'Til We Die escrita por Mrs Jones


Capítulo 13
A Vida Em Um Quadro & Morte Às Bruxas Más


Notas iniciais do capítulo

Êêêê finalmente chegou o capítulo que todas esperavam! kkkkk Eu não sei o que vão achar do capítulo completo (sei que poderia ter feito melhor, mas não estou nos meus dias mais inspiradores), mas sei que vão gostar do final, eu amei escrever e confesso, quase chorei kkkkk
Meninas, semana que vem recomeça a ralação. Vou começar a faculdade e não sei se vou ter tempo pra atualizar as fics toda semana, mesmo não trabalhando (sou à toa, só estudo kkkk), mas farei o possível para mantê-las atualizadas. Inclusive, estou planejando duas fics novas (a autora mal dá conta das fics que já tem e ainda inventa mais kkkkk). Eu sei, mal dou conta das fics que já tenho, mas tinha que escrever estas, estou com várias ideias na cabeça e não posso simplesmente desperdiça-lás. Então aguardem que mais pra frente vão ter mais histórias Hooked pra acompanhar. Enfim, não vou tomar muito tempo. Enjoy!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/525639/chapter/13

– Hey, Ruby! – Ingrid estalou os dedos na frente de meus olhos.

Estivera vendo Gancho partir e mal notei que estava estacada no meio da sala, encarando a porta fechada. Pisquei, as irmãs Beauchamp me olhavam com sorrisos marotos.

– Hum, eu sabia que tinha alguma coisa rolando entre vocês, dá pra sentir na sua aura – disse Freya, sorrindo toda boba.

– Dá é? – enrubesci – Ah...bom, talvez eu goste um pouco dele...

– Gostar e amar são coisas diferentes, você sabe – Ingrid saiu em direção à cozinha e a seguimos – E pelo jeito que vocês olham um para o outro, eu diria que se amam...

– Awwww, que fofo! – fez Freya e senti meu rosto queimar – Sabe o que vou fazer? Tirar as cartas!

– Cartas? – franzi a testa.

– As cartas de tarô. – ela voltou à sala, apanhou um pequeno baralho e então se sentou à mesa da cozinha – Tia Wendy sabe interpretá-las melhor, mas eu não fico muito atrás. Podemos descobrir o que o futuro reserva pra você e temos uma vantagem: as cartas preferem ser lidas à noite.

Até as cartas de tarô têm preferência? Essa era nova!

– Será que vocês não poderiam fazer umas mágicas? – pedi, animada ante a possibilidade de vê-las fazendo uns feitiços. Desde que vira Wendy dar asinhas de fada a Gancho, ficara curiosa para ver mais.

– Claro! Vou apanhar o Grimoire! – falou Ingrid, girando nos calcanhares para buscar o que quer que fosse aquele Grimoire (lê-se grimoar).

– E o que é um Grimoire? – indaguei, sentando-me de frente para Freya, que embaralhava as cartas de tarô.

– Nosso livro de feitiços – a voz da irmã mais velha veio de algum lugar da casa – Toda família de bruxos tem o seu.

Oh, confesso, estava adorando aquelas coisas de bruxa. Por um momento, quis também ter um livro de feitiços e habilidade para ler auras e cartas de tarô. E, pensando bem, não seria ruim ter a capacidade de me transformar em gato ou, quem sabe, alguma ave.

– Pronta? – perguntou Freya, ao que assenti. Ela respirou fundo, concentrando-se, então começou a retirar as cartas, distribuindo seis delas na mesa. Duas ficaram no centro, uma sobre a outra, e as outras quatro em volta, formando uma espécie de cruz. Eram elas: Os Enamorados, A Roda da Fortuna, A Morte, A Lua, O Sol e A Torre. – Aaaaah... Os Enamorados! Essa é bem óbvia, significa que você e Gancho estão apaixonados! Há um amor intenso entre vocês!

Não pude deixar de sorrir, mas algo me intrigava. A carta mostrava o desenho de um homem entre duas mulheres e um cupido acima deles, apontando sua flecha para baixo. Perguntei a Freya se aquilo significava outra mulher na vida de Killian, mas ela não soube me responder.

– Acho que não devemos interpretar ao pé da letra – disse ela, fazendo cara de pensativa – É só um desenho, afinal.

– Uma carta pode ter vários significados – Ingrid trazia um livro enorme, pesado e antigo – A carta dos Enamorados, por exemplo, pode indicar problemas de esôfago e fígado.

– Sério? – arqueei as sobrancelhas, sem saber se ela estava brincando ou não.

– Mas vamos pensar na melhor possibilidade – ela sorriu pra mim, depositando o Grimoire sobre a mesa.

– Na possibilidade mais óbvia, você quis dizer – falou Freya, agarrando minhas mãos por cima da mesa – É claro que os dois estão apaixonados... E está estampado na cara dela!

E é claro que eu estava morta de vergonha. Por que era tão difícil admitir meus sentimentos por Gancho? Felizmente, nenhuma das duas fez mais comentários, porque Freya já apontava outra carta.

– A Torre – a figura era de uma torre sendo atingida por raios de sol e se quebrando. Dois homenzinhos caíam dela, o que me fez pensar que talvez significasse uma catástrofe ou coisa assim – Indica uma grande mudança. Transformações estão para acontecer em sua vida e algumas delas podem não ser muito boas, eu teria cuidado se fosse você.

– Freya! – ralhou Ingrid.

– Que foi? Só estou dizendo... Você sabe, A Torre não é uma carta muito boa.

Estremeci, preocupada.

– Catástrofes podem acontecer? – perguntei, pensando em Gancho. Sempre temia pela vida dele, ainda mais depois de ele quase ser morto por elefantes.

– Sim... perdas, imprevistos, problemas... muita coisa ruim pode vir a acontecer, mas nem por isso deve temer por sua vida – Ingrid se sentou ao meu lado, olhando a carta. – Mudanças boas podem vir.

– Okay, próxima carta! Ah... A Roda da Fortuna – Freya apontou a carta com o desenho de uma roda dourada – Sorte, oportunidades e fortuna. Gancho é podre de rico, o que significa que você também vai ser... se casar-se com ele...

Achei graça.

– Sou muito nova pra casar.

– Bem, mas pode acontecer. Hum... essa carta também significa incerteza, mudanças e eventos inesperados.

– Pode haver certa instabilidade, por causa das mudanças – falou Ingrid.

