'Til We Die escrita por Mrs Jones


Capítulo 9
A Pensão & O Perdão


Notas iniciais do capítulo

Hello, pessoas! Eu sei que prometi postar duas semanas atrás, mas tinha me esquecido do Enem e acabei sem tempo de escrever. Também não estava nos meus dias mais criativos, por isso não estava conseguindo escrever esse capítulo de jeito nenhum. Ainda não ficou como eu queria, mas espero que gostem. Agradeço a minha amiga Queen pela ajuda que ela me deu. Esse era pra ser o capítulo que eu ia postar no Halloween, mas aí deu tudo errado e além de tudo tinha me esquecido do almoço na pensão, que é importante para a continuidade da história. Mas enfim, o próximo fica sendo o capítulo de terror. Não se esqueçam de comentar. Beijos e até a próxima!



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Acordei com alguém me sacudindo.

– Bom-dia, Ruby-Loob! – cumprimentou um Killian sorridente e animado.

– Ah Killian... – murmurei, escondendo o rosto sob o cobertor – Tá cedo ainda, me deixa dormir...

– Não senhora, são quase onze da manhã e daqui a pouco temos compromisso! – ele puxou o cobertor e estremeci de frio.

Merda! Havia me esquecido do almoço de Natal da vovó. Ela ia nos matar se nos atrasássemos. Notei que Gancho estava vestido com suas melhores roupas e parecia estar levando aquela coisa de advogado a sério, porque penteara os cabelos.

– Meu Deus! – esfreguei os olhos, piscando insistentemente e me sentando – Você penteou o cabelo? Quem é você e o que fez com Killian Jones?

Ele riu.

– Oh, eu só quero causar uma boa impressão. – ele passou uma mão pelo cabelo, sorrindo de orelha a orelha – Além do mais, quero que sua avó admire minha beleza estonteante e diga o quanto a neta dela é sortuda por ter um patrão tão sexy e atraente.

Convencido como sempre! Revirei os olhos e tratei de interrompê-lo, antes que começasse a se achar demais.

– Já entendi, Jones! – livrei-me dos cobertores, descendo para o chão e empurrando Killian para fora de minha baia – Agora sai do meu caminho! Estou atrasada e você aí me atrapalhando!

– Que agressiva! – ele disse, me fazendo rir.

Fui tomar uma ducha fria e Mary Margaret esmurrava a porta, dizendo que eu devia me apressar. Ela faria o papel de Beth, minha colega de apartamento, mas não tínhamos certeza de que aquilo daria certo e eu estava um tanto tensa. Confiava em Mary e sabia que vovó a adoraria, mas não tinha muita certeza de que Killian daria conta do recado. Ele estava muito nervoso e caminhava de um lado para o outro, repetindo frases que anotara num pedaço de papel.

– Por Deus, Killian! – exclamei, nervosa e irritada. – Quer parar de repetir a mesma coisa? Está parecendo um papagaio!

– Eu preciso decorar minhas falas – ele respondeu, parado no meio da sala, enquanto eu tomava uma xícara de café – Precisamos ter certeza de que agirei de forma convincente. Eu já lhe disse que não sei fazer papel de advogado. Quer que ela descubra nossa farsa?

– Você não precisa fazer papel de advogado! – expliquei, pela centésima vez – Eu disse à vovó que o almoço devia ser descontraído, ou seja, nada de conversas de trabalho. Ela sabe que o Doutor Simons é um cara bastante ocupado e que não suporta falar de trabalho nas horas vagas. Apenas relaxe e seja você mesmo. Só não conte uma de suas piadas, elas são horríveis.

Killian gargalhou e Mary, que estava por perto, nos apressou.

– Deixem de conversinha e andem logo! – ela enrolava um cachecol no pescoço – Terão muito tempo pra namorar depois que voltarmos.

– Não somos namorados! – retrucamos juntos.

O que acontecera na noite anterior fora apenas uma farsa pra que Emma não pensasse que Killian ainda estava sozinho, embora essa fosse a verdade. Ele, no entanto, parecia ter gostado daquela brincadeira, porque ainda insistia em me chamar por apelidos.

– Vamos, Ruby-Loob, antes que Mary tenha um de seus ataques – ele caminhou até o elevador e o seguimos.

Mary piscou pra mim, sorrindo marota. Ela com certeza teria feito piada com o fato de Gancho estar me tratando de um jeito diferente, porém não tínhamos tempo pra isso, de forma que ela nada disse.

– David não quis vir? – perguntei, quando nos sentamos no carro luxuoso de Encantado.

– Ele não gosta muito dessas coisas e sua família poderia ter uma impressão errada sobre ele. – Mary disse, praticamente esparramada no banco traseiro – David não é muito gentil com quem não conhece.

– Ele também não é muito gentil com quem conhece. Como é que se dirige essa coisa? – perguntou Killian, no banco do motorista. Ele se atrapalhou todo, sem saber o que fazer primeiro, e Mary e eu ríamos. Killian passara tempo demais dirigindo aquela lata velha e agora mal sabia como lidar com um automóvel moderno – Eu preferia o meu baby Impala! Não gosto destas tecnologias...

– Ora, não reclame! – eu disse, sentada ao lado dele. – Você não queria que fossemos no Impala, não é? O que vovó iria pensar? Ela acredita que meu patrão é um milionário que anda de limusine.

– Céus! O que foi que andou dizendo a ela? – ele olhou pra mim e em seguida girou a chave na ignição, ligando o carro. As luzes do painel se acenderam e as portas travaram com um clique. Gancho arrancou o carro e quase voei de cara no pára-brisa.

– Cuidado, Killian! – guinchou Mary, que ainda estava sem cinto e batera a cabeça no banco da frente.

– Eu apenas disse que meu patrão é rico o suficiente pra nunca mais precisar trabalhar – falei – Não é bem uma mentira, não é?

– Hum.Você não devia dizer essas coisas, ela pode ter expectativas muito elevadas a meu respeito e não quero que se decepcione.

