'Til We Die escrita por Mrs Jones


Capítulo 5
O Gêmeo do Mal & David em Apuros - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Hey girls! Tive que dividir o capítulo em duas partes porque estava ficando muito extenso. Vou ver se termino a segunda parte hoje e posto amanhã. Confesso que estou desanimada com o rendimento da fic, mas vou continuar postando mesmo com pouca gente comentando. Pra quem lê minha outra fic, não postei ainda por falta de tempo e bloqueio criativo.
Já me pediram pra escrever CaptainSwan, só que não tenho muitas ideias pra escrever com esse ship. Mas recomendo aqui a fic da fofa da Diana Vieira:http://fanfiction.com.br/historia/531184/I_See_Fire Leiam e não vão se arrepender. Enfim. Espero que gostem. Beijos e até a próxima.



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Dois dias se passaram sem que nada de interessante acontecesse. Killian não saíra em nenhuma caçada e eu desconfiava de que ele ainda estivesse abalado com o que fizemos com o espírito de Helen. Ela não apareceu mais, o que significava que a queima dos ossos fora suficiente pra mandá-la para o outro lado. Graham acabou me pressionando a contar o que tínhamos feito no cemitério naquela noite. Eu não disse nada, de forma que Killian contou tudo. Graham apenas disse que fora o certo a se fazer e deu o assunto por encerrado.

Gancho e eu voltamos a ficar sozinhos depois que o Caçador, como chamávamos Graham, foi pra outro estado a procura de novos casos. Eu não tinha muito que fazer então lia sobre as criaturas. Embora aquilo me desse pesadelos, fui ficando cada vez mais fascinada por aquele universo. Killian me contava histórias de suas caçadas e ouvi-lo narrar suas aventuras me deixava mais maravilhada ainda.

– Por que você não tem uma namorada? – perguntei, numa noite em que papeávamos sentados na sala.

– Por que você não tem um namorado? – ele devolveu a pergunta.

Dei de ombros.

– Não encontrei ninguém interessante. E ainda estou superando o Peter.

– Também não encontrei ninguém interessante – ele disse.

Ele provavelmente tivera uma decepção amorosa no passado. Eu quero dizer, como é que um cara como Killian Jones não arrumava ninguém interessante? Toda vez que saíamos na rua os olhares se voltavam pra ele. As mulheres só não se jogavam em seus braços porque isso seria ousado demais. Gancho tinha plena consciência do quanto era atraente, ele vivia se gabando e era um poço de autoestima.

Aquele homem estava mexendo comigo. Eu não sabia o que estava sentindo e achava que era mais do que atração. Nunca senti isso por ninguém além do Peter. Talvez ele soubesse o que estava causando em mim porque sempre me provocava.

Era uma manhã fria de dezembro e eu preparava o café. Em alguns dias seria Natal e os amigos de Killian viriam comemorar conosco. Estava concentrada na tarefa de preparar umas panquecas quando ele saiu do banheiro enrolado numa toalha.

– Que frio! – resmungou.

– Devia considerar comprar um chuveiro novo, ou uma banheira de hidromassagem – eu disse em tom de brincadeira. Ele arqueou as sobrancelhas daquele jeito que eu adorava.

– Está achando que isto aqui é hotel cinco estrelas?

– Ora, com sua fortuna você bem que poderia fazer umas melhorias neste lugar.

Ele riu e disse que ia pensar nisso. Me peguei observando seus músculos definidos e os pelos que cobriam seu peito. Ele percebeu e sorriu maliciosamente.

– Gostou?

– Quê? – fingi não ter entendido.

– Oh, querida, não tenha vergonha. Sei bem o que meu corpo causa nas mulheres – ele sorriu de lado e revirei os olhos.

– Até parece... Vá se vestir antes que pegue um resfriado.

Ele estava mais bonito do que de costume. Não fizera a barba nos últimos dois dias, de forma que os pêlos compridos lhe davam um ar mais másculo. Além disso, seus cabelos estavam bagunçados e úmidos pelo banho e seus olhos azuis brilhavam. Ele subiu para o closet e retornou minutos depois enfiado em roupas quentes.

– Que cheiro bom! – exclamou e apanhou uma pilha de panquecas – Você até que está sendo eficiente como assistente e cozinheira.

– É claro, não foi pra isso que me contratou? – disse, virando uma panqueca na chapa - A propósito, patrão, quando é que pretende me pagar? Já faz um mês que estou aqui.

– Eu irei ao banco mais tarde – ele derramou mel em suas panquecas – Fique tranqüila, você será bem recompensada por seus serviços.

– Quando é que vai sair pra caçar? – me sentei à mesa levando meu prato de panquecas.

– Não faço ideia. Não há muitos casos por aqui, na verdade. Terei de viajar em busca de novas criaturas.

– Você disse que já teve uma assistente antes – lembrei. Minha curiosidade sempre me levava a fazer novas perguntas – Estava falando da Milah ou de outra pessoa?

– Outra pessoa – dava pra perceber o quanto ele estava desconfortável com isso. Ele remexeu na cadeira e coçou a cabeça, como sempre fazia quando estava nervoso – Ela só aceitou o emprego porque precisava, mas acabou por se demitir depois de um tempo. Ficou assustada com o que fazíamos e acabou por querer distância dessas coisas. Realmente uma pena... ela era uma boa assistente.

– Me deixe adivinhar, você se apaixonou por ela?

Ri quando ele enrubesceu e encarou o prato à sua frente. Ver Killian Jones envergonhado era coisa extremamente rara e me senti orgulhosa de mim mesma por tê-lo deixado assim.

– Desculpe – disse – Foi uma pergunta muito íntima.

– Tudo bem. Eu gostava dela, mas o sentimento não era recíproco.

– Sério?!

– Por que a surpresa? – ele arqueou a sobrancelha e sorriu divertido.

– Ah... bom, é que você é bonito e tudo mais e...

– Já entendi – ele riu e fiquei envergonhada – Está dizendo que ela foi burra ao me deixar escapar. Eu também acho isso sabe, ela poderia ter sido muito feliz comigo, mas me trocou por um palerma.

