'Til We Die escrita por Mrs Jones


Capítulo 6
O Gêmeo do Mal & David em Apuros - parte 2


Notas iniciais do capítulo

Hey guys! Sei que demorei e queria ter postado há mais tempo, mas realmente não deu. Adorei as reações de vocês ao capítulo anterior kkk Não odeiem o Killian, tudo vai se explicar nesse capítulo. Não consegui escrever tudo num capítulo só, de forma que ainda vamos ter a parte 3. Eu teria feito um capítulo maior, mas aí ia demorar muito e não queria deixá-las muito curiosas. Pra esse capítulo me baseei no episódio 6 da primeira temporada de Supernatural. Ele está disponível no YT e vou deixar o link no final pra quem quiser ver. Ah e eu esqueci de falar que o Neal e o Bae vão ser pessoas diferentes porque assim como muitas de vcs, prefiro o Bae adolescente (só eu que acho ele bonitinho?). Ah e vocês viram o elenco de OUAT fazendo o desafio do gelo? Ah meu Deus, babei no Colin! Ele bem podia aparecer sem camisa um dia desses porque no vídeo dá pra ver claramente que ele tem uns músculos kkkk Enfim. Espero que gostem.



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– O Killian seqüestrou o David!

– Quê? – Bae e eu perguntamos juntos.

Me levantei, ignorando as dores em meu corpo. Mary chorava e andava de um lado para o outro, meio desorientada. Ela apanhou a bolsa e começou a digitar no celular.

– Bae, chame um táxi e leve a Ruby para o hospital – ela disse, com a voz embargada – Eu vou atrás do David!

– Eu vou com você – eu disse e ela me olhou como se eu estivesse louca.

– De jeito nenhum! Você está ferida. – e me fez sentar no sofá – Eu vou ficar bem, vou ligar pra uns amigos caçadores. Chamo até a polícia, mas não vou deixar meu marido morrer.

– Eu estou bem – tornei a dizer – e não vou deixar você sair daqui sozinha. Levaremos o Bae pra um lugar seguro até que o pai dele volte.

Se ele voltar – o garoto falou de um jeito meio sombrio – Estão achando que vou ficar parado aqui enquanto meu pai e meu tio estão em perigo? Eu vou junto!

– Você é uma criança, você fica – disse Mary Margaret, como se falasse com um garoto de cinco anos.

– Eu vou! Meu pai me ensinou tudo o que ele sabe. Não vou deixar vocês irem sozinhas. Eu posso defendê-las.

– Você não conseguiu se defender de seu próprio tio – ela rebateu.

– O que queria que eu fizesse? Batesse nele? Ele é bem mais forte do que eu – Bae retrucou. – Me dê uma arma e matarei qualquer coisa que tentar nos atacar.

Mary e eu trocamos um olhar e ela parecia estar decidindo se levar Bae era uma boa opção.

– Se algo lhe acontecer seu pai nos mata. – ela acabou por dizer, enquanto enxugava as lágrimas.

– E você já parou pra pensar que algo pode ter acontecido a ele?

– Não temos tempo pra discussões, vamos logo! – interferi, antes que ficassem naquela falação por mais tempo.

Branca acabou por concordar e então descemos para o terceiro andar, onde as armas ficavam guardadas. Aquele elevador nunca foi tão lento!

– Eu não estou entendendo nada, está tudo tão confuso! – desabafei, enquanto descíamos – Por que o Killian está agindo assim?

– Aquele não era o Killian – disse Mary – Agora eu sei disso. Alguma coisa está se fazendo passar por ele.

– Uma criatura? – franzi a testa. Era a única explicação.

– Eu tenho uma teoria – falou Bae – Acho que sei com o que estamos lidando.

As portas do elevador se abriram e saímos para a escuridão do terceiro andar. Mary tateou à procura do interruptor, enquanto Bae pesquisava algo em seu computador portátil.

– Meu pai encontrou dois casos interessantes enquanto navegava pela internet – disse o garoto – por isso foi até lá pra investigar.

Mary e eu nos aproximamos pra ver o que Bae olhava na tela. Eram duas notícias de mulheres espancadas por seus companheiros. Num primeiro momento não percebemos nada de anormal nas duas histórias, mas quando li as reportagens encontrei uma ligação.

A primeira notícia relatava a prisão de um homem chamado Frederick, que espancara a esposa depois te ela ter se recusado a deitar-se com ele. Quando entrevistada, a vítima, uma mulher chamada Kathryn, disse que o marido era calmo e carinhoso, mas que mudara completamente ao voltar de uma viagem de trabalho. A polícia a salvara antes que o marido a matasse e este conseguiu fugir antes que fosse preso. No dia seguinte o marido reapareceu e ficou confuso quando viu seu rosto em cartazes de procurado. Quando foi preso, ele disse à polícia que era inocente e que estava em outra cidade quando a mulher fora atacada. Claro que não acreditaram nele porque as câmeras na área externa da casa filmaram o momento em que ele chegou em casa, no dia do ataque à Kathryn.

A segunda reportagem trazia uma história praticamente idêntica à primeira. Ashley Boyd, uma jovem de 19 anos, fora amarrada e amordaçada pelo namorado, Sean, que batera nela e tentara matá-la. Como no primeiro caso, Sean dissera a policia que era inocente e que estava na faculdade no momento em que Ashley sofrera o atentado. Ninguém acreditou nele, já que alguns vizinhos viram quando ele chegou em casa mais cedo. O mais estranho é que Kathryn e Ashley eram vizinhas.

