'Til We Die escrita por Mrs Jones


Capítulo 14
Bizarrices & Romantismo


Notas iniciais do capítulo

Hey people! Que saudades de vocês haha Eu sei, estou suuuuper atrasada com as fics e, inclusive, tinha prometido postar a Capitão Pirata até o fim de Janeiro, mas acabei não cumprindo a promessa. Me perdoem, tive uns imprevistos e minha vida tá uma correria, agora que comecei a faculdade. Mas vou dar jeito de postar sempre, provavelmente nos fins de semana. O próximo deve sair no Carnaval, mas não prometo nada. Algumas partes desse capítulo foram escritas numa van em movimento, então me desculpem qualquer erro kkkkk Não tive tempo de revisar direito. Esse não está muito interessante, mas acho que vão gostar, agora que nosso casal preferido se assumiu haha Acho que não tenho muito o que falar, só peço que tenham paciência, uma hora os capítulos vão sair, não entrem em desespero (viu Ana? kkkk) Enfim. Espero que gostem, beijos e até a próxima



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Estremeci com a respiração em meu pescoço. Abri os olhos e vislumbrei a nesga de luz que entrava por uma fresta nas cortinas fechadas. Pisquei e tornei a fechar os olhos, ainda meio sonolenta. A respiração de Gancho me fazia cócegas e seu braço direito estava caído em minha cintura. Sorri ao senti-lo me apertar mais de encontro ao seu corpo. Seu peito descoberto irradiava calor e eu só pensava em ficar ali para sempre, no aconchego de seus braços.

Dormíramos abraçados na cama de casal do quarto de hóspedes das Beauchamp. Eu sei o que está pensando... Nós não fizemos nada, já vou esclarecendo. Apenas nos beijamos e trocamos carícias inocentes. E então dormimos juntos, porque não havia outra cama disponível e eu não ia deixar Gancho no sofá. Não depois daquela declaração...

Estávamos completamente apaixonados um pelo outro. Eu o amava muito, apesar de não ter a coragem necessária para confessar. Sempre o amei, desde a noite em que nos conhecêramos (quando ele me salvara de ser morta por um lobisomem) e hoje posso admitir isso. O desconhecido que caçava lobisomens na chuva e usava delineador me atraíra desde o início, eu só precisei de algum tempo pra entender o que realmente sentia por ele.

Killian se apaixonara por mim bem antes de nos conhecermos, ele me contara na noite anterior.

– Eu me apaixonei logo que botei meus olhos em você – sorrira, afastando meus cabelos para o lado – Eu nunca te contei isso, mas...

– Mas...? – eu o incentivei a continuar. Ele devia estar envergonhado ou com medo de minha reação.

– Eu já tinha te visto antes, na lanchonete em que trabalhava. – confessara, para minha surpresa – Estive investigando aquela área uma noite antes de você quase ser morta pelo lobisomem. Vi você quando estacionei em frente à lanchonete, andava de um lado pro outro, servindo os clientes. Pensei em entrar lá e pedir um sanduíche, mas desisti quando vi seu sorriso... Eu me apaixonei por ele e sabia que nunca mais conseguiria te esquecer... Depois vi quando foi embora sozinha, descendo a rua. Não sei por que, mas você mexeu comigo...

– Ah Killian... – sorrira feito boba, agarrando suas mãos – Por que nunca me contou?

– Não queria que você soubesse que eu fiquei te paquerando – ele sorrira envergonhado (ainda ficava impressionada por vê-lo enrubescer) – Achei que nunca mais fosse te ver depois daquela noite, mas o destino acabou nos unindo.

– Agora me diz uma coisa: você me ofereceu o emprego por que sabia que eu seria uma boa assistente ou por que já estava interessado em mim?

– Os dois – ele sorriu daquele jeito safado que eu adorava – Eu não tinha certeza de que seria uma boa assistente, mas resolvi dar uma oportunidade a nós dois. Vi em você uma oportunidade de ser feliz, porque sabia que ia alegrar meus dias...

– Sabia? – abri um sorriso enorme, toda boba.

– É claro! No momento em que você acordou no meu apartamento e começou a fazer perguntas eu soube. A Emma era uma ótima assistente, mas nunca foi tão engraçada, curiosa e animada quanto você. Nem tão boa cozinheira.

Conversáramos por horas, deitados um ao lado do outro na semi-escuridão do quarto. Eu estava imensamente feliz, embora um pouco insegura. Quem poderia dizer que aquilo iria durar? Já estava acostumada às catástrofes em minha vida e temia que Gancho fosse tirado de mim, como Peter foi. Não pensei muito nisso, no entanto.

– Bom dia, Ruby-Loob! – ouvi sua voz, levemente pesada pelo sono, sussurrar em meu ouvido. Ele me abraçou com mais força e me beijou na bochecha – Achei que estivesse sonhando, mas se você está aqui comigo, então esse sonho é real.

Ri e me virei de modo que ficasse de frente pra ele. Depositei um beijo carinhoso em seus lábios, vendo-o sorrir alegremente.

– Se for um sonho, não quero que acabe nunca – sussurrei.

As cortinas esvoaçaram e um facho de luz invadiu o quarto, nos cegando por breves instantes. Ouvimos batidinhas na porta e a voz de Regina, querendo saber se já estávamos de pé. Gancho se livrou do lençol que nos cobria e foi ver o que a Rainha Má queria.

– Só vim verificar se ainda estão vivos – disse ela, enfiando a cabeça pela abertura da porta e sorrindo maliciosa ao me ver sentada na cama, usando apenas uma blusa grande como camisola. – Joanna me mandou avisar que o café da manhã está pronto.

– Já estamos indo – Killian bocejou, espreguiçando. – Vamos, Ruby-Loob, estou faminto!

Apanhei um vestidinho vermelho de verão na mala e me vesti em questão de segundos. Calcei minhas sapatilhas vermelhas e desci com Gancho para a cozinha. As Beauchamp já estavam reunidas ali e sorriram maliciosas ao nos ver de braços dados.