Evitei encará-lo, pois estava mesmo muito envergonhada. Eu tinha que aprender a controlar minha língua. Agora ele sabia que eu o achava bonito e com certeza pensaria que eu sentia algo por ele. Burra! Burra, burra, burra! Eu e minha boca grande!

– Você não teve ninguém depois do Peter? – ele perguntou, bebendo um gole de café – Nenhum namorado ou ficante ou sei lá, um paquera qualquer?

– Não... Eu não consigo me envolver com ninguém, ainda estou superando o Peter.

Gancho assentiu.

– Eu também nunca vou superar a morte da mamãe e da Milah.

Ficamos em silêncio por um tempo, o barulho dos talheres era o único som a quebrar a quietude. Encarei Killian por uns segundos, tentando decidir se devia dizer a ele o que estava pensando.

– Killian? – chamei depois de um tempo e ele fez “hum” sem olhar pra mim – Eu estava pensando... já que vocês comemoram o Natal, por que não convida seu irmão?

Ele ergueu a cabeça pra me olhar.

– Eu o convido todo ano e ele nunca vem. Ele não gosta dos outros, diz que são todos doidos. Mas é uma boa ideia, talvez eu o convide de novo este ano – ele piscou pra mim e voltou a dar atenção às panquecas. – Sabe de uma coisa? Você vai me fazer um favor hoje, quero que compre uma TV.

Eu o encarei, meio surpresa meio divertida.

– Ah, então o sovina resolveu gastar dinheiro...

Ele riu.

– Eu não sou sovina, sou contra o consumismo exagerado. Mas agora precisamos de uma distração nesta casa e, além disso, não quero passar mais um Natal com gente reclamando por não ter nada pra fazer.

– Podemos comprar uma Ultra HD¹? – perguntei, esperançosa – Daquelas com imagem 3D e tudo?

Ele deu de ombros.

– Você é quem sabe. – se levantou e depositou a louça suja na pia – Apenas faça o que achar melhor.

Pelo visto ele confiava em mim, ou não teria me dado seu cartão de crédito pra eu comprar a TV que quisesse. Fiquei meio surpresa com isso, mas não disse nada. Me vesti pra ir até uma das lojas de eletrodomésticos do centro, enquanto Killian desceu para o terceiro andar pra escutar os telefonemas do departamento de polícia. O telefone tocou quando estava a caminho do elevador e o atendi meio a contragosto.

Killian? – uma voz de homem veio do outro lado.

– Não, é a Ruby, a assistente.

Assistente é? – ele pareceu achar divertido – Oh, pelo visto o Jones ainda não superou a Emma... Eu preciso falar com o Killian.

– Ah ele está lá embaixo, espere só um minuto...

Não, não. Neste caso, apenas transmita a ele um recado. Diga a ele que o senhor Gold vai tratar de negócios e que Baelfire está indo passar uns dias aí. Obrigado.

O homem desligou logo em seguida. Transmiti a Killian o recado e ele suspirou.

– Gold... Bem, mudança de planos. Parece que vou ter que passar um tempo com meu sobrinho, então nada de caçadas.

– Sobrinho? – franzi a testa – Espere aí... a Milah teve um filho?

– É – ele saiu da frente do computador que estivera usando e olhou pra mim – Gold é meu cunhado e também é caçador. Todos sofremos com a morte de Milah, mas tudo foi pior para o pobre Bae.

– Não me diga que vou ter que bancar a babá...

Ele gargalhou.

– É claro que não. Bae tem quinze anos, não precisa de uma babá. – ele monitorava as câmeras que ficavam do lado de fora do prédio e os monitores à nossa frente mostravam pessoas indo e vindo na calçada e um trânsito engarrafado - Ainda bem que vamos comprar uma TV, ou o garoto ficaria entediado.

– Como é que ele lida com isso? – perguntei enquanto ajeitava o cabelo – Uma família de caçadores, a mãe que foi morta por vampiros, o pai e o tio saindo pra caçar...

Gancho voltou a me olhar e deu de ombros.

– Ele entende que isto é mais do que um trabalho, trata-se de salvar vidas. E ele ainda sofre muito pela perda da mãe, mas sabe que foi um infortúnio – ele abriu um sorriso e senti como se fosse derreter de amores por ele – Você vai gostar dele, é um bom garoto.

Depois disso fui comprar a tal TV e aproveitei pra dar uma voltinha pelo centro. Não sabíamos quando Baelfire chegaria, mas fui logo tratando de comprar tudo o que um garoto de quinze anos gostaria de comer. Voltei pra casa carregada de compras e informei a Gancho que um caminhão viria mais tarde pra entregar a TV, já que ela era grande demais pra caber no meu carro.

– Espero que não tenha estourado meu cartão – ele brincou, sentado ao sofá. Me aproximei e vi que desenhava.

– Eu jamais faria isso – fingi indignação e mudei de assunto em seguida – Que é que está desenhando?

– Você.

Ele virou a folha pra me mostrar e vi os contornos de meu próprio rosto sendo riscado no papel. Sorri meio envergonhada e me sentei no sofá oposto ao dele.

– Por que está me desenhando?

– Só acho que você é uma boa modelo. – ele deu de ombros e voltou a rabiscar o papel.

Enrubesci, mas ele pareceu não notar. Pus-me a observar sua pasta de desenhos, que estava jogada sobre o sofá, e fiquei maravilhada com suas obras. Ele geralmente desenhava paisagens, mas também gostava de retratar pessoas e até algumas criaturas estranhas. Encontrei desenhos com Mary Margaret, David, Graham, Pinóquio e outras pessoas que eu não conhecia, mas que deviam ser outros caçadores. Havia uma Milah sorridente e uma Helen que lia um livro. Imaginei que ele as tivesse desenhado há muito tempo, quando ainda eram pessoas normais e se davam ao luxo de posar como modelos. Acabei por me deparar com o desenho de uma mulher de feições delicadas e sorriso gentil. Killian a desenhara várias vezes e escondera os desenhos por trás de uma paisagem ensolarada. Imaginei que aquele devia ter sido seu amor do passado.