– Desde quando se importa com o que pensam de você? – perguntou Branca, atando o cinto de segurança.

– Não me importo, mas desta vez é diferente. E se ela não gostar de mim? E se, de repente, ela descobrir que não passo de um cara pirado que caça criaturas e que acabou levando a neta dela pelo mesmo caminho?

– Killian, você e insegurança não combinam! – eu ri. Nunca o vira preocupado daquele jeito. Por que era tão importante que a vovó gostasse dele? - Acredite, ela vai te adorar de qualquer jeito.

– Porque sou extremamente adorável? – ele deu um sorriso fofo e apenas ri e revirei os olhos.

Uma camada de neve cobria o solo, como eu imaginara que fosse acontecer. Um limpa-neve devia ter passado por ali mais cedo, porque as ruas estavam desobstruídas e o tráfego de veículos parecia normal como sempre.

Conversamos pouco durante o caminho, fazendo comentários vagos de vez em quando. Depois que Gancho pegou o jeito, conseguiu dirigir sem dar trancos e logo chegamos à Ravenna, o bairro em que vovó morava. Killian estacionou em frente à pensão e encarou a fachada do casarão, como se esperasse que a vovó fosse sair e vir correndo pra cumprimentá-lo.

– O que eu vou dizer? – perguntou a mim e Mary suspirou e revirou os olhos.

– Seja você mesmo, Killian – ela disse – Convencido como é, não devia estar tão nervoso.

– Bem, eu não quero me arriscar a pisar na bola – Gancho desatou o cinto de segurança – Ruby me mataria se eu denunciasse nossa verdadeira identidade.

– Você não vai se denunciar, está bem? – o tranqüilizei – Vai dar tudo certo. Apenas deixe seu lado carismático e charmoso transparecer.

– Ora, quer dizer que está admitindo que tenho um lado charmoso? – ele arqueou uma sobrancelha, sorrindo maroto – Por essa eu não esperava, Rubes.

Meu rosto queimou como se estivesse em chamas e Mary abriu a porta, descendo do carro.

– Ai, vamos logo, antes que ele fique se achando – disse.

Entramos pelo caminhozinho que levava à porta da frente e Mary ficou admirando a construção em estilo colonial. O casarão era bem antigo, mas fora reformado há uns anos, por isso parecia bem mais novo do que realmente era. O jardim bem cuidado fora soterrado pela neve e imaginei que as roseiras enrijecidas fossem voltar a florescer quando chegasse a primavera. A estátua de gnomo parecia nos encarar quando atravessamos o pequeno jardim e Mary por pouco não caiu ao escorregar no gelo acumulado na entrada.

– E então, o que é que vou dizer? – Killian voltou a perguntar, quando subimos a escadinha da varanda e paramos de frente à porta.

– Se perguntar isto de novo, vou te dar um soco – ameaçou Mary, já muito irritada com Killian.

Ele apenas se calou, enquanto eu girava a maçaneta e adentrava o casarão.

– Vovó? – Chamei, retirando meu cachecol vermelho (presente de Mary) e o pendurando no porta-casaco ali perto. – Vovó, cheguei!

– Ruby! – ela veio apressada pelo corredor e me sufocou num abraço de urso, praticamente ignorando a presença de Killian e Mary – Que saudades da minha menina!

– Também senti saudades! Está me sufocando...

Ela riu e me soltou, afastando-se para me olhar.

– Como está bonita! – e então notou as duas estátuas paradas ao meu lado – Oh, olá!

– Hum, este é o Doutor Colin Simons, meu patrão – apresentei Killian, que deu um passo à frente pra cumprimentar a vovó.

– Como vai a senhora? É um prazer conhecê-la! – e beijou a mão dela. Pela expressão no rosto da vovó, eu podia afirmar que ela o aprovara.

– Oh, estou muito bem, obrigada, e o prazer é todo meu! – ela abriu um enorme sorriso – Não sabia que o senhor era tão jovem.

– Por favor, me chame de “você”. – respondeu Killian, amaciando a voz. Maldito sedutor!

– Claro, claro! – ela com certeza ficara encantada por ele. Voltou-se para olhar Mary, que se segurava para não rir de Gancho – E esta deve ser Beth.

– Sim, sou – Mary sorriu e as duas trocaram um beijo de bochecha.

– É um prazer conhecê-la, querida, fico feliz por saber que você e Ruby são tão boas amigas.

– Oh, vejo que ela falou bem de mim!

– Ah sim, ela fala muito de você e do Doutor Simons. Mas vamos entrando, fiquem à vontade. Não reparem na bagunça, tivemos um pequeno incidente nos encanamentos, como podem ver, mas tudo foi resolvido.

Havia uma mancha branca no teto, onde colocaram uma camada de argamassa para tapar o que devia ter sido o buraco que fizeram pra arrumar os canos. E havia ferramentas jogadas a um canto, mas fora isso tudo parecia na mais completa organização. A recepção ainda era a mesma, com seus móveis rústicos um tanto empoeirados. A escada também era a mesma, com seus degraus que rangiam. Vovó também era a mesma, com seu sorriso gentil e seus cabelos muito brancos presos num coque. Tudo parecia igual, a não ser pelo fato de que eu já não vivia ali. Era como se algo estivesse faltando e vovó sempre dizia isso desde que me mudei pra casa de Killian.

– Os outros pensionistas já estão confraternizando – dizia ela, enquanto nos guiava pelos corredores – Todos estão muito ansiosos para conhecê-lo, doutor Simons.

– Por quê? Eu não sou nenhuma celebridade – Killian achou graça.

– Ah, mas a Ruby fala muito bem de você. Aliás, é realmente uma sorte ela ter encontrado um emprego como este.

Ela só parou de falar porque a essa altura já adentrávamos a sala de jantar, onde os outros já estavam reunidos. Todos pararam de falar quando nos viram e vovó fez questão de apresentar Colin e Beth aos pensionistas, expressando o quanto ela era grata por eu ter amigos tão maravilhosos como aqueles. Killian, obviamente, ficou com o ego lá em cima, o que foi o suficiente para que ele parasse de se preocupar com o que achariam dele.