– Como foi a noite romântica do casal? – Freya perguntou sem rodeios, nos envergonhando.

– Nós não fizemos nada, se é o que está perguntando – Killian puxou a cadeira pra que eu me sentasse, em seguida ocupou um lugar ao meu lado. – Regis, pode me passar o bule de café?

– Hum, aposto como se agarraram a noite toda – Wendy apanhou um biscoito amanteigado – Em todo caso, fico feliz por terem admitido os sentimentos.

– Bem, seria idiotice se eles não admitissem, esse amor estava escrito nas cartas – riu Freya, que tirara as cartas para Killian na noite anterior. Ele não me deixara ver o que o destino lhe reservava, mas soube que também tirara a carta dos Enamorados.

– Bem, eu ficaria para o café, mas tenho coisas a fazer – Wendy sufocou a mim e Killian num abraço – Foi uma honra tê-los como hóspedes, espero que voltem mais vezes. Oh, e Killian, não me mate uma terceira vez.

– Só pra constar: a primeira vez foi um acidente – ele a derrubara da escada – e a segunda também.

Wendy apenas riu, acenou e se transformou em gato, largando o vestido para trás.

– Ela nunca muda – suspirou Joanna, apanhando o vestido e vendo a gata desaparecer pela porta aberta da cozinha – E então, queridos, quanto tempo vão ficar conosco?

– Oh, na verdade, já estamos de partida – falou Gancho, besuntando geléia num pedaço de pão – Ruby-Loob e eu vamos pra Nova Iorque!

– E eu pra Storybrooke – Regina bebeu um gole de chá – Não se esqueçam, ainda tenho uma cidade para governar.

– Oh, é uma pena terem ficado tão pouco tempo – disse Ingrid, com as mãos nos ombros de Regina – Espero que voltem!

– É claro que eles vão voltar – Joanna depositou uma fornada de pãezinhos na mesa – As portas estão sempre abertas pra vocês e sabem disso. Então, já têm um novo caso em mente ou estão indo a Nova Iorque por diversão?

– Diversão – eu disse – Já corremos riscos demais nos últimos dias e eu já vi eventos sobrenaturais suficientes.

– Já pode escrever um livro – riu Ingrid.

Bem, basicamente, é o que estou fazendo agora.

Quando Killy, Regis e eu nos despedimos das Beauchamp, senti um aperto no coração. Eu mal as conhecia e já sentia como se fossem minha família. Joanna fora como a mãe que eu nunca tive e Ingrid e Freya minhas irmãs. Mais tarde, Gancho confessou sentir o mesmo por elas.

– Nos vemos por aí! – Regina acenou antes de entrar em seu carrão preto – Juízo vocês dois!

– Você também, Regininha! Cuidado com o excesso de álcool! – Gancho gritou pra ela e recebeu um dedo do meio como resposta.

Rimos ao entrar no Impala e acenamos ao deixar a casa das Beauchamp para trás. Tagarelamos por todo o caminho até Nova Iorque, o que só levou umas duas horas, já que East End era bem próxima da Cidade Que Nunca Dorme.

Pegamos um engarrafamento de quinze minutos, o que nos atrasou um pouco. Killian já estava impaciente, mas o incentivei a contar uma de suas piadas, apenas para acalmá-lo.

– Eu conheço quase todos os pontos turísticos daqui, posso ser seu guia - disse ele, quando o trânsito finalmente começou a fluir – Podemos começar por Manhattan, você vai adorar.

Assenti com a cabeça, prestando atenção à multidão que lotava as calçadas. Passamos por grupos de punks, tribos de hippies, executivos, vendedores ambulantes, góticos, estudantes, entre outros. Os típicos táxis amarelos eram vistos aos montes e disse a Killian que queria andar num deles.

– Certo, milady. – ele riu, achando graça de minha visível animação – Teremos tempo para fazer tudo o que quiser.

– Oh, eu quero muito ir ao Central Park. Você vai me levar, não vai? Ah eu preciso ter a sensação de ver aquele lugar ao vivo. E com certeza quero ir a Times Square e ao Museu de História Natural e à Ilha da Liberdade!

New York City era como uma explosão de cores e acontecimentos. Havia muito para ver e absorver. Mal tive tempo de me ater a todos os detalhes. Avistei lojas e marcas conhecidas e, por um momento, fiquei um tanto atordoada pela poluição visual dos letreiros ao longo das avenidas.

– Devia ver o brilho nos seus olhos – riu Gancho – Depois eu sou a criança...

– Ah, Killian, não me enche – ri, batendo em seu braço – Não é sempre que posso me dar ao luxo de viagens como esta. A vovó nunca teve dinheiro para bancar esse tipo de passeio.

– Sabe de uma coisa? A gente devia levá-la na próxima viagem, ela ia adorar.

Concordei, achando a ideia ótima. Seguimos em direção a Manhattan, um dos condados de Nova Iorque.

Killian me surpreendeu ao dar entrada num hotel cinco estrelas, que ficava bem em frente ao Central Park. Embora nos vestíssemos casualmente e parecêssemos pessoas comuns, fomos tratados feito celebridades. Um manobrista do hotel levou o Impala para o estacionamento e, no mesmo momento, funcionários impecavelmente vestidos nos levaram a nosso quarto. Abri a boca ao adentrar a suíte de luxo que Killian nos reservara para aquela noite.

– Ah. Meu. Deus. Não acredito que realmente estamos num hotel cinco estrelas. – parei no meio do quarto, extasiada com o que estava vendo.

– Acostume-se, queridinha - Killian brincou, me abraçando de lado – Esta é só uma das vantagens de ter um patrão rico.