– Quem é essa? – perguntei, mostrando-lhe o desenho. Ele ficou meio perturbado e mais uma vez me repreendi por me intrometer demais nos assuntos dos outros.

– Só alguém do passado – ele respondeu e voltou a desenhar – Jogue isso fora! Não sei por que não fiz isso ainda...

– Era sua assistente, não é?

– Hum... – ele confirmou com um aceno de cabeça.

– Você ainda gosta dela?

Eu não podia ajudar a mim mesma. Perguntar era algo natural pra mim e sabia que às vezes isso podia incomodar as pessoas, mas não conseguia refrear minha curiosidade. Killian parou e me olhou, depois voltou a desenhar e parecia realmente incomodado, até meio triste.

– Eu não gosto dela – acabou por dizer – Já superei isso, sabe? Quando você ama alguém e o sentimento não é recíproco, você simplesmente deixa de se importar com essa pessoa. Bem, pelo menos no meu caso.

– Ela foi sua única paixão?

– A primeira e única.

Não toquei mais no assunto porque não devia remexer em feridas. Gancho terminou o desenho e me deu de presente. Ele desenhara apenas meu rosto, mas a coisa ficara tão realista que por um momento acreditei estar olhando uma foto. Eu o agradeci e ele apenas sorriu e disse que se sentia honrado por desenhar uma moça tão bela. Não é preciso dizer que fiquei mais vermelha do que a blusa que usava.

– Você me lembra a Milah às vezes – ele comentou, olhando pra mim e sorrindo – Ela também ficava envergonhada ao ouvir elogios.

Nos olhamos por uns instantes, até que desviei o olhar. Encarar aqueles olhos tão azuis me causava sentimentos já conhecidos por meu coração e eu não queria arriscar me apaixonar por meu patrão. Ainda podia sentir seus olhos em mim, no entanto, e tentei não ligar para o fato de que ele me observava. Senti meu rosto queimar e tentei ignorar a súbita timidez que se apossara de mim, mas aquilo era mais forte do que eu.

– Posso perguntar uma coisa? – ele falou, depois de um longo minuto de silêncio. Assenti com a cabeça e ele continuou – Como foi que o Peter morreu?

Era a vez de ele bancar o curioso. Me remexi no sofá, sentindo-me pouco à vontade, mas respondi.

– Foi um acidente de carro... e eu estava com ele...

– Deve ter sido horrível.

– Sim, foi horrível... – meus olhos ficaram marejados e segurava o choro, mas precisava desabafar e pensei que aquela era uma boa hora – Estava chovendo e tínhamos saído pra ir ao cinema. A vovó disse pra não irmos e eu não dei ouvidos a ela. Sabe quando dizem que as mães têm pressentimentos? Isto funciona com as avós também. Voltávamos pra casa quando um caminhão desgovernado bateu no carro e nos jogou no acostamento. O Peter morreu na hora. – dei uma pausa. Não ia chorar na frente dele, por isso tentei segurar as lágrimas. – Acordei no hospital no dia seguinte e os médicos me contaram o que a vovó não conseguia contar. Fiquei devastada, é claro, mas acabei por arranjar as forças que precisava pra continuar.

– Eu sinto muito – ele me olhou tristemente e segurou minha mão, como eu fizera tantas vezes quando ele me contava algo doloroso sobre seu passado – Eu te entendo... sei como é a dor de perder alguém que você ama... Aqueles pesadelos pararam?

– Sim. O apanhador de sonhos funciona mesmo.

– Eu disse a você – ele sorriu e então se levantou e caminhou até a cozinha – Sabe, acho melhor já irmos pensando em nossa festa de Natal. A Regina sempre critica tudo, mas desta vez quero surpreendê-la. Você, sendo cozinheira, poderia preparar algo especial.

– Eu não sou cozinheira – me deitei no sofá e pus-me a olhar o teto – A vovó é quem entende dessas coisas.

Combinamos alguns detalhes sobre a ceia de Natal e Killian queria inovar no cardápio desse ano. Disse a ele que ia pedir umas dicas à vovó e ela me ligou segundos depois. Queria saber se eu iria passar o Natal na pensão e disse a ela que iria pra lá no dia vinte e cinco, já que o Doutor Simons ia oferecer uma ceia em sua casa, na véspera de Natal. Killian riu de minha mentira e disse a ele que a vovó andava louca pra conhecer meu patrão.

– O que você vai fazer se ela descobrir todas essas mentiras? – ele perguntou, enquanto preparava um hambúrguer gorduroso.

– Eu não vou fazer nada – disse, brincando com uma das mechas de meu cabelo – porque ela nunca vai descobrir. Eu vou apresentar o Doutor Simons a ela.

– É mesmo? – ele me olhava com uma expressão divertida – E quem vai ser o felizardo a representar esse papel?

– Adivinhe! – ri marota.

– Ah não, não, não e não! Eu não vou me fazer passar por um advogado.

– Por que não?

– O que eu vou dizer se ela me fizer perguntas sobre o trabalho? Eu não sei nada sobre advogados ou leis.

– Você não precisa dizer nada. Vou dizer a ela que você não gosta muito de falar sobre o trabalho.

– Isto não vai acabar bem...

– Ah, Killian... Por favor, por favor, por favor! A vovó vai ficar super feliz por conhecê-lo.

Ele ia dizer alguma coisa, mas nesse momento o elevador se abriu e viramos pra olhar.

– Era de se esperar que o Jones já tivesse trocado esse elevador – uma voz de homem comentou, a mesma voz que falara comigo por telefone. – Também, avarento como ele é...

– Ei, eu ouvi isso! – resmungou Killian e o homem saiu do elevador acompanhado por um garoto adolescente.

– Ah, aí está você! – ele sorriu ao ver Killian. Presumi que fosse o senhor Gold. Ele era alto e devia estar na meia idade, a julgar pelos cabelos grisalhos que caíam até seus ombros.