– Acho que a sua avó gostou de mim – ele disse, depois de ter cumprimentado todos os pensionistas – Era de se esperar, não é? Afinal, seria impossível ela não gostar de mim, já que sou um homem tão charmoso e adorável. – aquele filho da mãe estava olhando pra mim quando disse isso. Ele sabia que era aquilo que eu pensava dele.

– Quem te disse isso? – Branca arqueou as sobrancelhas, impressionada pelo fato de ele ter recuperado sua autoestima tão rápido.

– Ruby disse!

– Eu não disse isso!

– Claro que disse! No carro, quando vínhamos pra cá.

– Eu apenas disse que a vovó ia adorar você e estava certa. Nunca disse que você era adorável.

– Você não precisava dizer, sei ler nas entrelinhas. Você disse que ela ia me adorar, porque já sabe o quanto sou adorável, não é mesmo?

Fiquei sem fala, enquanto Mary soltou uma gargalhada nada discreta e Killian sorriu, divertindo-se. Billy foi minha salvação, já que veio me abraçar.

– Senti sua falta – ele disse, com um sorriso maior do que a cara – Este lugar não é o mesmo sem você.

Ele cumprimentou Branca e Gancho e se afastou para pegar uma bebida. Percebi que Gancho parecia um tanto aborrecido e poderia jurar que estava com ciúmes. Pelo visto, não era a única a pensar assim.

– Alguém está com ciúmes! – Mary cantarolou baixinho e soltou uma risadinha.

Killian fingiu não escutar, mas amarrou a cara.

– Ora, ora, quem é vivo sempre aparece! – disse uma voz em forte sotaque britânico.

– Oi pra você também, Scarlet – disse, cumprimentando Will Scarlet, um rapaz que sempre aprontava com a vovó. – Bom saber que está longe da cadeia!

– Ei! Eu só estive preso uma vez. – ele protestou – Sou um rapaz comportado desde então. – e sorriu como se fosse um anjo de pessoa.

Soltei uma risada. Quando Will Scarlet fosse comportado, eu seria milionária. Ele era bonito apesar de tudo, uma pena ter namorada. Anastasia, uma loira bonita e de lábios carnudos, que tagarelava na cabeça da vovó. Ela acenou pra mim e fez sinal para Will, pedindo que ele pegasse mais uma bebida pra ela. Will revirou os olhos, resmungando algo sobre ser tratado como empregado o tempo todo.

Killian pareceu ainda mais aborrecido.

– Parece que sua avó não tem uma política contra criminosos – comentou, vendo Will se afastar – Ela devia sabe, não se deve confiar nesse tipo de gente.

– Alguém está com ciúmes! – Mary cantarolou outra vez e Killian lhe lançou um olhar mortífero, desejando que ela calasse a boca.

– Não sei do que está falando – disse ele.

– Claro que sabe. Não precisa ter ciúmes de todo homem que se aproxima da Ruby, porque ela só tem olhos para você, né Ruby?

Não precisei responder, porque nesse momento vovó se aproximou, mordiscando o que parecia um caramelo:

– Ruby, querida, sirva um pouco de ponche a seus amigos, eles devem estar com fome.

Assim o fiz e Gancho aproveitou para conquistar a confiança da vovó. Os dois engataram num papo sobre casas antigas e Mary apenas comentou que Killian provavelmente teria assunto por muito tempo, já que era um colecionador de antiguidades. De fato, logo os dois começaram a falar de coisas antigas e vovó o convidou a conhecer o resto da casa.

– Vovó, não está faltando alguém nessa sua festa? – perguntei, antes que ela e Killian se afastassem.

– Oh, se está falando da velha decrépita e demente, saiba que ela não irá participar. – ela me respondeu. Sua voz estava carregada de desprezo e antipatia, como acontecia toda vez que ela falava de Cora – Está enfurnada no quarto, como sempre. Achei que ela fosse para o bingo, mas pelo visto foi expulsa de lá depois de dar vexame.

– De quem ela está falando? – indagou Mary, rindo da forma como vovó falara.

– De uma das pensionistas. Ela é tão boazinha, mas vovó insiste em tratá-la mal. Eu realmente não entendo por que ela é assim.

Branca e eu apenas caminhamos a esmo pelos corredores, enquanto os outros falavam alto e riam de algo que Will dissera. Queria mostrar meu quarto a ela, mas fomos surpreendidas por Cora, que vinha descendo a escada.

– Ruby, querida! Que prazer em vê-la! – ela veio me abraçar.

– Olá, Cora! Há quanto tempo! Espero que a vovó esteja...

– O que ela está fazendo aqui? – olhei para trás e vi Mary congelada no lugar, uma expressão de fúria no rosto.

Cora travou quando a viu. As duas se encaravam: uma muito enraivecida, a outra muito chocada. Por um momento, nenhuma de nós soube o que fazer. Cora parecia ter visto fantasma, tão pálida que estava, e Mary parecia pegar fogo, tão vermelha que estava. Ela apenas olhou pra Mary como se tivesse medo dela e, por um instante, eu mesma temi o que Branca seria capaz de fazer com a mulher.

– Como ainda tem coragem de me encarar, depois de tudo o que fez? – ela esbravejou e gotículas de saliva voaram para todo lado.

– Mary, querida... – ia dizendo Cora, mas foi interrompida.

– Não me chame assim! – Branca estava quase gritando e apertava os punhos – Não ouse falar comigo, bruxa! E não ouse tocar na Ruby, ou na Vovó, ou em qualquer outra pessoa que viva aqui! Você vai viver o fim de seus dias sozinha, Cora. E espero que vá para o inferno!

Mary Margaret girou nos calcanhares e voltou pelo caminho que fizéramos, esbarrando em Gancho quando passou por ele. Killian olhou de mim para Cora e teve a mesma reação de Mary: primeiro congelou no lugar, depois fez uma expressão de fúria.