Havia um bar a um canto e Killian já apanhava uma garrafa do uísque mais caro. No centro do quarto, um maravilhoso lustre de cristal me chamava a atenção. A enorme cama de casal ocupava grande parte do espaço e, feito criança, corri até ela e me joguei no colchão macio. Atirei os travesseiros de pena de ganso em Killian e logo começamos uma guerra. Dali a pouco estávamos pulando no colchão e por pouco não quebramos a cama.

– Tem alguém batendo na porta – falei, tentando conter a crise de risos.

Killian fez cara de sério e foi receber um dos funcionários que trazia, imaginem vocês, o champanhe mais caro do mundo. Gancho, riquíssimo como era, deu ao rapaz uma gorjeta de cinquenta dólares. Brindamos e Killian me puxou para um beijo, abraçando-me com carinho.

– Você acha que podemos ser namorados? – ele perguntou, surpreendendo-me mais uma vez.

– Eu...eu não tinha pensando nisso... Eu acho que... é um pouco cedo pra isso – comecei, sem saber como me explicar. Não queria ir rápido demais, ainda estava me acostumando àquela nova situação. Até o dia anterior, éramos apenas amigos. Ainda precisava me acostumar à ideia de ter um relacionamento amoroso.

– Tudo bem, não precisa explicar – ele sorriu compreensivo – Eu entendo. Nós podemos continuar assim, não quero te pressionar a nada.

Sorri de volta, bebericando o champanhe. Bem, poderia ser o mais caro do mundo, mas não me conquistou. Eu realmente não tinha muito estômago para bebidas.

Fui ao banheiro e me deparei com uma banheira de hidromassagem que mais parecia piscina. Era controlada por comandos de voz, assim como o chuveiro e os espelhos, que possuíam acesso a internet. Gancho queria tomar um banho relaxante e, já que havia espaço suficiente para pelo menos umas seis pessoas, resolvemos entrar juntos na banheira. E eu sei o que está pensando... mas nós não tomamos banho como viemos ao mundo.

– Não olhe pra mim – disse a Killian, quando retornei ao banheiro vestida num roupão.

Usava um biquíni vermelho – levara roupas de banho já com intenção de convencer a Killian que me levasse na praia -, mas senti-me envergonhada diante de seu olhar. Ele parecia ansioso ante a possibilidade de me ver num biquíni.

– Feche os olhos – ordenei e ele obedeceu prontamente, rindo e dizendo que eu era uma boba. Tirei o roupão, jogando-o a um canto, e ralhei com Gancho quando ele reabriu os olhos – Killian! Não me olhe! – me encolhi, envergonhada.

– Uh! Você é bem gostosa! – sorriu safado, os olhos grudados a meu corpo.

– Não olhe! – entrei na banheira, atirando água nele – Estou gorda e cheia de celulite!

– E daí? Eu não ligo. Você podia ser modelo, sabia? Linda como é, faria o maior sucesso.

Nem preciso dizer que fiquei tão roxa quanto uma berinjela. Gancho gargalhou e disse que eu não devia ficar tão envergonhada ao receber elogios. Bem, para ele era fácil falar... ele era um poço de autoestima e ficava ainda mais convencido ao ser elogiado.

Conversamos durante um bom tempo e por pouco não cochilei na banheira. Aquela massagem estava divina e, por um momento, pensei em tirar a Selfie da Riqueza, mas não quis fazer isso com Gancho por perto. Saímos da banheira e ele me passou meu roupão, mais uma vez sorrindo safado ao me ver de biquíni.

Almoçamos no restaurante do hotel e tentei recusar as comidas caras que Gancho queria pedir para nós. Senti-me muitíssimo desconfortável naquele ambiente tão chique. Os outros hóspedes pareciam saídos de uma daquelas revistas glamorosas. Não havia uma mulher que não fosse bonita e nenhum homem que não estivesse elegantemente vestido. Senti-me mal por estar usando um simples vestido de verão e Killian, o poço de autoestima, mal se importou por estar usando shorts, regata e tênis gastos.

– Você está bem, Ru? – indagou, notando meu desconforto.

– Eu não gosto desses lugares muito chiques – confessei. Talvez fosse apenas impressão minha, mas achava que todos os olhares estavam voltados em nossa direção. – Estão nos olhando esquisito.

Ele riu e segurou minhas mãos por cima da mesa.

– É claro que estão. Essas velhotas ricas podem ter todo o dinheiro do mundo, mas nunca vão conseguir um corpinho como o seu. Imagine quantas plásticas não fizeram pra ficar com essas caras esticadas... e não se esqueça, maquiagem faz milagres. Elas não são bonitas naturalmente, por isso estão com inveja de você, que é uma verdadeira miss.

– Hum, você só está dizendo isto pra me agradar – ri, feliz com o elogio.

– Não, estou dizendo a verdade. Metade dos homens neste salão está olhando pra você nesse momento e sabe o que estão pensando? “Oh, como eu gostaria que minha mulher tivesse aquele corpinho... no entanto, ela parece uma ameixa seca.”

Soltei uma risada abafada, enquanto Gancho continuava a fazer gracinhas.

– “Oh, que coisa horrenda esta velha sentada à minha frente foi se tornar. Antes, tão bela e graciosa, agora não passa de um maracujazão de gaveta. E pensar que tenho que me deitar todos os dias ao lado desta uva passa das tetas caídas.” – dizia, mudando a voz.

Ri incontrolavelmente, tentando abafar o riso com o guardanapo. Killian continuou com suas imitações, sem se importar com o fato de eu estar quase sem ar.

– “Sortudo aquele rapaz da mesa ao lado, não é mesmo, querida?” – fez, engrossando a voz e depois afinando para imitar uma senhora – “Oh, por que, querido?” – engrossou novamente – “Ora, porque está na companhia de uma bela dama formosa. Eu devo confessar que a trocaria por uma moça daquelas, querida. Que sorriso deslumbrante ela tem e que pernas, uh, que pernas mais torneadas ela tem”.

– Para, Killian! Eu vou molhar as calças...

