser seu amante.

Meu espartilho finíssimo machucava minhas costelas, mas já me acostumei à dor. Meus cabelos cor de fogo caiam o mais sexy possível, vestido cor de vinho justíssimo e meus black needles de quinze centímetros faziam barulho por onde eu passava. Todo show de putas parou para me apreciar.
Vadias, eram todas vadias.
Debaixo de tudo, eu sei que não é culpa sua que você não entende. Eu me culpo.
–– Boa Tarde, senhorita. –– Disse o atendente –– Nós da Airlines ficamos satisfeitos em poder ajudar.
Seus olhos eram verdes, muito verdes, extremamente verdes. Cabelos morenos e pele branquinha. Muito delícia, se querem saber.
–– Obrigada, amor. –– Respondi dando-lhe o passaporte –– Poderia me dizer quando chega o próximo voo para Amsterdã?
O canalha não respondeu, estava olhando meu decote. Olhe o quanto quiser amor.
–– Querido? –– Perguntei.
–– Hum... Hã... Daqui a dez minutos se não me falha a memória, senhorita.
Sorri como uma perfeita lady antes de me retirar, mas fiz questão de espremer bem meus seios para que visse.
Como você poderia saber como é lutar contra os cães do inferno?

Fui em direção a um dos bancos do aeroporto. Todos olhavam pra mim, a pista se transformara em uma passarela onde eu era a atração principal. Vagabundas me odiavam e rapazes me desejavam como sempre fora e como deveria continuar.
O verdadeiro espetáculo desse maldito show de putas.
Como você poderia saber o que é a sensação de estar fora de si mesmo? Você acha que me conhece tão bem. Eu só quero que você perceba: Eu culpo, sim, eu me culpo.
–– Não acredito que realmente estais fazendo isso. –– Disse Alaska sentada ao meu lado –– É idiota, patético, sínico, doentio. Você está indo para uma missão suicida.
–– Só escuto blá, blá e blá. –– Respondi –– Você não pode ser menos careta às vezes?
A garota suspirou de novo. Estava impaciente e pensava que eu estava errada, entretanto era eu quem iria fazer a justiça... Existem certas coisas que a lei dos homens simplesmente não pode punir.
–– Hope, deixe de ser patética! Você não sabe o que está fazendo, muito menos onde está caindo.
–– Você é chata, sabia? –– retruquei –– Muito chata por sinal. Por que simplesmente não vai se fuder?