– Cora! O que está fazendo aqui?

– Olá, Gancho! – ela respondeu, um tanto arrogante – Bom ver você de novo, depois de tanto tempo. Eu ficaria para conversar, mas tenho mais que fazer – ela fez menção de subir a escadaria, mas Killian foi mais rápido e a agarrou pela gola do vestido preto e enorme que ela usava.

– Vai indo, Ruby! – ele disse, segurando-a pelo braço – Cora e eu precisamos ter uma conversinha!

– Mas...

– Vai! Isto não vai demorar!

Fiz como ele mandou, mas só porque precisava ver como Mary estava. Voltei à sala de jantar e a encontrei sentada num canto, escutando a falação de Anastasia e Will, que discutiam qual era o pior jeito de morrer.

–...estou dizendo, Will, o pior jeito de morrer é caindo de uma ponte.

– Discordo! O pior jeito de morrer é eletrocutado por uma cafeteira.

– Como sabe? Você nunca foi eletrocutado por uma cafeteira... Oi, Ruby! Como vai?

Anastasia me sufocou num abraço e Will se juntou ao mesmo, como se não tivesse me visto há poucos minutos. Tentei me livrar dos dois, mas estavam mesmo muito entusiasmados.

– Oh, nos dê sua opinião. – disse Anastasia, finalmente me largando – O que é pior: morrer caindo de uma ponte ou eletrocutado por uma cafeteira?

– A cafeteira, suponho. – falei e Will comemorou (“Eu não disse a você, Ana?”) – Licencinha, preciso falar com minha amiga Mary.

Branca bebericava ponche e fingia prestar atenção a um quadro na parede, mas sabia que na verdade ela estava louca para fugir dali. Me aproximei tocando em seu ombro e ela se assustou.

– Calma, sou eu.

– Ainda bem, pensei que fosse a bruxa da Cora! – ela resmungou em voz baixa – Cadê o Killian?

– Falando com ela. – respondi também em voz baixa, porque a vovó estava por perto – Qual o problema entre vocês duas?

– Ah... bem, é meio complicado, mais tarde eu conto a você. Apenas saiba que Cora não é coisa que presta.

– Não está exagerando? – franzi a testa, um tanto confusa. O que Cora teria feito de tão ruim para Mary Margaret? Pessoalmente, nunca achei que aquela viúva de lábios grossos e que vivia indo ao bingo pudesse fazer mal a alguém. – Cora sempre foi boa pra mim, o que ela pode ter feito de tão ruim?

– Fique longe dela, Ruby! –Mary agarrou minhas mãos e olhou direto nos meus olhos. Aquilo era mesmo sério! – Não sabe do que aquela mulher é capaz! Ela é a razão de Regina e eu termos entrado no negócio das caçadas.

Espere aí! O quê? Que é que Mary estava me dizendo?

– Regina? Mas... Ah meu Deus! Não vai me dizer que Regina é filha dela! – exclamei de repente, só então notando a semelhança entre Cora e Regina.

Cora fora abandonada pela única filha, por isso vivia ali na pensão. Ela não tinha uma família e vovó sempre tirava sarro dela por causa disso. Na noite anterior, quando conhecera Regina, notara que ela parecia alguém que eu conhecia, mas não me lembrara de ninguém até então. Aquela revelação foi chocante, no entanto.

– Regina abandonou a própria mãe? – perguntei, ainda muito chocada.

– Ela teve motivos, Ruby. Cora nunca foi uma mãe exemplar. – Mary suspirou e tomou um grande gole de ponche. Só esperava que ela não ficasse muito bêbada – Não quero falar disso agora, devíamos aproveitar o almoço. É Natal! Não quero pensar em meu passado conturbado.

Killian retornou e exibia uma expressão tranqüila em seu rosto bonito. Ele agia como se nada tivesse acontecido e Mary e eu fizemos o mesmo, pra que ninguém desconfiasse de nada.

O almoço foi bem engraçado e apetitoso, embora estivesse longe de ser tão divertido e animado quanto à ceia da noite anterior. Vovó era uma cozinheira de mão cheia e Killian e Mary fizeram questão de elogiá-la, o que a deixou tão feliz que ela prometeu convidá-los outra vez para mais um almoço.

Os pensionistas fizeram o máximo para deixá-los à vontade. Além de Will, Anastasia e Billy, também havia Sidney Glass, um jornalista aposentado, que agora fazia as vezes de fofoqueiro da rua (ninguém era melhor do que Sidney na hora de espalhar determinado boato). Também havia Robin, um cara bonitão e charmoso, mas que também deixara um caminho criminoso para trás (pelo o que soube de Anastasia, fora Robin quem influenciara Will naquela vida criminosa, o que era um tanto difícil de acreditar, já que Robin parecia a pessoa mais generosa do mundo). Outro que morava ali era o doutor Victor Whale, um médico talentoso, mas que não podia ver um rabo de saia (e que não parava de intercalar olhares entre mim e Mary). Havia Tamara, uma moça aparentemente simpática, mas uma verdadeira cobra venenosa; seu namorado Greg Mendell, um verdadeiro charlatão, além de mentiroso e encrenqueiro; e Myrna e Martin, um casal de trapaceiros.

– Hum, parece que sua avó não tem nada contra pessoas trapaceiras, mentirosas e encrenqueiras. – Killian comentou baixinho, depois que falei de cada pessoa na mesa.

De fato, vovó não tinha uma política contra pessoas de má índole, e de todos aqueles, o único que se salvava era Billy, já que, surpreendentemente, Cora não era bem o que eu pensava. Era difícil encontrar hóspedes por ali, por isso vovó aceitava qualquer um que aparecesse, já que a pensão era seu único meio de sustento. E pensando bem, aquelas pessoas não eram tão ruins assim, com exceção de Greg e Tamara, que conseguiam ser insuportáveis e detestáveis quando queriam.