– Viram? – disse Bae, depois que terminamos de ler as reportagens – São dois casos parecidos com o nosso. As duas mulheres foram atacadas depois de se recusarem a ter relações com os companheiros.

– Você disse que Killian começou a te agarrar – Mary olhou pra mim e assenti.

– Sim, e me bateu depois que o empurrei.

– Mas isto não é a coisa mais estranha – continuou Bae – Os dois suspeitos disseram ser inocentes, já que não estavam em casa quando as companheiras foram atacadas. Como é possível que pudessem estar em dois lugares ao mesmo tempo?

Eu meio que já entendia sua linha de raciocínio.

– Killian saiu pra encontrar seu pai – eu disse, pensativa – Mas quando ele voltou estava estranho, o que significa que algo lhe aconteceu durante o tempo em que ficou fora.

– Exatamente – falou Baelfire – O cara que nos atacou não era o tio Killian, mas uma cópia dele. Eu pensei nisso enquanto ele te agredia. Talvez seja uma criatura com a capacidade de se transformar em outras pessoas.

– E por isso os dois suspeitos estavam em dois lugares ao mesmo tempo – concluiu Mary – A criatura se fez passar por eles quando não estavam em casa. Ou seja, a criatura aproveitou quando eles saíram pra se aproveitar de suas companheiras. Bae, você é um gênio!

– E agora, o que faremos? Como vamos encontrar o David? – perguntei.

– Por um rastreador – Mary me passou seu celular. Um pontinho preto piscava num mapa na tela – Todos nós usamos relógios que podem ser rastreados por GPS, para o caso de algo nos acontecer.

– O que estamos esperando? Vamos atrás dele! – Bae já estava impaciente.

Apanhamos alguns revólveres, lanternas e cordas e descemos para a garagem. O carro de Killian estava parado ali, mas o de David sumira, o que significava que Gancho o seqüestrara em seu próprio carro. Fomos em meu carro, com Mary dirigindo.

– Pararam em South Lake Union – informei, olhando o pontinho no mapa – Se nos apressarmos podemos alcançá-los.

– Não é esse o bairro em que Ashley e Kathryn moram? – perguntou Mary e Bae confirmou.

– E foi pra lá que meu pai e o tio Killian foram. – ele disse – A criatura deve ter nocauteado o tio e assumido a identidade dele.

– Ah meu Deus, nem quero pensar no que pode ter acontecido – me preocupei.

Já não sentia raiva de Killian, afinal não fora ele quem me atacara e sim sua cópia do mal. Pensei que Gold poderia estar morto, já que também não atendia o celular, mas não disse nada. Esperava que o homem estivesse bem. Bae já perdera a mãe, não podia perder o pai também.

– Então o esconderijo da coisa deve ser lá – Mary pisava no acelerador e chegou a ultrapassar um sinal vermelho – Se ele já atacou duas pessoas na mesma rua, pode ser que ataque outras vizinhas de Ashley e Kathryn. Temos que impedir isto antes que mais gente inocente acabe presa.

– Como vamos provar que o Frederick e o Sean são inocentes? – indaguei.

– Não faço ideia! Estou mais preocupada com o David.

Minutos depois alcançávamos South Lake Union, um dos bairros próximos ao centro de Seattle. Mary ainda seguia o rastreador e acabamos chegando a uma ruazinha tranqüila e cheia de árvores. Devia ser ali que Kathryn e Ashley moravam. Vi que Branca escondera seu revólver na parte de trás da calça, por baixo da blusa. Fiz o mesmo, embora não me sentisse confortável carregando uma arma por aí. Ainda era de madrugada, de forma que não havia alma viva por ali. Isto era bom, assim podíamos agir sem ser vistos.

– E agora? – Bae perguntou, olhando de um lado para o outro, como para se certificar de que não estávamos sendo observados.

– Temos que continuar seguindo o rastreador. – Mary pegou seu celular e olhou a tela - É melhor se vocês ficarem aqui.

– Não, nós vamos com você – disse e ela revirou os olhos.

– Está bem, mas tomem cuidado. Lembrem-se: atirem antes e perguntem depois.

Seguimos o pontinho que piscava na tela e acabamos por chegar a um beco. O carro de David estava lá, mas não havia sinal de Encantado ou da cópia do Killian. Fuçamos o carro (que felizmente não estava trancado) pra ver se o relógio de David estava por lá, mas não encontramos nada. Se ele ainda estava usando o relógio, então o rastreador nos levara para o lugar certo.

– Eu não entendo – Mary frustrou-se – Não há nada aqui, o GPS deve ter nos trago para o lugar errado.

– Os GPS não se confundem, Branca – falou Bae, que sabia tudo sobre tecnologia – Se ele nos trouxe até aqui então o Encantado está por perto.

– Não há nada além de ratos por aqui – ela resmungou depois que uma ratazana correu por ali.

– Espere aí... – eu acabara de notar algo – Olhem, aqui é a entrada para o esgoto – apontei para uma tampa de esgoto perto do carro.

– Quer dizer que... – começou Bae.

– Que o David está lá embaixo – concluí.

– Não acredito que vamos ter que descer aí. – Mary fez cara de nojo e então Bae e eu removemos a tampa de cima do buraco. Havia uma escada que descia lá pra baixo. – Vocês não precisam fazer isso. Eu sei uns golpes de karatê, vou ficar bem.

– Quando é que vai entender que estamos juntos nessa? – falou Bae – Não vamos deixá-la sozinha.