– Isso mesmo – concordou a outra – Mas vamos pensar no melhor: dinheiro. Próxima carta! A Morte... – a figura me assustava, era o desenho de uma caveira segurando uma foice e várias mãos se erguendo na direção dela – Não, não faça essa cara, nem sempre significa coisa ruim. Morte pode ser renascimento, o começo de um novo ciclo. Pode significar transformação, mudança, limpeza...

– Então tudo no meu futuro se resume à mudança? – indaguei, ligeiramente preocupada, porque não havia como saber se essas mudanças eram boas ou ruins e se representariam dificuldades em minha vida.

– Pense nisso como uma coisa boa - Ingrid aconselhou, segurando minha mão – Mudanças podem trazer realizações. Talvez seja hora de bons ventos trazerem coisas boas...

Eu realmente quis acreditar nisso, mas algo me dizia – minha intuição talvez – que coisas muito ruins ainda iriam me acontecer.

– A Lua – Freya apontou para a carta na qual dois cães uivavam para uma meia lua – Instinto! Deve confiar na sua intuição. Há o risco de estar sendo enganada, cuidado!

– Enganada por quem? – me preocupei. Achava aquilo um tanto improvável. Eu nunca me deixaria enganar e não acreditava que alguém pudesse me passar para trás.

– Qualquer um. Não há como saber... Pode ser um relacionamento enganador, mas eu duvido que Killian pudesse lhe fazer isso...

– Relacionamento? Espere aí, vocês estão me dizendo que Gancho e eu entraremos num relacionamento?

– Por que não? – Ingrid riu marota – Vocês já estão apaixonados, é bem provável! Devo lembrar que esta carta também pode indicar tendência para ciúmes... – ela me lançou um olhar sugestivo.

Era muita coisa pra minha cabeça!

– E por fim, O Sol – Freya sorriu e, pelo tamanho do sorriso, percebi que era uma das melhores cartas. O desenho era de um sol brilhante com olhos, boca e nariz. Sob ele, havia dois homenzinhos de cabelos loiros – Júbilo, crescimento, energia, auto-confiança... Você vai ter um período muito bom em sua vida, vai ser feliz. Essa carta traz muitas coisas boas, pode ficar animada!

– Eu me lembro de outro significado para esta carta – a irmã mais velha sorria misteriosa e, por um momento, a mais nova franziu a testa. – Vamos, Freya, você se lembra!

– Ah... gravidez! – Freya bateu a mão na mesa, muitíssimo animada e com os olhinhos brilhando.

– Gravidez?! – arregalei os olhos, surpresa e um pouco assustada – C-como assim? Eu vou ficar grávida? Vocês estão brincando, não é?

– É uma possibilidade! – Freya agarrou minhas mãos, tão animada que parecia que era ela quem teria um filho – Ah que lindo! Estão apaixonados, vão entrar num relacionamento, ser muito felizes e ter um filho!

– Vamos nos casar também? – questionei, completamente aturdida.

– Possivelmente!

Devo ter feito cara de assustada, porque elas me olharam com excesso de preocupação. Ingrid ralhou com Freya por ter tirado as cartas, dizendo que muitas vezes era melhor não saber muito do futuro, e apenas observei enquanto discutiam feito criancinhas.

Eu estava apaixonada, admito. Mas daí a ter um filho com Gancho? Será que era isto mesmo que meu futuro reservava?

– Não fique preocupada – Ingrid me puxou pelas mãos, fazendo com que me levantasse – Não quer dizer que o futuro não possa ser mudado. Mas seu presente é imutável! Você está apaixonada. Não quer dizer que tudo o que dissemos irá acontecer, o futuro se baseia em suas escolhas.

Eu devia me lembrar de não engravidar de Gancho.

Fiquei mais tranqüila, mas não consegui afastar os pensamentos que entupiam minha cabeça. Mal ouvi Freya dizendo que ia trocar de roupa pra pegar seu turno no bar e Ingrid gritando pra que ela se apressasse. No momento, tudo o que eu pensava era: Meu Deus, estou apaixonada por alguém. Parece idiotice, mas depois do Peter... a sensação de amar alguém era maravilhosa!

– Devia ver como seus olhinhos estão brilhando – Ingrid sorria, me observando. Folheava o Grimoire à procura de algum feitiço interessante.

Me aproximei para ver o livro. As páginas eram finíssimas e amareladas, algumas com figuras ilustrativas. Era escrito inteiramente em Latim e me surpreendi quando consegui entender algumas palavras. Pelo visto, as aulas de latim que tivera no ensino médio não tinham sido completamente apagadas de minha memória.

– Oh, este aqui é bem interessante! – ela parou em determinada página, então olhou pra cima e fez um movimento com uma das mãos - Caelum Comburere!

O teto sumiu, de modo que pudemos avistar o céu estrelado e sem nuvens. Fogos de artifício começaram a estourar lá em cima, um verdadeiro show de luzes e cores. Sorria feito criança, maravilhada. Freya desceu a escada correndo, feito furacão.

– Estou pronta! Vamos?

– Ah, eu queria ver mais feitiços – fiz biquinho e elas riram.

– Podemos mostrar outros, só não podemos ficar aqui por muito tempo – Ingrid apanhou sua bolsa de couro no porta-casaco perto da porta – Tia Wendy protegeu a casa, mas se a tal Cora é tão poderosa quanto dizem, pode conseguir entrar.

Saíamos para a varandinha da frente e Freya fechou a porta, dizendo.

Ostium Clausum – e ouvimos o habitual som de uma porta se trancando. Arregalei meus olhos. Aqueles poderes eram um máximo!

– Eu sei o que está pensando – riu Ingrid – No fim das contas, ser uma bruxa até que é bem útil.

– A parte ruim é termos de esconder nossos poderes – suspirou Freya, fazendo cara de quem ia chorar – Eu odeio mentir pro Dash!

– Quem é Dash? – perguntei. Caminhávamos em linha reta, em direção ao centro da cidade.

– Meu noivo! Ele não sabe o que eu sou... e isso é tão... Acho que vou chorar!

– Não seja dramática, Freya – Ingrid olhou pra mim – Não ligue, a Freya é meio emotiva às vezes. Ela anda meio confusa com tudo isso, ainda não nos acostumamos ao fato de sermos bruxas. Vivi vinte e nove anos sem saber que era uma.

– Quantas vidas vocês já tiveram?

– Ih, muitas pra contar! Não nos lembramos das vidas passadas, mas nossa mãe já nos deu à luz um punhado de vezes.

– Coitada! – fez Freya, penalizada – Imagine o quanto ela sofreu até inventarem a cesariana...