– Qual é a desse, Whale? – Mary perguntou baixinho, depois que doutor Whale quase a comeu com os olhos – Ele não para de me encarar e eu sou casada.

– Sim, mas ele não sabe disso, não é? Apenas finja que não está vendo nada, é o que eu faço. – aconselhei e ela assentiu.

– Ele parece um cafajeste. Escuta, ele nunca tentou te seduzir ou algo do tipo?

– Sim, uma vez. Ele tentou me agarrar achando que eu ia cair no jogo dele, mas aí a vovó apareceu e quase o matou à base de tapas. Precisava ver, foi muito engraçado. Desde então, ele nunca mais ousou mexer comigo.

Rimos baixinho e Killian, que não estava gostando da forma como Whale olhava para mim e Mary, fechou a cara e encarou o doutor com tanta dureza no olhar que Whale pareceu entender o recado e olhou para outro lado.

– Qual é a desse cara, hein? Ele não para de te olhar! – Gancho disse a mim, que estava sentada entre ele e Mary.

– O Whale? Ele sempre foi safado!

– Não, o outro... o tal Billy...

Olhei. Billy realmente me encarava e sorriu quando também o encarei. Abri um enorme sorriso ao ver a cara de Gancho. Era como se a palavra ciúmes estivesse escrita na testa dele.

– Também, ninguém manda você ser tão bonita – ele comentou e sorri mais ainda.

– Não tenho culpa se sou bonita... o que eu podia fazer?

– Devia ser menos simpática – ele sugeriu, rindo feito bobo – E devia sorrir menos para as pessoas, elas podem se apaixonar...

Mary engasgou com o vinho branco e dei tapinhas nas costas dela. Sabia que aquela reação dela fora por ter ouvido o que Killian dissera. O que será que ele quisera dizer com aquilo? Era tão fácil assim se apaixonar por mim?

– Eu sabia! – ela disse, com a boca quase colada ao meu ouvido – Acho que Killian está se apaixonando por você, Ruby.

– Bobagem – murmurei, completamente sem graça – Ele só diz isso pra me provocar, pra me deixar envergonhada. Ele sabe que sou um pouco tímida.

– Ele disse a mesma coisa pra Emma e adivinhe só: tempos depois ele se declarou pra ela e a pediu em casamento. Ele não diria isso, a menos que sentisse algo por você...

– Mary...

– Sabe que estou certa, então não discuta! – ela enfiou um pedaço de peru na boca – Além do mais, ele não para de olhar pra você. Isto está ficando sério... – e soltou uma risadinha.

De fato, Killian me comia com os olhos. Ele teria babado se não fechasse a boca. Sorriu feito bobo quando o olhei de volta e então voltou a encarar o prato à sua frente.

Minutos mais tarde, depois que vovó retirou a mesa e comemos a sobremesa, fui com Killian e Mary até meu quarto, com a desculpa de pegar algumas roupas que esquecera. Aquela história de Cora ter sido responsável por Regina e Mary entrarem na vida das caçadas me deixara muitíssimo curiosa e eu não agüentava mais esperar. Fiz com que me contassem tudo.

– Bem, como eu lhe disse, Cora nunca foi uma mãe exemplar, nem mesmo uma esposa ou filha exemplar. – ia dizendo Mary. Por mais que aquilo fosse doloroso, ela concordou em me contar tudo para que eu soubesse quem Cora realmente era – Ela sempre foi egoísta, arrogante e invejosa. Foi por isso que ela matou a própria irmã, minha mãe.

Arregalei os olhos, completamente pasma. Cora era uma assassina? Como é que podíamos ter convivido com aquela mulher por tanto tempo, sem nem saber disso?

– Minha mãe era a caçula, a mais doce, a mais bonita, a mais inteligente e a mais adorada. Na verdade, Cora era apaixonada por meu pai e quando ele se apaixonou por minha mãe, Cora a acusou de ter roubado o homem de sua vida. As duas sempre tiveram uma relação complicada. Com o passar dos anos, a coisa foi ficando pior. Não sei o que levou Cora a fazer o que fez, mas ela envenenou minha mãe, como vingança por ela ter “destruído” sua vida.

– Meu Deus... – foi tudo o que consegui dizer – Mas... Como é que ela não foi presa?

– Não conseguimos provar que tinha sido ela. A maldita sumiu com todas as provas...

– Já chegamos a mencionar que Cora é uma bruxa? – Gancho se olhava em meu espelho, ajeitando uns fios de cabelo que tinham saído do lugar.

– Como assim? Bruxa tipo Harry Potter, com poderes, varinhas, caldeirões, vassouras, gatos pretos, essas coisas? – por que eu estava tão chocada? Vovó vivia chamando Cora de bruxa.

– Não, ela não usa essas coisas, mas com certeza faz uso de poções, ou não saberia de um veneno tão poderoso como aquele. – explicou Mary, um tanto entristecida – Não pudemos fazer nada pela mamãe... Os investigadores do caso acharam que ela tinha se matado, porque o vidro do veneno estava na mão dela, mas mamãe era feliz e jamais faria uma coisa dessas. Nós nunca desconfiamos da Cora.

– Foi por isso que a Regina a abandonou? Vocês descobriram a verdade depois?

– Sim, e do pior jeito – continuou Branca – Regina estava apaixonada por Daniel, um rapaz que trabalhava para Cora, cuidando dos cavalos dela. Cora, obviamente, nunca quis que Regina desperdiçasse sua vida com um homem como Daniel, que era humilde e trabalhador. Ela sempre controlou minha prima, queria que ela se casasse com um homem rico e que lhe desse status. Regina e Daniel resolveram fugir, pois sabiam que se dependesse de Cora, os dois jamais ficariam juntos. Só que a bruxa maldita descobriu o que eles iam fazer e assassinou o pobre Daniel.

Antes eu estava chocada, agora estava bege, cor-de-rosa, até alaranjada. Como é que aquela mulher pudera me enganar por tanto tempo? Sempre achei que Cora fosse uma pessoa bondosa que fora esquecida pela família. Vovó estava certa em tratá-la daquele jeito. Espera aí, será que vovó sabia de toda aquela história?