Mary foi a primeira a descer. Ela resmungava algo sobre baratas e tentei não pensar nisso quando desci depois de Bae. O lugar era escuro e fétido. Nossas lanternas estavam desligadas, pois não podíamos chamar a atenção da criatura. Escutamos um choro abafado e nos escondemos a um canto quando ouvimos movimentação. Um rato passou pelos pés de Mary Margaret e ela teria gritado se eu não tapasse sua boca.

– Odeio isso! – ela sussurrou.

Agora tudo estava muito quieto, a não ser pela água que pingava. Eu prendera a respiração pra não sentir o cheiro de mofo e podridão, mas não ia agüentar por muito tempo. Acabei por soltar o ar e novamente senti náuseas ao respirar.

– Vamos logo – murmurei e Mary começou a caminhar silenciosamente na direção do choro.

– Fiquem a postos – ela novamente sussurrou e Bae e eu seguramos nossas armas em riste.

– Hmmmm! – alguém gemeu.

– Quem está aí? – Mary perguntou em voz alta e alguém se remexeu a um canto – Acendam as lanternas.

Fizemos como ela mandou e acendemos as lanternas ao mesmo tempo. A luz forte iluminou o lugar e vimos uma moça amarrada e amordaçada a um canto.

– Meu Deus! – Mary exclamou e correu a soltar a pobre coitada. Tirou-lhe a mordaça e começou a cortar as cordas com um canivete.

– Por favor, me tirem daqui! Me tirem daqui! – a pobrezinha choramingava – Me levem embora antes que ele volte...

– Ele quem? – perguntei, já pensando na cópia do Killian.

– O Gastão enlouqueceu! Eu não fiz nada a ele... Ele simplesmente enlouqueceu.

– Gastão é seu namorado? – Mary terminou de cortar as cordas e ajudou a outra a se levantar.

– S-sim, ele é meu noivo... Por favor, não deixem que ele me machuque.

– Calma, tá tudo bem agora – falei bondosamente – Como é seu nome?

– Belle...

– Você viu pra que lado o Gastão foi, Belle?

– Não, estava muito escuro e eu perdi a consciência depois que ele me bateu. O que está acontecendo? Por que ele está fazendo isso comigo?

Tentávamos acalmar Belle e ela só ficava mais confusa. Queria saber quem nós éramos e como a tínhamos encontrado. Obviamente, não podíamos dizer quem realmente éramos ou ela nos acharia loucos.

– Depois explicamos tudo, você precisa ir a um hospital – disse Mary, amparando Belle – Ruby, é melhor você levá-la enquanto procuro por Killian, David e Gold.

– Sozinha? Não é melhor chamar a polícia? – sugeri.

– A polícia só vai complicar as coisas. Vão, eu vou ficar bem.

Bae e eu nos entreolhamos e eu ia dizer que era melhor se Bae ficasse com Mary, mas nesse momento ouvimos alguém praguejar.

– Ah merda! Aquele desgraçado...

– Killian? – chamei, olhando pra trás. – É você?

– Sim, sou eu.

– Tenha cuidado, Ruby, pode ser uma armadilha – alertou Mary, mas eu já apontava a lanterna na direção da voz de Gancho.

De fato, era ele. Estava sentado e colocou um braço na frente dos olhos quando a luz ofuscou sua visão. Ele parecia bem, mas estava todo sujo e com os cabelos bagunçados. Corri a ajudá-lo a se soltar; a criatura não o amarrara direito e ele conseguira soltar os braços, mas ainda estava com os pés atados.

– Por Deus! Que é que estão fazendo aqui? – ele olhou de mim para Mary e de Mary para Bae – Bae! Mas o que esta criança está fazendo aqui?

– Eu não sou criança – replicou Bae.

– O garoto insistiu e decidimos vir todos juntos – informei, puxando os laços que prendiam seus pés – Devia agradecer por virmos salvá-lo.

– Eu ia me salvar sozinho – ele disse e o encarei com uma sobrancelha arqueada, fazendo-o rir – Mas em todo caso, obrigado.

Ajudei Gancho a se levantar e ele pôs uma mão na cabeça, onde havia um pouco de sangue.

– Ah merda!

– Temos que cuidar disso – disse.

– Onde estão Gold e David? – perguntou Mary, ainda amparando Belle.

– Não faço ideia – falou Killian – O metamorfo me nocauteou fazendo-se passar por Gold. Imagino que ele e David devam estar em algum lugar deste esgoto.

– Metamorfo? Este é o nome da coisa? – perguntou Bae

– Sim, é um transformista, tem a capacidade de se transformar em qualquer pessoa.

– Eu não estou entendendo – a expressão de Belle denunciava o quão confusa ela estava. Devíamos ter deixado pra falar desse assunto quando ela não estivesse por perto – Do que estão falando? Metamorfo, transformista...

– Quem é essa? – Killian arqueou as sobrancelhas.

– Sério que você não notou que ela esteve amarrada aqui por horas? – Mary era um misto de indignação e descrença. Killian se justificou:

– O que você queria? Estava escuro e, além do mais, eu só acordei agora. – ele olhou pra mim e só então notou as marcas em meu rosto – Mas que diabos aconteceu com você? Quem fez isso?

– Sua cópia maligna! – respondi.

– Aquela coisa se transformou em mim?!

– Killian, em que mundo está vivendo? – Mary revirou os olhos.

– Eu já disse, fui nocauteado. – ele se irritou – Aquela coisa está andando por aí com a minha cara?

– Alguém pode me explicar o que está acontecendo? – Belle tornou a pedir e todos nos entreolhamos. – Quem são vocês, afinal?