– “Oh, querido... mas que audácia... como ousa falar de outra mulher na minha frente?” – imitou uma senhora chorando – “Oh, como fui me casar com um homem tão insensível... Pois saiba, seu velhote, que eu o trocaria por aquele rapaz charmoso da mesa ao lado. Oh, isto sim é que um homem, um pedaço de mau caminho...”.

Se não estivesse em meio a pessoas de classe, teria gargalhado estrondosamente, mas consegui me conter. Enxuguei as lágrimas de riso e Gancho ficou sério quando o garçom veio trazendo a entrada: ostras frescas. Torci o nariz para a comida, enquanto Killian me ensinava como degustar aquela iguaria. Me atrapalhei um pouco, mas no fim me comportei educadamente (mal senti o gosto daquela coisa mole, apenas engoli tentando não vomitar). Dali a pouco veio o prato principal: pato com molho de framboesas. E por último a sobremesa, um delicioso crème brûlèe (sobremesa chique feita de creme de leite, ovos, açúcar, baunilha e uma crosta de açúcar queimado).

– Gostou? Este é um dos cardápios mais caros de Manhattan – Killian enxugou os lábios com o guardanapo.

– Gostei do pato e da sobremesa, mas confesso que preferiria algo mais simples. Não precisava gastar tanto dinheiro.

– Só queria que você tivesse uma refeição decente – ele sorriu, segurando minhas mãos – porque você merece tudo do bom e do melhor.

– Killian, não precisa me impressionar, eu ficaria feliz com um simples cachorro-quente.

– Eu sei. Só achei que devíamos comer algo diferente desta vez. Que quer fazer agora?

Ele ainda precisava perguntar?

Fizemos uma longa caminhada pelo Central Park, andando de mãos dadas feito namoradinhos. Gancho aproveitou para fazer seu vlog, que mais tarde ele mostraria aos amigos. Passamos direto pelo zoológico que havia dentro do parque e tive crises de riso ao me lembrar da inesquecível cena de Gancho acorrentado a um banco e Dean e Sam carregando o mesmo.

– Pode rir! – ele fez biquinho, fingindo indignação – Espere só até algo cômico acontecer a você...

Dali pegamos um táxi (foi realmente uma sorte encontrar um que estivesse vago) e percorremos as principais avenidas de Manhattan. Avistamos o Museu Guggenheim, o Museu de Arte Moderna e a Catedral de São Patrício. Descemos no Empire State Building, o maior arranha-céu de Nova Iorque. Quis subir até a plataforma de observação no 102º andar e Gancho nos comprou os ingressos para o tour especial.

– Tem certeza de que quer fazer isso? – ele perguntou, antes de entramos num dos elevadores.

– Claro, por quê?

– Bem, você sabe o que dizem sobre esse prédio...

– Não, não sei.

– Ele é assombrado.

Achei que Killian estava tentando me assustar com essa história. Como é que o Empire State poderia ser assombrado? Ele era visitado diariamente por milhares de pessoas. Mas, pelo visto, eu era muito mais ingênua do que pensava. Gancho me contou que dezenas de pessoas já haviam suicidado, atirando-se das plataformas de observação, sem mencionar os trabalhadores mortos durante a construção do arranha-céu.

– Em julho de 45 o prédio foi atingido por um avião. Onze funcionários morreram, além de três tripulantes da aeronave. Com um histórico de mortes tão extenso, é de se esperar que haja fantasmas vagando por aí. Eu, na verdade, já cacei alguns deles.

Estremeci ante a possibilidade de ver espíritos e Killian riu quando me agarrei a seu braço.

Depois de uma longa subida pelo elevador, saímos na plataforma de observação mais alta, de onde era possível ter uma vista de 360 graus. Anoitecia e pontinhos de luz começavam a aparecer pela cidade. Por todo o andar, pessoas tiravam fotos, conversavam e aproveitavam para tomar um cafezinho – servido por rapazinhos enfiados em smokings. Uma voz feminina saía de caixas de som e I Love New York, da Madonna, tocava ao fundo.

Sejam bem-vindos ao deque de observação 102. Aproximem-se da plataforma envidraçada e apreciem a visão em 360 graus de nossa cidade. Daqui é possível avistar os rios Hudson e East. Vista privilegiada da Estátua da Liberdade, Ponte do Brooklyn e Times Square. O Central Park pode ser inteiramente visualizado. Usem um de nossos binóculos para visão mais nítida e aproximada. Experimentem nosso cafezinho especial como cortesia. Agora são nove horas e trinta e seis minutos. Aproveitem a vista!

A plataforma nos permitia ter a sensação de se estar a trezentos metros de altura com nada além de uma camada de vidro blindado suportando nosso peso. Tive vertigens ao pisar no vidro e olhar para a altura que se encontrava abaixo de nós, mas no fim acabou sendo uma experiência meio louca.

Um professor de arquitetura dava aula a um grupo de alunos ali perto. Um dos guias contava a história do prédio e vez ou outra eu fazia perguntas, enquanto Gancho fotografava tudo.

– É verdade que o prédio é assombrado? – questionei ao guia, que me olhou como se fosse louca.

– Não, não, não, tudo não passa de lenda, minha querida. Os boatos de fantasmas assombrando a estrutura surgiram depois que uma visitante afirmou ter visto o espírito de uma mulher que se atirou daqui de cima após perder o noivo na guerra. É uma triste realidade, mas o Empire já foi muito usado como último recurso, muitas pessoas vêem aqui para suicidar...

Killian e eu trocamos um olhar. Se o guia soubesse que as histórias de fantasmas eram verdadeiras, provavelmente já teria deixado aquele emprego. O homem continuou tagarelando sobre o edifício e mencionou as animações 3D que podíamos ver em algumas janelas. Killian e eu ficamos impressionados com a qualidade das animações, que pareciam reais de tão bem feitas. A ilusão que se tinha era a de que discos voadores passavam lá fora, assim como aves imigrantes, porcos voadores e nuvens de borboletas coloridas. Quando o King Kong urrou ameaçador para os visitantes, foi como se realmente estivéssemos vendo um gorila gigante no topo do prédio.