– Encontraram farpas de madeira no estômago dele – disse Killian, porque Mary não conseguiu continuar – Ninguém sabia explicar aquilo. Regina disse aos policiais que Daniel simplesmente caiu, vomitando tanto sangue que parecia estar sofrendo de uma hemorragia interna. Quando ele morreu a coitada ficou lá, agarrada ao corpo dele.

– Como é que ele engoliu as farpas? – perguntei, confusa. Seria possível alguém engolir madeira sem nem perceber?

– Magia negra – respondeu Mary, que olhava a neve acumulada na beirada da janela – Descobrimos que Cora utilizava uns saquinhos de feitiçaria, sacos de bruxa. As bruxas enchem os saquinhos com ervas especiais e até ossos humanos. Uma vez que enfeiticem a pessoa da qual querem se vingar, o efeito é quase imediato. As farpas foram parar no estômago de Daniel com magia, logo, não havia explicação plausível para aquilo e os investigadores desistiram do caso. É claro que Cora se safou, não havia como provarmos nada. – ela parou para tomar fôlego e continuou – Acabei por descobrir o saquinho no meio das coisas de Daniel. Achava que essas coisas de magia negra fossem invenção, mas acabei por me descobrir enganada. Cora tinha uma sala subterrânea que usava para seus feitiços e tentou me matar quando descobri tudo. Sorte que Gold apareceu para impedi-la, mas ela era muito esperta e fugiu.

– Gold a conhecia? – por que ainda me surpreendia com essas coisas?

– Ele caçava bruxas na época e Cora fazia parte de uma irmandade de bruxas. – explicou Killian, namorando seu reflexo no espelho – Milah me contou sobre o namorado caçador logo depois de me dizer que estava grávida. Imagine o choque que levei.

– Bem, Gold é mais experiente do que todos nós. – Mary caminhava de um lado para o outro, como se não conseguisse ficar quieta – Ele abriu meus olhos naquele dia e então somei um mais um e descobri que minha própria tia fora responsável pela morte de minha mãe. Regina ficou tão arrasada que entrou em depressão. O pai dela morreu pouco antes de Daniel, supostamente por ter descoberto tudo sobre Cora. Ela nunca amou o marido, só se casou com ele por dinheiro. Regina não agüentou perder os dois ao mesmo tempo e ficou num estado deplorável, chegaram a interná-la numa clinica psiquiátrica, porque ela até tentou se matar.

Que horror! Eu sempre ficava chocada pelas histórias de Killian, mas aquilo era ainda pior, porque eu conhecia Cora e me enganara com ela. Como ela podia ter feito aquilo com sua própria família?

– Regina e os pais foram minha família por muito tempo, depois que perdi meus pais. Meu pai se envolveu num acidente de carro e faleceu. Ele não suportava a falta que mamãe fazia e começou a exagerar na bebida, até que perdeu a vida ao jogar o carro de um despenhadeiro. Você deve se lembrar, saiu no jornal.

Eu não poderia me lembrar, mesmo que quisesse. Aquilo fora há muitos anos. Mary contou que o carro explodira antes de cair no mar. Ninguém nunca soube dizer se fora um acidente ou se o pai dela realmente tirara a própria vida. Mary duvidava disso, já que acreditava que seu pai jamais a abandonaria, mesmo sofrendo tanto. Se Cora fora responsável pelo acidente, ninguém sabia.

– Então Gold nos levou para morar com ele, depois que David abandonou a casa dos pais. David também passou por maus bocados, mas isso eu te conto depois. Abandonamos a escola e então viramos aprendizes de Gold. Logo depois vieram Killian e Milah, que na época estava grávida do pequeno Bae. Depois de um tempo convencemos Regina a se juntar a nós. Ela só foi porque queria sair da clinica psiquiátrica e queria encontrar um meio de vingar o nome do pai e do homem amado. Salvamos vidas desde então. Como eu já lhe disse antes, todos entram nessa vida porque perderam alguém que amavam.

– Mary... eu realmente sinto muito por você e Regina... eu não fazia ideia de que a Cora... – não consegui terminar. A revelação de que Cora era uma assassina ainda era bem chocante. – É a primeira vez que a vêem desde a morte de Daniel?

– Não, já tivemos uns encontros ocasionais – falou Gancho, examinando minhas fotos, que eu prendera na parede acima de minha cama – A maluca seqüestrou Bae quando ele era pequeno, queria fazer um acordo com Gold pra que ele parasse de tentar matá-la. Milah quase a matou, mas no fim não conseguiu terminar o serviço. Desde então, Cora sempre arruma jeito de manter seus esconderijos ocultos. Me surpreende ela estar vivendo aqui, nem se deu ao trabalho de mudar de cidade.

– Ela deve estar querendo morrer – disse Mary – Só não faço o serviço porque vou deixar pra Regina. Tenho certeza de que ela vai querer fazer isso.

Estremeci. Não imaginava Regina matando alguém, ela era engraçada demais e simpática demais para isso. Mas agora temia por vovó e pelos pensionistas. Estiveram vivendo sob o mesmo teto de uma assassina! E se de repente ela tentasse algo contra eles?

– Sua avó disse algo sobre Cora ir ao bingo, não disse? – indagou Gancho, vindo sentar-se ao meu lado na cama – Acontece que Cora nunca iria ao bingo. Quero dizer, ela não é normal como os outros velhos que freqüentam o bingo.

– Ela sai toda quarta-feira à noite – lembrei – E às vezes nas noites de sábado.

– Ela deve freqüentar alguma irmandade de bruxas – Mary se sentou do meu outro lado – Conhecendo-a como conheço, sei que ela nunca desistiria de seu lado obscuro, não depois de conseguir tantas coisas com a prática de magia negra. Ela vendeu a alma em troca do poder, sabia?

Estremeci mais uma vez. Não precisei perguntar pra quem ela vendera a alma, era bastante óbvio.