–– Você realmente vai seguir as regras do diário de uma suicida? Deus dos altos céus, isso é realmente ridículo.
Mas não, não era. Na mala, além de pilhas de roupas, dinheiros e acessórios, Faith deixara seu diário. Contava sua vida e seus romances e no fim deixara as instruções de como encontra-los. Porém Alaska era cega demais para perceber que era o melhor a ser feito.
–– Não, não é o melhor a ser feito!
–– Sai da minha cabeça! –– Gritei.
Todos que me rodeavam pararam suas atividades para me encarar. Vagabundas falavam de mim para seus namorados, mas eles não ligavam. Acenei como a dama da sociedade que eu não era e voltei ao meu lugar, contudo ela sumira.
Eu me culpo pela minha reputação.
As regras eram simples: Pegaria o próximo avião para Amsterdã, iria para a casa de Kaleb Mason e lá falaria com sua bela esposa e filhos. Quando ele chegasse não me reconheceria, afinal passaram-se dez anos desde nosso ultimo encontro. Eu encharcaria seus filhos de gasolina e atearia fogo neles, sua esposa seria morta a facadas e seria divertido. No fim o amarraria e faria confessar seu pecado, ver que estava errado, pedir perdão. Por fim o mataria com várias tesouradas no rosto e partiria pra outro, e depois outro e outro... Até que isso chegasse ao fim.
Eu confio. Você nunca gostaria de adivinhar o que eu acho sobre o que há acima dos ombros. Dez anos sem a voz, eu me sinto como se nada realmente tivesse mudado agora que estamos um pouco mais velhos.
Ouvi o choro de uma criança. Virei-me e encontrei a pequena garotinha encolhida atrás do banco, me ajoelhei ao seu lado, estava curiosa com o que acontecia. Nunca conheci qualquer criança que não fossem Glass ou Alaska.
–– Você está chorando. Isso é curioso. –– Eu disse –– Tem um motivo?
A criança ergueu seus lindos olhos castanhos para mim, suas bochechas estavam coradas e olhos vermelhos devido às lágrimas.
–– Eles me abandonaram. –– Ela respondeu soluçando –– Minha mãe disse que iria me abandonar se não me comportasse, agora não consigo acha-la.
Meu coração se compadeceu das lágrimas daquele ser. Tão fraca, sozinha e indefesa, nunca soube o que é o mal, a natureza humana e o que ela pode fazer.
Peguei-a no colo e enxuguei seu rosto. Era uma linda criança assustada, apenas isso.
–– Não fique triste. –– Eu disse –– Alguns pais são cruéis mesmo. Podem te estuprar ou fazer rituais de purificação, talvez tenha sido bom perder os seus.
–– O que é estuprar?
Ri. Ri e comecei a andar, mal havia dado dois passos quando sua mãe apareceu.
–– Largue a minha filha! –– Disse a mulher.
Virei para me deparar com a Sra. Gales e uma grande mala de viagem.
–– Oh, meu Deus Skie! –– Disse ela –– O que aconteceu com você? Sua mãe sabe que estais aqui? Por onde andou?
Eu sou apenas uma face sem uma escolha.
Sra. Gales era a líder de uma associação ao qual a vaca de Tess participava. Uma cristã fanática como todas as outras, era obvio que sairia e contaria tudo para minha querida mamãe do que havia visto. Bem, deixa falar.
–– Gales? A senhora é a mãe dessa garotinha? Não me surpreenda que ela tenha fugido.
–– Sky Marie Delavigne, não fale assim comigo! Onde está sua mãe?
–– Na puta que pariu, o mesmo lugar em que vou manda você se falar mais qualquer atrocidade sobre abandono à essa criancinha!
–– Vai dizer como criar minha filha agora, sua meretriz de merd...
Antes que ela pudesse terminar a frase minha mão já voara para seu pescoço. Seus olhos ameaçaram saltar das órbitas e rosto ficava cada vez mais rosado. Eu iria mata-la. Iria mata-la e seria divertido.
A criança gritava enquanto sua mãe se debatia, tentava sair do meu colo, entretanto ninguém era pareo pra mim. As pessoas assistiam ao espetáculo de camarote, mas não ousavam me tocar.
Não toque em ácido, minha querida, você vai se machucar.
Debaixo de tudo eu sei que não é sua culpa, que você não entende.
Eu a mataria na frente de todos, deixaria a criança sem uma mãe, e se não tivesse pai, que se foda. Ela não merecia ser feliz, nenhum deles merecia.
Entretanto não a metei. Deixei seu corpo fraco cair junto com a menina que larguei. As duas choravam e a mulher agradecia a salvação, mas não a mim. Estava orando.
–– Não seja patética. –– Eu disse –– Deus algum te salvou.
–– Um dia serás condenada por seus atos. –– Disse ela soluçando –– O seu livro da vida foi manchado, Skie. O que sua mãe diria se te visse vestida assim?
Me ajoelhei da mesma forma que Tess obrigava Sky no ritual de purificação. Falei bem baixinho pois só ela deveria saber.
–– O lugar de Tess está reservado junto ao meu... Numa ala VIP no inferno.
Eu me culpo.
–– O show acabou, vagabundas. –– Gritei à nossa amada plateia, peguei minha mala e saí.
Entretanto as cachorras me encaravam. Elas não sabiam como era. Nunca saberiam.
Como você poderia saber o que se sente para lutar contra os cães do inferno? Você acha que me conhece tão bem. Como você poderia saber o que é a sensação de estar fora de mim mesmo?
Aposto que tinham uma vida normal em um bairro chique da América ou Europa. Estudavam de segunda a sexta e não precisavam se esforçar pra passar, pois faziam anal com qualquer um que fizesse seus trabalhos. Aos fins de semana viajavam pra Vegas ou se bronzeavam na Califórnia. À noite cavalgavam sem preservativo nos paus de seus namorados e depois abortavam. Morreriam com 34 anos de idade graças á uma DST qualquer e outras tomariam seu lugar.
E o ciclo da putice nunca teria fim.
Você acha que me conhece tão bem. Eu só quero que você perceba, eu culpo, eu me culpo, culpo, culpo, culpo, eu mesma pela minha reputação.
Nunca saberiam o que é de fato não existir, estar presa dentro da cabeça de alguém, ser dependente de outras personalidades. Não sabiam o que é ser estuprada e criada, depois ter que matar seus criadores. Não saberiam o que é dormir tendo que consolar uma criança chorando e ser abraçada por alguém que a violentou, assassinar crianças, pessoas e animais a sangue frio.
Isso acontece por que eu me culpo.
Poderia ter me sacrificado no lugar de Glass desde o inicio, me exilado no fundo das lembranças e da mente de Skye. As três estariam vivas, felizes e a marca do ódio jamais seria espalhada.
Como você poderia saber o que se sente para lutar contra os cães do inferno?
–– Atenção senhores passageiros, dirijam-se para os Portões 6 para o voo a Amsterdã.
Pergunto-me se seria melhor abandonar tudo, abortar essa missão. Não sobre assassina-los, e sim sobre tudo isso. Qual era o sentido da minha existência?
Matar? Só para isso que eu servia?
Você acha que me conhece tão bem. Como você poderia saber o que é a sensação de estar fora de mim mesmo?
–– Atenção senhores passageiros, dirijam-se para os Portões 6 para o voo a Amsterdã.
Fui até o portão seis, esperei na fila como qualquer cidadã normal. Entrei meu passaporte e documentos.
Minha identidade não era de Skie ou Alaska.
Hope Lichtträger.

Na verdade eu me culpo, me culpo, me culpo. Sim, eu me culpo e me culpo.
Subi a bordo do avião e sai do ar. O fim dessa guerra estava decidido: Ninguém seria campeão.
Eu me culpo pela minha reputação.


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