Nico Di Angelo

Fui para minha aula de história. Ao chegar lá, vi que estaria sozinho, pois nenhum garoto tinha essa aula comigo. Sentei em uma mesa no canto direito, ao lado da parede e coloquei meu fone de ouvido. Uma moça chegou na sala e escrever na lousa:

A Professora de História teve que ir ao hospital, terão a aula vaga. Não se matem.

Aula vaga no primeiro dia de aula? Isso sim que é escola!

Fiquei uns minutos batucando na mesa ao som do meu querido Rock. Até que senti meus fones sendo arrancados da minha orelha. Eu tenho muita raiva que façam isso comigo.

–Qual é cara! – eu disse me virando para trás bravo, já pronto para brigar com o cara que tinha me atrapalhado.

–Calma aí, bravinho. – a menina disse rindo.

Droga, não devia ter gritado com ela. Era Laura, a menina do grupo das meninas. Ela era, resumindo, muito fofa. Ela era baixinha, tinha cabelo castanho que batiam abaixo do ombro. Olhos castanhos intensos e grandes. Seus cílios eram tão grandes, que assustavam e dava para perceber que não eram falsos. Ela não usava maquiagem. Sua blusa tinha um unicórnio desenhado. Ela era uma criança no corpo de uma garota de 17 anos. E que corpo! Sua voz era fina e ela tinha nascido no Brasil. Nunca tinha falado com ela antes.

–Desculpa – eu disse me virando e tirando o cabelo do rosto – Pensei que era alguém querendo me irritar.

–Mas eu queria te irritar – ela disse rindo mais ainda.

Fiquei sem jeito, sem ter o que falar.

–Estou brincando – ela disse – Só queria avisar que seu celular vai cair do seu bolso se você se mexer mais uma vez.

Ela estava olhando para minha bunda?

–Ah! Obrigada –eu disse colocando o celular em cima da mesa.

Calma. Eu estou com vergonha? Estou sem jeito? É isso mesmo produção?

–Então – eu disse me virando de novo e surpreendendo ela – Eu tenho quarenta minutos para fazer você gostar de mim! Por onde começo?

Ela me olhou sorrindo, ela estava com vergonha.

–Comece pela parte que eu tenho namorado! – ela disse piscando para mim.

Droga... Nico falhou.

–Bom – eu disse, sem graça – Mas isso não impede que você goste de mim!

–Na verdade, impede sim. Meu namorado é muito ciumento.

–Odeio caras assim – eu disse – Então me conte: quem é o sortudo?

–É o Jake. – ela disse olhando para as próprias mãos.

–Jake, o amigo do Oliver? – eu perguntei.

–Sim, estamos juntos a quase um ano.

–Ele é um babaca! – eu disse rindo.

Ela me olhou brava.

–Nós estamos em uma fase difícil – ela disse – Estamos brigando muito.

–Entendo – eu disse suspirando.

–Entende? – ela pareceu surpresa.

–Sim, namorei a Rachel por seis meses...

Toda vez que toco nesse assunto, eu fico triste. E ela pareceu perceber.

–Quer conversar sobre isso? – ela perguntou.

–Sim... Seria bom – eu disse – Me encontre depois da aula na quadra.

Nisso eu pisquei e sai da sala, não dando tempo para a mesma dizer que não podia ir. Nico Di Angelo nunca perde, baby.

Charles

Estava na troca de aula. Tínhamos em torno de cinco minutos para pegar nosso material no armário e ir para a próxima sala. Mas é claro que eu e meus amigos transformávamos aqueles cinco minutos em quinze. Nossos armários sempre foram os mesmos. Ficam no mesmo corredor, mas distantes uns dos outros (seria querer de mais ter os armários uns do lado dos outros). Abri meu armário e comecei a tentar procurar meu caderno de física.

–Vai demorar ai? – uma voz fina surgiu do nada, me fazendo levar um susto.

Era Silena. Desde que estudo aqui, ela tem o armário dela colado com o meu.

Fechei meu armário bem rápido e dei passagem para ela.

–Desculpa – disse olhando para baixo.

Ela abriu o armário dela, revelando plumas rosa, gliters rosa, fotos de atores sem camisas e espelhos, muitos espelhos. Ela procurou algum caderno (que era rosa, para variar) e eu pude observá-la melhor.