– Ela não pode viver aqui com a vovó e os outros – eu disse, ficando preocupada – Vocês têm que fazer alguma coisa. Agora que sabemos sobre ela, talvez ela possa se revoltar e fazer algo contra eles. Mas a pergunta é: por que ela nunca fez mal à vovó? Elas sempre brigam e vovó sempre a tratou mal, mas por que ela nunca fez nada de ruim então?

– Ela não tem nada contra sua avó – disse Killian – Tudo o que ela queria era um lugar para se esconder e este é o lugar perfeito. Eu nunca imaginaria encontrá-la aqui. Cora sempre gostou de luxo e riqueza. Em todo caso, ela vai embora, agora que foi descoberta.

– Ela te disse isso? – perguntou Mary.

– Disse. Fiz ela prometer nunca mais colocar os pés aqui. E se ela fizer algo de ruim a qualquer uma dessas pessoas, eu mesmo a mato.

Killian era sexy até mesmo quando ameaçava alguém de morte. Mas que é que estou pensando? Cora ainda estava sob aquele teto!

– Não se preocupe, Ruby – tranqüilizou Mary – Ela não fará nada de ruim a eles, muito menos a você, que sempre a tratou bem. A essa altura ela já deve estar longe.

De fato, Cora sumiu sem deixar vestígios de sua passagem por ali. Vovó encontrou uma carta de despedida e o dinheiro do aluguel. Todos ficaram muito chocados por sua partida repentina.

– Bem, não sentirei falta dela – disse a vovó, enquanto contava o dinheiro – Talvez sinta falta de nossas brigas, mas isso não fará grande diferença.

Quando finalmente nos despedimos, ela fez questão de sufocar cada um de nós num abraço apertado.

– Foi um prazer tê-los aqui. Voltem sempre que quiserem!

– Obrigado, senhora Lucas, eu me diverti muito – Killian tomou a mão dela (ele era um perfeito cavalheiro) e a beijou. Vovó é claro, soltou um longo suspiro e então me lançou um olhar significativo, como se dissesse que aquele era o homem perfeito pra mim.

– Eu também – sorriu Branca – Foi um prazer!

– Fico feliz por terem gostado. Na verdade, sou eu quem devo agradecer a vocês por cuidarem da Ruby. Sei que ela sabe se virar, mas me aperta o coração saber que ela está longe de mim.

– Ah, não vai chorar, não é? – eu a abracei, as lágrimas já se formando em meus olhos. – Voltarei mais vezes, me sinto sozinha sem a senhora por perto.

– Eu também, querida. Mas tem que viver sua vida, não deve se preocupar com esta velha caduca e quase gagá.

Rimos. Vovó era uma graça. A cada vez era mais difícil me despedir dela. Caminhamos até o carro de Encantado e Killian fez questão de abrir a porta pra mim. Mary ficou esperando que ele fizesse essa gentileza pra ela, mas Gancho simplesmente deu a volta no carro e se sentou no banco do motorista.

– Por que não abriu a porta pra mim também? – ela reclamou, sentando-se no banco traseiro e batendo a porta – Que bosta de cavalheiro você é!

Killian e eu gargalhamos e ele respondeu:

– Ora, você não é uma dama, por isso não me dei ao trabalho de abrir a porta para você.

Rimos da cara de indignação de Mary e fomos embora com Killian cantando Michael Jackson.

***

– Aquela desgraçada! – Regina gritava pela casa afora, ignorando a forte dor de cabeça que sentia – Por que não a mataram quando tiveram a oportunidade?

– Queria que a matássemos numa pensão cheia de gente? Não está pensando direito, Regis – Killian se serviu de uma generosa quantidade de uísque.

– Além disso, você deixou bem claro que queria matá-la com suas próprias mãos. – argumentou Mary, agarrada a David.

– Será que não podem simplesmente esquecer isso? Por que querem sujar suas mãos com a Cora? – perguntei. Aquela conversa já estava me deixando enojada. Não gostaria de imaginar um deles sujando as mãos com o sangue impuro de Cora.

– Ela é uma assassina! – Regina falava alto, frustrada por não ter tido a sorte de encontrar a mãe, para assim matá-la – Eu ainda vou encontrar aquela desgraçada e quando isso acontecer, prometo que a cortarei em pedacinhos. Se bobear, jogarei os restos delas para os cachorros. Se bem que poderiam ter uma indigestão, coitados.

– Credo, Regina! – Baelfire estremeceu, afastando-se da mulher – Você me dá medo!

– Será que podem falar mais baixo? Minha cabeça está explodindo! – August saiu do elevador. Colocava uma bolsa de água quente na cabeça – Obrigado pela compreensão! – e voltou a entrar no elevador, desaparecendo em seguida.

– E o que raios ela estava fazendo numa pensão? – Regina continuou a gritar, ignorando o pedido de August – Ainda teve a indecência de permanecer na cidade? Ela deve estar querendo morrer.

– Foi o que eu disse – falou Mary Margaret – Achamos que ela continua a freqüentar a irmandade de bruxas, já que sai toda noite de quarta. Felizmente, agora que descobrimos onde ela vivia, foi obrigada a se mudar.

– Ótimo! Espero que ela encontre os Winchester pelo caminho, ficarei muito grata se eles a matarem por mim. Querem saber de uma coisa? Eu vou dormir! – Regina pegou um frasco de aspirinas sobre o balcão e engoliu duas delas de uma vez – É o melhor que faço! Não me incomodem! – e sumiu no elevador.

Os outros se dispersaram. Ninguém queria pensar em Cora no momento. Fui colocar uma roupa mais confortável e voltei à cozinha para preparar um chá. Precisava me acalmar e achava que minha pressão caíra com o susto de saber que Cora sempre fora uma louca versada em magia negra. Não havia ninguém por ali, de forma que pude descansar sossegada.