– Vai por mim, não vai querer saber – disse Gancho.

– Seu namorado não fez isso com você, Belle – Mary resolveu abrir o jogo – Acredite ou não, a pessoa que te bateu era uma cópia do Gastão.

– Cópia? Como... eu não entendo. – Ela olhava de um para o outro - Do que estão falando?

– Somos caçadores de criaturas – explicou Killian – A coisa que te atacou era um metamorfo, uma criatura com capacidade de imitar outras pessoas.

Como eu previra, Belle achou que fossemos loucos. Embora ela se recusasse a acreditar que fora espancada pelo namorado, também se recusava a acreditar no que estávamos dizendo. Abalada como estava, devia estar com um nó se formando no cérebro, sem conseguir juntar coisa com coisa.

– Estão dizendo que bruxas, vampiros, monstros... essas coisas existem? – ela estava chocada – Estão dizendo que monstros existem e que vocês os caçam?

– Exatamente – Gancho falou, impaciente.

– Isso é loucura, mas... mas eu acredito em vocês.

– Ótimo! Podemos ir agora?

– Killian! – ralhei.

– O que foi? Estamos em perigo, caso não tenha notado, e temos que encontrar David e Gold.

– Vou levar a Belle ao hospital – falou Mary a Killian – Bae pode ir comigo e a Ruby vai com você.

– Não, não quero ir a um hospital. Preciso encontrar o Gastão. O verdadeiro Gastão.

Se era assim que ela queria...

Caminhamos em linha reta, na direção oposta a que viemos. Belle já estava melhor, apesar de assustada. Evitamos falar e fazer barulho porque a coisa podia estar por ali. Pisei em alguma coisa, que se quebrou com som de vidro se partindo. Iluminei o chão com a lanterna e encontrei um relógio dourado, que só podia pertencer a David.

– É do David! – Mary tomou o relógio de minha mão – Ele deve estar por perto!

Não havia sinal do David, mas os canais de esgoto eram extensos e poderia levar horas até que o encontrássemos. Viramos à direita e mais ratos passaram por ali. Baratas corriam por todo lado e uma delas veio voando e resolveu pousar na minha cara. Armei um escândalo e pulava no lugar enquanto Killian tentava arrancar a coisa que subia por minha testa.

– Tira! Tira!

– Calma, mulher! Pronto, pronto – ele atirou a barata para um lado e ela saiu andando meio tonta – Mas que dramática!

Bae e Mary riam e, como castigo, Mary acabou pisando numa poça gosmenta. Ela fez cara de nojo e nos aproximamos pra ver o que era aquilo. Nunca vi coisa mais asquerosa!

– Isto é... pele? – franzi a testa.

A coisa nojenta e viscosa era um amontoado de pele, sangue e dentes. Logo entendi que os metamorfos trocavam de pele quando se transformavam em outra pessoa e senti vontade de vomitar. E pensar que eu beijara aquele clonezinho de araque...

– Creio que eles arrancam a pele toda vez que se transformam em outra pessoa – disse Killian, abaixado ao lado da coisa nojenta.

– Por que eles fazem isso? – perguntei – Se transformar em outras pessoas, digo.

– Metamorfos são solitários, querem ser amados e por isso assumem a identidade de outra pessoa. Pense bem, você não gostaria de ter a vida de outra pessoa, mesmo que por poucos instantes? Eles têm acesso à memória de quem estão imitando, por isso ele foi atrás de você, deve ter te reconhecido como minha assistente.

– Mas o que ele queria comigo?

– Te engravidar, assim você ia dar à luz a um metamorfinho. – ele riu, como se o ambiente estivesse propício a piadinhas. Se preocupou, porém, ao ver minha expressão de horror – Vocês não fizeram nada não, né?

– É claro que não, não sou tão fácil assim – cruzei os braços, indignada.

– Então eles se fazem passar por outra pessoa pra poderem engravidar as mulheres? – indagou Bae.

– Sim – Gancho assentiu – Geralmente, as mulheres pensam que estão se relacionando com seus companheiros e nem desconfiam de que aquela na verdade é uma cópia deles. E então, nove meses depois, quando o bebê nasce, o verdadeiro pai vai buscar a criança e assim se certifica de que a geração de metamorfos vai continuar a existir.

– Que horror! – Mary e eu exclamamos juntas.

– Quer dizer que o falso Gastão queria me engravidar? – questionou Belle, afastando-se de perto das paredes pra evitar as baratas – Ele me bateu quando o rejeitei. Por que ele escolheu a mim?

– Me deixe adivinhar – disse Mary, iluminando o caminho com a lanterna – você é vizinha de Ashley e Kathryn?

– Como sabe?

– Foi um palpite.

Explicamos sobre as reportagens e Belle disse ter estranhado o que acontecera com as duas vizinhas, já que seus respectivos parceiros eram pessoas boas e jamais as machucaria. Ela ficou feliz por saber que eles eram inocentes e que o metamorfo fora o culpado pelas agressões de Ashley e Kathryn.

– Por que ele tem atacado na mesma rua? – perguntei – Não seria menos suspeito se ele agisse em lugares diferentes?

– Não é óbvio? – Gancho me olhou – Ele escolhe lugares mais isolados pra que ninguém o veja quando ele descer para o esgoto levando a pessoa que vai imitar. Nesta cidade, a maioria das ruas é movimentada.

– E ele mantém suas vítimas com vida pra que possa ter acesso às memórias delas?

– Creio que sim. Devo admitir, essa criatura é cheia de surpresas.