– Incrível! – Gancho aplaudiu, impressionado – Ainda não sei como conseguem criar imagens tão realistas.

– É a mágica da tecnologia!

Dali seguimos para a Times Square, que à noite ficava toda iluminada. Era um espetáculo de luzes e cores e, querendo ou não, você se rendia ao consumismo, uma vez que era influenciado a entrar em todas as lojas e a comer todas as porcarias disponíveis. Paramos para lanchar na Dunkin’ Donuts e brigamos pra ver quem ia pagar a conta. Gancho acabou por ganhar a briga e pagou pelas rosquinhas açucaradas e milk-shakes de chocolate que pedíramos.

– O homem sempre paga a conta, você já devia saber – disse ele, lambendo os dedos melados.

– Não seja idiota, estamos no século XXI! – retruquei, revirando os olhos. Talvez você pense que sou idiota por querer pagar por minha própria comida, mas eu apenas penso que nenhuma mulher deve viver à custa de um homem – Nós, mulheres, não dependemos dos homens pra tudo. Não posso nem pagar minha comida?

– Está bem, Ruby-Loob, você pode nos pagar o lanche da próxima vez – ele concordou, rindo e apertando minhas bochechas.

Saímos para a rua ao ouvir o vozerio de pessoas que se dirigiam ao Empire State. Repórteres surgiram de todos os lados e o trânsito engarrafou por longos minutos. Curiosa como era, quis descobrir o que estava acontecendo. Seguimos os transeuntes que corriam pelas ruas e, quando alcançamos o Empire, nos deparamos com uma multidão que se aglomerara na frente do arranha-céu. Policiais isolavam a calçada, na qual havia lascas de vidro, uma poça de sangue e um corpo envolto por plástico preto.

– Que houve? – Killian perguntou a uma senhora que estava por perto.

– Um homem se atirou do último andar – disse ela, apontando para cima – agora estão dizendo que foi o King Kong quem o jogou de lá de cima.

Bizarro! Mas era o que as pessoas estavam dizendo. Visitantes que estavam na plataforma de observação na hora do ocorrido afirmavam terem visto um gorila gigante enfiar a mão pela janela e agarrar um dos turistas. É claro que ninguém acreditara naquilo, nem mesmo Gancho, que já vira de tudo nesta vida.

– Uma coisa é ser morto por um espantalho ou atacado por animais estressados de zoológico, mas ser morto pelo King Kong... isto já é demais!

– Bem, algo de muito estranho aconteceu. Olhe o tamanho do buraco no vidro – eu notara, virando o pescoço para poder avistar o último andar do colossal arranha-céu.

– Isso pede por uma investigação – Killian sorriu misterioso, querendo insinuar alguma coisa.

– Como espera passar por essa aglomeração de policiais? – botei as mãos na cintura, arqueando as sobrancelhas.

– Ora, não é pra isso que existem identidades falsas?

***

Basicamente, ele se disfarçou como policial do Departamento de Polícia de Nova Iorque. Não sei de onde ele tirou o uniforme e o distintivo, mas imaginei que os tivesse conseguido de caçadores experientes da área. Não participei da investigação, preferi descansar em nossa suíte luxuosa.

É verdade o que estão dizendo, Ruby? – Regina me ligou de Storybrooke, querendo saber se Gancho e eu estávamos bem – O King Kong realmente apareceu no Empire State?

– Gancho e eu achamos que não passa de um boato criado pela imprensa sensacionalista. – respondi, tomando um glorioso banho de banheira – Em todo caso, ele foi investigar pra ver se descobre algo.

– Oh pelo amor de Deus, eu já vi muita coisa bizarra nesta vida, mas um gorila gigante... isto é demais, até pra nós...

Os noticiários não paravam de falar no King Kong, o que estava gerando uma audiência impressionante. Dali a pouco Killian retornou vestido de policial e quase babei ao vê-lo parado no meio do quarto. Ah diabo de homem gostoso!

– Havia um buraco de uns nove metros na plataforma de vidro – falou ele, brincando com o distintivo – Disseram que o vidro era seguro o suficiente para suportar altas temperaturas e até cinco toneladas de peso. Ninguém sabia como explicar aquele buraco, até que se lembraram das câmeras de segurança. Como sou um cara esperto e manipulador, consegui uma cópia das filmagens.

Ele tirou um cartão do bolso (hoje em dia ninguém mais usa pen drive) e o inseriu numa abertura da TV de tela plana – que mais parecia uma tela de cinema. Aceleramos a filmagem e me senti envergonhada ao me ver na gravação. Estava parada sobre a plataforma de vidro, com Killian tirando fotos minhas. Acelerando para minutos mais à frente, chegamos à parte que interessava e o que vimos nos deixou de boca aberta. De fato, as câmeras haviam registrado o momento em que um gorila gigantesco enfiava a mão pela plataforma, espatifando o vidro e causando pânico entre os que estavam lá em cima. A enorme mão agarrou um dos visitantes, puxando o para fora do prédio e, diante dos olhares horrorizados das outras pessoas, deixou o homem cair.

– Isso foi... foi... – tentava encontrar uma palavra que descrevesse o quanto estava abismada.

– Bizarro, inacreditável, impressionante, extraordinário... As autoridades estão tentando abafar a verdade sobre o que aconteceu. O King Kong desapareceu tão rápido quanto surgiu, então é claro que ninguém tem muita ideia de como explicar uma coisa dessas.

– Que criatura pode ter feito aquilo? Eu quero dizer... era um gorila gigante, mas... você acha que aquilo era alguma espécie de coisa sobrenatural ou algo do tipo?

– Eu não sei... – ele se sentou na cama, pensativo – Nunca vi nada parecido. Sinceramente, não sei o que pensar...