Dali a pouco, porém, o elevador se abriu revelando um homem. Não precisei perguntar para saber quem era aquele. Os olhos dele eram iguaizinhos aos de Killian e ele exibia a mesma expressão de arrogância que já vira no rosto de Gancho. O homem, porém, sorriu ao me ver.

– Olá, estou procurando por Killian. – disse, aproximando-se.

– Você deve ser o Liam! – trocamos um aperto de mão e fiquei super feliz por vê-lo, porque sabia o quanto aquela visita significaria para Killian – Você não deve se lembrar, mas nos falamos por telefone.

– Ruby, não é? Eu me lembro de você! Prazer conhecê-la!

– Igualmente! Hum, eu vou chamar o Killian, ele está lá em cima.

Mas no exato instante em que ia entrando no elevador, Killian veio descendo a escada.

– Ruby, onde é que você colocou aquele meu pijama... Liam! – primeiro ele ficou chocado, depois abriu um sorriso ao ver o irmão – Como... como entrou aqui?

– Eu ainda tenho a chave!

Os dois se encaravam como se quisessem se abraçar, mas estivessem esperando que o outro tomasse esta atitude.

– Tá tudo bem? Aconteceu alguma coisa? – perguntou Gancho, estacado no meio da sala.

– Você tinha razão, passei tempo demais negando minha família. – respondeu o outro – Meus filhos querem conhecer o tio. Não disse a eles quem você realmente é, mas...

– Eles não precisam saber a verdade, posso dizer a eles que sou um advogado muito rico, charmoso e adorável – Gancho piscou para mim e apenas sorri enquanto colocava um cubo de açúcar em meu chá.

Tratei de deixá-los a sós e fui para a garagem, onde me sentei em meu carro e escutei uma música tranqüila. Talvez as coisas estivessem se resolvendo, afinal. Emma viera se desculpar com Killian, Cora fora descoberta, e agora Liam aparecia para uma visita. Talvez fosse hora de nossas vidas mudarem para a melhor.

Pensei em Peter. Fazia muito tempo, talvez ele não se importasse se eu escolhesse alguém para preencher o vazio em minha vida. Pensei no que Mary tinha dito durante o almoço. E se Killian estivesse mesmo se apaixonando por mim? Afinal, aquelas provocações não poderiam ser apenas para me envergonhar ou irritar.

A conversa entre os irmãos demorou muito tempo. Adormeci no carro e só acordei quando ouvi as risadas de Liam, que conseguia achar graça nas piadas do irmão. Os dois eram mesmo muito parecidos, apesar de Liam ter os cabelos castanhos e cacheados. O mais velho se despediu abraçando o irmão, acenou para mim e entrou em seu carro prateado, indo embora em seguida. Killian e eu observamos enquanto o carro sumia na avenida movimentada e então notei o enorme sorriso no rosto de Gancho.

– Vocês não se mataram, então presumo que tenham resolvido as desavenças – disse eu, com as mãos enfiadas nos bolsos do casaco. Killian assentiu:

– Liam reconhece que sou a única coisa boa que restou da família. Nosso pai ainda está vivo, mas num estado deplorável.

Mais uma revelação chocante.

– Sério? – arregalei os olhos.

– É, parece que ele ainda vive na cidade, numa miséria terrível. Aquele maldito devia estar trancafiado numa cela de prisão. Em todo caso, agora que meus sobrinhos começaram a perguntar do resto da família, terei de lhes fazer uma visitinha. Você, obviamente, irá fazer o papel de minha namorada.

Aquele maldito ia se aproveitar de toda oportunidade que tivesse. Cruzei os braços e o encarei com uma sobrancelha arqueada. Ele riu e afastou uma mecha de cabelo que tinha caído sobre meu rosto.

– Não me olhe assim, não vai ser tão ruim, eu prometo.

– Então vocês fizeram as pazes? Não vão mais gritar um com o outro pelo telefone?

– Não. – Killian deu risada – Eu o perdoei por ter nos abandonado no momento mais difícil de nossas vidas. É o que irmãos fazem, não é? Perdoam um ao outro, mesmo que se odeiem. Eu não o odiava, é claro, mas... Ei!

Joguei uma bola de neve nele, fazendo com que se calasse. Ri e saí correndo, enquanto ele me perseguia. Nossos pés afundavam na neve e quase acertei a cara no chão quando Gancho me derrubou. Logo fizemos guerra de bolas de neve e ríamos feito crianças. Do sexto andar, Mary, David, Regina, Baelfire e Archie viram tudo e gritaram lá de cima, nos envergonhando.

– Peguem-se logo vocês dois! – berrou Regina, já recuperada da dor de cabeça.

– Sorriam para a foto! – e lá estava Mary com aquela maldita câmera. Esperava que ela não tivesse conseguido zoom suficiente para nos focar.

– Vocês combinam mesmo, hein! – gritou Archie.

Voltamos para a garagem, pois nossos dedos já estavam enrijecidos e eu tiritava de frio. Gancho, nem preciso dizer, sorria feito bobo quando subimos pelo elevador.

– Foi divertido! – disse ele, me olhando – A Emma não era assim.

– Divertida?

– É. Ela não era nada como você. Eu quero dizer... ela não era divertida, nem bem humorada, nem tão organizada, nem ria das minhas piadas... Ela também não tinha um sorriso tão bonito...

– Para com isso, Killian – sorri e mexi no cabelo, como sempre fazia quando estava com vergonha.

– Ela também não ficava envergonhada o tempo todo – riu ele.

As portas do elevador se abriram e saímos no quinto andar.

– Você devia sorrir menos, Ruby-Loob, as pessoas podem se apaixonar – ele tornou a dizer. Bem, era impossível não sorrir para Killian, ainda mais quando ele estava sorrindo feito um bobo apaixonado.

– Seguirei seu conselho, Jones – sorri e me afastei.

Mary estava certa, Killian estava se apaixonando por mim.


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Notas finais do capítulo

Pra quem não sabe qual é o carro do Gancho, é esse aqui: http://www.pinterest.com/pin/94927504615788738/
See you!



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