Mas tão repentinamente como começou, o beijo terminou. Eles se encaram por alguns segundos, um tentando ler as reações do outro. Até o momento que Kate se virou, ficando de costas para ele. Porém, antes que Castle pudesse pensar em qualquer outra coisa, ela puxou a mão dele e a colocou sobre a sua cintura. Naquele momento, eles foram tomados por uma calma, uma paz não sentida a muito tempo. E foi daquele jeito, envolvida pelo braço do amor da sua vida, que Kate caiu no sono.

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Estava calor. Não um calor normal, mas um calor reconfortante. Ela estava acordada, mas não ousava abrir os olhos. Todos os acontecimentos da noite anterior estavam dançando e fazendo loopings infinitos na sua cabeça. Porém, os seus pensamentos sempre voltam para a mesma questão. Ela quase tinha morrido.

O braço de Castle permaneceu a envolvendo durante toda a noite. E de alguma forma, esse contato, essa sensação de estar segura e protegida, conseguia resolver mais problemas do que seu terapeuta. Ela só queria poder abrir os olhos e mesmo com eles abertos, continuar aquele contato.

Por alguns momentos ela desejou que tudo fosse mais fácil. Kate queria poder se virar e beijá-lo mais uma vez. Mas é difícil se entregar totalmente quando o seu coração está te puxando para o lado oposto.

Não suportando mais uma dor aguda na sua cintura, ela finalmente abriu os olhos e saiu do abraço de Castle, ficando sentada na cama, observando-o despertar preguiçosamente.

– Bom dia. - ele falou com os olhos pequeninhos e com a voz rouca.

O escritor percebeu que ela estava tão absorta nos próprios pensamentos que nem ao mesmo se deu ao trabalho de respondê-lo. Pelo menos era o que ele pensava, pois alguns segundos depois ela simplesmente sorriu pra ele em resposta. Os primeiros raios do sol atravessavam o rosto dela, deixando os olhos e o cabelos bagunçados ainda mais claros e o sorriso infinitamente mais mágico. “Não é um sonho” ele repetia para si mesmo.

Em um ato inconsciente, Beckett mordeu o lábio inferior e ele não conseguiu impedir o impulso imediato de beijá-la.

O beijo começou calmo, mas um imã, uma atração, uma química sem precedentes tomou conta deles e em poucos momentos Castle já havia puxado Kate para cima de si. As pernas dela envolviam o quadril dele, a mão de Rick estava espalmada na coxa dela, enquanto ela se ocupava em entrelaçar seus dedos no cabelo dele.

Beckett sabia que aquele seria o último beijo deles. Já havia aberto os olhos com a sua decisão tomada. Mas a sensação de estar sentindo os lábios dele nos seus pela última vez era tão desesperadora que ela não conseguiu conter uma lágrima solitária.

A detetive se afastou suavemente, mas ainda estava sentada em cima de Castle, as mãos percorrendo o pescoço dele.

– Kate, você está sangrando. - Ele falou com a voz entrecortada pela respiração acelerada. Uma expressão de preocupação tomava seu rosto.

Ela olhou para a própria cintura, o único lugar que doía no momento e viu a mancha de sangue na blusa branca. Antes que ela tivesse qualquer reação, ele a puxou pela mão até a cozinha.

– Onde fica a caixa de primeiros socorros?

– Na parte de cima do armário da direita. - Ela o instruiu e em poucos segundos ele pegou o que era necessário para fazer um curativo.

– Ei, senta aqui. - ele apontou para o balcão e ela obedeceu. Seu coração estava descompassado. Como ela iria conseguir dizer para ele sua decisão?

Ele se encaixou no meio das pernas dela e levantou sua blusa para analisar o ferimento.

– Parece que alguns pontos se romperam, mas acho que só o curativo resolve.

– Aham – Kate sussurrou em resposta.

Sem ao menos pedir autorização, ele tirou tirou a blusa dela, deixando-a apenas com um sutiã de renda preto. Castle reprimiu os pensamentos maldosos que consumiam sua cabeça ao vê-la daquele jeito e depois de um suspiro alto começou a fazer um curativo no machucado.

Fora os gemidos de dor, a detetive não falou nada até o momento que ele terminou e ela pode recolocar sua blusa.

– Sabe Kate, eu prefiro você sem essa blusa. - Ele falou todo brincalhão, aproximando-se dela que havia acabado de descer do balcão.

Ele se inclinou para beijá-la, mas ela não se deixou levar como há poucos minutos trás e se afastou dele bruscamente, fazendo com que Castle paralisasse diante da reação dela. Por mais difícil que fosse, sua decisão já estava tomada.

– Precisamos conversar.

– Nossa, pensei que demoraria mais tempo pra ouvir essa frase. - Ele brincou, tentando quebrar o clima pesado que se estabeleceu, mas percebeu que ela estava completamente séria.

– Eu vou voltar para NY. Mas não podemos continuar com isso. - Ela fez um gesto abrangente. Lutava contra si mesma para permanecer calma. Estava prestes a fazer uma das coisas mais dolorosas que já fez na vida.

– Isso? - Ela viu nos olhos de Rick o quanto estava quebrando o coração dele.

– Você sabe do que eu estou falando, Castle… Não podemos sair por aí nos beijando sempre que ficamos sozinhos.

– Não são só beijos, Kate. Você sabe disso.

– Nós mudamos. Nos tornamos pessoas diferentes. - Rick espremeu os olhos um pouquinho, como se para tentar entendê-la melhor.

– Não importa o quanto nós mudamos, envelhecemos ou o quão longe um do outro nós fiquemos. Alguma coisa sempre me puxa de volta pra você... é com você que eu quero ficar. - Ela abaixou os olhos e sentiu algumas lágrimas escorrerem pelas suas bochechas.

–Castle, não… - O escritor não deixou terminar, se aproximou dela mais uma vez e envolveu o rosto dela nas suas mãos.

– Olha para mim, Kate. - Mesmo relutante, ela levantou os olhos e o encarou. - Eu te amo por risos sem sentido e te amo por me insultar e te amo por cada pequena coisa que te faz ser quem você é. Eu te amo, e eu quero que isso dê certo.

– Não posso, Castle. - Ela retirou as mãos dele do seu rosto. - Não dá. Nós vamos estragar tudo.

– Você não tem certeza disso.

– Sim, eu tenho! Eu não confio em você para manter um relacionamento. Já esqueceu como o nosso namoro terminou? Eu fiquei despedaçada e tive que eu mesma juntar os meus pedaços. Mas agora nós temos uma filha e eu não vou deixar que ela sofra caso alguma coisa dê errado entre nós dois.

– Você não confia em ninguém, Beckett! E não importa o que eu faça, você nunca confiará em mim… - ele se afastou dela e deu um murro na parede, em uma tentativa frustrada de libertar toda a raiva que estava sentindo. - Você poderia ser feliz. Você merece ser feliz. Mas você tem medo… Mas que droga, Kate! Nada nunca é o suficiente para você!

Castle saiu batendo a porta, sem mesmo esperar por uma resposta de Beckett. Entrou no carro e se permitiu soltar as lágrimas que estavam presas.

A vida é uma questão de escolhas. Kate havia feito as dela e agora é a hora de ele fazer as suas próprias. E só para começar, Katherine Beckett, a partir desse momento é apenas a mãe da sua filha. Nada mais do que isso.

Sua decisão estava tomada.