– Oi, tio! – o garoto cumprimentou e Killian o puxou para um abraço.

– Como você cresceu, garoto! Sua mãe ficaria orgulhosa. – ele bagunçou os cabelos do menino, que se afastou meio constrangido.

– Hum, esta deve ser sua assistente – o homem estendeu uma mão e trocamos um cumprimento breve. – Sou o senhor Gold, nos falamos mais cedo.

– É um prazer conhecê-lo, senhor Gold. – eu disse.

– Igualmente, querida. Cumprimente a moça, Bae.

– Oi! – Baelfire sorriu pra mim e então olhou pra Gancho – Ela é bem mais bonita do que a Emma.

– Bae! – fez Gold

– Que foi? Só estou dizendo a verdade...

– Ele tem razão – Gancho sorriu e me olhou – ela é bem mais bonita do que a Emma.

Senti meu rosto queimar e sorri meio sem graça. Killian logo mudou de assunto e ofereceu suco aos recém-chegados. Gold caminhava pela casa, enquanto que Bae se sentou à mesa da cozinha e conversava com o tio.

– Você disse que está saindo a negócios? – perguntou Gancho a Gold – Por quanto tempo?

– Oh sim, encontrei um caso interessante pelas redondezas e decidi investigar. Não sei quanto tempo vai levar, mas penso que seria bom o Bae passar um tempo com você.

– Tudo bem. Vamos nos divertir muito, hein garoto? – Killian piscou para Bae e em seguida Gold se despediu e foi embora.

– E o que é que vou fazer o dia todo? – perguntou Bae.

– Oh não se preocupe, nós compramos uma TV.

– É sério? Espere aí, quando foi que você começou a gastar dinheiro?

Soltei uma risada. Pelo visto todo mundo achava que Killian era do tipo avarento, embora ele sempre dissesse que só não era do tipo consumista. Nos sentamos na sala e Bae queria saber como eu acabara virando assistente de um caçador. Contei a história do lobisomem mais uma vez enquanto Gancho foi pra cozinha preparar uma pizza.

– Você disse pizza? – perguntei, me certificando de ter ouvido direito – Desde quando você sabe cozinhar?

– Eu não sei cozinhar – ele riu – Mas você ainda não conhece a pizza Jones e esta eu sei preparar muito bem.

– Pizza Jones? É alguma receita de família?

– É – explicou Bae – A receita passou de geração a geração. Minha mãe dizia que a vovó Helen fazia a melhor pizza do mundo.

– E, felizmente, ela me ensinou a receita – disse Gancho, catando os ingredientes nos armários.

Continuei a conversar com Bae e aproveitei pra perguntar a ele sobre a tal Emma. Sabia que aquela era a mesma mulher que Killian desenhara tantas vezes e agora tinha a curiosidade de saber o que acontecera a ela.

– Ela se casou – Bae disse baixinho, pra que Killian não ouvisse do que falávamos – e teve um filho. Na verdade ela já estava grávida quando trabalhou pro tio Jones, tinha sido abandonada pelo namorado. Aí o tio se apaixonou por ela e queria assumir o filho como se fosse dele.

– Ah, a coisa foi pior do que eu pensava – sussurrei, abismada.

– É, ele era super apaixonado por ela, mas a Emma acabou o desprezando e foi embora. É claro que ela não queria um caçador pra ser pai do filho dela. Depois ela reencontrou o pai da criança, os dois fizeram as pazes e se casaram. Até hoje o tio não a superou, ele diz que não gosta dela mais, mas todo mundo sabe que é mentira.

– Que é que vocês dois tanto cochicham aí? – Gancho perguntou.

– Nada! – Bae e eu respondemos juntos e Killian nos olhou desconfiado, mas não disse mais nada.

***

Killian saiu naquela noite porque Gold precisava da ajuda dele. Bae e eu ficamos em casa, curtindo a nova TV. Era uma TV de 100 polegadas e ocupara tanto espaço que tivemos que retirar alguns sofás da sala. Bae adorou, é claro, já que agora ele poderia jogar videogame naquela tela enorme.

– Sabe de uma coisa? Você ter aparecido foi a melhor coisa que já aconteceu a este lugar – ele disse, enquanto comia uns salgadinhos – O tio Jones nunca compraria uma TV dessas se você não o tivesse convencido.

– Na verdade ele se convenceu sozinho, tudo o que eu fiz foi comprar a TV – eu disse e soltei um longo bocejo.

– Pode ir dormir se quiser, eu também vou me deitar daqui a pouco.

– Tudo bem, mas não vá dormir muito tarde ou o Killian briga comigo.

– Ele não vai brigar com você, ele te adora.

– Ah é? – sorri.

– Você não reparou a forma como ele te olha? – Bae sorriu maroto – Aposto que ele tá a fim de você. Isso é bom, sabe, ele merece alguém melhor do que a Emma.

– Não, ele não gosta de mim – enrubesci. É claro que ele não gostava de mim, quer dizer... por que é que ele ia sentir algo por mim? – Ele é meu patrão e somos amigos. – soltei mais um bocejo – Boa noite! Me chame se precisar.

Não consegui dormir, no entanto. Fiquei pensando em Peter e em meu passado traumatizante. Chorei silenciosamente, agarrada ao travesseiro. Escutei quando Bae entrou no quarto e foi se deitar na cama da baia ao lado. Pensei em Killian e mais uma vez me preocupei com ele. Pensei na vovó e em minhas mentiras. Pensei que aquele seria apenas mais um Natal que eu passava sem meus pais e Peter...

Acabei por dormir e voltei a sonhar com a morte de Peter. Sempre o mesmo sonho, só que a cada vez pior.

A chuva fustigava as janelas do carro e eu dizia a Peter pra tomar cuidado.

“Fique tranqüila, amor”, ele dizia.

“Devíamos parar e esperar a chuva”, eu disse.

Então ele assentia com a cabeça e dizia que ia parar num bar de estrada uns metros mais à frente.

“Tem algo que eu quero te dizer, é muito importante”.