– Ela deve ser uma historiadora e tanto – comentei. Se Joanna vivia em nosso mundo há mais de seiscentos anos, então já vira bastante coisa. As irmãs me contaram que a mãe e a tia haviam passado por muito sofrimento ao longo dos anos. Joanna, inclusive, conhecera George Washington, o primeiro presidente dos Estados Unidos. Sem falar que o pai das garotas participara das duas guerras mundiais e sobrevivera para contar história.

Caminhávamos tranquilamente pelas ruas da cidade. East End era muito mais tranqüila do que Seattle e as pessoas costumavam cumprimentar umas às outras, mesmo que não se conhecessem. Por mais que estivesse apreciando nossa pequena caminhada, não deixava de pensar em Gancho. Estariam todos bem?

Mal pensei nele e meu celular tocou. Atendi no terceiro toque, ouvindo a voz tranqüila de Killian do outro lado.

– Tá tudo bem? – perguntei, receosa.

Sim... eu só liguei pra dizer que estamos bem, sei o quanto você se preocupa. – respondeu ele. Pude ouvir Wendy e Joanna discutindo ao fundo. – Ainda não encontramos a Cora, mas fique tranqüila, hoje ela não nos escapa.

– Killian, cuidado!

Você já disse isso um punhado de vezes hoje – riu ele e mesmo sem poder vê-lo, imaginei que estivesse sorrindo feito bobo – Não se preocupe, amor, vou ficar bem. Você e as garotas estão se divertindo?

– Sim, estamos indo encher a cara! – resolvi provocá-lo – Freya vai me apresentar uns amigos do bar que ela trabalha.

Hum... cuidado, não vá ficar com o primeiro cara que te oferecer uma bebida.

– Ciúmes, Killianzinho? – sorri, vitoriosa. Conseguira deixá-lo enciumado

– Claro que não, Ruby-Loob, só não quero que se machuque. Vá se divertir, depois nos falamos.

– Já estão na fase de fazer ciúmes um no outro, é? – riu Freya, enlaçando um braço ao meu – Daqui a pouco estão casados e com uma penca de filhos.

– Deus me livre! Quero aproveitar minha vida antes, não penso em ter filhos por agora.

– Eu penso! E o Dash também. Sabe de uma coisa? Você tem que vir ao meu casamento! Assim que marcarmos a data te enviarei um convite.

Que honra ser convidada para o casamento de uma pessoa que eu mal conhecia, mas já adorava. Eu não imaginava que pudesse conhecer tanta gente e criar tantos vínculos naqueles últimos meses. Gancho me abrira as portas quando me convidara para trabalhar com ele. Ficava pensando em como seriam as coisas se ainda trabalhasse como garçonete. Muito provavelmente, estaria namorando o Billy e convivendo com as loucuras de vovó e Cora, que talvez nunca fosse descoberta.

– Ei, quer ver um truque super legal? – ela me perguntou toda animada e assenti - Tempore Congelata!

O tempo congelou! As pessoas viraram estátuas e os carros pararam bruscamente. Rimos ao ver as expressões de quem encontrávamos no caminho. Um homem congelara em meio a um espirro e podíamos ver as gotículas saindo de seu nariz. Outro congelara bem quando ia caindo, de forma que parecia voar em direção ao chão. Esbarramos num casal que se agarrava no meio da calçada e em criancinhas que corriam de mãos dadas, enquanto a mãe fazia uma expressão zangada por não terem esperado por ela.

Eu, que nunca acreditara na existência de magia, estava adorando aquilo. Freya descongelou o tempo e rimos feito adolescentes loucas quando as pessoas voltaram a se mover. Dali a pouco encontramos o noivo dela, um bonitão de sorriso grande, que estava indo justamente ao Bent Elbow.

– Oh, vão na frente, quero levar Ruby à biblioteca – dissera Ingrid, louca pra me mostrar o lugar em que trabalhava. Ela realmente amava aquela biblioteca e só entendi o porquê quando chegamos lá.

A entrada parecia a de uma casinha com telhado triangular e janelas grandes. O jardim da frente era cheio de plantas e pequenos arvoredos. Subia-se uma escadinha de concreto para alcançar a entrada. Lá dentro, o aroma era uma mistura de poeira e velhice. Fiquei louca pelos livros antigos e fiz questão de folhear os que me interessaram mais.

– No passado, este lugar foi uma botica, pertenceu à nossa família. – explicou ela, caminhando por entre as estantes – Segundo nossa mãe, era muito freqüentada. Vendíamos a cura para todo tipo de doença.

Subimos para uma espécie de segundo andar que não ocupava todo o espaço. De lá de cima dava pra ver o andar de baixo, feito uma varanda. Uma grande janela redonda e cheia de adornos permitia que a luz da lua iluminasse o local. Ingrid me contou que morrera ali uma vez.

– Eu estava apaixonada por alguém que não era bom pra mim. Ele era maligno, mas eu não conseguia enxergar isso, eu o amava. Minha família não o aprovava, por isso decidimos fugir para nos casar. Tia Wendy descobriu e quando tentou me impedir, acabou me jogando daqui de cima sem querer. Depois que morri, Freya também morreu, porque estamos conectadas. Aí mamãe expulsou a Wendy de casa e elas ficaram mais de um século sem se falar.

E eu achando que minha vida é que era complicada...

Seguimos para o Bent Elbow. Duas estátuas de sereia se postavam em cada lado da entrada, o que dava destaque ao estabelecimento, porque era impossível não notar que ele estava ali. O lugar era bem rústico, o que amei logo de cara. Era tranqüilo e acolhedor. Freya trabalhava atrás do balcão, misturando bebidas e encantando a todos com sua beleza. Dash estava por ali e nos convidou a se sentar em sua mesa.

– E então, está apenas de passagem ou veio para morar? – perguntou a mim, após ordenar uma rodada de cerveja.

– De passagem – sorri (era impossível não sorrir para aquele belo espécime de homem. Vovó ficaria louca se o visse) – Sabe como é, só estou conhecendo a cidade.

– Você deve se lembrar do Killian Jones, Dash, Ruby é namorada dele – falou Ingrid, antes que ele começasse a fazer muitas perguntas.

– Oh sim, aquele amigo da sua mãe. Eu me lembro – sorriu pra mim daquele jeito encantador – São bem vindos em nosso casamento. Freya está muitíssimo ansiosa, ela não para de falar nisso.

– Porque ela ama você – Ingrid acenou para um cara bonitão que se juntara a Freya no preparo das bebidas – Oi, Killian!

Ah. Meu. Deus. Fiquei de boca aberta com o outro Killian. Ele era... oh pelo amor dos céus, ele era um deus grego! Dash pediu licença para ir ao banheiro, visivelmente desconfortável, e o Killian-Deus-Grego-Do-Bar sorriu para nós, trazendo as cervejas que Dash pedira.

