ANGELS [AND DEVILS]

THE WEAK

As cortinas balançaram de modo violento trazendo o homem consigo, a aparência selvagem surpreendeu Ichigo, ele devia se parecer com Rukia, puro pequeno e delicado, não? Pelo jeito não.

Os olhos negros fitaram os globos âmbar com ódio. Sem dizer uma palavra ele andou até Rukia. Ichigo a fitou, a parte branca dos olhos ficava negra, a expressão não retratava nada além de sofrimento. O homem tirou de algum lugar uma seringa prateada, o líquido dentro dela não tinha cor, e num só movimento ele afundou a agulha na coxa exposta da morena.

— Ela vai ficar bem? – Ainda segurando Rukia ele perguntou.

— Cala a boca e me dá ela, seu merda! – Pela primeira vez a voz rouca soou, queimava nos ouvidos de Ichigo a raiva que escorreu de cada palavra, e num momento ele já tinha Rukia em seus próprios braços.

Ela era tão pequena entre os braços dele, tão delicada perto de algo tão violento como a aparência do outro indicava. Agora reparava no homem, ele tinha as madeixas vermelhas e longas, tinha a pele bronzeada e tatuagens negras que se estendiam pelo tronco coberto com a finíssima camisa branca que se encontrava aberta até o meio do abdômen. Suas sobrancelhas também eram tatuagens, dando aos olhos negros um ar de raiva ainda maior.

Os cabelos estavam presos no alto da cabeça, adornada por uma faixa branca, aliás, ele só trajava roupas brancas, assim como Rukia, a calça rasgada e os pés descalços o deixavam com um ar ainda mais bestial.

Foi então que ela parou de tremer, a respiração se acalmou e o aperto que podia ser visto na camisa do outro ruivo foi solto. Ele ainda a embalava levemente, a preocupação escorria de sua pele, se tornando quase visível.

— Renji... – Um sussurro fraco saiu dos lábios da pequena.

— Rukia! – Em uníssono os ruivos chamaram por ela.

Num salto Ichigo foi até ela, tocando-lhe o braço.

— Graças a Deus, eu estava preocupado! – Ele suspirou de alívio.

— Não o bastante para fazer alguma coisa! – O outro esbravejou. – Você só ficou suspirando de preocupação? Ótimo, nem pra ajudar, se arriscar um pouco, por Deus, ela teria morrido se não fosse por mim! E você estaria aí, suspirando, assistindo ela morrer por alguém fraco como você! – A última parte foi um grito.

Ichigo arregalou os olhos castanhos, as palavras o atingiram como adagas. Fraco. Ele sabia. Sentia-se fraco e sabia que tinha sido fraco. Tinha deixado Rukia sozinha, lutando por ele, arriscando sua vida, enquanto ele se sentava num sofá e ficava indagando-se sobre sua segurança. Abaixou os olhos, fitando o chão. Sentia-se um lixo.

— Ei... – A voz feminina chamou a atenção de ambos. – Não foi culpa sua.

A pequena mão agora pousava sobre o machucado no ombro de Ichigo. Ela se desvencilhou do aperto do outro e ficou entre eles, a tensão ali era evidente.

— Cure-o, por favor. – Renji mostrou-se indignado.

— Curá-lo? Olhe pra si mesma, Rukia. Estando no seu estado ainda quer que eu o cure primeiro?

Ela assentiu deixando-o descrente. Mas não podia desobedece-la. Colocou a mão no ombro do menor, sem encará-lo, assim resistiria à vontade de parti-lo ao meio. Um brilho fraco surgiu e em menos de dois minutos a ferida não estava mais ali. E então ele pegou Rukia de novo, e deitando-a no sofázinho fez o mesmo.

— O que faço para ajudar? – Poucas palavras e a paciência do outro se esgotava novamente.

— Sumir e deixa-la em paz. Contratar um segurança qualquer. Várias coisas...

— Você acha que eu a escolhi? — Agora quem se irritava era Ichigo. — Que me mandaram escolher a que mais me agradava entre cinco? Que eu fico feliz enquanto ela se arrisca por mim? Também não gosto da ideia de ela ficar se matando para me proteger, mas eu não posso manda-la embora, posso? Por que se eu pudesse já havia feito---

— Então está dizendo, Kurosaki, que não vê a hora de ela ir embora?

— Eu não disse isso!

— Mas foi quase isso!

E então Renji se jogou em cima do outro com um soco, Ichigo defendeu e chutou o maior quando houve uma brecha. A briga continuava e vários “elogios” podiam ser ouvidos. Rukia avaliava se tinha sido uma boa ideia sobreviver pra depois ter que olhar aquela cena ridícula enquanto ainda sangrava infernos, e mesmo nessa situação ela agiu como só ela poderia.

Segurou com força as madeixas ruivas de ambos e aproximou rapidamente os rostos, fazendo com que um beijo desajeitado e indesejado acontecesse. Os dois se separaram limpando os lábios, e quando iam descontar na morena acabaram por perceber a aura negra emanando dela.

— Se não pararem eu mato vocês. – Ela limpou o sangue que ainda escorria de vários pontos em seu corpo. – Nem que eu morra tentando!

Os dois se entreolharam. Renji continuou a tratar dos ferimentos enquanto o outro apenas ficava ali, às vezes perguntava sobre o método de cura, e Renji respondia tudo calmamente devido aos olhares da pequena. Em cerca de vinte minutos apenas o vestido dela ainda estava destruído. Os olhos de Rukia estavam fechados e a respiração era calma, ela havia caído no sono.

Os outros dois bocejaram, apesar de tudo tinham que dormir.

— Ei. Vá pra cama, nós ficaremos aqui já que não podemos te deixar sozinho...

Ichigo não pode deixar de estranhar, mas ainda assim foi para a cama. Teria um longo dia amanhã. Ao deitar-se entre os cobertores quentes viu o tal Renji deitar a morena no sofázinho e ajeitar-se junto dela. Não conseguiu evitar a raiva que sentiu, sem nem mesmo saber o motivo, e aos poucos caiu no sono.

Os olhos atentos de Renji observavam cada canto do quarto. Sabia que não ocorreria nenhum outro ataque, mas não iria se descuidar. Afagou os cabelos negros de Rukia e voltou á sua vigília silenciosa.