Fomos dormir achando aquela história muito estranha. Nos acomodamos na cama confortável e macia e Gancho me envolveu carinhosamente com os braços. Beijei seus lábios levemente e ele aprofundou o beijo, enfiando a língua na minha boca e mordendo meu lábio inferior. Trocamos amassos e tratei de me afastar dele antes que uma coisa levasse à outra.

– Nossa, vai me rejeitar agora? – ele fez biquinho e ri de sua cara de desapontamento.

– Não estou te rejeitando, só estou cansada. – bocejei e depositei um último beijo em sua boca – Boa noite, Killys.

– Boa noite, Ruby-Loob.

Na manhã seguinte, ao acordar, me deparei com uma majestosa mesa de café da manhã. Liguei a TV enquanto comia, esperando encontrar mais um bombardeio de opiniões e teorias sobre o King Kong. Me surpreendi, porém, ao ver uma notícia sobre o Museu de História Natural. Gritei por Gancho, que estava no banheiro, e assistimos enquanto a repórter da CNN narrava o ocorrido.

Guarda-noturno diz que Museu de História Natural cria vida à noite, estava escrito na tela.

–... os funcionários que chegaram aqui pela manhã encontraram o museu completamente revirado. É possível ver representações em cera de personagens históricos jogadas no meio da calçada – a mulher apontava para bonecos de cera caídos na calçada e a câmera focou na movimentação de funcionários que carregavam as peças de volta para o museu – Há vidros quebrados na portaria, além de artefatos antigos destruídos e outros danos que somam um prejuízo de cerca de quinze mil dólares ao museu. O guarda-noturno, o senhor Barry Freeman, afirma que as peças em exposição criaram vida à noite e saíram do museu por conta própria.

– Tudo estava vivo! – Barry afirmou para a câmera. Usava um uniforme azul de guarda-noturno e parecia meio perturbado com tudo o que estava acontecendo – Os bonecos de cera começaram a se mexer e de repente tudo criou vida, como no filme Uma Noite No Museu. Fui perseguido pelo fóssil de dinossauro e Átila, o huno, tentou arrancar meus membros. Me escondi num dos banheiros e nesta manhã, quando os outros funcionários chegaram, tudo tinha voltado ao normal. Acho que eles só criam vida à noite, como no filme. Durante o dia voltam a ser simples peças de museu, porque sabem que estão sendo vistos por todos. É como no filme Toy Story! Quando tem alguém por perto, os brinquedos ficam imóveis, mas quando estão sozinhos, começam a agir feito gente...

– Esse cara é pirado! – comentou Gancho, franzindo a testa.

– Como explica o fato de as peças terem ido parar na rua?

– Ora, pode ter sido trabalho de vândalos. Ou esse guarda é pirado ou tem culpa no cartório.

Não demos muita atenção ao fato. Achávamos que não passava de uma tentativa do guarda de chamar atenção para si. Bem, ele conseguira, mas agora todos diziam que não passava de um lunático (que provavelmente estava sob o efeito de drogas).

Após o café da manhã, saímos para mais um dia de passeio. Através de uma balsa, fizemos a travessia até a Ilha da Liberdade, onde se encontrava a famosa estátua símbolo de Nova Iorque. Horas mais tarde, já de volta à ilha que era Manhattan, almoçamos num restaurante japonês e tive crises de riso com Gancho imitando os japinhas. Depois ainda visitamos o campus da Universidade Columbia, percorremos a Broadway e passamos pelo Upper East Side, o bairro nobre de Manhattan.

No fim da tarde, já cansados, paramos em determinado ponto da Quinta Avenida para tomar um sorvete. Namorei as vitrines das lojas e recusei quando Gancho quis me comprar um sapato vermelho de salto agulha (“Por que você não quer? Vai ficar espetacular num salto desses, pode até desfilar pra mim num showzinho particular...”). A movimentação nas ruas nunca terminava e eu nunca conseguia prestar atenção a todos os detalhes. As pessoas ainda comentavam a bizarrice inexplicável do King Kong no Empire State e a maluquice do guarda do Museu de História, mas os veículos de comunicação já estavam cansados dessas noticias. Agora, outro furo de reportagem abalaria ainda mais a briga entre emissoras concorrentes.

– Que bizarrice aconteceu desta vez? – Gancho perguntou, quando centenas de pessoas começaram a correr pela avenida.

O trânsito novamente engarrafou, conforme um enorme fluxo de gente se dirigia na mesma direção. Caminhamos por alguns metros, até alcançar um ponto da avenida que estivera interditado enquanto trabalhadores faziam manutenção nos esgotos. Pois fora justamente ali que a multidão se concentrara. Consegui me aproximar mais para ver o que acontecia e avistei a tampa aberta do esgoto, por onde policiais entravam. Sirenes vieram de muito longe e dali a pouco duas ambulâncias vinham a toda velocidade, freando bruscamente ao alcançar o local. Paramédicos desceram com macas, pedindo pra que as pessoas se afastassem. Vimos quando um trabalhador foi retirado do subterrâneo, metade do braço esquerdo mutilado.

– Que horror! – botei a mão na boca, nauseada. O braço do pobre homem não passava de um pedaço de carne mastigada. Pele e tecidos balançavam debilmente e pedaços de ossos quebrados se projetavam para fora da carne.

“Que será que aconteceu lá embaixo?”, era a pergunta que não queria calar.

– Oh, eu tenho uma ligeira ideia do que possa ter sido – murmurou Gancho, pensativo. O olhei com um olhar indagador e ele revirou os olhos, como se esperasse que eu chegasse à mesma conclusão que ele – Ah, vamos lá... Qual é uma das lendas urbanas mais clássicas de Nova Iorque?

– Não sei.

– Crocodilos no subterrâneo.

E não é que a coisa ficava cada vez mais bizarra?