Caminhamos mais um pouco e viramos à direita novamente. Estacamos quando vimos a criatura poucos metros mais à frente. Estava caída de joelhos, ainda com a aparência do Killian. O falso Killian começou a se contorcer e pus a mão na boca quando vi seus ossos estalarem como se tivessem vida própria. Ele levou as mãos às costas, arrancando toda a pele que lá havia. A carne ficou exposta e me segurei pra não vomitar. Era como uma cobra trocando de pele, mas a diferença é que aquela coisa estava se transformando em outra e isto era repugnante de se assistir. A pele velha e enrugada caía a seus pés e parecia derreter quando tocava o chão. Pra completar, suas unhas, dentes e cabelos caíram e foram trocados por novos. Permanecemos petrificados enquanto a troca de pele acontecia e Mary Margaret arregalou os olhos quando viu que a coisa tinha se transformado no David.

– Atirem! – gritou Killian e o clone do David se assustou e só então nos viu.

Todos atiramos contra a criatura, que correu e sumiu. Um ou dois tiros o acertaram, mas Killian explicou que metamorfos podiam regenerar feridas e só morriam se uma bala de prata lhes acertasse o coração.

– Ótimo, gastamos nossas balas à toa – resmungou Bae.

Algo raspou a parede e Mary correu quando viu David caído a um canto. Estava recobrando a consciência e ficou muito confuso quando acordou e se viu num lugar sujo e malcheiroso. Encontramos Gold caído a outro canto mais escuro e nos apressamos a desamarrá-lo.

– Graças a Deus! – ele murmurou, visivelmente abalado. Também apanhara um bocado e havia sangue solidificado em seu nariz – Pensei que fosse morrer aqui. Como nos encontraram?

Explicamos como tínhamos chegado ali e Gold contou que estivera falando com Kathryn e Ashley antes de ser nocauteado pelo metamorfo.

– Achei que pudesse haver algum pequeno detalhe que não contaram à polícia e estava certo. As duas disseram ter visto os olhos de seus companheiros brilharem. Acharam que estavam loucas, porém. Só isso foi o suficiente pra eu concluir que havia uma criatura sobrenatural assumindo a identidade de outras pessoas. Liguei para o Bobby Singer e ele me disse que a coisa só podia ser um metamorfo. Aí acabei por concluir que ele devia usar o esgoto como esconderijo e desci até aqui. O filho da mãe me atacou pelas costas e acabou assumindo minha forma. Sorte que eu já tinha ligado pro Gancho, ou vocês nunca me encontrariam aqui.

– E não pensou em me esperar pra descermos até aqui juntos? – perguntou Killian, meio irritado – Quer deixar seu filho órfão? Não faça isso de novo.

Notei que havia vários montinhos de pele por ali. O metamorfo parecia mudar suas vitimas de lugar constantemente e pensei que talvez ele não quisesse deixar Killian, David e Gold no mesmo lugar por saber a ameaça que eles representavam. Talvez ele fosse remover David pra um lugar mais afastado de Gold, mas não tivera tempo.

– E agora? Essa coisa vai ficar andando por aí com a minha cara? – Encantado estava atordoado.

– Temos que matá-lo antes que cause mais problemas – Killian coçou a cabeça, nervoso.

– E o Gastão? – Belle preocupou-se, pois não encontráramos nenhum sinal de seu noivo.

– Não se preocupe – tranqüilizou Mary – vamos encontrá-lo.

Encontramos outra escada que subia para a rua e voltamos a respirar o ar fresco da noite. Todos estávamos imundos e alguns meio descabelados. O corte em meu braço ainda doía e Killian insistia que eu devia ir a um hospital.

– Eu estou bem, já disse...

– Você é muito teimosa!

– Você é quem precisa de cuidados – disse, puxando-o pela gola da camisa – Olhe essa sua cabeça...

– Eu vou ficar bem, mas olhe só sua cara – ele agarrou meu rosto com as duas mãos – Não acredito que eu... que ele fez isso com você. Pobrezinha...

Os outros pararam pra nos olhar e fiquei constrangida com os olhares marotos que lançavam em nossa direção.

– Quem diria! – riu Gold – Quem iria imaginar que o Jones fosse se apaixonar depois de tanto tempo?

– Não sei do que está falando – Killian me largou, ele mesmo constrangido. Mudou de assunto – O que faremos agora?

– Eu não sei vocês, mas preciso de um banho – Encantado cheirou a própria roupa e fez uma careta. Todos riram.

– Há um hotel aqui perto – disse Belle – A diária é baratinha e o serviço é realmente bom.

Ela nos levou até um hotel de beira de estrada. Uma placa digital piscava na entrada: Hotel Metamorphosis.

– Metamorphosis, é sério isso? – resmungou David, ainda irritado pelo fato de seu “gêmeo” estar andando por aí.

O lugar era bem tranqüilo, havia um estacionamento amplo com um conjunto de casinhas ao fundo e uma área de lazer a um canto. Alugamos dois quartos, nas quais nos dividimos. Mary, David e Gold em um e Belle, Killian, Bae e eu no outro. Achamos mais seguro que Belle ficasse conosco, visto que o metamorfo ainda estava à solta e poderia voltar a atacá-la.

Nosso quarto era pequeno e aconchegante: uma cama de casal e outra de solteiro estavam dispostas lado a lado, perto de uma grande janela; no meio do quarto havia uma mesinha quadrada com quatro cadeiras; um sofá xadrez ficava noutro canto, sob uma janela menor com vista para um bosque; um televisor de LCD completava a mobília. O banheiro era bem pequeno, mas tinha um espelho sobre a pia e o mais importante: água quente.