– Ingrid, que bom ver você! – me encarou com seu belo par de olhos azuis, que eram quase do mesmo tom dos olhos de Gancho – Quem é sua amiga?

– Esta é Ruby, uma amiga da família.

– É um prazer conhecê-la, my lady – ele segurou minha mão e, para minha grande surpresa, depositou um beijo nela. Contive um suspiro e sorri de volta quando seus lábios se contraíram num sorriso fofo e amigável – Me chamem se precisarem, meninas.

Observei enquanto ele se afastava e, antes que percebesse o que estava fazendo, admirei o movimento que sua bunda fazia sob o jeans. Ingrid gargalhou quando percebeu o que eu fazia e quase engasgou com a bebida.

– Você não é a única, todas olham a bunda dele – disse, enxugando a boca com um guardanapo. Rimos feito bobas e me escondi atrás do cardápio quando Killian olhou em nossa direção – Disfarce, Dash está vindo!

Dash, porém, não veio para a mesa. Foi ao balcão e beijou Freya longa e apaixonadamente. Killian os olhou com uma expressão de cortar o coração e fiquei morrendo de pena quando ele se afastou, claramente incomodado com a paixão dos pombinhos. Aquilo estava me cheirando a triângulo amoroso!

– Os dois amam a Freya. E ela vai negar mil vezes, mas sei que está dividida entre os dois.

Oh e quem não teria dúvidas? Eu mesma fiquei dividida entre os dois, quando Ingrid me perguntou qual escolheria se estivesse no lugar da Freya.

Dash Gardiner se encaixava no padrão de homem perfeito: lindo, bem apessoado, educado, inteligente, cavalheiro, bem humorado, pertencia a uma família influente, era riquíssimo e, para completar, um médico talentoso e reconhecido. Já Killian-Não-Sei-O-Sobrenome, além de ter muitas das qualidades de seu oponente, ainda era um bartender talentoso, sabia velejar (tinha até um barco, no qual morava), tocava piano e compunha músicas.

Se eu tivesse de escolher, com certeza ficaria com o pianista sexy (até porque, ele era tão parecido com Gancho que os dois poderiam ser irmãos). Disse isso a Ingrid e ela riu, dizendo que Gancho ficaria com ciúmes se soubesse o quanto eu estava encantada por seu xará.

– Ele não precisa saber – tomei um gole da cerveja e tossi quando a bebida desceu queimando – É impressão minha ou... Dash está beijando Freya de propósito para deixar Killian desconfortável?

– É, ele quer marcar território. Digamos que não é a primeira vez que Killian se interessa por uma namorada do irmão.

– Peraí... eles são irmãos? Meu Deus, mas não são nada parecidos!

Para tudo! Killian e Dash são irmãos! Misericórdia, como é que Freya Beauchamp conseguia conviver com os dois bonitões sem conseguir escolher de quem gostava mais? Eu já teria enlouquecido, se estivesse no lugar dela.

Me levantei para ir ao banheiro, driblando as mesas e pessoas que encontrava pelo caminho. Estava quase alcançando a porta de madeira com a plaquinha feminina quando alguém me puxou pelo braço, forçando-me a me virar. Fui de encontro a um peitoral maravilhosamente definido, cujas curvas eram facilmente perceptíveis sob o tecido fino da blusa. Ergui os olhos e dei de cara com Killian Gardiner, o deus grego pianista. Ele sorriu daquele jeito super encantador e, sem mais nem menos... me beijou!

Ele. Me. Beijou. E eu gostei. EU GOSTEI! Parem o mundo, eu quero descer!

Eu sei, eu sei, não devia ter feito aquilo com Gancho, que era por quem eu estava apaixonada. Mas meu Deus do Céu, como é que eu podia pensar claramente quando estava nos braços de um homem daqueles? Ó Senhor... E Killian Gardiner não me ajudava nada, me abraçando daquele jeito, e me esmagando contra seu peito. E meu bom Deus, aquele homem devia ser preso por excesso de beleza e masculinidade. Como é que eu podia arranjar forças pra me livrar de um cara lindo que, no momento, me beijava desesperadamente, como se o mundo fosse acabar a qualquer momento?

Mas não estava certo! Eu não o amava e não ia ser tratada como distração. Porque era isso mesmo que eu era para ele: uma distração para fazê-lo esquecer Freya. Me livrei de seus braços, tentando fazer cara de indignação, mas só conseguindo fazer uma expressão de surpresa.

– Mas o que pensa que está fazendo?!

– Eu... eu não sei porque...

Meus olhos percorreram o bar, procurando por Freya. Ela parara em meio ao ato de encher uma taça com tequila e, por sua expressão descrente, poderia dizer que não esperava aquilo de Killian. A poucos metros dali, Ingrid assistira a tudo boquiaberta. Já Dash, esse nem percebera nada, distraído com a sinuca. E meu bom Deus... quando olhei mais além, em direção à porta...

Gancho olhava pra mim com uma expressão de cachorrinho abandonado. Oh meu Deus... meu bom Deus...

– Me desculpa, eu não sei por que fiz isso – o deus grego tentava se desculpar, ligeiramente envergonhado.

Não pensei duas vezes, me encaminhei em direção a Gancho, que atravessara o bar e fora se sentar com Ingrid. Ela me encarou com os olhos arregalados, abobada.

– Meu Deus, o que foi aquilo?! Vocês praticamente se engoliram!

– Foi ele quem me agarrou, quero deixar isso bem claro – me sentei. Tinha consciência de que todos no bar me encaravam e, mais uma vez, quis me esconder num buraco e ficar por lá. - Meu Deus, quero me esconder! Vamos embora?

– Claro, eu entendo! – Ingrid apanhou a bolsa pendurada na cadeira e só então reparou em Gancho, que estava muito quieto e evitava me olhar – Oh, e então, pegaram a Cora?

– Não... Mas sabemos onde ela está. Preciso que você e Freya venham comigo... e temos que deixar Ruby num lugar seguro...

Ingrid foi falar com Freya, que desaparecera repentinamente, e olhei para Gancho, que ainda não olhara pra mim desde que presenciara a cena do beijo.

– Pra onde vão me levar? – indaguei. Não sabia o que dizer e achei que o mais sensato fosse esquecer aquela situação. Me explicaria depois, quando Cora já não fosse um problema.

– Não sei, qualquer lugar – ele cruzara os braços sobre a mesa e agora encarava um ponto distante. – Iremos te buscar depois que tudo acabar.