***

– Bem, há várias versões diferentes, mas a mais conhecida é a de que os crocodilos teriam sido trazidos da Flórida, como bichinhos de estimação. – explicava Gancho, conforme caminhávamos de volta ao hotel – É claro que depois de um tempo o bicho começa a crescer em proporções gigantescas e então os donos têm que se livrar da coisa.

– Por isso jogaram os filhotes pela privada – disse e ele assentiu.

– Uma vez que desçam pelos encanamentos, caem nos esgotos e passam a viver ali. Conforme o tempo passa, vão crescendo, crescendo, crescendo, até que se tornam feras gigantescas, adaptadas à vida subterrânea.

– Tá, então está me dizendo que a lenda é real e que há crocodilos nos esgotos? Porque isso é tão bizarro quanto um King Kong assassino e um museu que cria vida.

– Isto pede por uma investigação – ele sorriu daquele jeito fofo que eu tanto amava.

– Oh, não... – parei no meio do caminho – Não, não e não! Você não vai descer até lá!

– É claro que vou! – e ele estava falando sério – Vidas estão em risco e não vou permitir que mais inocentes sejam devorados por crocodilos. Sou um caçador e o dever me chama.

– Killian, você não vai! – ergui um dedo autoritário – Tá me ouvindo? Eu o proíbo!

– Tudo bem, mamãe – ele riu debochado, retomando a caminhada.

– É sério! – ri, batendo em seu braço – Estamos aqui para nos divertir. Prometa que não vai se envolver...

Mas é claro, ele conseguiu me convencer. Ele sempre conseguia.

– Escuta, Ru, tem alguma coisa estranha acontecendo por aqui – me segurou pelos ombros, olhando diretamente em meus olhos. – Se há algo ou alguém fazendo estas bizarrices, temos de descobrir.

Ainda discutíamos o assunto quando outra bizarrice se fez acontecer em plena Quinta Avenida.

– É o homem-aranha! – alguém gritou e, no mesmo momento, centenas de olhares se voltaram para cima.

Um borrão vermelho e azul passou voando, indo aterrissar na lateral de um prédio. Era uma pessoa travestida num uniforme de homem-aranha! E esta pessoa estava, literalmente, agarrada à lateral do prédio, a uns cem metros de altura. Eu quero dizer... não havia cordas sustentando seu peso, era como se ele tivesse se grudado à parede com a ajuda de ventosas.

– Tem que haver alguma coisa o sustentando – ouvi Gancho comentar – Talvez uma corda transparente ou algo do tipo.

Mas não havia. Ele se locomovia, pasmem, com a ajuda de teias que saíam de seus pulsos. E isso era muito, muito bizarro. Pra dizer o mínimo.

– Ladrão! Socorro! Socorro! Ladrão!

Um pivete agarrara a bolsa de uma velhinha e agora corria no meio da rua, driblando os carros. O homem aranha se soltou do prédio, voando por cima da avenida e soltando fios de uma teia espessa pelos pulsos, teia esta que se agarrava às superfícies e sustentava seu peso (igualzinho ao que acontecia no filme). Locomovendo-se com agilidade e rapidez, Homem-Aranha alcançou o ladrão, agarrou o vagabundo com a teia (isso mesmo, com a teia) e pasmem, o prendeu a uma árvore. O assaltante parecia um inseto preso na armadilha de uma aranha. O povo aplaudiu, achando tratar-se de um show, e o Aranha devolveu a bolsa à velhinha trêmula e abismada, que o agradeceu com um sorriso. Depois, tão rápido quanto surgiu, Homem-Aranha foi embora, atirando suas teias e se exibindo para o público.

– Explique! – pedi a Gancho, que não acreditava nos próprios olhos.

– Eu posso estar enganado, mas parecia o próprio Peter Parker... – disse ele, me puxando para atravessar a rua.

Entreouvimos comentários de pessoas que haviam presenciado a cena e, a maioria delas, achava ter sido alguma estratégia de marketing para lançamento de um novo filme do Homem-Aranha. Poderia ser, mas tudo fora real demais para ter sido ensaiado.

Nos dirigimos até onde o assaltante se debatia, preso pela teia, e mantivemos distância até que a polícia apareceu para prendê-lo. Tiveram um trabalhão para arrebentar a teia, que era mesmo muito resistente. Depois que a policia foi embora levando o ladrão, Gancho aproximou-se da árvore e, sem nenhuma discrição, examinou os restos de teia que ficaram para trás.

– É de verdade! – exclamou, apanhando a coisa espessa e esbranquiçada – Olha só isso! Eu tenho certeza, é de verdade!

Cheguei à mesma conclusão. Por mais estranho que fosse, devíamos reconhecer: o Homem-Aranha era real!

***

– Temos o King Kong no Empire State – Gancho enfiou uma tachinha vermelha no ponto em que o arranha-céu se encontrava no mapa – O Museu de História Natural que cria vida – uma tachinha verde – o Homem-Aranha na Quinta Avenida – tachinha azul.

– E os crocodilos no subterrâneo, também na Quinta Avenida – coloquei uma tachinha amarela no mapa. – Mas esse é o único que não se encaixa no padrão.

– Exatamente!

– Que padrão? – Regina perguntou, ligeiramente confusa.

– Os três primeiros foram baseados em filmes, o quarto é uma lenda urbana – explicou Killian e Regina fez cara de quem entendera.

– Então, quem quer que esteja fazendo estas coisas, está usando filmes como ideias – disse ela, apoiando o queixo numa mão.

– Exatamente! Filmes que se passam em Nova Iorque. – falei.

– E qual vai ser o próximo? Godzilla? – ela debochou e Killian achou graça.

– É uma possibilidade! Agora nós só precisamos saber: o que está trazendo os filmes à vida? Que criatura poderia ser poderosa o bastante para fazer uma coisa dessas?

– Eu não faço ideia – Regina caminhava pelo quarto, apreciando a decoração chique – Por que não pergunta ao Bobby?