– Ai! – Gancho resmungava, enquanto eu cuidava de seu ferimento na cabeça.

– Deixe de ser frouxo, homem – brinquei – Eu passei por coisa pior e não estou nem reclamando.

Em resposta, ele me fez sentar na cama e foi sua vez de cuidar de meus ferimentos. Me lembrei da noite em que nos conhecemos, quando ele me levara pra sua casa e cuidara de mim. Vi meu rosto no espelho e mal me reconheci. Havia manchas escuras por todo lado e eu estava com olheiras terríveis por culpa da noite mal dormida. Ao menos pudera tomar um banho e me senti renovada. Belle tivera a bondade de me emprestar uma muda de roupas limpas e achei esse gesto muito gentil. Os outros, pelo o que entendi, sempre carregavam roupas limpas quando saíam pra uma caçada.

– Você não vai me contar o que aconteceu? – Killian perguntou – O metamorfo deve ter tentado algo com você...

– Ele me agarrou, apenas isso.

– Agarrou? – ele arqueou as sobrancelhas, meio surpreso.

– E me beijou também, mas isto não vem ao caso.

Lancei um olhar na direção de Belle, que cochilava no sofá. Killian sorriu maroto.

– E você retribuiu o beijo, é claro, porque pensou que aquele era eu e não podia rejeitar um homem tão incrivelmente lindo como aquele.

– Você não tá com essa bola toda...

– Foi bom?

– O beijo? Não, claro que não!

Ele me olhou com as sobrancelhas arqueadas e tive vontade de bater nele por sempre me deixar envergonhada. Bae chegou logo em seguida e me salvou de mais constrangimento. Ele fora com Gold a uma lanchonete ali perto e nos trouxera vários pacotes de comida.

– Nada como uma comida gordurosa pra nos animar – eu disse, fisgando uma batata-frita.

Belle remexeu no sofá e acordou. Olhou em nossa direção e fez cara de indignação.

– Como é que vocês conseguem comer com aquela coisa solta lá fora? E o Gastão? Meu noivo está sumido há mais de doze horas!

– Temos que comer pra ter forças – Gancho se levantou e a arrastou até a pequena mesa, empurrando-a para a cadeira em seguida. Aquele gesto não fora nada gentil – Aqui, pegue um desses pra ter energia.

Belle acabou por aceitar o hambúrguer gorduroso que Killian lhe passava e comemos em silêncio por um tempo. Me senti deprimida em meio a toda aquela quietude e resolvi começar a falar.

– E então, Belle, o que você faz da vida? – perguntei.

– Sou bibliotecária.

– Essas coisas ainda existem hoje em dia? – Bae se surpreendeu – Digo, na era dos e-books era de se esperar que as bibliotecas fossem extintas.

– Bae! Ainda há pessoas que apreciam livros de verdade – Gancho lutava com o vidro de ketchup, sem conseguir derramar o condimento em suas batatas fritas.

– Nada substitui o valor de um livro antigo – Belle sorriu – A capa empoeirada, as folhas finas e amareladas... Meus livros são meu maior tesouro.

Nesse momento Killian conseguiu desentupir o vidro e o ketchup acertou na minha blusa. Não fora o suficiente pra sujar tudo, mas certamente deixaria uma mancha. Ralhei com ele por estragar a blusa de Belle e ele correu a apanhar um pano pra limpar a mancha.

– Tá tudo bem, não tem problema – dizia Belle.

Killian voltou com uma toalha úmida e Bae fez cara de maroto quando o tio começou a limpar minha blusa.

– Ih, olha que climão! – riu o garoto – Se quiserem um tempo a sós podemos lhes dar alguma privacidade.

– Ah sai daqui, garoto – Gancho bateu nele de leve com a toalha e em seguida se jogou no sofá – Estou exausto!

– Posso dormir no sofá se quiserem – Belle se ofereceu – assim vocês podem dividir a cama de casal.

Bae riu, eu enrubesci e Killian ficou sem graça, mas não disse nada.

– Até você, Belle? – revirei os olhos.

– Fazer o quê, vocês combinam!

Não entendia por que todos achavam que Killian e eu tínhamos alguma coisa. Mas que teimosia a deles! Nós éramos apenas amigos e nossa única relação era a de patrão e funcionária. Nada mais.

– Vou me deitar – soltei um longo bocejo – Não se preocupe, o Gastão vai aparecer, mas você também tem que descansar.

Belle assentiu e jogamos as embalagens de comida no lixo. Gancho já roncava no sofá e Bae ainda atacava umas batatas que sobraram em seu pacote.

– Não tive tempo de agradecer o que fizeram por mim – ela disse – Salvaram minha vida e jamais poderei agradecer de forma apropriada.

Sorrimos uma pra outra. Eu encontrara mais uma amiga.

***

– Algo deve ter acontecido a ele – Belle chorava – Está sumido há quase vinte e quatro horas! Ele nunca some por tanto tempo assim.

– Fique calma, nós vamos encontrá-lo – Mary tentava acalmá-la – Killian, Gold e David vão sair numa busca.

Os rapazes se preparavam pra sair. Killian recarregava sua arma com balas de prata, enquanto que Gold e David conversavam no estacionamento.

– Fique tranqüila, moça, vamos trazê-lo de volta – ele enfiou a arma no bolso interno do casaco – Tomem cuidado enquanto estivermos fora. Não abram a porta e lembrem-se...