“O que foi?”, eu perguntava, preocupada.

“Eu te amo!”

Então eu ria e lhe dava um beijo na bochecha, “Também te amo”, dizia. E depois vinha o caminhão, havia uma freada brusca e um flash de luz que me cegava brevemente. Aí vinha o baque e sentia meu corpo ser jogado para o lado. Vidros se espatifavam e algo molhado escorria por minha cabeça. Depois disso eu acordava em meio a berros e pranto, mas desta vez o sonho foi diferente.

Ao invés de desmaiar, a Ruby do sonho continuou acordada. Eu chamava por Peter, que caíra por cima do volante. A cabeça dele estava ensangüentada e cacos de vidro se espalhavam por todo lado. A cabine do caminhão se chocara ao lado do Peter e agora o veículo ocupava a rua, com a carroceria caída de lado. A chuva ainda caía com força pela frente aberta do carro, me deixando encharcada.

“Peter! Peter, acorda! Acorda, por favor!”, eu implorava, sacudindo-o. Medo e desespero tomavam conta de mim enquanto me dava conta de que meu namorado estava morto. “Por favor, fala comigo!”

Aí ele se mexeu e levantou a cabeça, olhando pra mim. Soltei um grito ao ver sua face desfigurada e coberta de sangue.

“A culpa é sua, Ruby! Você quis sair de casa. A vovó avisou e você não deu ouvidos a ela. A culpa é sua! Você me matou, Ruby! Por sua culpa, eu estou morto!”

Por mais que eu tivesse consciência de que aquilo era um pesadelo, não conseguia acordar. O Peter do sonho me acusava de tê-lo matado e eu chorava e pedia perdão a ele.

“Eu posso estar morto, mas vou levá-la para o túmulo comigo”, ele dizia, zangado.

Me senti encharcada, mas não era pela chuva. O carro já não estava mais no acostamento, mas afundando num rio caudaloso. Ainda estava presa pelo cinto de segurança e tentava me soltar, enquanto uma grande quantidade de água invadia o carro.

“Nós vamos morrer! Nós vamos nos afogar!”, gritava desesperada e Peter gargalhava.

A água se tingiu de sangue e já chegava ao meu pescoço. Ainda tentava tirar o cinto, sem sucesso. Comecei a gritar por socorro e então ouvi a voz de Killian vindo de algum lugar acima do rio.

“Ruby, me dê sua mão, me dê sua mão!”

“Não consigo, estou presa!”

“Eu já estou indo! Eu vou te salvar!”

Então olhei para o lado pra dizer a Peter que íamos ficar bem. Não encontrei Peter, no entanto, mas Milah. Ela tinha dois furos no pescoço e sangue escorria por eles, empapando sua roupa.

“O Killian não conseguiu me salvar”, ela choramingava “Meu filho vai ficar órfão, meu pobre filhinho...”.

E então as águas cobriram o carro e me debati tentando me salvar. Alguém me chamava, mas não conseguia responder. Eu estava morrendo e Killian não aparecia pra me salvar. Por fim, acordei com Baelfire me sacudindo.

– Ruby! Ruby! Acorda! – ele me encarava assustado e ainda com cara de sono – Meu Deus, que foi que aconteceu? Você estava gritando!

– Estava? – consegui me sentar, ainda trêmula pelo susto que levara. Aquilo fora tão real que realmente achara que estava me afogando. Meu cobertor se enrolara às minhas pernas e eu estava encharcada por suor.

– Sim. Estava berrando, na verdade.

– Foi só um pesadelo, Bae – disse, ofegante – Tá tudo bem. Pode voltar a dormir.

Ele hesitou, mas acabou por voltar a dormir, tão cansado que estava. Desenrolei o cobertor de minhas pernas e me levantei com dificuldade. Eram pouco mais de meia-noite. Resolvi descer para a cozinha e preparar um chá, aquilo sempre me ajudava quando tinha um pesadelo.

Coloquei um robe de seda por cima da camisola e caminhei na direção do elevador. No entanto, pensei duas vezes antes de entrar naquela coisa e apertar o botão do quinto andar. Imaginei o elevador caindo comigo lá dentro. Não sei por que pensei isso, mas acho que fiquei meio paranóica depois daquele pesadelo. Acabei usando a escada, era mais seguro.

Estava sentada à mesa da cozinha e bebericando meu chá quando Killian chegou. Eu devia estar com uma cara horrível porque ele me olhou preocupado.

– Você está bem?

– Não... tive um pesadelo.

– Ah, coitadinha! – ele veio até mim e acariciou meu rosto, depois me abraçou – Tá tudo bem agora, eu estou aqui.

Ele se sentou ao meu lado e acariciou minha mão. Ainda estava um pouco trêmula, mas me sentia mais segura com Gancho por perto.

– E então, como foi a caçada com Gold? – perguntei, tomando o resto de meu chá.

– Normal. Você sabe, cheia de sangue, morte, sangue e mais... sangue.

Soltei uma risadinha e ele sorriu pra mim. Me levantei pra depositar a xícara na pia e quando me virei Gancho estava parado atrás de mim. Acabamos nos chocando e ele me segurou antes que eu caísse.

– Me desculpe! – disse, me afastando dele – Bom, acho que vou voltar a dormir. Boa noite!

– Espere! – ele me segurou pelo braço – Você não está nada bem, é melhor ficar comigo.

– Não, tá tudo bem – sorri – Você está cansado e precisa dormir. Eu vou ficar bem.

– Então é melhor você dormir comigo, assim posso cuidar de você – ele sorriu daquele jeito encantador que fazia qualquer mulher suspirar. O encarei por um momento, esquecendo-me do pesadelo, e de Peter, e do mundo.

– Ah... – Não sabia o que dizer. Killian Jones querendo compartilhar sua cama? Bem, não parecia certo, ele é meu patrão... – Não, não precisa. Eu estou bem, de verdade.