– Tá... okay... Como encontraram a Cora? – no momento, ficar quieta seria a opção mais sensata, mas o fato de Gancho praticamente me ignorar não ajudava em nada. Eu sentia a necessidade de conversar.

– Wendy se transformou em gato e farejou o rastro dela – respondeu. Seus olhos passeavam pelo salão, como se estivessem interessados em qualquer coisa, menos em mim. Gancho nunca conversava com alguém sem olhar nos olhos da pessoa, a não ser que estivesse muito chateado ou irritado.

– Tinha mais bruxas lá? Por isso Freya e Ingrid vão para ajudar?

– É. Há muitas delas...

– Killian! – ralhei, já estava cansada daquilo. Ele ia passar o resto da conversa sem sequer me olhar? – Pare com isso, que coisa!

– Parar com o quê? – finalmente me encarou. Sua expressão era cansada e seus olhos estavam sem brilho, tristes. Merda... o que eu fui fazer?

– De me ignorar! Aquilo que aconteceu... eu, hum... eu não queria aquilo, foi ele quem me agarrou...

– Hum – e Gancho não acreditou em uma palavra. Também, se eu não tivesse me agarrado ao gostosão... sim, porque eu também me agarrei ele, admito (Também não sou de ferro, né...) – Você não tem que me dar satisfação... Você mesma disse que Freya ia te apresentar uns amigos...

– Eu estava brincando! – revirei os olhos – O Killian queria fazer ciúmes na Freya, por isso me agarrou.

– Uhum. E você não se aproveitou nem um pouco, não é?

– Oh... eu não sei o que quis dizer com isso... – Tudo bem, me julguem. Eu jamais admitiria pra Gancho que gostara do beijo de Killian, por isso fingi indignação – Quem você pensa que eu sou?

– Sério, Ruby, não tem que me dar satisfação de nada – ele se levantou e caminhou até as Beauchamp, que vinham de braços dados.

Freya não parecia muito bem, mas disfarçou quando foi dizer a Dash que precisava ir pra casa. O Deus-Grego-Do-Bar ficou responsável por cuidar sozinho do estabelecimento, então fomos todos em direção ao depósito do bar, sem eu saber exatamente por quê. Ali só havia algumas prateleiras de comida, estoques de bebidas, dois espelhos antigos, uns candelabros de prata, barris grandes e pequenos, um banquinho de pernas quebradas, uma caixa registradora antiga e um quadro com paisagem de praia.

– Desculpe por isso, Ruby, mas é o único jeito de mantê-la segura e fora de encrenca – disse Ingrid, tirando uma vela pequena de dentro da bolsa (quem anda com uma vela na bolsa?). Ela estalou os dedos e o pavio se acendeu.

– O que vão fazer comigo? – recuei. Gancho bloqueava a porta, para o caso de eu tentar fugir.

– Desculpe – Freya apanhou a pintura de praia e Ingrid começou a entoar um feitiço, segurando a vela com as duas mãos.

Mysticum pictura absorbuerit eum. Mysticum pictura absorbuerit eum. Mysticum pictura absorbuerit eum.

Recuei assustada quando Freya jogou o quadro em cima de mim.

***

Elas me prenderam num quadro! Num quadro! Ah, mas quando eu pudesse sair... elas iam ver só! Eu ia chutar a bunda de Gancho por ele permitir uma coisa dessas.

Estava numa praia exatamente igual a do quadro. O mar ondulava calmamente e gaivotas voavam a distancia. Dois coqueiros, um ao lado do outro, faziam sombra num ponto da areia. Podia ouvir o canto dos pássaros, misturado ao som do vento fustigando as folhas dos coqueiros. Atrás de mim, um paredão enorme de tijolos se erguia, o que significava que não havia saída. Nesta parede, encontrava-se uma grande moldura, a mesma do quadro. Quando me aproximei da moldura, pude ver o depósito do Bent Elbow, como se ele fosse uma pintura. Vi Gancho, Freya e Ingrid deixando o depósito e comecei a gritar para que não me deixassem ali, mas, obviamente, não podiam me ouvir

– Isso mesmo, me deixem aqui! Traidores! – berrei sozinha, feito louca.

Olhei a imensidão azul que se estendia à minha frente. Era real demais para ser apenas um quadro, mas ainda assim, era um quadro. E eu não conseguia entender como podia estar dentro de um quadro que parecia real, mas não era real. Muito confuso...

O sol torrava minha cabeça e fui me sentar sob a sombra dos coqueiros. Havia até um coco depositado ali, com canudinho e tudo! Eu o apanhei e levei o canudinho à boca, sugando o mesmo. E não é que o coco era de verdade? Aquela, sem dúvida, fora a melhor água de coco que já provara em toda minha vida.

Fiz a coisa mais óbvia que qualquer um faria se estivesse preso numa paisagem na praia. Tirei minhas roupas e me estendi sob a sombra, sentindo a textura da areia morna. Fiquei observando o maravilhoso céu e o vaivém do mar. Aaaah isso é que é vida!

Apanhei meu celular no bolso traseiro da calça, mas estava sem sinal. É claro que estava sem sinal, eu estava dentro de um quadro... Ah, mas quando aqueles três viessem me soltar...

Resolvi nadar. Já que não tinha biquíni, fui com as roupas de baixo mesmo. Oh, como a água era quentinha e límpida... Não me afastei muito da margem porque poderia ser perigoso e eu não estava nem um pouco a fim de me afogar num mar que nem existia de verdade.

Voltei para a sombra e acabei adormecendo. Nem queria pensar na possibilidade de ficar presa ali para sempre, num mundo em que sempre fazia sol e era verão.

***

Acordei horas depois. Meu celular indicava que eram oito e meia da manhã e quase não acreditei. Eu passara a noite inteira presa naquele quadro? Meu corpo suava e havia areia grudada por todo lado, até em minha boca. Fui me banhar no maravilhoso mar e apanhei aquele coco com canudinho que ainda estava dando sopa por ali. Incrível! Uma água de coco que nunca acaba! Eu tinha certeza de que tomara toda a água no dia anterior e, no entanto, o coco estava novamente cheio.

Tirei uma selfie para fazer inveja em Gancho. Eu, sob a gloriosa sombra de um coqueiro, com a gloriosa vista de um mar extremamente azul e tomando uma gloriosa água de coco. Ê vida boa!

Fiquei horas naquele quadro. Ocupava meu tempo entre caminhadas na areia e mergulhos para me refrescar. Eu nem sempre ia muito longe, já que havia paredes delimitando meu espaço. O mar parecia sem fim, mas eu sabia que se fosse nadando para longe, uma hora ia esbarrar com um paredão.