Ela estava vestida com uma saia jeans, deixando suas belas pernas à mostra. Uma camiseta rosa com uma estampa de um raio preto no meio. Estava usando all star branco e seus cabelos pretos caiam nas costas, enrolados nas pontas. Ela estava maquiada, mas de forma discreta. Estava linda. Simples e linda. Ao contrario da Drew e suas amiguinhas.

Outro grupo que existe nessa escola que provavelmente não mencionaram aqui: Drew e suas amigas. Por um tempo, achamos que elas eram o grupo feminino popular da escola. Muitos de nós não resistiram aos encantos delas. Acho que a palavra certa não é encanto, e sim uma mistura de garotos bêbados com meninas gostosas de vestidos mais que curtos juntos. Mas aquelas ali são mais burras que uma pedra.

–Pode segurar isso aqui para mim? – Silena disse, me fazendo parar de encara-la.

Concordei com a cabeça e segurei seu livro. Ela se olhou no espelho, arrumou o cabelo e deu um sorrisinho para sim mesma, me fazendo derreter todo.

–Obrigadinha – ela disse tirando o livro da minha mão, fechando o armário e indo embora.

–Cara – ouvi a voz de Luke – Você precisa tomar alguma atitude com essa garota.

–Desde que entramos aqui – Percy disse – Ou seja, há muito tempo, você tem uma queda por essa garota.

–Mas sempre foi um tonto – Nico disse rindo aparecendo do meu lado.

–Isso não é verdade – eu disse abrindo meu armário e pegando meu caderno.

–Amigo – Percy disse – Se essa garota pedir para você pular pela janela de um prédio de 100 andares, você pula.

–E ainda fica com cara de bobo tonto apaixonado – Nico completou fazendo todos rirem.

–É que quando ela chega – eu disse – Eu simplesmente travo. Não consigo falar nada.

–Vamos precisar melhorar isso amigo – Luke disse batendo em meu ombro.

Bufei e fui para a aula de física. Sentei em uma mesa qualquer e um tempo depois o professor já tinha entrado na sala, e já estava passando matéria. Posso ser um cara burro, relaxado e tal, mas tenho uma grande facilidade para física. Minhas medias em física são maiores que artes, ingles e espanhol juntas, para você ter uma ideia. Todos me batem por isso.

Estava cansado, então fiz os exercícios rápido para poder dormir um pouco. Senti uma mao me cutucar, era o professor.

–Eu não estava dormindo – disse abrindo os olhos.

–Eu sei que não – o professor disse revirando os olhos – só quero que ajude uns alunos que estão com dificuldades.

Professor me pedindo para ajudar? Isso deve ser o milagre divido!

Levantei e vi para onde o professor estava apontando. Só podia ser brincadeira!

–A Silena? – eu disse baixo – Não pode ser outra pessoa não?

–Não -o professor disse e saiu.

Fui andando devagar até a mesa da menina. Ela parecia concentrada e frustrada ao mesmo tempo. Como eu iria ensinar física para uma menina que eu não consigo falar nem “oi”?

Respirei fundo e peguei uma mesa e encostei ao lado da mesa dela. Ela olhou para mim estranhando.

–O professor pediu para eu te ajudar – eu disse rápido.

–Que bom – ela abriu um sorriso – Porque eu não consigo fazer isso.

Comecei tentando explicar para ela. Ela me olhava com atenção, com medo de perder algum detalhe importante. Ela queria aprender. Dava para perceber isso. Que eu saiba, Silena é bem inteligente, igual ao seu grupo de amigas.

–Eu não consigo – ela disse com um biquinho no rosto.

–Você só precisa...

Fui interrompido pelo sinal.

–Obrigada pela tentativa de ajuda – ela disse levantando e pegando seu material – Mas eu não consigo entender. Parece que vou pegar minha primeira recuperação.

–Eu vou te ensinar – eu disse me levantando – Nem que eu precise me vestir de rosa.

Ela riu. Ela riu! Ela riu!

–Obrigada por tudo – ela disse e saiu.

Eu vou precisar ajudar essa garota. Mas, primeiro, terei que aprender a como falar com ela sem gaguejar ou sussurrar. Eu vou precisar de ajuda. E eu sei quem pode me ajudar...