– Tem certeza? – seus olhos azuis brilhavam e eu queria me afastar, mas não conseguia. O que o Jones estava causando em mim? Por que eu sentia essas coisas? Por que me sentia tão atraída por ele? Ele pegou meu rosto com as duas mãos e sorriu de um jeito carinhoso – Eu me preocupo com você, Ruby. Não quero que nada de ruim lhe aconteça.

– Eu sei... – sorri meio envergonhada com essa nossa aproximação. Minha vontade era beijá-lo, mas temia que ele me achasse muito atirada. – Obrigada por se preocupar comigo, mas eu estou mesmo cansada, preciso dormir.

Ele me soltou e bocejei, subitamente me sentindo muito cansada. Minha vontade era desabar no sofá e só acordar na manhã seguinte, mas temia ser atormentada por uma nova onda de pesadelos.

– Sabe, eu estou com medo – confessei – Estou com medo de dormir e acabar enlouquecida por esses pesadelos horríveis.

Ele me puxou pra um abraço e por um momento me senti protegida. Adorava a sensação de ter um homem cuidando de mim. Eu sentia muita falta disso.

– Eu estou aqui com você – Gancho se afastou pra me olhar. Ele parecia mais carinhoso do que de costume. Estranhei um pouco, mas estava gostando disso. – Não precisa ter medo, amor.

Amor? Ninguém me chamava assim há anos. Senti meu rosto corar e Killian percebeu, porque soltou uma risadinha. Só então me lembrei de que estava na frente de meu patrão, usando apenas uma camisola. Seu olhar se demorou em minhas pernas descobertas e puxei mais o robe, tentando me cobrir. O encarei e ele tinha um sorriso safado no rosto.

– Você é linda, Ruby. E estou louco pra beijar essa sua boca.

Arregalei meus olhos, surpresa. Antes que eu tivesse tempo de entender o que acontecia, Gancho me puxou pra um beijo de tirar o fôlego. Eu o puxei pra mais perto de mim, sem nem pensar no que estava fazendo. Nos separamos quando o ar faltou e senti o rubor invadir meu rosto. Encarei o chão, completamente sem graça.

– Eu queria fazer isso há algum tempo – ele disse, pegando meu queixo e me forçando a olhá-lo – Eu me sinto sozinho o tempo todo... E depois da Emma, achei que nunca mais fosse me apaixonar.

O que ele estava dizendo? Ele estava... estava apaixonado por mim?!

– Você é diferente das outras, Ruby – ele continuou – Tão corajosa, mas ao mesmo tempo tão inocente... Eu nunca conheci uma criatura tão extraordinária como você.

Sorri. Ele me puxou pra outro beijo e me dei ao luxo de aproveitar o momento. Killian Jones era simplesmente incrível! Eu conhecera homens incríveis antes, mas nenhum se comparava a ele. Eu não sabia explicar, apenas adorava aquele jeito dele.

Comecei a perceber que havia algo de errado, porém. Killian começou a me agarrar e eu tentava sair de seus braços, mas ele me prensara contra os balcões da cozinha. Acontece que o Killian que eu conheço jamais me agarraria daquele jeito. Eu quero dizer, nós não éramos tão íntimos assim e eu não havia dado a ele aquele direito. Ele começou a enfiar a mão dentro de meu robe, tentando tirá-lo de mim. Acabou conseguindo deslizá-lo por meus ombros, de modo que as alças de minha camisola ficaram à vista. Beijou um de meus ombros e em seguida meu pescoço. Eu estava demasiado assustada com aquela situação. Por fim consegui empurrá-lo e ajeitei minha roupa.

– O que está fazendo? – questionei, mais brava do que envergonhada.

– Pensei que estivesse gostando – ele parecia um tanto inconformado.

Balancei a cabeça, desaprovando sua atitude. Caminhei em direção ao elevador e ele me segurou pelo braço.

– Me larga, Killian!

– Eu quero você! – ele me puxou pra mais perto e tentou me agarrar – Eu quero você, Ruby!

– Não! Sai! - eu me debatia, mas ele me segurava com força – Para, Killian!

Eu não sabia nenhum golpe de defesa, mas acabei lhe dando um chute nas “partes baixas”. Ele se dobrou ao meio, gemendo de dor.

– Ah meu Deus, me desculpe! Eu não devia ter feito isso!

Em resposta, ele me deu um tabefe na cara e cambaleei para o lado. Me apoiei ao balcão e não tive tempo de entender mais nada. No segundo seguinte, senti uma pancada forte na cabeça e então tudo escureceu...

***

Minha cabeça latejava e eu piscava tentando focar alguma coisa. Meu corpo inteiro doía e parecia que eu tinha sido pisada por uma manada de elefantes. Gemi e me remexi na cadeira dura na qual estava sentada, foi com desespero que descobri que estava com os pés e os braços atados. Algo molhado escorria por meu rosto e havia um pano enfiado em minha boca, me impedindo de gritar. Olhei para o lado e vi Baelfire, também amarrado e amordaçado. Ele trazia um olhar aterrorizado no rosto, mas fora isso parecia bem.

– Hmmmm! – tentei gritar, mas tudo o que saiu foi um grunhido abafado.

– Shhh! Quietinha! – veio a voz de Killian – Não vai querer se machucar ainda mais.

Ele apareceu em meu campo visual e subitamente senti um ódio por aquele homem. Como ele podia fazer aquilo comigo? Com Bae? Me debati na cadeira, tentando me soltar. Minha vontade era bater nele, mas não havia nada que pudesse fazer. Os olhos dele tinham um brilho diferente e logo vi que aquele não podia ser Killian Jones. Aquele só podia ser o gêmeo maligno de Gancho. Eu sei, era uma teoria meio bizarra, mas a única coisa que fazia sentido pra mim no momento.

– Eu tentei, Ruby – ele veio até mim e se curvou, de modo que seu rosto estava bem próximo do meu – mas você me ignorou. Tudo o que eu queria era um pouco de carinho... Não precisava ser desse jeito.