Voltei à moldura com vista para o depósito. Freya escondera o quadro a um canto escuro e eu podia ver os contornos de um barril e a luz da manhã que entrava por uma pequena janela. De repente, a porta do depósito se abriu. Killian Gardiner entrou com um homem e pude ouvir os dois conversando.

– Limpe tudo, não quero mais essas velharias – disse o homem, que devia ser o dono do Bent Elbow.

– E o que faço com todas essas coisas? – perguntou Killian, com as mãos na cintura, me dando uma vista e tanto de sua bunda.

– Doe, jogue fora, fique com o quiser. Você é quem sabe.

Ah. Minha. Nossa. Senhora.

Se ele tocasse nesse quadro... Meu Deus do Céu, se alguma coisa acontecesse com esse quadro... Fiquei tão nervosa que não desgrudei os olhos da moldura mais. É claro que ele não ia conseguir me ver presa ali dentro. Se ele ousasse jogar aquele quadro fora...

Tornei a vestir minhas roupas, com a esperança de que Gancho e as Beauchamp viessem me salvar. Aquele sol quente já estava me estressando e eu suava mesmo estando na sombra. Além de tudo, estava com fome, porque a única coisa disponível era aquele coco. Se eles demorassem muito mais, me arriscaria a pegar um peixe ou uma daquelas gaivotas que voava lá em cima. (A parte das gaivotas foi brincadeira).

Voltei a olhar o que se passava no depósito. Killian retirava as coisas velhas e inúteis, jogando-as em caixas grandes de papelão. O coitado suava tanto que precisou tirar a camisa. Jesus amado! Que peitoral era aquele? E que bíceps eram aqueles? E que peito peludo era aquele (não chegava aos pés do peito de Gancho, mas era bem sexy)?

Quando ele apanhou o quadro, achei que estivesse vendo algo de estranho, mas parecia apenas ter decidido se o jogava fora ou não. Atirou-o numa das caixas e depois disso não vi mais nada além de escuridão.

Será que depois de uma noite inteira eles não tinham conseguido matar Cora ainda? Ou será que iam me deixar presa ali até quando quisessem? Vai ver tinham até se esquecido da pobre assistente. Ou vai ver que Gancho estava querendo se vingar por ter me visto aos beijos com um desconhecido.

Killian já levava a caixa para fora do depósito. Sei disso porque percebi o balanço dos objetos que estavam dentro dela junto com o quadro. Ele assobiava para se distrair e ouvi quando disse ao chefe que tudo estava limpo e que ele ia colocar algumas coisas no lixo. Ah meu Pai do Céu! Se eu fosse parar no lixão, como é que Gancho ia me encontrar? Ah, aquele filho da mãe! Ele me paga! Ele e as Beauchamp, claro. Tentaram me manter em segurança, mas só pioraram tudo.

Após minutos sem ver nada, comecei a ouvir os sons da rua. Carros buzinando, pessoas conversando, criancinhas indo para a escola... Dali a pouco escuto o barulho de um caminhão. O caminhão do lixo! Puta merda! Atiraram a caixa com o meu quadro no caminhão e vi quando ela se abriu e os objetos escorregaram para fora. O quadro foi parar no meio de um monte de sacos pretos e senti meu estômago revirar quando uma sacola cheia de chorume (aquela aguinha que cai do lixo) explodiu ali perto, mandando aquela água nojenta no quadro e embaçando minha vista.

Ah meu bom Deus... eu ainda ia ficar presa ali por muito tempo!

***

Depois de quase um dia inteiro presa naquela praia, já estava cansada de sol, areia e água salgada. Passara o dia todo à base de água de coco para não desidratar com o sol. E o pior de tudo é que ali sempre seria quente e ensolarado, o que me preocupava. Se Gancho não encontrasse aquele quadro logo, era capaz de eu morrer de calor.

O quadro agora repousava em meio a uma pilha de sacos no lixão. Antes que a bateria do celular acabasse, vi que eram pouco mais de cinco da tarde. Muito em breve escureceria e aí seria mais difícil me encontrarem ali.

Assisti a um maravilhoso pôr-do-sol pela moldura, enquanto torrava sob o sol do quadro. Me convenci de que passaria mais uma noite presa ali quando escutei vozes familiares.

– Encontre esse quadro logo, Freya! – era a voz de Joanna.

– Estou procurando! – guinchou Freya, irritada – Eu nem sei mais que quadro era...

– É uma paisagem na praia... – avistei as pernas de Ingrid ali perto e gritei feito louca, na esperança de que ela pudesse me ouvir e encontrar o quadro. Ela não me ouviu, nem foi preciso, porque avistou a pintura – Achei!

– Ah, graças a Deus! – Joanna apareceu, uma mão no coração – Vamos logo, antes que a coitada torre sob esse sol.

Ingrid fez uma magia para limpar o quadro e o apanhou, levando-o com ela, enquanto Freya fazia cara de nojo e reclamava do fedor de lixo. As três caminharam até a saída do lixão, onde Wendy estava recostada contra um carro preto.

– Encontraram? – ela bateu palminhas, feliz por ver o quadro. Apanhou uma vela, acendeu o pavio com um estalar de dedos, então entoou o encantamento para abrir a pintura - Mysticum flamma aperire pictura. – a parede de tijolos começou a dissolver – Mysticum flamma aperire pictura. – uma força começou a me puxar em direção à moldura – Mysticum flamma aperire pictura – então caí do quadro, indo parar nos braços de Joanna, que me segurou.

– Oh, pobre criança! – exclamou, me amparando.

– Você está bem? – Wendy me olhou com aqueles olhos de gato, me sufocando num abraço – Pobrezinha! Oh, como você está bronzeada!

– Estou bem. Mais um pouco e iria derreter naquele calor! – exclamei, sendo sufocada por Ingrid e Freya, que se desfizeram em desculpas – Eu devia matar vocês duas! Que ideia é essa de me prender num quadro?

– Foi ideia da Freya! – acusou Ingrid e a irmã fez cara feia. – Nos perdoe! Não fazíamos ideia de que Killian ia jogar o quadro fora.

Claro que as perdoei. Entramos no carro e Wendy dirigiu em direção à imponente residência das Beauchamp, me contando como todos haviam ficado desesperados quando voltaram ao Bent Elbow e descobriram que Killian jogara o quadro fora.

– E a Cora? – indaguei, curiosíssima.

– Está mortinha da Silva! – respondeu Wendy, rindo satisfeita – Devia ter visto a cara dela quando nos viu. A vadia se uniu a Penélope Gardiner pra nos destruir. Bruxa velha! Não contava com nossa astúcia!