– Eu já tentei, ele não atende o celular, deve estar tratando de algum troço.

– E já tentou contatar os Winchesters?

Gancho fez cara feia e nós duas rimos. Eu bem quisera ligar para os Winchesters, mas Killian não deixara, porque “não precisamos da ajuda daqueles imbecis”. Agora, porém, não conseguíamos pensar em mais ninguém que pudesse nos ajudar naquele caso. Os Winchesters eram muito mais experientes do que Gancho, com certeza saberiam do que se tratava.

– Gold é mais experiente do que todos nós e não soube nos dar uma resposta – falou Killian, ligeiramente desconfortável ante a ideia de pedir ajuda a Dean e Sam – por que acham que os Winchesters vão ser mais inteligentes do que Gold?

– Eles já viram muita coisa e o Sam, aquele garoto é um gênio! – e eu desconfiava que Regina tivesse uma queda pelo grandão – Se há alguém que pode descobrir o que está acontecendo, esse alguém é Sam Winchester!

Killian e eu trocamos um olhar divertido, mas Regis nem percebeu, continuou elogiando o Samuel, fazendo questão de dizer o quanto ele era inteligentíssimo e centrado. Mas Gancho, cabeça-dura como era, resistiu e nos proibiu de tentar falar com Dean, Sam ou Zoe. Sendo assim, a única coisa que podíamos fazer era investigar.

– Um homem teve o braço mutilado e quase morreu! Você-não-vai-descer-lá-embaixo! – repeti pausadamente, quase enfiando o dedo na cara de Gancho, quando ele insinuou que queria descer ao esgoto – Estamos falando de crocodilos! Feras que possuem fileiras de dentes afiados! Você não vai se arriscar lá embaixo!

– Ela nem é minha namorada ainda e já acha que manda em mim – e o maldito ria, sem me levar a sério – Escute aqui, senhorita Lucas, neste momento sou seu patrão e estou mandando você ficar quieta e sair do meu caminho.

– Pois bem, senhor Jones, ficarei quieta e sairei do caminho, mas o acompanharei na investigação – retruquei, os braços cruzados em posição de teimosia.

– Não! Você não vai! Eu vou sozinho e vocês duas vão ficar aqui, bem quietinhas.

– Eu não vou ficar parada aqui enquanto você se arrisca – Regina pôs as mãos na cintura – Se você for, eu vou! Ruby fica!

– Eu não vou ficar aqui sozinha!

– Ah vai sim! Você já se arriscou demais nos últimos dias e não quero perder a confiança que consegui com sua avó, caso algo te aconteça. – Killian andava de um lado para o outro, verificando as armas que carregava numa mochila – Regina também não vai! Vocês vão ficar aqui, conversando sobre assuntos de mulherzinha e comentando a novela.

Gargalhei alto, levando Regis a fazer o mesmo. Pelo visto, era capaz de Gancho nos trancar ali para nos impedir de ir com ele. Troquei um olhar com Regina e, silenciosamente, concordamos em fazer o que Killian queria. Depois que ele saísse, o seguiríamos. Eu não estava nem um pouco a fim de descer num túnel fétido em que moravam crocodilos, mas também não ia permitir que meu homem fizesse isso sozinho.

– Está bem, Gancho! Quer se arriscar, azar o seu! – Regina se sentou na cama e começou a lixar as unhas, feito madame – Eu não estava a fim de me sujar mesmo. Boa sorte com as baratas e ratos.

– Toma cuidado! – o sufoquei num abraço, antes que ele saísse porta afora – Vê se não demora, tá?

– Eu vou ficar bem, amor! – ele afastou meus cabelos e acariciou meu rosto. Depois percebeu que Regina nos observava e me levou pra fora, fechando a porta em seguida – Olha aqui, se algo me acontecer, quero que vá direto pra casa.

– Não vai acontecer nada! Você é um caçador experiente, vai voltar são e salvo. – sorri confiante, acreditando que ele ia voltar pra mim. Porque ele sempre voltava. – Mas volta inteiro, tá? Você viu o que aconteceu àquele pobre homem, então seja cauteloso.

– Tá bem! E você, mocinha, juízo! Sei que a Regina vai colocar besteiras na sua cabecinha, então não vá segui-la se, por um acaso, ela inventar de ir a um show de strippers.

Gargalhamos. De onde é que ele tirava essas ideias? Se bem que Regina tinha cara de safada e eu não duvidava que fosse capaz de ir a um show de strippers. Nos beijamos apaixonadamente e soltei um suspiro quando ele se afastou.

– Até logo, Ruby-Loob! Oh, e providencie um lanchinho gorduroso pra quando eu voltar.

Observei enquanto ele se afastava pelo corredor, a mochila jogada sobre um ombro.

– Killian?

– Hum? – ele se virou para olhar.

– Nós podemos tentar...

– O quê?

– Ser namorados...

Ele abriu um imenso sorriso. Gostara da ideia. Era hora de desapegar do passado, deixar ir embora toda a dor e sofrimento dos últimos tempos. Nos olhamos por um momento, sorrindo bobamente. Killian voltou e me prensou na parede, envolvendo-me num abraço apertado e num beijo de tirar um fôlego. Aquele homem ainda ia me matar...

– Eu amo você, sabia? – sussurrou e, pela primeira vez, fui capaz de admitir.

– Eu te amo mais!


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Notas finais do capítulo

Então, gostaram? Não esqueçam de comentar e fazer uma autora pobre feliz kkkkk Já aproveito pra perguntar: que criaturas vocês querem ver aqui? Aceito sugestões. Se alguém conhecer uma lenda interessante (americana ou brasileira que dê pra adaptar para os Estados Unidos) pode me falar. Ó, já vou avisando: não vai ser fácil pra eles! Tá tudo muito bonitinho, mas as coisas podem mudar... Falo mais nada kkkkk Beijinhos e inté a próxima



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