Estremeci. Aquele com certeza não era nenhum gêmeo do Killian, pensei. Ele se fizera passar por Gancho, mas sabia muita coisa sobre mim e muita coisa sobre Killian. Como isso era possível? Será que meu patrão sofria de transtorno de personalidade múltipla e eu não sabia?

– Tudo o que eu preciso é de um pouco de calor humano, amor, afeto... – ele segurava uma faca, que reconheci como sendo uma das facas de caça que Killian sempre guardava no porta-malas de seu carro. Soltei outro grunhido, amedrontada. Ele acariciou meu rosto – Eu vou lhe tirar a mordaça, mas se gritar serei obrigado a lhe machucar.

Assim ele o fez e soltei uma lufada de ar tão logo me vi livre daquele pano.

– Por que está fazendo isso? – choraminguei, as lágrimas escorrendo por meu rosto – Por que, Killian? O que foi que eu fiz pra você? E o Bae... ele é seu sobrinho, Killian...

– Eu já disse, não precisava ser assim, você só complicou as coisas.

– Por favor, deixe o menino ir...

– NINGUÉM VAI SAIR DAQUI HOJE! – ele me deu um tabefe na cara. Acabei por me dar conta de que a coisa que escorria por meu rosto era sangue. Agora também tinha um ferimento no lábio – VOCÊS ME ACHAM IDIOTA? HÃ?! ME DIZ, VOCÊ ME ACHA IDIOTA?

– N-não...

Ele segurou meu rosto com força, me forçando a olhar pra ele.

– NINGUÉM VAI SAIR DAQUI HOJE. VOCÊS VÃO MORRER AQUI!

Ele gargalhou e recolocou a minha mordaça. Eu tremia e tentava soltar minhas mãos, mas estavam firmemente presas aos braços da cadeira. Killian me deu outro tabefe, e mais outro, e outro, e outro. Meus soluços eram abafados pela mordaça e sangue corria por meu rosto. Por fim ele se cansou de me bater, apanhou a faca e a apontou perigosamente em minha direção. Eu ia morrer ali. Eu ia morrer sem entender o que estava acontecendo.

– Ah, não me olhe assim – ele riu. Eu geralmente adorava o som de sua risada, mas agora odiava o fato de ele agir como um doido varrido. Ele apertou a faca contra meu antebraço e fez um pequeno rasgo no mesmo. Soltei um grito e ele apenas gargalhou. Ficou por ali, contemplando o sangue que escorria por meu braço.

Bae chorava e fez um som com a boca, como que chamando a atenção do tio. Killian se virou para olhá-lo e entendi que o garoto estava tentando me defender ao chamar a atenção do homem para si.

– Você é o próximo, garoto, não se preocupe – Gancho sorriu. Voltou-se para mim – Sabe, eu te achei bonita tão logo botei meus olhos em você. – ele ergueu a mão pra tocar meu rosto e tentei me afastar, mas ele me segurou pelo queixo – Quando você aceitou o emprego de assistente, achei que era minha chance de me apaixonar de novo. Mas você não consegue esquecer o Peter, não é? – aí ele assumiu um tom mais violento – Que foi que ele já fez por você, afinal? Hã?! O que ele tinha que eu não tenho? Você não me acha bonito e atraente? Olhe pra mim, Ruby, olhe pra mim! Vê isto? Eu sou um homem! Um verdadeiro homem. Peter não passava de um maricas.

Fechei os olhos. Não queria mais ouvir aquilo, não queria ter que olhar pra ele e ver o que ele se tornara. Desejei que aquilo fosse mais um de meus pesadelos e que acabasse logo. Estava bem acordada, no entanto. A dor que eu sentia era real, o medo era real, o terror estampado no rosto de Baelfire também era real.

– Por que é que ninguém consegue me amar? – ele continuou, ainda agressivo. Caminhava de um lado para o outro com a faca na mão – Primeiro a Emma Swan. Swan, ah Swan... Eu ofereci a ela um teto, lhe dei todo meu amor e carinho, e pra quê? PRA QUÊ?! PRA ELA ME IGNORAR E SE CASAR COM AQUELE PANACA – ele atirou um jarro de vidro contra a parede – AQUELA INGRATA! Eu fiz tudo por ela, TUDO! E o que foi que ela fez? Como foi que ela me agradeceu? ELA SE CASOU COM ELE! E agora você... a doce Ruby... a garota mais linda que já vi na vida... Confesso que estou decepcionado, Ruby. Eu não esperava que fosse assim, não esperava mesmo...

Ele me encarava e eu só conseguia chorar silenciosamente. Então era disso que se tratava? Ele se sentia ignorado? Mas nada daquilo parecia certo, eu não entendia... Ele era o Killian, mas não agia como Killian. Guardava mágoas em seu interior, no entanto. Emma Swan fora sua grande paixão e pelo visto ele ainda não superara isso. Mas e eu? Eu não o ignorara, apenas o afastara quando ele tentara me agarrar. Aquilo estava tão confuso!

O telefone tocou e Gancho se assustou. Ele se aproximou e espiou o identificador de chamadas.

– Regina...

Ele acabou por ignorar o telefone, que parou de tocar depois de um tempo. Gancho apanhou uma garrafa de uísque em um dos armários da cozinha e bebeu direto do gargalo. Bae e eu trocamos um olhar assustado e pude ver nos olhos do garoto o quanto ele estava confuso. Algo de muito estranho estava acontecendo ali. Killian fuçava os armários e parecia ter se esquecido de nós. Eu tentava soltar minhas mãos, mas as cordas que a prendiam estavam muito apertadas. Gancho acabou por largar a garrafa em cima da mesa e caminhou na direção do banheiro, murmurando que tinha que fazer xixi.

Eu realmente pensei que aquele era o fim. Meu braço ainda sangrava muito, embora o corte não tivesse sido tão profundo assim. Bae se remexia na cadeira, tentando libertar seus braços, e eu o imitei. Nenhum de nós obteve sucesso, no entanto. Acabamos por ouvir o barulho do elevador e respirei aliviada. Branca apareceu e arregalou os olhos quando nos viu naquele estado. Eu lhe lancei um olhar desesperado e em seguida olhei na direção do banheiro. Ela entendeu que nosso agressor estava ali e se escondeu a um canto, por trás de uma das estantes.