– Peraí... Penélope Gardiner? - olhei para Ingrid e Freya, cada uma sentada de um lado meu.

– Mãe de Dash e Killian - disse Ingrid - Quem diria! Os Gardiner também são feiticeiros!

– E vocês nunca desconfiaram de nada? - arregalei os olhos.

– Eles moram aqui há poucos meses. Os próprios Dash e Killian não sabiam de nada, a mãe deles roubou seus poderes quando eram bebês... - explicou Joanna, ao que Wendy acrescentou:

– ...agora que ela morreu, no entanto... parece que Freya vai ter um noivo bruxo, afinal. - sorriu para a sobrinha pelo retrovisor.

Quem diria... O deus grego e o médico sexy eram bruxos...

– Regina matou a Cora? - indaguei, ainda meio pasma.

– Não, eu matei - falou Joanna, olhando pela janela - Regina ia fazer o serviço, mas quase foi morta por Penélope. Felizmente, Wendy a salvou antes, então matamos Penélope com uma pequena ajudinha de Ingrid e Freya.

– Cora ficou vulnerável sem ter quem a protegesse. - Wendy ultrapassou um sinal vermelho e a irmã ralhou com ela - Ela também veio de Asgard, escapou no meio de uma turma de rebeldes antes que o portal se fechasse. Ela e Penélope já se conheciam há anos, muito antes da Regis nascer.

– Cora teve os poderes roubados há uns anos, por isso vendeu a alma em troca de tê-los de volta. - Joanna continuou - Mas não é a mesma coisa, ela tinha poderes limitados, por isso usava saquinhos de bruxa, como aquele que colocou em nosso jardim. Veio a East End procurando por proteção. Aliás, é só o que ela tem feito nos últimos anos... participava de irmandades de bruxas pra que a protegessem de Gold.

– Bem, ao menos nos livramos de duas com uma tacada só - comentou Freya, brincando com meu cabelo, que não devia estar muito apresentável - Eu não suportava a mãe do Dash... Tadinho, o que vai ser dele quando descobrir o que fizemos?

– Dash e Killian nunca vão descobrir que fomos nós - Wendy a encarou muito séria. - E vocês nem pensem em abrir a boca!

– Por que Penélope odiava tanto vocês? - estava um tanto confusa. Cora tinha motivos para querer matá-las, uma vez que tinham ajudado Gold, mas quais seriam os de Penélope?

– Ela nos odiava porque matei o pai dela. - Joanna suspirou com uma mão na cabeça, provavelmente se sentindo culpada.

– Lembra o que te contei na biblioteca, sobre eu ter tentado fugir pra casar? - perguntou Ingrid e assenti - O nome dele era Archibald, ele era pai da Penélope. Ela era só uma criança na época e ficou completamente desamparada depois de ver o pai ser morto a sangue frio. - lançou à mãe um olhar acusatório e Joanna se defendeu erguendo as mãos:

– Fiz o que era necessário para proteger a família. Archibald era um homem terrível! Lamento que tenha acabado daquele jeito, mas não havia outra escolha. Penélope ficou tão enraivecida que passou a procurar vingança. Deixou a cidade por uns tempos, o que me deu tempo de lançar um feitiço de proteção para mantê-la escondida. Bem, há uns meses ela reencontrou a cidade, reformou a antiga mansão do pai e trouxe o filho pra morar com ela. Quem iria imaginar que as famílias voltariam a ter ligação quando Dash e Freya se apaixonaram?

– Bem, ao menos nos livramos das duas, o inferno que se encarregue de aturá-las – Ingrid comentou, sem esconder sua satisfação.

Wendy gargalhou.

– Oh e me vinguei da Cora! Devolvi a pazada que ela me deu na cabeça! Vadia! Precisou ser eletrocutada por Joanna pra morrer, porque uma pá na nuca não foi o suficiente...

– Que é que fizeram com os corpos? – estava me perguntando se elas eram como Killian, que andava com lobisomens mortos no porta-malas.

– Fizemos um ritual e queimamos o corpo da Cora para não deixar vestígios – explicou Ingrid – Quanto a Penélope... deixamos o corpo na mansão. Nem quero imaginar como vai ser quando Dash descobrir.

– Ele que se vire com aquele trombolho – Wendy soltou uma risadinha.

– Não vão saber que foram vocês quem mataram ela? – me preocupei. Elas eram pessoas boas demais para irem parar na cadeia.

– Não – Wendy fez seu gesto de “relaxa!” com uma das mãos – Tá pensando o quê, garota? Não somos amadoras! Vão pensar que ela morreu de causas naturais...

Então tudo ia ficar bem... Ainda havia bruxas más em East End, que fugiram naquela noite, mas eu sabia que as Beauchamp poderiam dar jeito nelas.

Quando entramos no conforto e segurança da casa das Beauchamp, encontrei Regina sentada no sofá com uma bolsa d’água na cabeça. Havia marcas vermelhas em seu pescoço, mas fora isso ela parecia bem. Estava satisfeita pela morte de sua progenitora, que tanto a fizera sofrer. Mary e Gold também iam gostar de saber sobre a morte de Cora. Aquilo pedia uma comemoração!

– Vamos encher a cara! – Wendy se jogou no sofá com uma garrafa de vinho.

– Eu vou recusar, não costumo beber – disse. Estava à procura de Gancho e Regina me disse que ele estava no jardim dos fundos.

Precisava esclarecer aquela história do beijo e, além disso, queria bater nele por me deixar presa naquele quadro e nem ter a decência de ir com as garotas ao lixão para procurá-lo. Minha vontade de xingá-lo, no entanto, sumiu quando saí pela porta dos fundos e o encontrei cuidando do jardim. Com um regador, molhava as ervas na pequena horta com cuidado. Depois apanhou um barbante e amarrou a haste caída de uma orquídea branca. Só notou minha presença quando atravessei o jardim, raspando os pés na grama molhada.

– Você está bem? – largou o vaso de orquídea e veio me abraçar, esquecendo-se da birra que fizera no outro dia – Meu Deus, fiquei tão preocupado!

– Eu devia matar você, sabia? – pus as mãos na cintura – Que ideia de me colocar numa pintura! Por que não foi procurar meu quadro no lixão? Acho que não estava tão preocupado assim...

– Eu precisava esfriar a cabeça – ele deu de ombros, voltou às orquídeas e admirei sua dedicação em regá-las e cuidar delas como se fossem pequenos bebezinhos – E sabia que você ia ficar bem enquanto estivesse lá. Não foi tão ruim, foi? Você está até bronzeada...