–...de checar se vocês são vocês mesmos e não uma cópia fajuta – Mary revirou os olhos – Sim, já sabemos.

Killian riu e saiu fechando a porta. Soltei um suspiro. Vê-lo ir sempre me deixava angustiada, eu nunca sabia se ele ia voltar. Talvez Mary também se sentisse assim com relação a David. Ela me olhava, assim como Bae.

– Eu acho que ele gosta de você – ela disse e senti meu rosto queimar.

– Não sei por que dizem isso... – falei – Ele gosta é da Emma Swan, que, aliás, eu não conheço. Somos amigos, só isso.

– A Emma dizia a mesma coisa, até que o Killian se declarou pra ela e a pediu em casamento.

– E ela disse “não”? – arregalei os olhos. Sério que ela rejeitara Killian Jones?

– Ela já amava outra pessoa – justificou Mary – Acho que está mais do que na hora de o Killian se apaixonar de novo, faz muito tempo desde a Emma.

Não disse mais nada, mas fiquei pensando no que ela dissera. Será que ele poderia se apaixonar depois de tanto tempo? Pelo o que Bae me contara, fazia dez anos desde que a Emma fora assistente do Killian. E quanto a mim? Poderia me apaixonar de novo? Eu meio que já gostava do Gancho, mas não tinha certeza quanto a meus sentimentos.

Belle assistia TV, mais pra se distrair do que por interesse pela programação. Mudava de canal constantemente e parecia um tanto entediada. Mary e eu nos entreolhamos. Ninguém dissera nada, mas todos achavam que a esta altura Gastão já devia estar morto. O metamorfo não mantinha suas vítimas por muito tempo e se já estava andando por aí com a cara do David, então não precisava mais do Gastão.

– Eles já deviam ter ligado, não acham? – a bibliotecária se virou pra nos olhar. Já se passara meia hora desde que os rapazes tinham saído.

– Devem estar vasculhando o esgoto – disse Mary, despreocupada – Não se preocupem, enquanto estiverem juntos estarão fora de perigo.

– Mas já deviam ter encontrado o Gastão... – Belle entristeceu – Me digam a verdade. Vocês acham que meu noivo pode estar morto?

– Olha, Belle... – eu comecei, sem saber o que dizer.

– Neste trabalho, nós sempre pensamos que há esperança – disse Mary, depois que não consegui dizer nada – Por mais que as coisas pareçam impossíveis, temos que dar um salto de fé e acreditar que tudo é possível. Temos que ser otimistas! Acredito que Gastão está vivo e que os rapazes vão encontrá-lo.

Belle ficou mais calma e relaxou. Eu admirava o jeito que Mary tinha de tranqüilizar as pessoas. Ela era a amiga certa nas horas incertas.

A programação da TV foi interrompida por notícias de última hora. Um homenzinho gordo e atarracado falava pra câmera e um retrato-falado feito em computador apareceu no canto da tela. Mary soltou um grito e tudo o que consegui fazer foi abrir minha boca em O. Estavam acusando David de assassinato!

Imagens mostraram policiais contendo os curiosos que se acumulavam em frente a uma casa e em seguida o câmera registrou o momento em que um corpo era retirado do local. Claro que não mostraram o cadáver, já que ele estava enfiado num daqueles sacos pretos, mas o repórter informava que a vítima era uma mulher aparentando entre vinte e vinte e cinco anos. O criminoso fugira, mas uma mulher o vira quando ele deixara a casa e ajudou os policiais ao descrever suas características. O rosto de David foi colocado em tela inteira enquanto o repórter insistia em nos lembrar que devíamos ligar pra polícia caso o víssemos.

–... foi visto pela última vez nas imediações de uma padaria em South Lake Union. Repito: este homem é um criminoso foragido da justiça. É recomendável que todos tranquem as portas e janelas.

A sessão de desenhos animados voltou a passar como se não tivessem anunciado um crime há pouco. Mary chorava e tentávamos acalmá-la, mas já não havia nada que pudéssemos fazer: David era oficialmente um procurado pela justiça.

– David! Meu David, um criminoso! Era só o que me faltava, meu Deus! Este metamorfo filho da p#&*!

– Eita, olha o palavrão! – exclamou Bae e Mary o ignorou e continuou com seus xingamentos.

– Ele vai ser procurado por todo o país. Vamos ter que fugir, não podemos mais sair na rua...

– Calma, Mary, tudo vai se resolver – acariciei seu ombro – Bae, ligue para o Killian e avise que o David não deve aparecer por aqui.

Mas era tarde demais. Killian, Gold e David já entravam pela porta da frente e perceberam que havia algo de errado, tão logo viram nossas expressões de desespero.

– Temos que ir! Agora! – disse uma Mary escandalosa e apressada.

– Que aconteceu? – Killian perguntou.

– O metamorfo matou alguém e agora colocaram a culpa no David – fui logo dizendo e Branca desatou a chorar, enquanto que David, Killian e Gold me olhavam com descrença.

– Que estão esperando? Temos que ir! Temos que ir! – Mary nos apressou.

Começamos a catar nossos pertences e eu enfiava minhas roupas sujas numa sacola de papel. Onde é que eu fora me meter? Tudo bem que David era meu amigo, mas daí a fugir por causa dele... Não queria nem pensar no que poderia acontecer. Já conseguia ver as reportagens me listando como cúmplice, vovó tendo um ataque do coração, Billy se decepcionando e Cora dizendo que a vovó não soubera me criar. Me vi vestida num daqueles uniformes alaranjados da prisão feminina e disse a mim mesma que aquele era um destino terrivelmente vergonhoso.