– Agora que me aliviei, podemos continuar o que começamos – Gancho saiu do banheiro e pelo canto dos olhos vi a expressão de descrença de Mary Margaret. Killian puxou minha cadeira bruscamente, me virando de lado, de modo que Bae não pudesse ver meu rosto – Vou poupar o garoto de assistir essa cena – ele apanhou a faca que largara no balcão – Você tem algo a dizer antes que eu a mate?

Assenti com a cabeça. Não consegui pensar em nada, mas tinha que dar algum tempo a Mary Margaret. Percebi que ela digitava algo no celular e imaginei que estivesse ligando pra polícia. Killian tirou minha mordaça depois de mais uma vez me dizer pra não gritar ou as coisas ficariam piores pra mim.

– Killian... – eu comecei, meio sem saber o que dizer. Lembrei-me de ter lido sobre um estado psicológico chamado Síndrome de Estocolmo, em que por vezes vitimas de seqüestro acabavam por simpatizar com seus seqüestradores. É claro que eu já não simpatizava com Killian, mas precisava convencê-lo de que tinha sentimentos por ele, ou acabaria morta. Era um meio de me proteger dele e conseguir nossa libertação – Aquela hora eu me afastei de você porque estava com medo. Você sabe, eu não tive ninguém depois do Peter e... e eu ainda tenho medo de me relacionar e acabar sozinha de novo. A verdade é que estou me apaixonando por você e aquele beijo... – sorri forçadamente, tentando parecer convincente em minha mentira – Eu gostei daquele beijo. Vamos esquecer isso e começar de novo. Eu posso ser melhor do que a Emma... eu posso te dar todo o carinho que você precisa...

Ele me olhava e poderia dizer que o sensibilizara com meu discurso. Ele pensou por um tempo, então sorriu, se curvou e pegou meu rosto com as duas mãos.

– Me desculpe, meu amor. Me desculpe...

Não sei como consegui convencê-lo, só sei que ele tomou meus lábios num beijo urgente. Ele se afastou de mim bruscamente e arregalei os olhos ao ver Mary Margaret dependurada nas costas dele, prendendo-o numa gravata. Gancho tentava se soltar e deu uma cotovelada no estômago de Branca, que cambaleou pra trás. Ele se virou para agarrá-la, mas ela era menor e mais ágil e lhe socou o rosto, empurrando-o em direção à mesa da cozinha. Não tive tempo de absorver a cena, só vi que Branca socava a cabeça dele na mesa. Gancho mais uma vez conseguiu se desvencilhar dela e lhe deu um tabefe na cara, mandando-a para o chão. Mary soltou um gemido e, num movimento rápido, enfiou a mão em sua bolsa caída ali perto e tirou um revolver de lá de dentro. O barulho ensurdecedor dos tiros ecoou pelo andar e um deles acertou Gancho. Ele fugiu pela escada e Mary se levantou, ofegante.

– Ruby! – correu até mim e me olhou, completamente chocada – Mas que foi que aconteceu aqui? O Killian enlouqueceu?

– Eu não sei! – choraminguei, mais trêmula do que gelatina – Ele simplesmente me atacou e me amarrou aqui...

– Fique calma! – ela desamarrou meus braços e me abraçou quando comecei a chorar histericamente – Shhh! Está tudo bem agora, está tudo bem... – ela terminou de me soltar e foi desamarrar Bae, que não estava machucado, mas muito assustado – David está na garagem e deve ter parado o Killian, eu mandei uma mensagem dizendo pra ele ficar a postos.

– O que aconteceu com o tio? – Bae perguntou, num fio de voz – Acordei com ele me sacudindo e ele simplesmente me arrastou até aqui e me amarrou. Quando eu vi o que ele fez com a Ruby... Só sei que aquele não parece meu tio... não é meu tio Jones, eu sei que não.

– Algo de muito ruim aconteceu ao verdadeiro Killian – falou Branca, terminando de soltar Bae – Ele tem agido estranho ultimamente?

Explicamos que ele agira como de costume e que tínhamos nos divertido naquele dia. Não entendíamos o que acontecera. Disse a Mary que Killian saíra pra encontrar Gold e contei o que acontecera quando ele voltara e me encontrara na cozinha. Ela ouviu atentamente e tentava formular uma hipótese, mas acabou mais confusa do que eu.

– Depois pensamos nisso, a Ruby precisa ir a um hospital – ela disse.

Eu lavara meus ferimentos e enrolara uma faixa em meu corte no braço, de forma que agora ele não sangrava mais. Me sentia péssima, assustada, retalhada, mas não tinha ânimo algum de ir a um hospital a esta hora. Os médicos provavelmente fariam um monte de perguntas e chamariam a polícia pra apurar o caso se eu dissesse que fora espancada. Não, de jeito nenhum, não queria aquilo.

– Eu não vou! – disse com firmeza e Mary abriu a boca pra contestar, mas não permiti que ela falasse – O David já não devia ter subido?

– Ele deve estar cuidando do Killian – ela disse, despreocupada. Apanhou o celular e ligou para o marido, que não atendeu – É melhor eu ir ver o que está acontecendo. Bae, cuide da Ruby.

– Você está bem, Bae? – perguntei depois de uns instantes – Eu quero dizer, você está bem, apesar de tudo? Ele te machucou?

– Não – ele balançou a cabeça – Ele só me deu um tapa, nada de mais... Eu estava pensando numa teoria...

Ele hesitou e o incentivei a continuar. Colocava uma bolsa de gelo no rosto pra amenizar a dor e acabei por me esparramar no sofá.

– Meu pai estava investigando este caso e não sabia bem o que era. Ele leu uma notícia sobre uma mulher que apanhou do marido...

Neste momento Mary saiu do elevador, esbaforida e preocupada.

– Que foi? – perguntei, assustada.

– David sumiu! O carro sumiu e ele não atende o celular. O Killian seqüestrou o David!


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