Debochado! Ele estava rindo da minha cara!

– Foi ótimo, tirando a parte de quase torrar no sol, enquanto você caçava bruxas...

– Oh, é claro... Como se você não estivesse enchendo a cara e dando amassos no primeiro cara que te ofereceu uma bebida, enquanto eu arriscava minha vida – seu tom era chateado e acusador e eu sabia que ele estava enciumado. Killian se afastou para apanhar um vaso de orquídeas lilás e fui atrás, irritada.

– Eu já te disse que foi ele quem me beijou!

– Você não tem que me dar satisfação! – ele voltou a me ignorar, evitando me encarar. Que droga de homem teimoso! Será que ele não ia acreditar em mim? Ia continuar com aquele ciuminho patético?

– Killian! Killian, não me ignore! – saí atrás dele pelo jardim, praticamente gritando pra que ele me ouvisse, mas o idiota não queria nem saber. Na cabeça dele, eu ficara com o gostoso do bar porque quisera. – Killian Jones, me escuta!

– Ruby, sabe de uma coisa? – ele me encarou muito sério – É melhor você ir dormir. Joanna vai nos preparar o quarto de hóspedes. Boa noite!

– Ora... você vai me ignorar? – explodi em gritos, muitíssimo enraivecida – Tudo por causa de um beijo? Eu sabia que você era ciumento, mas não sabia que era tão jumento a ponto de não entender que eu não quis beijar aquele cara.

– Tá... eu sei o que vi, não precisa esclarecer nada. A vida é sua! – foi a resposta dele. Usara seu tom mais tranqüilo, mas eu sabia que por dentro ele bem que estava com vontade de chamar de vagabunda por ter beijado o primeiro cara que apareceu na minha frente. – E quer saber? Eu não me importo... Boa noite!

Como é que é? Agora é que vou rodar a baiana mesmo! Como assim não se importa? É claro que ele se importa!

Vi enquanto ele se afastava pisando duro e, sem pensar muito no que estava dizendo, gritei:

– Não seja idiota, é de você que eu gosto! – Ah meu Deus, por que fui falar aquilo? Me virei no mesmo momento, tentando esconder a vergonha que estava sentindo. Minha cara devia estar a cem graus de tanto que queimava.

– O que disse? – agora ele parecia divertido. Gostara do que acabara de ouvir.

Ah desgraçado! Ele ouvira muito bem, agora queria que eu repetisse? Nem em um milhão de anos!

Ouvi quando ele se aproximou, ficando a poucos centímetros de mim. Não ousei virar de frente para encará-lo, mas sabia que ele estava exibindo aquele sorrisinho maroto que eu tanto amava.

– Eu ouvi bem? – perguntou tão próximo ao meu ouvido que estremeci.

E aí o que foi que fiz? A coisa mais burra de todas! Porque eu sou burra, mais ainda quando estou na presença de Gancho. Ele me faz ter tendência a atitudes estúpidas!

– Nada não, eu sei que você nem se importa! – me afastei sem encará-lo e fiz menção de entrar na casa – Boa noite!

– Ei, espere aí! – ele me segurou pelo braço, me forçando a ficar – Eu ouvi o que você disse!

– Então não preciso repetir – sorri e novamente fiz menção de me afastar, mas aquele bastardo me segurou por trás, me impedindo de ir – Killian, para! Me solta! Eu to falando sério!

Ele estava rindo e eu também. Se divertia em ver me esforço para fugir, aquele mané. Até esquecera a história do beijo depois de ouvir aquela espécie de declaração.

– Repita o que disse! – pediu.

– Não, você escutou muito bem – cruzei os braços – E eu estou cansada, quero dormir! Boa noite!

– Ei, quer parar de fugir? – ele me parou quando eu já ia alcançando a varandinha dos fundos. Postou-se em minha frente para me impedir de escapar outra vez – Você... hum... tem sentimentos por mim? Eu quero dizer... sei que nunca vai amar alguém como amou o Peter, mas... Eu só quero saber se você... se sente algo por mim...

– Sim...

Ele abriu um sorrisão que iluminou até minha alma. Ah... meu cachorrinho fofo! Sorriamos feito bobos e, pela primeira vez, eu não era a única envergonhada. Ele estava mais vermelho do que minha blusa vermelho-sangue.

– ...e você? – perguntei, roxa de vergonha. Nem precisava perguntar pra saber a resposta.

– Você precisa mesmo perguntar? – o sorriso ficou maior, se é que isto era possível –Todas aquelas indiretas não foram suficientes?

Ri. Era mesmo uma idiota... Até um cego conseguiria perceber tanto amor entre duas pessoas. E as indiretas de Gancho.

Killian apanhou uma orquídea vermelha num vaso bem perto de onde estávamos e me deu. Não sei por que, mas aquele ato tão singelo me fez ter vontade de chorar. Segurei as lágrimas, porque ele enlaçou uma mão à minha.

– Sou apaixonado por você desde aquela noite, quando a salvei do lobisomem...

Olhos, me obedeçam! Me obedeçam, seus traidores! Não deu... as lágrimas começaram a escapar. Ele devia me achar uma manteiga derretida.

– Eu também... – sorri em meio às lágrimas. E no segundo seguinte, adivinhem... ele me puxou para um beijo apaixonado. Enlacei seu pescoço com meus braços, conforme ele segurava minha cintura e me puxava para mais perto. Foi um beijo calmo, cheio de paixão. A barba de Killian, que estava um pouco crescida, raspava no meu rosto fazendo cócegas. A mão dele no meu cabelo apenas tornava tudo mais difícil. Achei que nunca mais conseguiria me afastar daquele homem.

– Uhuuuuu! – foi um grito de Regina, que, junto com as Beauchamp, assistia tudo pela janela dos fundos. Wendy se juntou aos gritos e logo todas estavam gritando, até Joanna, que costumava ser mais séria.

Killian largou da minha boca pra poder rir. Tentei me esconder atrás dele para não sair nas fotos que elas tiravam com seus celulares. Agora todo mundo ia saber que nós éramos, quase que oficialmente, namorados.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ainda estão vivas? Se estiverem, não se esqueçam de comentar kkkk Essa parte do Killian com as orquídeas foi inspirada no novo clipe da Christina Perri, que não sei se vocês viram, mas tem a participação do nosso bebê lindo. Corram pra assistir, não é todo dia que Colin O'donoghue tira a camisa pras fãs kkkkk (Posso morrer em paz depois dessa visão do paraíso ashuashua)
https://www.youtube.com/watch?v=B9tc9R_Y3FY
Beijinhos e até a próxima!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "'Til We Die" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.