O som de um helicóptero me despertou de meus devaneios. Logo em seguida vieram as sirenes e Killian e eu trocamos um olhar aterrorizado. David e Mary estavam lá fora colocando as coisas no carro e corremos pra fora bem a tempo de ver a cena que se desenrolava. Cinco ou seis viaturas frearam bruscamente e os policiais saíram correndo e colocaram David sob a mira de suas armas.

– Parado!

– Pro chão! Pro chão!

Encantado alegava que era inocente e sua voz era quase abafada pelo ruído ensurdecedor do helicóptero preto que sobrevoava o hotel. Mary gritava desesperadamente e os outros hóspedes haviam saído de seus quartos e agora assistiam a cena, completamente chocados.

– O senhor está preso por invasão de domicílio, agressão física e assassinato. – um dos policiais algemou os braços de David atrás de suas costas. Ele estava deitado no chão, com a cara praticamente grudada às pedrinhas cinzentas que havia no estacionamento. - Tem o direito de ficar calado. Tudo o que disser pode e será usado contra você no tribunal.

Ele foi colocado numa viatura e Mary foi junto após ter alegado ser sua esposa.

– Vou acompanhá-los à delegacia – Gold disse a mim, Killian, Bae e Belle. Estávamos parados à porta de nosso quarto, os quatro muito chocados e petrificados no lugar. – Fiquem aqui e dêem um jeito de matar aquela coisa.

– Merda! – Killian praguejou e nos puxou pra dentro do quarto – Agora temos um problemão! Mas que merda!

Ele socou a mesa e Belle se assustou. Já estava acostumada com seus surtos de irritação e confesso, adorava vê-lo zangado, ele só ficava mais charmoso quando estava com raiva.

– Vocês não encontraram o Gastão? – a bibliotecária se arriscou a perguntar. Eu devia ter dito a ela que não era seguro fazer perguntas a Killian Jones quando ele estava irritado.

– Estou pouco me lixando pro seu namorado – Gancho gritou, com a cara a centímetros do rosto de Belle – Não percebe que há problemas maiores aqui? Pare de choramingar e se conforme: seu noivo está morto!

Eu realmente achei que Belle fosse chorar e sair correndo, mas ela se defendeu ao dar um tapa estalado na cara de Killian.

– Não fale assim comigo! – ela apontou um dedo na cara dele – Você não me conhece! – e saiu do quarto batendo a porta. Bae foi atrás dela em seguida.

Nunca subestime uma mulher!

– Eita, não era pra tanto! – ele resmungou, esfregando o lugar que ela batera.

– Sério? – cruzei os braços, indignada - Você tinha que gritar com ela daquele jeito? Francamente, Gancho, seu apelido faz jus à sua personalidade.

– Ah, não me enche! – ele se afastou e me deu as costas.

– Nós não temos culpa, ok? Aconteceu! Tudo o que podemos fazer é tentar consertar isso.

– Ele é meu melhor amigo... – ele se virou pra me olhar e meu coração derreteu de amores. Ele estava com a expressão de cachorrinho perdido! Pobrezinho!

– Eu sei... – o abracei antes que tivesse tempo de pensar no que estava fazendo. Ele me envolveu em seus braços e ficamos assim por um tempo.

– Me desculpe, sou um idiota...

– Um grande idiota!

Ele riu. Adorava aquela risada meio rouca, era como música nos meus ouvidos.

– Você sentiu alguma coisa quando beijou minha cópia? – perguntou depois de uns segundos. Ainda estávamos abraçados e me afastei pra encará-lo. – Aquele beijo significou algo pra você?

Se eu sentira algo? É claro que sentira. Sentira meu coração bater forte, sentira as pernas bambas, sentira uma vontade boba de tocar em seus cabelos e uma ambição irrefreável de que ele fosse meu namorado. Não ia dizer aquilo, porém. Sabia que minhas mentiras quase nunca soavam como verdades. Encarar aqueles olhos azuis me desarmava, eu sentia como se ele pudesse ler minha alma. Meu rosto estava corado ante a nossa aproximação. Percebi que não ia conseguir mentir pra ele. Não dessa vez. Quer saber? Que se dane!

– Eu gostei... do beijo... eu disse que não, mas eu... é, foi bom sim...

Ele sorriu de um jeito bobo.

– Já que é assim, talvez você possa ter algo real dessa vez.

– O quê? Do que está falan...

Killian pegou meu rosto com as duas mãos e no segundo seguinte estávamos com os lábios grudados. Esqueci de respirar, esqueci de David, do metamorfo, de tudo... Killian Jones estava com a boca dele na minha boca. O verdadeiro Killian Jones. E o que eu fiz? O que eu fiz? Eu me afastei!

– Eu... não é hora pra isso, não devíamos pensar no David? – as palavras saltaram de minha boca quase por conta própria.

Burra, burra, burra! Que estupidez a minha!

– Sim, tem razão... – Killian me encarava com o olhar meio perdido e imaginei que aquele mesmo olhar também estivesse estampado em meu rosto. Ele coçou a cabeça – Nós... devíamos pensar no David...

Nos afastamos. Me culpei um milhão de vezes por tê-lo afastado de mim. Mas que imbecil! Eu julgava a Emma Swan por ela ter rejeitado o Killian, mas estava sendo igualzinha a ela...


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Notas finais do capítulo

O episódio: https://www.youtube.com/watch?v=ueCHTI1Mt6o
Desafio do gelo: https://www.youtube.com/watch?v=oOf3CF5BlSo



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